quinta-feira, julho 31, 2003
X do teu nome
Aqui tudo começa. Pergunto pelo teu nome. É importante, questionas tu. Como quando somos crianças que procuramos o vocábulo água para saciar a sede. É assim que tudo ganha sentido. Falámos de desejos, comentas tu e acabas a frase num suspenso que desenha no ar umas reticências, como os três sinais que te desenham o lábio superior. Falámos de um ponto inicial e de uma direcção, é quase geometria descritiva. A equação do meu nome, divertes-te. Podes ser a x, mas assim nunca seras a tal. É como na escrita, um ponto final.
Ora!
Sou invariavelmente questionada porque os meus dois cães usam coleiras com uma espécie de espinhos. E inevitavelmente olhada com surpresa pela resposta que dou - "É para não se matarem um ao outro". O reino animal ainda funciona nos seus condicionalismos.
Invidia
Eu sei que é um pecado capital, mas não posso deixar de me sentir assim só de pensar nas minhas irmãs em pleno retiro playero com direito a uma subida ao chiringuito para umas tapas e cervejinhas...Damn me.
Dias
Dias há em que acordamos dormentes, percorremos o dia num limbo sensorial e chegamos ao fim do dia como se chega ao fim de um sonho, estrebuchados.
quarta-feira, julho 30, 2003
Mujeres
Extrato de conversa telefónica
"Yo he tenido un novio portuguès ahi"
"Pero se me dicen que los argentinos son los más guapos de latino-américa?!?!"
"Si, y lo son, pero hay que variar..."
"Yo he tenido un novio portuguès ahi"
"Pero se me dicen que los argentinos son los más guapos de latino-américa?!?!"
"Si, y lo son, pero hay que variar..."
Whirlpool
Ontem não escrevi, hoje também pouco me apetece escrever. Sou de paixões, escrevo sempre à flor da pele ( eu sei que é mau ). Agora não quero escrever, estou como me disse uma vez um professor - "You've got a huge whirlpool inside your head". Fico assim às vezes. Mas logo passa.
terça-feira, julho 29, 2003
A Tristeza
A gente separa a raiz do caule, depois há sempre uma folha pendente na nossa imaginação. A vida tornou-se vegetal e os olhos parecem vidrar nas cores dos meus como uma alface recheada de vinagre. A tristeza calçou uma bota no seu pé descalço e eu pensei que ela pudesse partir. (1992)
Pensamento.Ultimo
O desespero do meu desejo caiu abruptamente sobre a tua boca. Comprometida como a minha.
segunda-feira, julho 28, 2003
Cuidai nao mais
Cuidai não mais, senhores
nem me encontrareis ensimesmado
nem perdido e sofrido pelos amores
de uma moça vivente em vosso lado
Senhores, a vida tem-me em clausura
não pela roupa, nefasto atavio
nem pelo veneno da mordedura
de um amor de longo pavio
Pois que o calor da estação
me adormece os cinco sentidos
e quer eu queira quer não
ainda vivo dos licores bebidos
Velai senhores pelo meu ser distraido
que bom mundo a meu lado passa
e do coração mau sentimento possuído
por uma retribuição tão escassa
vivo na loucura do pensamento
fantasias oferecidas por catraias
qual paraíso qual tormento
pois o calor lhes levanta as saias
é neste desvario grande e infindo
que se me escorre o tempo sempre frugal
em busca, quiçá, de um sorriso lindo
para por em poesia um outro amor irreal
nem me encontrareis ensimesmado
nem perdido e sofrido pelos amores
de uma moça vivente em vosso lado
Senhores, a vida tem-me em clausura
não pela roupa, nefasto atavio
nem pelo veneno da mordedura
de um amor de longo pavio
Pois que o calor da estação
me adormece os cinco sentidos
e quer eu queira quer não
ainda vivo dos licores bebidos
Velai senhores pelo meu ser distraido
que bom mundo a meu lado passa
e do coração mau sentimento possuído
por uma retribuição tão escassa
vivo na loucura do pensamento
fantasias oferecidas por catraias
qual paraíso qual tormento
pois o calor lhes levanta as saias
é neste desvario grande e infindo
que se me escorre o tempo sempre frugal
em busca, quiçá, de um sorriso lindo
para por em poesia um outro amor irreal
Suspenso
Olhos que vêem turvo
no respirar cadeado,
de tempos escorridos.
Vens empoeirado,
do sentido mexido
do peregrino.
Procuras em vão
os caminhos
de tempos perdidos.
Recolhes estrada
nuvem e fome,
partes sempre.
Vês dentro outro
que não vias,
encontras mais.
Segue o sulco,
tanto galgado,
de penas urdido,
e choro lavrado.
no respirar cadeado,
de tempos escorridos.
Vens empoeirado,
do sentido mexido
do peregrino.
Procuras em vão
os caminhos
de tempos perdidos.
Recolhes estrada
nuvem e fome,
partes sempre.
Vês dentro outro
que não vias,
encontras mais.
Segue o sulco,
tanto galgado,
de penas urdido,
e choro lavrado.
Remember yesterday?
Pois é, recordar os tempos passados resulta bem! Pena a crise "à lo Nietzche" que me deu cabo da festa...
sexta-feira, julho 25, 2003
Memorias - parte 1
Ainda falava hoje sobre este tema com a minha irmã, ela disse que não recordava quase nada da infância e eu pelo contrário recordo muito bem. Disse ela que o esquecer faz parte da vida, porque nos permite seguir em frente. Eu acho que o recordar nos ajuda a avançar. Agora, enquanto bebo este chá "Mate Leão", lembro com carinho as tardes estivais passadas com a minha avó em que ela nos preparava um delicioso refresco de chá "Mate Leão" antes de voltarmos para as diabruras no jardim... Acho que sem estas maravilhosas recordações os dias tristes custariam muito mais a passar.
As maos
As mãos não acreditam no sentir, como se a pele fosse um jogo do faz de conta. Tu dormes quieta ao meu lado, aonde a paz do meu coração te adormeceu. Há um sentir dormente que desperta na manhã e a isso não chamo amor. Tu não te importas, o teu sorriso diz quase tudo, mas o quente da tua mão que sossega o lábio ainda vibrante da palavra anterior, ainda diz mais. Gosto das mãos que falam; que pedem com a palma estendida qual báu aberto a espera da entrega do tesouro; das que oferecem com os dedos esticados como se nos procurassem; das que acariciam sem pressionar com a lentidão das coisas que não têm importância; das que se entrelaçam numa união mais forte que um cadeado de chave atirada ao vento. As tuas falam docemente pela manhã e os teus olhos são só uma paisagem. As mãos brincam, são crianças risonhas num parque infantil saltando de diversão em diversão; são exploradoras tenazes que desbravam a selva; são jardineiras de um jardim colorido como os teus olhos. As mãos beijam-se fazendo cornucópias e um bailado moderno no ar. Estão dadas, longamente oferecidas a troca de prazer. Nas tuas mãos um abraço final principia.
Elogios
Temos sempre uma actitude de embaraço quando nos fazem elogios (pelo menos eu nunca sei como reagir, normalmente desvio a conversa), mas elogios há que nos deixam perplexos, hoje disseram-me que tenho uns pés elegantes (!?!?) e foi como levar com um frappé de fim de jantar logo pela manhã.
quinta-feira, julho 24, 2003
Contos da Consciencia Moral (1989)
Ele, Homem, falava com ele próprio, num dialogo interior bastante agitado.
O Consciente protestava com o Subconsciente, por este lhe impelir para acções que ele jamais faria. A discussão continuava a azedar. O Consciente reclamava direitos contra o outro, por uma vez, lhe ter tentado tirar o lugar. O Subconsciente defendia-se, para depois sair num rápido contra- ataque:
- Se a tua mulher, a Consciência, fosse uma mulher a sério e se te obrigasse a fazeres jus ao teu nome, tu o Consciente, nunca te descontrolarias e nunca seguirias os conselhos do teu primo Inconsciente.
- O Consciente aceitou que se tinha deixado levar pelo Inconsciente, mas isso não dava direitos a ele, Subconsciente, de lhe passar por cima.
- A culpa do gajo se meter nos copos é tua. É teu dever que ele esteja ciente do que faz. Deixas o tipo andar à deriva!
O Consciente fez uma cara sisuda. O que levou a que o Homem se sentisse intrigado. O Consciente prosseguiu:
- Eu faço tudo para o gajo se libertar daqueles estados de espirito neuróticos. E tu, pões o gajo quase a suicidar-se e a odiar aquelas coisas que eu quero que ele ame.
O Subconsciente deixou-se levar sem piedade numa gargalhada estridente. O tipo-Homem sentiu uma forte dor de cabeça.
- O' meu anormal, não vês que é esse o meu papel: mostrar-lhe o lado invisível das coisas, o outro mundo para além do conhecimento. Senão o gajo ficava sempre na mesma. Eu trago novas visões ao tipo.
- Diria antes: alucinações tuas!
- Ai são minhas são, mas ele também as vê. E acredita nelas.
- É por isso que depois, fica aflito e perturbado. E eu é que tenho de falar com ele, amansa-lo. Acalma-lo, enfim!
- Oh pá, é esse o teu papel. Dar-lhe consciência das coisas reais deste mundinho. Já agora, como é que vai a tua mulher?
- Cada vez mais gorda, o tipo só tem feito disparates.
- A Consciência está a ficar pesada.
- Pois é, e ela que era tão linda, tão inocente. Mas não disfarces - lá voltou o Consciente - a culpa é só tua.
- És uma praga de todo o tamanho. Gostavas de passar a vida escondido, ali ao fundo esquecido? Eu não gosto; por isso, quando deixas que o tipo falhe lá apareço eu.
- Já pareces o meu primo. Cada vez que o gajo bebe uma cerveja ou whisky, o gajo aparece logo para lhe oferecer outro. Arregala os olhos que felicidade a dele.
- Quem o Inconsciente, não posso crer?!!
E riram-se os dois.
- Ooopss! - alertou o Consciente - o Homem vai dormir.
Fim do turno d' Hoje. Ah! Estava a precisar de descanso.
- Sorte a tua; agora começo eu. Tenho de por o gajo a sonhar. Bem, então adeus!
- Bons sonhos!!
- AH! AH! Ah! - riu-se efusivamente, o que fez com que o tipo ficasse ainda com mais dores de cabeça - Esta noite vão ser pesadelos. Prepara-te para acordares a meio-da-noite!
O Consciente protestava com o Subconsciente, por este lhe impelir para acções que ele jamais faria. A discussão continuava a azedar. O Consciente reclamava direitos contra o outro, por uma vez, lhe ter tentado tirar o lugar. O Subconsciente defendia-se, para depois sair num rápido contra- ataque:
- Se a tua mulher, a Consciência, fosse uma mulher a sério e se te obrigasse a fazeres jus ao teu nome, tu o Consciente, nunca te descontrolarias e nunca seguirias os conselhos do teu primo Inconsciente.
- O Consciente aceitou que se tinha deixado levar pelo Inconsciente, mas isso não dava direitos a ele, Subconsciente, de lhe passar por cima.
- A culpa do gajo se meter nos copos é tua. É teu dever que ele esteja ciente do que faz. Deixas o tipo andar à deriva!
O Consciente fez uma cara sisuda. O que levou a que o Homem se sentisse intrigado. O Consciente prosseguiu:
- Eu faço tudo para o gajo se libertar daqueles estados de espirito neuróticos. E tu, pões o gajo quase a suicidar-se e a odiar aquelas coisas que eu quero que ele ame.
O Subconsciente deixou-se levar sem piedade numa gargalhada estridente. O tipo-Homem sentiu uma forte dor de cabeça.
- O' meu anormal, não vês que é esse o meu papel: mostrar-lhe o lado invisível das coisas, o outro mundo para além do conhecimento. Senão o gajo ficava sempre na mesma. Eu trago novas visões ao tipo.
- Diria antes: alucinações tuas!
- Ai são minhas são, mas ele também as vê. E acredita nelas.
- É por isso que depois, fica aflito e perturbado. E eu é que tenho de falar com ele, amansa-lo. Acalma-lo, enfim!
- Oh pá, é esse o teu papel. Dar-lhe consciência das coisas reais deste mundinho. Já agora, como é que vai a tua mulher?
- Cada vez mais gorda, o tipo só tem feito disparates.
- A Consciência está a ficar pesada.
- Pois é, e ela que era tão linda, tão inocente. Mas não disfarces - lá voltou o Consciente - a culpa é só tua.
- És uma praga de todo o tamanho. Gostavas de passar a vida escondido, ali ao fundo esquecido? Eu não gosto; por isso, quando deixas que o tipo falhe lá apareço eu.
- Já pareces o meu primo. Cada vez que o gajo bebe uma cerveja ou whisky, o gajo aparece logo para lhe oferecer outro. Arregala os olhos que felicidade a dele.
- Quem o Inconsciente, não posso crer?!!
E riram-se os dois.
- Ooopss! - alertou o Consciente - o Homem vai dormir.
Fim do turno d' Hoje. Ah! Estava a precisar de descanso.
- Sorte a tua; agora começo eu. Tenho de por o gajo a sonhar. Bem, então adeus!
- Bons sonhos!!
- AH! AH! Ah! - riu-se efusivamente, o que fez com que o tipo ficasse ainda com mais dores de cabeça - Esta noite vão ser pesadelos. Prepara-te para acordares a meio-da-noite!
Escrita
Escrever é como maquilhar-se, pomos sempre o superficial para parecer mais bonito e esquecemos que com o excesso fica rídiculo.
Longe aqui
Vivam as festas! Neste fim de semana caseiro com direito a festa temática, reviveremos os anos oitenta. Engraçado como a maioria não encontra nenhum traço relevante da década a nível do guarda-roupa e eu penso que a moda actual é um rebuscar no bau dos oitenta!
Nada
O silêncio abafa
numa introspecção que implode.
Aninho a um canto,
na procura de protecção.
O circundante entra
pele adentro,
numa violência rubra
da maior sangria.
Desdém lacrimejante,
de paragens secas,
desertos primaveris,
de infinitos estéreis.
Passagem de tudo
encontro de nada.
numa introspecção que implode.
Aninho a um canto,
na procura de protecção.
O circundante entra
pele adentro,
numa violência rubra
da maior sangria.
Desdém lacrimejante,
de paragens secas,
desertos primaveris,
de infinitos estéreis.
Passagem de tudo
encontro de nada.
Pormenores
No Reflexos de Azul há um post sobre os pormenores que se pode ler assim: "Todos os pormenores são sórdidos, por serem pormenores.", se o Frank Lloyd Wright dizia que "Deus está nos pormenores" quererá ele dizer que Deus é sordido? Ou afinal a lógica é o que a gente sabe?! De qualquer maneira eu aprecio os pormenores, acho mesmo que muita da beleza que vemos não raras vezes se esconde nos pormenores. E, voltando ao Roland Barthes, quando ele define o punctum como aquele detalhe fundamental que torna uma fotografia banal em algo especial, com a caracteristica na qual se transgride da mera transcrição da realidade para a arte, para a linguagem da subjectividade do olhar; fico com a sensação que negligenciar o pormenor e marcá-lo de sórdido é como roubar um azulejo de uma fachada porque afinal há lá muitos outros. Mas, se calhar, isto é só uma questão de pormenor. Ou seria brincadeira? É que noutro post pode-se ler também: "A prova que escrever e pensar são coisas distintas é que se pode escrever sem pensar.". Claro que isto são pormenores sórdidos no texto, porque o Blog até é um bom blog.
quarta-feira, julho 23, 2003
Acenos
Hoje ouvi uma música antiga dos Soft Cell, o "Say Hello, Wave Goodbye". Gosto desta música por variados motivos para além do musical. Mas hoje apeteceu-me acrescentar duas palavrinhas ao título "Say Hello (Férias), Wave Goodbye (Trabalho)". Isso, e uma esplanada e eu ia passar a acreditar na humanidade.
A Boca
A solidão devasta-nos a alma. O silêncio perfura as bocas, mas delas só sai um oco inaudível. O lábio funde-se no lábio, uma porta estanque do teu sentir. Do meu também. Dizes que não queres viver na cidade que eu te escancarei como o amplo deserto das minhas riquezas. Eu aceito num silêncio resignado que te circunda, que te abraça, envolve, mas com força, com força desmesurada até sentir o teu desconforto. A perversão de uma maldade sem a forma, com a crueza das pessoas maltratadas, criança mimada que resignada amua, mas sem mostrar a mágoa que lhe acinzenta o sorriso. Despeço-me em lágrimas, não, volto atrás e seco as lágrimas que ainda não tinham saído, enxaguo a alma. Sento-me de novo, e digo: repete. Não, não repitas. Eu oiço bem, olho nos teus olhos e oiço o teu coraçao falar da mágoa que te vai por dentro, e dói, eu sei que dói. É a mim que mais dói. Mas não somos todos vitimas do destino? Baixas os olhos como se não quisesses falar, sabes que eu te leio, um livro onde salto parágrafos que não compreendo, onde vejo texto aonde é afinal é paisagem baça e descorada de coisas que nem tu percebes. Não é fácil, escondo-me na boca de onde as palavras não saiem. Um esconderijo onde brinco sempre. Nada é certo, nada é por certo errado. Há um corropio de vocábulos a circular na cabeça, uma leve corrente de ar que rodopia, e rodopia. Eu sei aonde vai dar, o vento, o vento que sopra nos campos fazendo vendavais de palavras que deviam ser ancarceradas, em palavras temperadas no acre da boca com paladar a mágoa. Não, não queremos isso pois não? Amaino as palavras iradas da cabeça, e dou-te a mão. A simples mão de amigo que tu ainda não compreendes. Vais compreender assim saiam as palavras correctas, as que desvendam o mistério, que percorrem os teus olhos de mar até as areias movediças do meu sentir. Eu ainda guardo o teu número.
Tudo mal
Estou furibunda. Vi agora mais uma atrocidade, daquelas que nos trespassam o dia e que tentamos sempre relevar, não dar demasiada importância para não nos aborrecermos com questõesinhas. Um gato a morrer atropelado. Sim, um acontecimento tão trivial no nosso quotidiano, que já o torna um apêndice da paisagem. Mas o que tem este assunto que possa deixar-me transtornada? Simples, a constatação de que o respeito pelo que nos rodeia tem cada vez menos valor, apreender nas actitudes diárias da população uma valoração moral a roçar o maléfico. Quanto tempo mais teremos de aguentar com a subtração continua de uma qualquer consciência cívica? A moral e a deontologia terão perdido todo o valor para a sociedade em geral, sendo seguida somente por uma pequena parte da população (que muitas vezes se envergonha de querer fazer o bem, algo ridicularizado hoje em dia na nossa sociedade - não falo aqui de colectas, doacções ou outros circos televisivos)? Terá a consciência perdido toda a força argumentativa? Ou será somente que vivemos numa época desprovida de conceitos éticos?
Quantos de vós são capazes de ajudar um idoso desconhcido a levantar-se ou a sentar-se?
Quantos de vós são capazes de dar passagem a um peão na passadeira quando já estão demasiado atrasados?
Mais simples ainda, até agora quantas pessoas saudaram, mesmo as desconhecidas?
Quantos de vós são capazes de ajudar um idoso desconhcido a levantar-se ou a sentar-se?
Quantos de vós são capazes de dar passagem a um peão na passadeira quando já estão demasiado atrasados?
Mais simples ainda, até agora quantas pessoas saudaram, mesmo as desconhecidas?
Soluço
Tenho a alma presa num pendor de dor,
aguilhonada por lágrimas salgadas,
a pele tersa na agonia de te perder,
os olhos comprimidos de pranto,
os ouvidos cheios de choro,
o sangue célere em correr,
vivo na memória de ti,
e da tua pena.
O vento corre,
deixa-me um pouco de ti,
tombando delicadamante,
leve como és,
não podes mais ferir.
Então porque magoa a tua ausência?
Nunca passa tempo demais,
o antes e o agora comungam,
como tu e eu fazíamos,
na longinqua vida de antanho.
O meu nome é agora a tua essência,
o meu ser tua descendência.
aguilhonada por lágrimas salgadas,
a pele tersa na agonia de te perder,
os olhos comprimidos de pranto,
os ouvidos cheios de choro,
o sangue célere em correr,
vivo na memória de ti,
e da tua pena.
O vento corre,
deixa-me um pouco de ti,
tombando delicadamante,
leve como és,
não podes mais ferir.
Então porque magoa a tua ausência?
Nunca passa tempo demais,
o antes e o agora comungam,
como tu e eu fazíamos,
na longinqua vida de antanho.
O meu nome é agora a tua essência,
o meu ser tua descendência.
terça-feira, julho 22, 2003
Azar dos azares
Espero que nunca vos aconteça isto: estive mais de meia hora a escrever um post sobre uma aventura por blogs estrangeiros. Fiquei admirado de ter escrito tanto, e não é que, quando cliquei no botão do Post & Publish a m#$%a da Netcabo falhou e o post perdeu-se por completo. Como diz o anúncio da Frize "Tou que nem posso!". Lembrem-se antes de fazer Publish, façam CTRL-C. Melhor escrevam sempre no notepad e nunca directamente no Blogger Edit. Como li algures, "Dis Phukin' Thing Sux".
O começo da escrita
Saber que não se escreve para o outro, saber que isto que vou escrever não me fará nunca ser amado por quem amo, saber que a escrita nada compensa, nada sublima, que está precisamente aó onde tu não estás - é o começo da escrita.
Roland Barthes, "Fragmentos de um discurso amoroso"
Roland Barthes, "Fragmentos de um discurso amoroso"
How low can you go?
Cada vez que começo a ler os diversos jornais on-line, fico atónita. Temos de ler um par deles de diferentes cores politicas, para poder filtrar todas as informações. Cada vez mais sinto-me como um Indiana Jones para tentar vislumbrar umas luzes do que se passa no mundo. O recente caso Dr. Kelly é mais uma prova de que, cada vez mais, temos de ter atenção ao que lemos.
Yhicks!
Há dias em que acordamos com uma disposição... Hoje se me dizem algo que não goste, estou capaz de escarafunchar a cara do interlocutor com socos.
Boa, encontrei uma nova qualidade para aqui escrever, serve de excelente "punchingbag" espiritual.
Boa, encontrei uma nova qualidade para aqui escrever, serve de excelente "punchingbag" espiritual.
segunda-feira, julho 21, 2003
Os olhos
Os olhos? Os olhos têm pedrinhas lá dentro... Sáfiras brilhantes. São pequenos pedaços de magia quando brilham nas primeiras gotas da aurora. Choveu durante a noite, dizes tu com o desencanto de um sentir que ecoa nas paredes que preferimos desertas. O dia é como os outros dias em que o sol nos compromete, a chuva debita de mansinho uma melodia no vidro. Desenha quadros do Pollock que são efémeros e prateados, uma filigrana de mar que serpenteia em unissono com a minha preguiça. Tu abraças-me com os dedos, e vemos um filme escondido no silêncio perdido do olhar que se prolonga até a pele doer. O teu corpo é quente e frio o dia que nasce, frios os passos apressados das pessoas que se desviam da chuva que nos abrilhanta a manhã com um espectáculo na nossa janela. Não dizemos uma palavra, comemos os vocábulos nos beijos e as bocas saciadas são um jardim de flores murchas. Não sei se é do sono de uma noite incompleta de descanso, ou dos teus olhos... os teus olhos de sáfiras brilhantes não são para estes dias.
Desconcertante
Ia tomar café como fazia todos os dias, saia de casa automáticamente; pegar nas chaves de casa e colocar no bolso, óculos escuros na cabeça, um jeito ao cabelo, fechar a porta suavemente, chamar o elevador e aguardar olhando para a luzinha encarnada indicativa do real funcionamento do engenho. Dar o passo, sempre estranho, para dentro da caixa (as estórias que sempre ouvira de portas que se abrem no vazio, faziam que aquele fosse um passo arriscado e um acto de coragem) e deixar-se levar em pensamentos estranhos (achava que fazia parte da situação, a caixa do elevador tinha a condição de espaço diferente e convidativo a explorações dementes). Saiu da porta do prédio com o usual "Bom dia" ao porteiro. Seguiu para o café e quando chegou sentou-se na sua mesa, estava sempre limpa e com o cinzeiro à sua espera.
Sorriu para o empregado do café, pediu o jornal do dia para se lembrar de que existia algo mais à sua volta, antes de pegar no jornal sentia-se egoísticamente o ponto de partida para o mundo. Depois de ler achava sempre que era um pequeno ponto do nada. Sabia-lhe bem ser colocada assim na perspectiva global, pertencer a algo.
Nunca trocava mais do que duas ou três palavras durante as suas saídas. Levantava-se e dirigia-se de novo para o prédio. Entrava enquanto acenava gentilmente ao proteiro (parecia-lhe indelicado dizer bom dia num espaço temporal tão reduzido, optara à muito pelo trajeito de cabeça) e no hall decidia se ia pelas escadas ou se esperaria pelo elevador. Uma vez chegado ao apartamento, novo ritual inverso, colocar as chaves no recipiente, os óculos na caixa. Dirigia-se depois para a sala e no sofá deleitava-se com mais uma passagem do dia. O seu dia a dia consistia na saída para o café, o resto do dia era passado em deambulações hipotéticas sobre o que poderia acontecer de diferente no trajecto. Mais não esperava da vida.
Sorriu para o empregado do café, pediu o jornal do dia para se lembrar de que existia algo mais à sua volta, antes de pegar no jornal sentia-se egoísticamente o ponto de partida para o mundo. Depois de ler achava sempre que era um pequeno ponto do nada. Sabia-lhe bem ser colocada assim na perspectiva global, pertencer a algo.
Nunca trocava mais do que duas ou três palavras durante as suas saídas. Levantava-se e dirigia-se de novo para o prédio. Entrava enquanto acenava gentilmente ao proteiro (parecia-lhe indelicado dizer bom dia num espaço temporal tão reduzido, optara à muito pelo trajeito de cabeça) e no hall decidia se ia pelas escadas ou se esperaria pelo elevador. Uma vez chegado ao apartamento, novo ritual inverso, colocar as chaves no recipiente, os óculos na caixa. Dirigia-se depois para a sala e no sofá deleitava-se com mais uma passagem do dia. O seu dia a dia consistia na saída para o café, o resto do dia era passado em deambulações hipotéticas sobre o que poderia acontecer de diferente no trajecto. Mais não esperava da vida.
A voz
Eu podia ser a voz do teu corpo. Podia ser a palavra mar a sair dos teus olhos, a catarata de lágrimas que o teu sorriso de gozo acompanhava na sonoridade infantil das tuas gargalhadas. Podia ser a palavra terra da amostra de pele que me oferecias nos momentos que te desnudavas no pudor de uma luz entreaberta na cortina da manhã. Podia ser o astrónomo que desvendava o mapa cósmico dos teus sinais castanhos, o desenhador das constelações que marcavam o teu corpo. Era o meu dedo a dar-lhes voz, como quem indica um trajecto numa estrada para a aventura, com rotas pré-programadas que te guiavam ao prazer. Eu podia ser a voz que prolongava os teus suspiros abafados na noite quente que nós faziámos incendiar. Eu podia ser a palavra fogo que vinha do teu corpo, podia ser a labareda vermelha dos teus lábios mordicados. Era a língua que falava de palavras que vinham da almofada dos lábios. Era a língua que cruzava com uma palavra silenciosa que ficava escondida e presa no teu olhar, banhado na luz baça da noite que parecia não acabar. Eu queria ser a voz da tua voz, queria ser o verbo do amor que no silêncio da resposta te mantiveste fechada. Eu que fui voz de mim e do meu corpo num mês de Primavera tão parecido com o teu nome.
domingo, julho 20, 2003
Blog
Uma das razões de criar um blog foi tentar recriar um ritmo de escrita que tinha acabado desde que deixei a faculdade. Não tem resultado muito, já que muita das coisas que tenho colocado aqui são do "arquivo". Vou esforçar-me um bocado mais, apesar de a preguiça ser uma coisa incontornável...
A lampada do mestre
Um mestre Zen e o seu discípulo seguiam por um caminho a meio da noite. O mestre tinha uma lanterna.
- Mestre - perguntou o discípulo - é verdade que podes ver no escuro?
- Sim, é verdade.
- Então para que é a lanterna?
- Para que os outros não choquem comigo.
Jean-Claude Carriére, in "Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro"
- Mestre - perguntou o discípulo - é verdade que podes ver no escuro?
- Sim, é verdade.
- Então para que é a lanterna?
- Para que os outros não choquem comigo.
Jean-Claude Carriére, in "Tertúlia de Mentirosos, Contos Filosóficos do Mundo Inteiro"
Raparigas bonitas
Alguém chegou até nós à procura no Google por raparigas bonitas, ele(s) não sabe(m), mas por isso temos a Brisa. Deus escreve certo por procuras extraviadas...
sábado, julho 19, 2003
Catarina: O que e um cemiterio?
No outro dia fui ao cemitério… ia dizer que fui ver a minha irmã, mas já não a posso ver. Foi a minha consciência que me levou lá. Tinha uma história que ela não devia ouvir para contar-lhe. Fiquei cerca de quinze minutos a olhar para aquela caixa de pedra com as flores que eu trouxera por cima e uma vela acesa por quem não faço ideia. Não tive coragem de falar para uma caixa, logo eu que falo pouco. Peguei no caderno que anda sempre comigo, daqueles de capa rígida e lombada forte como eu gosto. Oferta do meu ex-namorado. Mais um caso em que a matéria é mais forte do que os sentimentos. Peguei na caneta porque nunca escrevo a lápis e escrevi-lhe uma carta como se ela estivesse com os olhos pousados sobre a caneta a ver as letras contar a minha história quando ela se cruzou com a dela, com a pessoa que eu amava que era a pessoa que ela amava. Um segredo que nunca tive coragem de contar-lhe.
É a primeira vez que venho sozinha a um cemitério. Ainda por cima para te ver. Trouxe-te flores. Begónias. Aquelas flores que tu nunca viste, que sempre quiseste que te oferecessem… só pelo nome, porque achavas que era bonito.
Quero falar-te do Abel.
Quando saiamos muito os três e íamos ao cinema ou à discoteca nunca foi para que isto acontecesse. Estava sozinha porque já não estava apaixonada pelo André e o tinha deixado a chorar três dias até ter decidido nunca mais me ver para me esquecer. Nunca mais o vi, isso é certo. Comecei a achar graça ao Abel porque era a única pessoa que me fazia rir e esquecer um pouco a frustração de mais uma relação falhada. Estava desapaixonada do mundo e o Abel pegou-me ao colo… naquela noite que fomos aos anos da Bé, disse-me ao ouvido, eu no colo do Abel, com a voz a sair-lhe quente na minha orelha e a ouvir que ele queria falar comigo porque já não estava apaixonado por ti. Flávia, o meu coração assustou-se, só pensei na tua felicidade, e depois enquanto a minha mão e a do Abel se desprendiam do calor da pele e ficaram desprotegidas naquela noite fria, o meu coração emocionou-se com o calor do corpo do Abel, aquele calor de ternura que tinha começado a percorrer os meus sonhos. Os meus sonhos… todos os dias sonhava com o Abel e contigo. Tu, Flávia, lá ao fundo enevoada e triste, a chorar por esses teus olhos tão meigos.
Tentei deixar de sair convosco mas vocês insistiam sempre e eu não tinha razões para não ir. Só sabia que o Abel já não gostava de ti e essa esperança fazia-me olhar para ele de maneira diferente e eu não queria isso. Chegava a casa e ia chorar para a casa de banho debaixo do chuveiro para que ninguém percebesse que eu chorava, chegava ao teu lado porque me chamavas, eu com os olhos vermelhos a dizer que era do sabão e depois subia para a parte de cima do beliche esforçando-me para que nenhum sussurro da minha alma se escapasse para tu não perceberes a infelicidade em que eu vivia. Isto durou um mês.
Na festa de anos do Abel estávamos todos um pouco eufóricos e tu dizias que era culpa do álcool. Foi quando o Abel pegou-me outra vez ao colo porque dizia que eu andava aos tombos e perguntou se me lembrava do que ele me tinha dito quando me pegou ao colo da outra vez. Eu fiz entender que sim. Então, tu ias lá à frente com o resto do grupo, e ele disse que já não estava apaixonada por ti porque se tinha apaixonado por outra rapariga. Ficou a olhar para mim com aquele olhar apaixonado e eu percebi, o meu coração pulou mais alto que a razão e dei-lhe um beijo. Fugi a correr do colo dele para te abraçar como se te estivesse a proteger. Chegámos a casa e tu meteste-me na banheira porque eu estava bêbeda. Foi quando eu puxei o chuveiro para cima da cabeça e por debaixo daquela água tépida pus-me a chorar à tua frente sem que te apercebesses. Tu só te rias de mim…
É a primeira vez que venho sozinha a um cemitério. Ainda por cima para te ver. Trouxe-te flores. Begónias. Aquelas flores que tu nunca viste, que sempre quiseste que te oferecessem… só pelo nome, porque achavas que era bonito.
Quero falar-te do Abel.
Quando saiamos muito os três e íamos ao cinema ou à discoteca nunca foi para que isto acontecesse. Estava sozinha porque já não estava apaixonada pelo André e o tinha deixado a chorar três dias até ter decidido nunca mais me ver para me esquecer. Nunca mais o vi, isso é certo. Comecei a achar graça ao Abel porque era a única pessoa que me fazia rir e esquecer um pouco a frustração de mais uma relação falhada. Estava desapaixonada do mundo e o Abel pegou-me ao colo… naquela noite que fomos aos anos da Bé, disse-me ao ouvido, eu no colo do Abel, com a voz a sair-lhe quente na minha orelha e a ouvir que ele queria falar comigo porque já não estava apaixonado por ti. Flávia, o meu coração assustou-se, só pensei na tua felicidade, e depois enquanto a minha mão e a do Abel se desprendiam do calor da pele e ficaram desprotegidas naquela noite fria, o meu coração emocionou-se com o calor do corpo do Abel, aquele calor de ternura que tinha começado a percorrer os meus sonhos. Os meus sonhos… todos os dias sonhava com o Abel e contigo. Tu, Flávia, lá ao fundo enevoada e triste, a chorar por esses teus olhos tão meigos.
Tentei deixar de sair convosco mas vocês insistiam sempre e eu não tinha razões para não ir. Só sabia que o Abel já não gostava de ti e essa esperança fazia-me olhar para ele de maneira diferente e eu não queria isso. Chegava a casa e ia chorar para a casa de banho debaixo do chuveiro para que ninguém percebesse que eu chorava, chegava ao teu lado porque me chamavas, eu com os olhos vermelhos a dizer que era do sabão e depois subia para a parte de cima do beliche esforçando-me para que nenhum sussurro da minha alma se escapasse para tu não perceberes a infelicidade em que eu vivia. Isto durou um mês.
Na festa de anos do Abel estávamos todos um pouco eufóricos e tu dizias que era culpa do álcool. Foi quando o Abel pegou-me outra vez ao colo porque dizia que eu andava aos tombos e perguntou se me lembrava do que ele me tinha dito quando me pegou ao colo da outra vez. Eu fiz entender que sim. Então, tu ias lá à frente com o resto do grupo, e ele disse que já não estava apaixonada por ti porque se tinha apaixonado por outra rapariga. Ficou a olhar para mim com aquele olhar apaixonado e eu percebi, o meu coração pulou mais alto que a razão e dei-lhe um beijo. Fugi a correr do colo dele para te abraçar como se te estivesse a proteger. Chegámos a casa e tu meteste-me na banheira porque eu estava bêbeda. Foi quando eu puxei o chuveiro para cima da cabeça e por debaixo daquela água tépida pus-me a chorar à tua frente sem que te apercebesses. Tu só te rias de mim…
Aberracoes
A argumentação de muita gente no que concerne ao comportamento humano parece levar sempre o timbre do esquecimento do facto de o ser humano pertencer ao género animal. É pena, isso só me faz pensar ainda com menos parcimónia de que somos uma aberração da natureza.
sexta-feira, julho 18, 2003
Tres horas da manha e uma estrada deserta
Abracei-me a ti de tal maneira que parecias um cobertor. Continuavas meiga e fofa como sempre, o que eu não estranhei. O nosso amigo estava morto entre aquilo que parecia ser o teu automóvel que felizmente não ias a conduzir. Nada mais podíamos fazer do que chorar as lágrimas que saltavam cá para fora pelos olhos com que tu me vias, e tu numa angústia tão grande que eu era capaz de sentir. Muito para além da minha. Não tiveste coragem de olhar para ele e eu muito menos. Abraçamo-nos uma vez mais como quem quer escapar para fora do seu corpo. Tu metias-te em mim com um sofrer que me doía. Moldavas-te a mim e eu julguei que era por nos conhecermos tão bem, mas parecia que o teu corpo queria entrar ainda mais dentro do que dantes. Um aperto em que eu sentia o teu coração, não a bater no meu peito, mas dentro dele ao ritmo do meu num compasso de dor que era brutalmente assustador. De repente ficámos sozinhos numa solidão indefinida com um sabor a perda que não queria sair da boca. Três horas da manhã e uma estrada deserta. Tínhamos algo em mãos mais duro de engolir do que a morte. A angústia do momento fez-te falar e eu ouvi-te como sempre te ouvi, profundamente, a tentar perceber aquilo que querias mesmo dizer na tua trôpega linguagem. Gostavas muito dele e eu sabia, mas não sabia o quanto.
Please....
Porque é que em Portugal se acha normal um grupo chamado "Cabeças no Ar" feito por alguns talentosos e outros menos deve estar destinado ao sucesso? É terrivel a amalgama de música que daqui sai, e o talento fica reduzido ao banal. Haja um pouco mais de respeito por nós e exijamos melhor!
Questoes pertinentes
Na senda de respostas a algumas perguntas que me assaltam por vezes, mais uma vez deixo algumas considerações que pretendia ver respondidas:
- porque é que o Beep-Beep ganha sempre ao Coiote, o Tom ao Jerry, o Piu-Piu ao Gato
e o Speedy Gonzalez ao "El Gatito"?
- porque será que após algum tempo celibatário, sem que nos liguem minimamente, nos vemos invariavel e repentinamente assediados por diversas propostas?
- porque é que o Beep-Beep ganha sempre ao Coiote, o Tom ao Jerry, o Piu-Piu ao Gato
e o Speedy Gonzalez ao "El Gatito"?
- porque será que após algum tempo celibatário, sem que nos liguem minimamente, nos vemos invariavel e repentinamente assediados por diversas propostas?
Copaças e Fumaças
Ao JCF
Apesar de se vislumbrar mais um fim-de-semana hedonista, cheio de noites mundanas e boémias, e subsequentes hipóteses de um day after sofrido, A Espada Relativa vai manter os serviços mínimos e estar activa neste fim-de-semana. Para isso confiámos no copy/paste e nalguns textos em arquivo ainda por publicar. Podem continuar a aparecer.
Apesar de se vislumbrar mais um fim-de-semana hedonista, cheio de noites mundanas e boémias, e subsequentes hipóteses de um day after sofrido, A Espada Relativa vai manter os serviços mínimos e estar activa neste fim-de-semana. Para isso confiámos no copy/paste e nalguns textos em arquivo ainda por publicar. Podem continuar a aparecer.
Happy Birthday
Este fim de semana presentearam-me com quatro convites para outras tantas festas de anos. Como não possuo o dom da omnipresença, alguém ver-se-a privado da minha presença. Nestas coisas há sempre alguém que fica contente, não sei quem mas há-de haver. Há sempre. É uma coisa ingrata de ter de optar por amigos, auscultar as sensibildiades do momento é um primeiro passo para uma boa decisão. Mas as vezes, o pior é mesmo justificar para nós mesmos o porquê de certas opções. O que vale nisso, é que fica entre mim e o meu grande ego. Poderiam até ser cinco as festas de anos deste fim-de-semana, mas, infelizmente, a do meu pai já não se comemora. Isto é, eu vou certamente beber um copo por ele. Afinal, como se diz habitualmente, "Quem sai aos seus"...
quinta-feira, julho 17, 2003
Bernardo: As raparigas bonitas
Ainda não consegui ver de que cor eram os olhos dela. Estou para aí há uns bons vinte minutos sentado na mesa com ela. Chama-se Raquel. Veio com a Inês e sentaram-se na mesa da Carlota. Depois cheguei eu. Isto aconteceu ontem. Sei que sou tímido, todos notam. A proximidade com raparigas bonitas é como entrar em rota de colisão com a desgraça. Há sempre matéria a cair: ou o café ou o copo de água ou o açúcar. Pareço uma criança a fazer eternos disparates. A idade é uma ideia relativa. Há cargas magnéticas a serem emanadas dela que me atraem e que depois sou obrigado a desviar o olhar como um míssil teleguiado que quer escapar da colisão. As raparigas bonitas fazem-me isto. Tenho de dar atenção à Carlota. Isto ontem, à mesa com a Raquel. Não sei como é possível namorar-se uma rapariga assim tão bonita. O Paulo pelos vistos já namorou. O amor é um fenómeno absolutamente metafísico sem racionalidade cientifica. Uma razão impossível de calcular. Quando olhei para o dedo mendinho dela pousado tão suavemente sobre o maço de tabaco, quase pensei que a gravidade não existia para ela. Vejo-a a entrar no portão da faculdade, é uma rapariga baixa. Mas a grandeza das coisas também é uma ideia relativa. É elegante e parece compreender o chão que pisa. Um andar certo, pausado, cadenciado como o bater dos segundos, tem quase uma precisão matemática no seu andar. Foi assim que a vi entrar na faculdade. Faz hoje uma semana. Espero o meu primo Abel. Foi um presente do cosmos, ou de como os átomos e as moléculas podem fazer arte: uma coisa que ninguém entende e onde ninguém tem razão. A estupidez do belo que nos dá cabo da razão e da lógica. A arte é a morte da razão. A Raquel diz que assim é que deve de ser. As raparigas bonitas dão-nos cabo das convicções. É por isso que eu acho que vou namorar com a Carlota, só tenho boas razões para isso. Talvez um dia me preocupe com os sentimentos que isso tem. Vou começar a namorar hoje com ela. Comecei a namorar com ela ontem. A Raquel e a Inês foram-se embora. Não vi, não quis olhar. Dei a mão à Carlota e depois um beijo. Há coisas que não precisam de ser explicadas. Parece ser um dos fascínios da vida, como andar com a cabeça na lua.
in "O Amor por outras razões"
in "O Amor por outras razões"
Cubanos
Depois de Compay Segundo chegou a vez de Célia Cruz também nos deixar. Aos poucos os velhos icones cubanos abandonam-nos. Entre a tristeza de os ver partir, renasce uma secreta esperança também...
Orientaçoes
Hoje sonhei muito (esta quantificação é sempre relativa, no campo dos sonhos o tempo não tem a mesma percepção que na realidade), e quando acordei senti que tinha compreendido de uma nova forma uma frase que oiço desde sempre : "O sonho comanda a vida".
Do Amor
Sinto o teu cheiro quando oiço uma música que me faz lembrar de ti, o meu coração acelera numa taquicardia desgovernada, as mão suam e mancham-me o jornal. Estou numa esplanada e as lembranças dos teus beijos fazem-me corar de uma forma indesejável. As boas recordações transformam-se rapidamente em raiva quando te vejo acompanhada com outro, o coração continua a bater de pressa mas um imenso formigueiro propagasse no corpo, o que me faz mudar de posição várias vezes, num desconforto que me faz amaldiçoar o corpo. O querer compreender-te é uma dor de cabeça. O amor é afinal um parque de diversões psicossomáticas.
quarta-feira, julho 16, 2003
Defeso
Nesta época de defeso futebolístico A Espada Relativa foi ao mercado e garantiu a contratação de um novo trapezista; com boa desmarcação para o humor; sentido de oportunidade e bem posicionado para receber informações sobre a actualidade e boa capacidade de penetração nos assuntos mais complexos fazem dele um bom reforço, quem garantiu foi a presidenta do nosso circo, e ainda por cima a custo zero segundo fontes de informação que preferiram garantir o anonimato. Que o uso da Espada seja de toda a correcção são os nossos desejos.
New Sport
Noticias da tarde, hora do almoço - Golpe de Estado em S. Tomé. O correspondente da RTP está efusivo, mais uma frente de combate em directo, a RTP em cima do acontecimento e ouvem-se os comentários dos telespectadores lá em casa enquanto se segue atentamente a noticia:
Sis - O que é que se passa?
Bro - Acho que a RTP quer ser de novo a 1ª a transmitir os primeiros tiros!
Mã - Mas eles estão loucos? Que raio de revolução é esta? Os opositores são logo presos e não há feridos?
Me - Não vê que agora já há tiros e tudo! Deve ser para provar que é mesmo a sério!
(o câmaramen aponta para ambos os lados a prescutar a origem das rajadas de metrelhadora).
Mã - Então os tiros vêm dos lados da ilha!
Sis - Agora os golpes de Estado são desporto nacional lá? Podiam importar e ao menos tinhamos algo divertido na politica por cá!
Me - Se calhar querem nova uma modalidade, em vez de Jogos Olímpicos de 4 em 4 anos, temos Golpes de Estado de 8 em 8.
Bro - Je!Je! É razoavel.
Sis - O que é que se passa?
Bro - Acho que a RTP quer ser de novo a 1ª a transmitir os primeiros tiros!
Mã - Mas eles estão loucos? Que raio de revolução é esta? Os opositores são logo presos e não há feridos?
Me - Não vê que agora já há tiros e tudo! Deve ser para provar que é mesmo a sério!
(o câmaramen aponta para ambos os lados a prescutar a origem das rajadas de metrelhadora).
Mã - Então os tiros vêm dos lados da ilha!
Sis - Agora os golpes de Estado são desporto nacional lá? Podiam importar e ao menos tinhamos algo divertido na politica por cá!
Me - Se calhar querem nova uma modalidade, em vez de Jogos Olímpicos de 4 em 4 anos, temos Golpes de Estado de 8 em 8.
Bro - Je!Je! É razoavel.
O Ceu
O céu arredou-se de mim e correu lesto no pôr do sol feito de pó e areia. Emaranhou-me na sua teia de tranças finas, de finos cabelos áureos que brilhavam com os ultimos fogachos de um ócaso outonal. E correu a boca sua de veludo sobre a minha, com o riso de vestes luxuosas, pele de seda debruada a ouro e prata, e corria a boca na boca de vez em vez, na boca minha de lareira, de achas de madeira e de cinza. O céu, o céu sempre a fugir a esfrangalhar-se em trapos que cobriam a noite num nevoeiro espesso. E a boca, sobre a boca dos sorrisos foi dado um beijo no ócaso.
23.Outubro.91
23.Outubro.91
O espirito
Ao acordar não me apetecia levantar, queria ter ficado cativa dos meus sonhos.
Apetecia-me desempoeirar-me de todo o sofrimento, de atirar para trás todas as mágoas, de esquecer todo o mal que vivi. Queria ter-me erguido hoje limpa do que corrói as entranhas, do que destrói a felicidade. Queria olhar-te e só ter bondade, não pensar nunca mais na dor. As cicatrizes da alma fecham, mas a sua marca nunca é indelével.
Serão sempre o lembrete do que passamos. Tenho este espirito hoje, e não parece meu.
Gosto sempre de não pensar assim, prefiro pensar no que me faz caminhar em frente, não ser tão egoísta (fico ainda mais triste pelo egocentrismo). Acção.
Apetecia-me desempoeirar-me de todo o sofrimento, de atirar para trás todas as mágoas, de esquecer todo o mal que vivi. Queria ter-me erguido hoje limpa do que corrói as entranhas, do que destrói a felicidade. Queria olhar-te e só ter bondade, não pensar nunca mais na dor. As cicatrizes da alma fecham, mas a sua marca nunca é indelével.
Serão sempre o lembrete do que passamos. Tenho este espirito hoje, e não parece meu.
Gosto sempre de não pensar assim, prefiro pensar no que me faz caminhar em frente, não ser tão egoísta (fico ainda mais triste pelo egocentrismo). Acção.
terça-feira, julho 15, 2003
Jornais
Em Portugal 83 em cada 1000 pessoas compram diariamente um jornal, na Finlandia são 705. Alguma coisa está a falhar, ou será que os jornais são muito bons para acender lareiras?
Erro.1
Hoje ao escrever um mail a um amigo, enaganei-me e perguntei-lhe se ele não queria escrever uns posts de pescada... E não é que me saiu um trocadilho sem querer!
Lagrimas ao vento
Cobria suavemente a tua nudez o pólen a flutuar na melodia do vento. Os poros perfurados da alma exalavam perfumes nos meus olhos, até uma lágrima fria se desprender sulcando por uma ferida há muito resgatada na face. A lua agarrou-se nos teus cabelos, e das centelhas do teu aloirado cadexo os seus brilhos faziam arder a pele.
A nudez floria as searas de água e eu amava-te os gestos na cantiga do vento lesto; via voar os teus dedos como flores que dançavam na aragem, e eu sorria o marfim preso na boca. Na boca beijada apenas de luz por ver que
…até que as lágrimas aqueceram no beijo.
in "Um Céu de Caricias" (1991)
A nudez floria as searas de água e eu amava-te os gestos na cantiga do vento lesto; via voar os teus dedos como flores que dançavam na aragem, e eu sorria o marfim preso na boca. Na boca beijada apenas de luz por ver que
…até que as lágrimas aqueceram no beijo.
in "Um Céu de Caricias" (1991)
Tempo.3
A expressão já é antiga mas desde o surgimento do El Niño e as crescentes perturbações climatéricas do planeta começa a fazer realmente sentido. As pessoas estão realmente e cada vez mais "apanhadas do clima".
Cabala!
O contador deve ter ido passar um fim de semana tão repleto como o nosso! (só que ele ainda está com os copos e nós já nem de ressaca estamos) Não é que passa das 4.053 visitas para as 3.043!? Ou então, Shinho não era necessário subtraires as minhas visitas, eu prometo que agora me vou portar bem.
Só falta ele retirar as minhas 1800 e já ficamos com um contador fidedigno. [Shinho]
Só falta ele retirar as minhas 1800 e já ficamos com um contador fidedigno. [Shinho]
Noites
Passados os dias em afincados afazeres, chega a noite de manto quente que te resguarda a alma e vela por ti.
No universo onírico vives atribulado com paisagens e personagens que desde sempre te acompanham. Nos sonhos vês o que fazer, e na realidade o procuras impôr. Linhas ténues ligam-te o sonho ao que vives, e quando estas esvanecem cortas o que passou e esqueces, como se procura esquecer um pesadelo. A dor que sentes e tanto te faz sofrer não é mais do que o reflexo de um sonho que não podes, de que não queres acordar.
No universo onírico vives atribulado com paisagens e personagens que desde sempre te acompanham. Nos sonhos vês o que fazer, e na realidade o procuras impôr. Linhas ténues ligam-te o sonho ao que vives, e quando estas esvanecem cortas o que passou e esqueces, como se procura esquecer um pesadelo. A dor que sentes e tanto te faz sofrer não é mais do que o reflexo de um sonho que não podes, de que não queres acordar.
segunda-feira, julho 14, 2003
Desperdicio
Já olhaste o desperdício? Já viste de frente, esse vento obsessivo que te corta o olhar? Que te cega o sorriso, que te acaba com o brilho e o bónus das noites da lua de prata? E que a terra húmida de lágrimas, que a teus pés se ajoelha, parece que te engole como areias turvas e movediças? E que esse teu olhar de fino desespero entrelaçado em agonia, filigrana patética urdida na teia da covardia, de tanto recusar o passado, não se consegue projectar num futuro onde o raio vibrante da experiência te constrói, mas apenas te deixa envolva num medo indefinido e sem razão? Desperdício, Desperdício... Quantas vezes queres ecoar essa palavra no céu rasgado da minha boca?
Ritorno
Voltamos às lides após um violentíssimo fim de semana.Os efeitos de tanta party ainda se fazem sentir...
Desfasamento
Ando desfasado do mundo. Não tenho visto telejornais, o ultimo jornal que li foi há quinze dias. Também não tenho ido ao cinema. No meu rádio só passa música. Só leio um livro do século passado. Estou desinformado da actualidade. É verdade, a ignorância é a coisa mais próxima da felicidade.
Aquario.Um
Malmequer, bem-me-quer .... bem-me-quer, malmequer...
Será verdade? Ou injusta a ideia de pensar que... Será assim? Como nos contos populares? És capaz de acreditar nisso? Ou dizer-me que não? Que é tudo falso, que ainda és capaz de me amar?!
Mergulhou fundo, na possível insensatez das suas ideias como se se quisesse afogar, ou apenas matar uma dor. Mergulhou no azul límpido da água e ateve-se a um beijo na água. Querer-se-ia suicidar?
Ou apenas matar uma dor? Teria coragem de morrer por ela?
Malmequer, bem-me-quer .... bem-me-quer, malmequer...
Será assim? O mundo corria na gárgula que debitava os seus sonhos. Seria o rio onde nos conhecemos? És capaz de me manter afastado dos teus segredos? Será a tua boca um tesouro escondido?
Mergulhou fundo outra vez. Ficou imóvel por tempos imenso, deixando a corrente fazer ondas no seu corpo. Um sufoco na garganta, como um aperto de uma multidão que o contorcia. Querer-se-ia suicidar?
Ou seria apenas covardia para enfrentar os seus medos?
Será verdade? Ou injusta a ideia de pensar que... Será assim? Como nos contos populares? És capaz de acreditar nisso? Ou dizer-me que não? Que é tudo falso, que ainda és capaz de me amar?!
Mergulhou fundo, na possível insensatez das suas ideias como se se quisesse afogar, ou apenas matar uma dor. Mergulhou no azul límpido da água e ateve-se a um beijo na água. Querer-se-ia suicidar?
Ou apenas matar uma dor? Teria coragem de morrer por ela?
Malmequer, bem-me-quer .... bem-me-quer, malmequer...
Será assim? O mundo corria na gárgula que debitava os seus sonhos. Seria o rio onde nos conhecemos? És capaz de me manter afastado dos teus segredos? Será a tua boca um tesouro escondido?
Mergulhou fundo outra vez. Ficou imóvel por tempos imenso, deixando a corrente fazer ondas no seu corpo. Um sufoco na garganta, como um aperto de uma multidão que o contorcia. Querer-se-ia suicidar?
Ou seria apenas covardia para enfrentar os seus medos?
sábado, julho 12, 2003
Encerrado para coisas mundanas
Este blog vai encerrar até segunda-feira, o motivo prende-se com um rol de festas mundanas, tipo casamento, baptizado, festa de aniversário. Se resistirmos à ressaca voltámos na Segunda. Se voltarmos na ressaca, será por um motivo realmente muito bom. Já sei, já sei, vamos divertirmo-nos por todos vocês.
sexta-feira, julho 11, 2003
Antes de chegares escrevi-te
Isto sou eu a tentar acordar. 10:16 da manhã, 1 hora e 16 minutos de atraso para o trabalho. Vontade de trabalhar; zero. É o meu último e-mail para ti. Dizes que vais regressar mas não queres que eu te espere. Então lembro-me que não me queres conhecer. Nem questiono. Os copos bebem-se depressa, mas o efeito custa a passar. A vida anda lenta, mas eu quero acreditar que sou só eu. Não me apetece trabalhar. Não é de hoje. Acho que é tique. Não devia sair à noite, muito menos a meio da semana. Nunca cheguei tão tarde ao trabalho. Uma amiga ontem disse-me que estava mais bonito, azar porque isso não me serve de nada. Pelo menos no que me toca a ti. Dei um beijo na boca por engano a uma rapariga, mas a culpa foi dos copos. Foi ela que disse e eu obviamente não quis contrariar. De qualquer maneira não soube a nada. Quando não há amor o tempo não se estende. É disso que eu gosto, quando um beijo dura uma eternidade. Quando o tempo custa a passar e é feito de uma massa pegajosa que se sente de forma prolongada. Ontem tentei apaixonar-me mas dava muito trabalho. Tinha de enganar muito o coração e ele já não vai muito nessas tretas. Estou com uma das minhas mais violentas ressacas e não devia. Até parece que sou eu que estou a fazer alguma despedida. E tu divertiste-te? Mudava de emprego se isso resultasse. Queria escrever histórias. São bem melhores do que a realidade. Se eu fosse profissional até podia escrever histórias que acabam bem. Tinha tempo para isso. Fartei-me de encontrar paixões antigas ontem. E logo eu que só quero paixões novas. Já estou farto. Ou a vida muda, ou mudo eu. Mas eu estou muito difícil de mudar. Queria era acordar. Largar esta ressaca maldita e pôr-me a trabalhar para esquecer. Não sei o que quero esquecer. Mas acordei ainda a dormir e dou-me ao direito de ter um discurso assim. Tenho um óptimo acordar quando estou feliz, ao contrário também. Só não sei porquê que hoje acordei assim. Nem é anormal nem nada. A semana passada foi igual. Três horas de dormida mas aguentei-me. Hoje atirei-me à bronca. Ontem disseram que eu era estranho. Novidade!! Se eu fosse igual aos outros não tinha piada. Ainda para mais não me esforço o mínimo para isso ser assim. Já fui ao médico e ele disse que estava tudo normal. Já pensei em ir a um psicólogo, mas continuo a preferir ir jantar com a minha amiga que é psicóloga, e que geralmente me diz que sou eu que a psicanaliso. Era excelente rapariga para me apaixonar. Como já o fiz. Mas agora não dá. O coração já não volta atrás. Perdeu esse sentido. Aliás, todos os outros também. Anda às voltas. O que lhe dá imenso gozo. É uma pena. Mas quando se concentra em alguém é com uma força tal que quase esmaga. Já vens? Não te vou esperar porque se calhar é como tu dizes, é melhor assim.
Do Medo (I)
Quando acaba o medo só sobra o prazer
Deve ser a única maneira em que perder significa ficar com tudo
Deve ser a única maneira em que perder significa ficar com tudo
Humana
Desde o início que sinto uma leve nostalgia assaltar-me o estômago, como uma carícia de uma bebida fria no meio do Verão. Tenho o direito de ter os olhos fechados, de estar cansado da luz do tungsténio que se assemelha a um sol hipócrita. Tenho o direito de ouvir a música que quero; fechado no pequeno compartimento egoísta do meu walkman. Walkman? imagine-se... Não posso agarrar a tua alma, é impossivel agarrar as almas egoístas, mas sempre posso, no compartimento íntimo e turbilhante da minha imaginação, rever-te a dançar na tua maneira peculiar de dançar. Mal, mas que importa? É a tua maneira de dançar, e nalguma coisa tinhas de ser verdadeira como a certeza de que o dia sucede à noite e a morte virá. Ou pelo menos, no modo selvagem em que eu acredito ser esse o único de assumires uma imperfeição; o que só te torna mais bela porque, afinal, mais humana. E é na humanidade de cada um de nós que se encerra a beleza mais pura. Ou não.
quinta-feira, julho 10, 2003
A Linha do Horizonte
Quando ela olhou para o horizonte, e viu aquela linha dividindo o céu do mar, apercebeu-se. Apercebeu-se do quanto era ténue a demarcação que dividia as coisas. Reparou que o seu corpo não podia caber nessa linha fina da fronteira, que não se podia habitar à margem de uma e de outra coisa. Imaginou que o seu braço direito tocava no céu e o que o esquerdo acariciava o mar. Ela sonhava viver na fronteira imperceptível das coisas... mas sem pertencer.
Dentro dos olhos
Ela cresceu dentro dos olhos dele. Para ele, ela não passa de uma luz que brilha durante os dias, e também nas noites em claro. Olha-a como rotina arrancada ao seco dos dias, observa todos os seus gestos, enciúma-se das suas carícias, ri-se com os seus risos, e treme, quando ela está dentro da sua íris como uma imagem irrecusável. Ela cresceu dentro dos seus olhos, o ciclo inteiro das chuvas. Ele adora vê-la caminhar desajeitada pela calçada, pousa os olhos nos seus passos saltitantes pulando com eles, julga que está com ela, que a acompanha no seu movimento. Todos os dias. Mas quanto mais de aproxima, mais depressa desaparece. Ela cresceu dentro dos seus olhos, e quando ela se esfuma magicamente do interior dos olhos castanhos e escuros, nasce-lhe um medo estranho e uma ânsia que o enerva. Não sabe controlar a ânsia, e agrilhoa-se num temor repentino. É dentro dos seus olhos que ele mais a admira. Dentro dos seus olhos, ele olha irrealidades como alucinações: toca-lhe o corpo que nunca tocou, beija-lhe o sorriso com a alegria dos sorrisos, sente a ternura dos seus gestos como uma realidade crua. Dentro dos olhos dela há uma fábrica de carinho.
adaptado de um original de abril.92
adaptado de um original de abril.92
Mi casa es su casa
Um agradecimento muito especial às pessoas que nos visitam, ainda fico espantada que alguém leia o que escrevo (o colega escreve muito bem!).
Esperamos os vossos comentários e participações!
Shinho txim/txim pelas 3800 visitas!!! You deserve it!
Esperamos os vossos comentários e participações!
Shinho txim/txim pelas 3800 visitas!!! You deserve it!
Breezer
Não sei porquê mas disse-me um italiano, em conversa sobre o dia a dia, quando me queixava das amarguras da vida (muito trabalho, pouco sono e algum ginásio), que eu devia ser do género de personagem dos spots Bacardi Breezer... E nem sabe ele como me chamam em casa... Será que o nosso nome (sim considero-o meu) pode influênciar de alguma forma a nossa forma de agir?
Sfogarsi
Dias cheios e sem tempo para nada, já nem consigo ver um pôr do sol. Daqui a nada estamos novamente no Inverno e eu sem aproveitar o bom tempo. Os meus "bébés" sentem a minha falta, dos nossos passeios e brincadeiras tontas.
Sinto um frio na alma de ver o tempo passar assim, sem proveito.
Sinto um frio na alma de ver o tempo passar assim, sem proveito.
Nas maos do tempo
Estendeste-me a mão com as cicatrizes do destino expostas na sua palma. Tu dizes não acreditar nisso. Eu também não. Recebo-a na concha quente que as minhas mãos formam. Como nos fomos conhecer, pergunto-te. Tu foges da palavra destino numa resposta longa e sem nexo. Para o acaso, para as coisas inexplicáveis que nos acontecem, utilizamos a palavra destino. Há coisas tão simples como nos cruzarmos por razões que não nos ligavam. E porque estamos juntos, perguntas tu. A tua outra mão, de novo, sobre as minhas que ainda guardavam a tua, adormecida no murmúrio do conforto das minhas. Dou uma resposta simples, sem me ferir na profundidade de intenções que as tuas palavras abriam. As respostas simples não te agradam, e a fuga das tuas mãos elegantes do permeio das minhas pronuncia um distaciamento que o meu silêncio agudiza. Desvias o teu olhar como um paragráfo de texto escondido no meu olhar. O tempo são reticências que se vão somando umas atrás das outras.
quarta-feira, julho 09, 2003
Fomos Apanhados
O Fabien descobriu que a imagem da katana japonesa que temos como imagem do nosso blog, é uma lâmina de um só gume. É verdade, e eu sabia-o. Se alguma vez imaginaram que aqueles movimentos dos samurais que mais parecem um bailado era um devaneio estético no meio de uma luta mortal, enganaram-se, as espadas consoante o tipo de lâmina que têm obrigam a movimentos diferentes para o seu melhor uso. Leia-se melhor uso como cortar, trespassar, decepar. Ouchh!! Na nota final de um dos seus mails, Fabien diz: "Mais me agrada que, tratando-se de uma katana, tenham publicado a imagem da lâmina embainhada. Como sabes, uma arma de samurai só se desembainha para duas coisas: para verter sangue ou para cuidar da lâmina. De resto permanece "calada"." É verdade, já num post anterior tinha dito: "A lâmina que divide a espada pode rasgar a pele, pode trespassar os tecidos e perfurar o corpo ou pode ser um símbolo. Nós preferimos o símbolo. Os objectos, como as palavras, dependem do uso que lhes dámos.". Por ser um símbolo, o Fabien recordou-nos que "Quanto à lâmina, é pena que a katana não se ajuste ao mote dos "dois gumes", pois são armas belíssimas e sinónimo de valores que, infelizmente, se vão perdendo. Os expressos no Bushido, a doutrina do guerreiro.". Ora o Bushido (a maneira de agir do guerreio samurai) consiste nos seguintes valores: Fidelidade, Modéstia, Civilidade, Virilidade, Veracidade. Valores de uma cultura oriental que nós subscreve-mos e que nos fascinam, por isso a nossa escolha recaiu sobre aquela imagem, mesmo que não representasse o sub-titulo deste blog. Voltaremos as espadas..
as vezes
Estamos com a alma mais espalmada que plasticina,
Queremos chorar e temos o deserto do Sahara dentro de nós,
Recordamos coisas tristes e não temos memória de alguma felicidade,
Temos dores no corpo sem feridas,
O tempo passa quando deveria parar e pára quando não deveria,
Estamos no sítio errado na hora certa.
(ler cada frase precedida do título)
Queremos chorar e temos o deserto do Sahara dentro de nós,
Recordamos coisas tristes e não temos memória de alguma felicidade,
Temos dores no corpo sem feridas,
O tempo passa quando deveria parar e pára quando não deveria,
Estamos no sítio errado na hora certa.
(ler cada frase precedida do título)
Sim, porquê?
Temos memórias que nos deixam com um estúpido sorriso que não desaparece.
São as melhores. Lembranças de momentos gravados na pele e que fazem o sangue correr mais depressa.
São as melhores. Lembranças de momentos gravados na pele e que fazem o sangue correr mais depressa.
Bolas!
O tempo não chega para tudo, será que não posso arranjar um clonesito de moi para ajudar na distribuição de tarefas?
terça-feira, julho 08, 2003
KelkeXoseElektronik #2.Julho
Já está disponivel na fututa Rádio Online Beatamina, o programa de Julho do Dj Shinho desta vez dedicado à Deep House.
Also known as deep disco, deep house is one of the earliest incarnations of house music originating in Philadelphia and New York. When you strip away the vocals and organ sounds of traditional house music, you are left with the deep soulful, extended grooves of deep house. Driven by a deep throbbing bass line, deep house is firmly rooted in the black American soul tradition.
- exerpt from Rave Culture: an Insiders Overview written by Jimi Smith
aqui fica a playlist (65 minutos)
01. Leftfield - El Cid (I-Cube Table Tennis Remix)
02. Röyksopp - Poor Leno (Sander Kleinebergs Remix)
03. Kevin Yost - Dreams of You
04. D'Julz - Crossing Roads
05. Ian Pooley - Cold Wait (Attaboy Remix)
06. Gamat 3000 - Whispering
07. In the House - Please Go Away
08. Miguel Graça - The Wellbeing
09. Dirty Vegas - Ghosts (Lexicon Avenue Vocal Mix)
Also known as deep disco, deep house is one of the earliest incarnations of house music originating in Philadelphia and New York. When you strip away the vocals and organ sounds of traditional house music, you are left with the deep soulful, extended grooves of deep house. Driven by a deep throbbing bass line, deep house is firmly rooted in the black American soul tradition.
- exerpt from Rave Culture: an Insiders Overview written by Jimi Smith
aqui fica a playlist (65 minutos)
01. Leftfield - El Cid (I-Cube Table Tennis Remix)
02. Röyksopp - Poor Leno (Sander Kleinebergs Remix)
03. Kevin Yost - Dreams of You
04. D'Julz - Crossing Roads
05. Ian Pooley - Cold Wait (Attaboy Remix)
06. Gamat 3000 - Whispering
07. In the House - Please Go Away
08. Miguel Graça - The Wellbeing
09. Dirty Vegas - Ghosts (Lexicon Avenue Vocal Mix)
Certezas
Ah, e antes que nos perguntem, é óbvio que só escrevemos aqui porque gostamos que nos leiam, que é óvio que temos o culto do indivíduo, que acreditamos na validade das nossas ideias, teorias e conceitos gerais sobre a vida. E porque acreditamos ainda mais na falibilidade das nossas ideias, até temos o tal sistema de comentários, onde todos os que nos lêem podem discordar. A democracia existe para valorizar o individuo, para que a igualdade de oportunidades sejam equitativamente distribuidas, para que a liberdade e pluralidade de ideias se possa transmitir livremente. Os blogs, são para nós, a exaltação plena da democracia enquanto partilha social e direito individual. A democracia existe para a consagração do indivíduo. Quem é contra a exaltação da personalidade nos blogs, é tão somente contra a democracia. Nós não!
Duvidas
Quando os outros até encontram melhores palavras para definir as nossas ideias. Usámos as dos outros, sem problemas... mas com (c) copyright!
"Há almas com efeito(...) para quem a Incerteza é a pior das torturas. Quando temos uma certeza, por muito amarga que seja, é só por ela que sofremos. Porém, se nós possuímos uma dúvida, mais horroroso se torna o nosso martírio: sofremos por essa dúvida transformada em terrível certeza, e pela esperança que a mesma dúvida encerra. Numa palavra: no primeiro caso, sofremos por uma desilusão única; no segundo, por ilusões e desilusões sucessivas: um tormento constante em que nos despedaçamos e nos sentimos enlouquecer"
Mário de Sá-Carneiro, in Incesto
"Há almas com efeito(...) para quem a Incerteza é a pior das torturas. Quando temos uma certeza, por muito amarga que seja, é só por ela que sofremos. Porém, se nós possuímos uma dúvida, mais horroroso se torna o nosso martírio: sofremos por essa dúvida transformada em terrível certeza, e pela esperança que a mesma dúvida encerra. Numa palavra: no primeiro caso, sofremos por uma desilusão única; no segundo, por ilusões e desilusões sucessivas: um tormento constante em que nos despedaçamos e nos sentimos enlouquecer"
Mário de Sá-Carneiro, in Incesto
Sanfermines
Eu tentei. Pensei que conseguia passar mais uma "fiesta" sem a referir, mas é demasiado penoso para mim. Ó saudades! A agitação, o cheiro caracteristico e nauseabundo das ruas, a disposição das gentes por todo o lado (dava para fazer um rico tratado de sociologia comportamental de grupo).
Os "miuras" no escorregadio piso a tombar nas curvas, a pluralidade de nacionalidades pelas ruas fora, enfim como costumo dizer, mesmo os inimigos de festas populares deviam ir uma vez na vida às largadas de Pamplona. Há um código quase que secreto comum a quem já lá esteve, aconselha-se mas nunca se especifica bem porquê, diz-se - Gostei muito e vou sempre lembrar-me dos tempos lá passados - e mais não se adianta. Mas são poucos os que conseguem repetir a façanha, é preciso estaleca para "aguantar"! "A lo mejor és de la sangre y arena".
Os "miuras" no escorregadio piso a tombar nas curvas, a pluralidade de nacionalidades pelas ruas fora, enfim como costumo dizer, mesmo os inimigos de festas populares deviam ir uma vez na vida às largadas de Pamplona. Há um código quase que secreto comum a quem já lá esteve, aconselha-se mas nunca se especifica bem porquê, diz-se - Gostei muito e vou sempre lembrar-me dos tempos lá passados - e mais não se adianta. Mas são poucos os que conseguem repetir a façanha, é preciso estaleca para "aguantar"! "A lo mejor és de la sangre y arena".
Férias
Será de mim ou nas férias toda a gente fica muito romântica? Na rádio passam invariavlemente músicas lamechas que em época normal não se ouvem. Se calhar querem levar ao desespero quem ainda tem de trabalhar...
É a vida
Entre as calamidades que sorrateiramente a rodeavam, ela impunha-se. Por vezes via a sua vida como a mais dramática área de uma opereta. Um pouco menos de atenção e logo algum acidente ocorria. Tinha no corpo o perfeito mapa das suas vivências, as cicatrizes demonstravam situações ultrapassadas, sobrevivências alcançadas.
Podia ler-se a vida na sua pele, qual anel em tronco de árvore.
Achava graça à situação, ria sempre enquanto dizia que eram a sua melhor forma de datação. "Esta marca foi quando caí da bicicleta aos 8 anos com a minha prima!"
Tinha o olhar vivo de quem não pode deixar de estar atento, a graciosidade de quem anda sobre cristais, fruto da falta constante de equilibrio, e sorria sempre.
Um dia ia a atraversar uma rua e perdeu-se em pensamentos abstractos que sempre a assolavam, tinha visto alguém que conhecia, ou pelo menos assim pensava, e pôs-se a discurrer sobre a precariedade da nossa memória. Temos recordações de coisas insignificantes, enquanto outras que sempre qualificaramos de importantes se perdem na bruma da memória.
Nem reparou quando o carro guinou e tentou evitá-la, sentiu o impacto, a sensação de perder o contacto com o solo e ficar desamparada no ar. O calor da acção com toda reacção corporal ao acontecimento faziam que quase não sentisse dor, estava estranhamente calma e só pensava em quem seriam aquelas pessoas que começavam agora a juntar-se à sua volta. Continuava a sorrir e sentia que todo o corpo, agora que os minutos passavam, começava a doer, eram ossos partidos, pele rasgada, sangue. O que mais lhe estava a doer eram mesmo as partes do corpo esfoladas do contacto com o asfalto, o resto achava que até era suportável. Pensou num instante como estava a ser idiota, ali deitada num estado lamentável e a pensar que até nem estava a sofrer dores tão torcidantes como esperava. Soltou uma leve gargalhada que aumentou muito a dor que começava a crescer. Os transeuntes inundavam-na de perguntas que não queria, nem lhe apetecia responder, só queria estar sossegada, em paz. Foi sendo assaltada pela recordação de um dia na quinta da avó, em que corria para os campos de milho e se perdia por lá. Sentia a vida a esfiar-se, a sua respiração foi ficando mais pausada, mais lenta, sempre a decrescer no ritmo. Não sentia dor neste momento, só sentia a vida a esfumar-se. Pensou em sorrir uma vez mais mas não foi capaz, ficou triste porque a sua face ficaria para sempre com o esboço de um sorriso e não com o franco e aberto a que todos habituara. Deixou de respirar.
Entre as calamidades que sorrateiramente a rodeavam, ela impunha-se. Por vezes via a sua vida como a mais dramática área de uma opereta. Um pouco menos de atenção e logo algum acidente ocorria. Tinha no corpo o perfeito mapa das suas vivências, as cicatrizes demonstravam situações ultrapassadas, sobrevivências alcançadas.
Podia ler-se a vida na sua pele, qual anel em tronco de árvore.
Achava graça à situação, ria sempre enquanto dizia que eram a sua melhor forma de datação. "Esta marca foi quando caí da bicicleta aos 8 anos com a minha prima!"
Tinha o olhar vivo de quem não pode deixar de estar atento, a graciosidade de quem anda sobre cristais, fruto da falta constante de equilibrio, e sorria sempre.
Um dia ia a atraversar uma rua e perdeu-se em pensamentos abstractos que sempre a assolavam, tinha visto alguém que conhecia, ou pelo menos assim pensava, e pôs-se a discurrer sobre a precariedade da nossa memória. Temos recordações de coisas insignificantes, enquanto outras que sempre qualificaramos de importantes se perdem na bruma da memória.
Nem reparou quando o carro guinou e tentou evitá-la, sentiu o impacto, a sensação de perder o contacto com o solo e ficar desamparada no ar. O calor da acção com toda reacção corporal ao acontecimento faziam que quase não sentisse dor, estava estranhamente calma e só pensava em quem seriam aquelas pessoas que começavam agora a juntar-se à sua volta. Continuava a sorrir e sentia que todo o corpo, agora que os minutos passavam, começava a doer, eram ossos partidos, pele rasgada, sangue. O que mais lhe estava a doer eram mesmo as partes do corpo esfoladas do contacto com o asfalto, o resto achava que até era suportável. Pensou num instante como estava a ser idiota, ali deitada num estado lamentável e a pensar que até nem estava a sofrer dores tão torcidantes como esperava. Soltou uma leve gargalhada que aumentou muito a dor que começava a crescer. Os transeuntes inundavam-na de perguntas que não queria, nem lhe apetecia responder, só queria estar sossegada, em paz. Foi sendo assaltada pela recordação de um dia na quinta da avó, em que corria para os campos de milho e se perdia por lá. Sentia a vida a esfiar-se, a sua respiração foi ficando mais pausada, mais lenta, sempre a decrescer no ritmo. Não sentia dor neste momento, só sentia a vida a esfumar-se. Pensou em sorrir uma vez mais mas não foi capaz, ficou triste porque a sua face ficaria para sempre com o esboço de um sorriso e não com o franco e aberto a que todos habituara. Deixou de respirar.
segunda-feira, julho 07, 2003
Histeria de amor
Ele segurou-lhe no pulso com tanta força que parecia que o queria estrangular.
- LARGA-ME! - gritou ela um grito cheio de uma raiva incontida, embora os seus olhos não conseguissem ocultar uma certa doçura sobre os dele, da sua boca pendia um tremor irado. Ele, calmamente, pronunciou um Não com o mesmo tom de quem faz uma confissão de amor. Com uma voz lânguida quase em suspiro. O braço direito dela tentava-se libertar, mas era um esforço inglório face a força com que ele segurava o fino braço dela. Ela voltou-lhe a gritar o mesmo larga-me. Desta vez já não com aquele tom de raiva mas apenas com um tom de quem pede clemência. Ele soltou-a, empurrou-lhe o braço com uma força tal que ela teve que que dar um passo atrás para voltar a equilibrar o seu corpo.
- Só não consigo compreender se isso é tudo amor ou se é mesmo só raiva. Afastou-se, virando-lhe as costas. Não deu mais de três passos até ela agarrar-lhe o ombro e ele voltar-se. Os olhos dela não conseguiam ainda ocultar aquela mesma doçura mas a sua mão foi de encontro ao rosto dele de forma violenta, tanto que ele não conseguiu evitar que o seu rosto se virasse para o outro lado.
Ele olhou para ela e no mesmo tom, calmo e imperturbável com que sempre falou, disse-lhe: Já te larguei!
- LARGA-ME! - gritou ela um grito cheio de uma raiva incontida, embora os seus olhos não conseguissem ocultar uma certa doçura sobre os dele, da sua boca pendia um tremor irado. Ele, calmamente, pronunciou um Não com o mesmo tom de quem faz uma confissão de amor. Com uma voz lânguida quase em suspiro. O braço direito dela tentava-se libertar, mas era um esforço inglório face a força com que ele segurava o fino braço dela. Ela voltou-lhe a gritar o mesmo larga-me. Desta vez já não com aquele tom de raiva mas apenas com um tom de quem pede clemência. Ele soltou-a, empurrou-lhe o braço com uma força tal que ela teve que que dar um passo atrás para voltar a equilibrar o seu corpo.
- Só não consigo compreender se isso é tudo amor ou se é mesmo só raiva. Afastou-se, virando-lhe as costas. Não deu mais de três passos até ela agarrar-lhe o ombro e ele voltar-se. Os olhos dela não conseguiam ainda ocultar aquela mesma doçura mas a sua mão foi de encontro ao rosto dele de forma violenta, tanto que ele não conseguiu evitar que o seu rosto se virasse para o outro lado.
Ele olhou para ela e no mesmo tom, calmo e imperturbável com que sempre falou, disse-lhe: Já te larguei!
CINZA
Tenho de me esforçar mais e deixar uns posts no fim de semana, esta vida demasiado agitada tem de ser repensada. Não há físico que aguente.
domingo, julho 06, 2003
A rapariga da casa com piscina
Era sempre já muito tarde, mesmo no final da noite, quando fugias de minha casa. Fazia já um sol grande e imenso sobre as ruas quando eu acendia a luz, corria e abria os estores para o ver. Tu vestias-te sempre trigueira, sorrindo-me com a malícia do teu sorriso. Esgueiravas-te pelo jardim de rosas de minha casa que ladeava a piscina azul com o céu espelhado nas suas pequenas ondas, e conseguias que os meus pais não te vissem sob nenhum pretexto, o que era o que tu querias. Em minha casa, à porta de minha casa quantas vezes por lá aparecias. Os teus pais não sabiam, os teus amigos não imaginavam, quase sempre surpreendias-me. Tocavas à campainha mesmo que tivesses a chave na mão. A casa era tua, até eu era teu, tu sempre a fugir de ti mesma, da vida que tinhas mesmo que fosse tudo como querias. Entravas em minha casa, no meu quarto, despias-te e deitavas-te comigo para te aqueceres mesmo que fosse um dia bom de verão. Dizias que só comigo, e eu fingia acreditar nisso que tu querias. Nunca ninguém te via, esgueirando-te feito ladra; tu que roubaste o meu sossego, a calma dos meus dias mas ao menos a minha vida vazia. Enchias o meu quarto com o teu perfume agradável, com o cheiro quente da tua pele, mas nunca deixavas mais nada, até parecias arrumada e cuidada. Por vezes, deixavas um cabelo ou outro, tão loiro e longo que era impossível ser meu que eu coleccionava num envelope com o teu nome, desenhado com a tua própria letra. Saías de minha casa quando já te julgavam na tua e nunca a pensarem que estavas comigo, e eu contigo, e tu a pensares em sei lá quem, ou mesmo em mim. Fugias sempre tarde da minha casa, no final da noite, até que um dia demoras-te o resto da vida para voltares.
sábado, julho 05, 2003
O sistema de comentários andava a dar muitos problemas e decidi tentar um outro. Lamento ter perdido os comentários, sobretudo o poema da Catarina. Espero que este sistema seja mais fiável...
Nana
I - Na estação
A primeira vez que a vi foi de comprar uma revista no quiosque da estação de comboios quando voltava para casa. Ainda estava a meio das minhas férias e comprei uma revista para me actualizar. Há mais de uma semana que não sabia como andava o mundo. Ao desfolhar a revista eu vi-a, ela aparecia num anúncio e a beleza dos seus olhos castanhos claros brilhava perdida numa vaga inocência ainda mais sublinhada pelo seu rosto infantil. Não tinha mais de vinte anos, pensei eu. A vida é comum em coincidências e logo que tirei os olhos da revista e os voltei para o cais de embarque, ela estava à minha frente, mochila às costas, uma mochila pequena de couro preto encoberta pelos seus cabelos longos e finos, castanhos como os olhos. Vestia também uns jeans negros ajustados às suas pernas delgadas que acabavam nos ténis cinzentos, toda ela era uma figura esguia que parecia dançar. Cheguei-me junto a ela, abri a revista e perguntei-lhe se falava com a mesma pessoa, ela olhou-me com um sorriso feliz que rapidamente descobri ser originado pela música no seu Walkman, era por isso que ela parecia dançar, porque na realidade dançava. Fechou os olhos como se sonhasse, fiquei a observa-la; os seus lábios mexiam levemente como se pronunciasse timidamente sons, que tanto poderiam ser a letra como os instrumentos mas eu não percebia. Não podia me aperceber. Ela demorava a abrir os olhos e eu senti-me, subitamente, a fazer figura de estúpido, deslumbrado pela sua beleza singular. Voltei-me e sentei-me novamente no mesmo banco onde estivera. Abri a revista e continuei a perder-me no seu rosto, em todos os seus pormenores: nas sobrancelhas e no seu arco, o seu nariz pequeno, a curva sinuosa dos seu lábios grandes, mimados, carregados de poderosas imagens de ternura e mesmo assim êxtase, na sua pele de argila ocre tão brilhante que não duvidava de maneira nenhuma da sua suavidade de bebé. Gostei sobretudo do pormenor dos minimos três sinais que encimavam o lábio superior direito. Um requinte de malvadeza da natureza, mas que dava durabilidade à sua beleza.
- Sou mesmo eu, era isso que querias saber, não era?
Eu aquiesci. Ela sentara-se ao meu lado, tirara os auriculares dos ouvidos e cheirava a loção para bebé, daquelas frescas que me fazem lembrar os unguentos que a minha mãe me adornava depois do banho e dos jogos de futebol nos lamaçais.
- Peço-te desculpa, mas tinha de ouvir aquela música sem interrupções. faz-me sonhar, querer pular ou mesmo um voo em queda-livre. Acreditar que sou um pedaço de vento que beija ao de leve as coisas e depois parte; ou que, quando furioso, destrói tudo... e parte. Mas porquê que me foste falar, não me digas que ias fazer-me uma declaração de amor, os rapazes adoram fazer declarações, apaixonam-se por mim com uma facilidade de arrepiar, coleccionam fotografias minhas de todos os géneros. São tão engraçados. No outro dia um esbarrou-se contra mim porque vinha a correr e quando me olhou disse-me que estava apaixonado. Eu sei que é tudo mentira, porque o meu pai disse-me um dia quando reparou na quantidade de apaixonados que eu tinha, sim que eles telefonavam muito lá para casa e eu falava alto ao telefone para irritar o papá. O meu pai é muito filosófico, cheio de máximas, e disse-me que as pessoas estão é apaixonadas pela beleza e quando encontram algo belo redescobrem a paixão. É por isso que eu acho o meu pai cheio de piada, porque diz estas coisas com uma profundidade de arrepiar mas quase nunca tem razão, nem mesmo quando a minha mãe (...)
II - No Comboio
- (...) e então eu pude perceber como ele queria que as coisas fossem; tudo rotinizado, certo, exacto, previsto, mas que seca! É por isso que as coisas nunca podem durar com os rapazes, quer dizer, não é por nenhuma razão em especial, só que nunca podem funcionar, pedem muito, muitas coisas, querem que eu lhes dê tudo e quando eu digo não, como quando me pedem para ter relações com eles, porque eu digo sempre que não, porque eu sei que tenho o corpo que tenho e a beleza que tenho e que os deixo excitados. Eu sei que tenho um corpo bonito. Queres ver? Pagaram-me tanto para tirar estas fotografias de nu, foi quando o meu pai me expulsou de casa, mas depois o fotógrafo apaixonou-se perdidamente por mim, de tal maneira que fez as maiores loucuras do mundo para me conquistar: Desde encher-me a casa de flores até ter queimado todas as fotografias e negativos disto que estás a ver que foi despedido e arruinou a sua vida, eu pelo contrário, nunca devolvi o dinheiro até porque não tinha nada que o devolver, e como nunca foram impressas em revistas o meu pai reconsiderou e disse-me que podia voltar para casa, mas eu continuei a viver com o meu irmão mais velho que é impecável comigo apesar de ter ciúmes de todas as pessoas que se aproximam de mim, mas eu desculpo-o porque ele é a pessoa mais aventurosa que eu conheço e diverte-me o tempo todo. Só que agora arranjou uma namorada nova e foi passar férias com ela e deixou-me por ai. Eu então decidi partir pelo país fora porque gosto de conhecer coisas novas, embora as pessoas me achem fútil: os rapazes porque ficam estúpidos quando olham para mim e eu só me apetece disparatar para que eles achem isso mesmo; as raparigas porque são tão invejosas e destrutivas que inventam de tudo para me transformarem na pessoa mais desprezível deste mundo. E do outro se pudessem. Mas eu consigo sempre dar a volta por cima, acho que as pessoas são muito fáceis de ludibriar, mas é exactamente por isso que eu não o faço, porque é fácil e eu não gosto de (?)
III - Em minha casa
- (...) estás a ver porquê que eu não quis interromper esta música, ela faz-me voar, sentir-me uma criatura alada. Sabes qual era o meu sonho? Ser um cúpido, adorava incendiar tudo de paixão, o meu pai diz que eu sou uma alcoviteira, mas que para mim isso eu não quero, que não gosto de me apaixonar, que nem sequer gosto de dar beijos o que até é uma grande mentira.
De repente, paro de olhar para ela porque ela beija-me com os lábios fofos de gelatina e eu fecho os olhos. A língua dela é ágil e terna, mas antes mesmo de pensar se quero ou não beija-la, já estou excitado e com a sensação total de perda de conhecimento. Acaricio o seu corpo todo, centímetro a centímetro, saboreando a sua pele e sorvendo o seu perfume. O seu corpo nu é maravilhoso, a mais perfeita imagem de um ideal de beleza. Fizemos amor a noite inteira, acho eu, que ainda não percebi bem os acontecimentos. Parecia quase magia. Quando acordei no dia seguinte, ela desaparecera. Levara comida do frigorífico, depois de ter comido e arrumado tudo nos sitios, a loiça lavada, assim como o tinha feito na casa de banho, deixando apenas desarrumado o livro do Zola em cima da mesa da sala de jantar, e é por isso mesmo que eu lhe chamo Náná. Porque não tive oportunidade de saber o nome dela. Até fiquei com pena de não ter conversado um bocadinho mais com ela, para poder recordar também da sua voz.
A primeira vez que a vi foi de comprar uma revista no quiosque da estação de comboios quando voltava para casa. Ainda estava a meio das minhas férias e comprei uma revista para me actualizar. Há mais de uma semana que não sabia como andava o mundo. Ao desfolhar a revista eu vi-a, ela aparecia num anúncio e a beleza dos seus olhos castanhos claros brilhava perdida numa vaga inocência ainda mais sublinhada pelo seu rosto infantil. Não tinha mais de vinte anos, pensei eu. A vida é comum em coincidências e logo que tirei os olhos da revista e os voltei para o cais de embarque, ela estava à minha frente, mochila às costas, uma mochila pequena de couro preto encoberta pelos seus cabelos longos e finos, castanhos como os olhos. Vestia também uns jeans negros ajustados às suas pernas delgadas que acabavam nos ténis cinzentos, toda ela era uma figura esguia que parecia dançar. Cheguei-me junto a ela, abri a revista e perguntei-lhe se falava com a mesma pessoa, ela olhou-me com um sorriso feliz que rapidamente descobri ser originado pela música no seu Walkman, era por isso que ela parecia dançar, porque na realidade dançava. Fechou os olhos como se sonhasse, fiquei a observa-la; os seus lábios mexiam levemente como se pronunciasse timidamente sons, que tanto poderiam ser a letra como os instrumentos mas eu não percebia. Não podia me aperceber. Ela demorava a abrir os olhos e eu senti-me, subitamente, a fazer figura de estúpido, deslumbrado pela sua beleza singular. Voltei-me e sentei-me novamente no mesmo banco onde estivera. Abri a revista e continuei a perder-me no seu rosto, em todos os seus pormenores: nas sobrancelhas e no seu arco, o seu nariz pequeno, a curva sinuosa dos seu lábios grandes, mimados, carregados de poderosas imagens de ternura e mesmo assim êxtase, na sua pele de argila ocre tão brilhante que não duvidava de maneira nenhuma da sua suavidade de bebé. Gostei sobretudo do pormenor dos minimos três sinais que encimavam o lábio superior direito. Um requinte de malvadeza da natureza, mas que dava durabilidade à sua beleza.
- Sou mesmo eu, era isso que querias saber, não era?
Eu aquiesci. Ela sentara-se ao meu lado, tirara os auriculares dos ouvidos e cheirava a loção para bebé, daquelas frescas que me fazem lembrar os unguentos que a minha mãe me adornava depois do banho e dos jogos de futebol nos lamaçais.
- Peço-te desculpa, mas tinha de ouvir aquela música sem interrupções. faz-me sonhar, querer pular ou mesmo um voo em queda-livre. Acreditar que sou um pedaço de vento que beija ao de leve as coisas e depois parte; ou que, quando furioso, destrói tudo... e parte. Mas porquê que me foste falar, não me digas que ias fazer-me uma declaração de amor, os rapazes adoram fazer declarações, apaixonam-se por mim com uma facilidade de arrepiar, coleccionam fotografias minhas de todos os géneros. São tão engraçados. No outro dia um esbarrou-se contra mim porque vinha a correr e quando me olhou disse-me que estava apaixonado. Eu sei que é tudo mentira, porque o meu pai disse-me um dia quando reparou na quantidade de apaixonados que eu tinha, sim que eles telefonavam muito lá para casa e eu falava alto ao telefone para irritar o papá. O meu pai é muito filosófico, cheio de máximas, e disse-me que as pessoas estão é apaixonadas pela beleza e quando encontram algo belo redescobrem a paixão. É por isso que eu acho o meu pai cheio de piada, porque diz estas coisas com uma profundidade de arrepiar mas quase nunca tem razão, nem mesmo quando a minha mãe (...)
II - No Comboio
- (...) e então eu pude perceber como ele queria que as coisas fossem; tudo rotinizado, certo, exacto, previsto, mas que seca! É por isso que as coisas nunca podem durar com os rapazes, quer dizer, não é por nenhuma razão em especial, só que nunca podem funcionar, pedem muito, muitas coisas, querem que eu lhes dê tudo e quando eu digo não, como quando me pedem para ter relações com eles, porque eu digo sempre que não, porque eu sei que tenho o corpo que tenho e a beleza que tenho e que os deixo excitados. Eu sei que tenho um corpo bonito. Queres ver? Pagaram-me tanto para tirar estas fotografias de nu, foi quando o meu pai me expulsou de casa, mas depois o fotógrafo apaixonou-se perdidamente por mim, de tal maneira que fez as maiores loucuras do mundo para me conquistar: Desde encher-me a casa de flores até ter queimado todas as fotografias e negativos disto que estás a ver que foi despedido e arruinou a sua vida, eu pelo contrário, nunca devolvi o dinheiro até porque não tinha nada que o devolver, e como nunca foram impressas em revistas o meu pai reconsiderou e disse-me que podia voltar para casa, mas eu continuei a viver com o meu irmão mais velho que é impecável comigo apesar de ter ciúmes de todas as pessoas que se aproximam de mim, mas eu desculpo-o porque ele é a pessoa mais aventurosa que eu conheço e diverte-me o tempo todo. Só que agora arranjou uma namorada nova e foi passar férias com ela e deixou-me por ai. Eu então decidi partir pelo país fora porque gosto de conhecer coisas novas, embora as pessoas me achem fútil: os rapazes porque ficam estúpidos quando olham para mim e eu só me apetece disparatar para que eles achem isso mesmo; as raparigas porque são tão invejosas e destrutivas que inventam de tudo para me transformarem na pessoa mais desprezível deste mundo. E do outro se pudessem. Mas eu consigo sempre dar a volta por cima, acho que as pessoas são muito fáceis de ludibriar, mas é exactamente por isso que eu não o faço, porque é fácil e eu não gosto de (?)
III - Em minha casa
- (...) estás a ver porquê que eu não quis interromper esta música, ela faz-me voar, sentir-me uma criatura alada. Sabes qual era o meu sonho? Ser um cúpido, adorava incendiar tudo de paixão, o meu pai diz que eu sou uma alcoviteira, mas que para mim isso eu não quero, que não gosto de me apaixonar, que nem sequer gosto de dar beijos o que até é uma grande mentira.
De repente, paro de olhar para ela porque ela beija-me com os lábios fofos de gelatina e eu fecho os olhos. A língua dela é ágil e terna, mas antes mesmo de pensar se quero ou não beija-la, já estou excitado e com a sensação total de perda de conhecimento. Acaricio o seu corpo todo, centímetro a centímetro, saboreando a sua pele e sorvendo o seu perfume. O seu corpo nu é maravilhoso, a mais perfeita imagem de um ideal de beleza. Fizemos amor a noite inteira, acho eu, que ainda não percebi bem os acontecimentos. Parecia quase magia. Quando acordei no dia seguinte, ela desaparecera. Levara comida do frigorífico, depois de ter comido e arrumado tudo nos sitios, a loiça lavada, assim como o tinha feito na casa de banho, deixando apenas desarrumado o livro do Zola em cima da mesa da sala de jantar, e é por isso mesmo que eu lhe chamo Náná. Porque não tive oportunidade de saber o nome dela. Até fiquei com pena de não ter conversado um bocadinho mais com ela, para poder recordar também da sua voz.
sexta-feira, julho 04, 2003
Questoes para o fim de semana
Eis algumas perguntas que aguardo resposta à muito :
- porque é que o Mickey, um rato que fala e anda em duas patas, com um amigo cão que fala e anda em duas patas - o Pateta- tem um cão - o Pluto- que anda a quatro patas e ladra?
- qual é o gozo que têm as cabeleireiras em nos cortar sempre o cabelo mais do que pedimos?
- porque é que o Mickey, um rato que fala e anda em duas patas, com um amigo cão que fala e anda em duas patas - o Pateta- tem um cão - o Pluto- que anda a quatro patas e ladra?
- qual é o gozo que têm as cabeleireiras em nos cortar sempre o cabelo mais do que pedimos?
Avesso
A vida pode ser complicada quando se vive com mais nove pessoas em casa.
Lembro-me de na infância sentir um desejo de ter um espaço só para mim, sem interrupções nem distrações dos demais - a veia contemplativa é herditária - para egoísticamente me voltar sobre mim. Lembro-me do olhar reprovador do meu pai, que sempre nos ensinou que o que temos de mais precioso é o estarmos unidos. Lembro-me dos meus irmãos se meterem comigo por estar sempre a um canto. Lembro-me das preocupações que dei aos meus pais pelo mau feitio que tinha (e ainda tenho, mas já muito melhorado!). Mas lembro-me sobretudo dos almoços de domingo em que, e para espanto de observadores exteriores, todos nos sentavamos à mesa e nos comportava-mos lindamente, sem algazarra nem confusão (sempre eramos mais de dez...). Hoje olho para trás e pergunto-me qual seria o segredo dos meus pais para semelhante (nos dias que correm os almoços são com os adicionais conjuges e descendências o que prefaz as vinte almas ao almoço), e às vezes parece um festival. O principal traço que me sobressai era o imenso gosto que o meu pai tinha na paternidade, posso adiantar que poucos pais tiveram o cuidado que ele teve em acompanhar os seus filhos, e não eramos poucos... Guardo religiosamente um episódio, quando tinha 14 anos, e que se poderá comparar às escrituras, na passagem em que o Senhor caminha na praia com um crente (este episódio também se passou numa praia e muito contribuiu para que hoje em dia eu tenha uma percepção muito mais vasta do que é a vida).
Nem sei para que estou aqui a escrever isto...A não ser para fazer um tributo à pessoa que mais admirarei sempre na vida.
Lembro-me de na infância sentir um desejo de ter um espaço só para mim, sem interrupções nem distrações dos demais - a veia contemplativa é herditária - para egoísticamente me voltar sobre mim. Lembro-me do olhar reprovador do meu pai, que sempre nos ensinou que o que temos de mais precioso é o estarmos unidos. Lembro-me dos meus irmãos se meterem comigo por estar sempre a um canto. Lembro-me das preocupações que dei aos meus pais pelo mau feitio que tinha (e ainda tenho, mas já muito melhorado!). Mas lembro-me sobretudo dos almoços de domingo em que, e para espanto de observadores exteriores, todos nos sentavamos à mesa e nos comportava-mos lindamente, sem algazarra nem confusão (sempre eramos mais de dez...). Hoje olho para trás e pergunto-me qual seria o segredo dos meus pais para semelhante (nos dias que correm os almoços são com os adicionais conjuges e descendências o que prefaz as vinte almas ao almoço), e às vezes parece um festival. O principal traço que me sobressai era o imenso gosto que o meu pai tinha na paternidade, posso adiantar que poucos pais tiveram o cuidado que ele teve em acompanhar os seus filhos, e não eramos poucos... Guardo religiosamente um episódio, quando tinha 14 anos, e que se poderá comparar às escrituras, na passagem em que o Senhor caminha na praia com um crente (este episódio também se passou numa praia e muito contribuiu para que hoje em dia eu tenha uma percepção muito mais vasta do que é a vida).
Nem sei para que estou aqui a escrever isto...A não ser para fazer um tributo à pessoa que mais admirarei sempre na vida.
WILLCOMEN KRIEG*
Este post é pra você! Que essa nova vida corra bem! Hope to see you soon!
*sorry o after edit mas era necessária uma adenda para personalização!
*sorry o after edit mas era necessária uma adenda para personalização!
Pedras e Outras Seduções Preciosas
Ando a reescrever um conjunto de poemas de 1991 sobre este tema. Aqui fica a primeira amostra.
É sempre bonito como acontece
Quando o rubi brilha
aquece-nos
E depois, pressentimos que vai acontecer
Quando o rubi faísca
encandeia-nos
E depois, queremos que aconteça
Quando o rubi chispa em brasa
enlouquece-nos
E depois, a certeza que aconteceu
São cada vez mais rútilos os teus lábios
quando volta a acontecer
04.marco.91
É sempre bonito como acontece
Quando o rubi brilha
aquece-nos
E depois, pressentimos que vai acontecer
Quando o rubi faísca
encandeia-nos
E depois, queremos que aconteça
Quando o rubi chispa em brasa
enlouquece-nos
E depois, a certeza que aconteceu
São cada vez mais rútilos os teus lábios
quando volta a acontecer
04.marco.91
quinta-feira, julho 03, 2003
¤Nada Existe
Nada existe;
Fecho os olhos
É verdade, nada existe
Nada existe!
Estou só, cercado
E são paredes imaginárias
que me rodeiam, e encobrem...
Quando digo: nada existe
Só a memória do passado
do beijo dado, da mão compartilhada
- Porque partiste?
Nada sobrevive à tua ausência
Ao teu sopro fugido como um vento
Mas,
mais triste, e por demais sombrio
É que nem a dor existe
Esse nada que descobriste
Fecho os olhos
E então é verdade, já nada mais existe
12.abril.89
Nada existe;
Fecho os olhos
É verdade, nada existe
Nada existe!
Estou só, cercado
E são paredes imaginárias
que me rodeiam, e encobrem...
Quando digo: nada existe
Só a memória do passado
do beijo dado, da mão compartilhada
- Porque partiste?
Nada sobrevive à tua ausência
Ao teu sopro fugido como um vento
Mas,
mais triste, e por demais sombrio
É que nem a dor existe
Esse nada que descobriste
Fecho os olhos
E então é verdade, já nada mais existe
12.abril.89
É
Uma boa aula de ginástica e ficamos a conhecer muito melhor o nosso mapa muscular...
Argh, estou pior do que se tivesse sido aplanada por um PÉGASO ou MAN.
[Shinho Edit]
Como escrevi uma vez numa história: "Doiem-me os pés, a cabeça também, mas menos. Quando se espera repara-se nestes pormenores todos do nosso corpo, ou então quando nos aleija. De resto esquecemo-nos sempre dele. Nunca temos cuidado."
Uma boa aula de ginástica e ficamos a conhecer muito melhor o nosso mapa muscular...
Argh, estou pior do que se tivesse sido aplanada por um PÉGASO ou MAN.
[Shinho Edit]
Como escrevi uma vez numa história: "Doiem-me os pés, a cabeça também, mas menos. Quando se espera repara-se nestes pormenores todos do nosso corpo, ou então quando nos aleija. De resto esquecemo-nos sempre dele. Nunca temos cuidado."
quarta-feira, julho 02, 2003
As lágrimas da chuva
Arde-me o coração no teu silêncio
Um formigueiro insensato que me percorre
Cozinha o estômago no tempero da fadiga
E cada palavra tua um ingrediente descongelado
Nas microondas do meu pensamento
No outro dia ouvi as lágrimas da chuva, cantavam uma canção qualquer no âmago da noite. Os segundos pingavam na tua ausência e na tua demora. Os relógios só servem para marcar o tempo que não interessa. O cronometro da felicidade é célere nas nossas conversas, nas nossas danças e nos nossos passeios. No outro dia ouvi as lágrimas da chuva no meu coração.
Arde a fantasia no teu sorriso
Tens uma alma tão grande e brilhante
Que se poderia afixar como um painel publicitário
Correm-me estas ideias insensatas no formigueiro da mente
No rio dos perfumes que trás a manhã
As palavras são desnecessárias e comportas-te lindamente. Ages com sentimento, e és límpida como as lágrimas de chuva que me pingam na boca. São sete da manhã e chove devagarinho na calçada de um Domingo qualquer. Gosto de me molhar nas ideias. Basta viveres para me contares tudo sobre ti, vivo sossegado nas entrelinhas da tua maneira de ser, na frincha das expressões do teu corpo que alimentam as histórias com que finalmente vou dormir. São oito da manhã de um Domingo qualquer, quando eu leio o livro de coisas que me ficaste de contar.
Arde o corpo no quente do leito
O formigueiro dos sonhos encarrilha imagens
Desconexas e tormentosas e sempre com cores garridas
Acordo sobressaltado com um pressentimento
Na mira longínqua de um qualquer futuro
As lágrimas da chuva continuam a sinfonia no vidro da janela do meu quarto, a luz cinzenta descolora o acordar. Da tua presença só os meus sonhos podem falar. E na tua ausência a chuva de lágrimas faz uma nova canção.
Arde-me o coração no teu silêncio
Um formigueiro insensato que me percorre
Cozinha o estômago no tempero da fadiga
E cada palavra tua um ingrediente descongelado
Nas microondas do meu pensamento
No outro dia ouvi as lágrimas da chuva, cantavam uma canção qualquer no âmago da noite. Os segundos pingavam na tua ausência e na tua demora. Os relógios só servem para marcar o tempo que não interessa. O cronometro da felicidade é célere nas nossas conversas, nas nossas danças e nos nossos passeios. No outro dia ouvi as lágrimas da chuva no meu coração.
Arde a fantasia no teu sorriso
Tens uma alma tão grande e brilhante
Que se poderia afixar como um painel publicitário
Correm-me estas ideias insensatas no formigueiro da mente
No rio dos perfumes que trás a manhã
As palavras são desnecessárias e comportas-te lindamente. Ages com sentimento, e és límpida como as lágrimas de chuva que me pingam na boca. São sete da manhã e chove devagarinho na calçada de um Domingo qualquer. Gosto de me molhar nas ideias. Basta viveres para me contares tudo sobre ti, vivo sossegado nas entrelinhas da tua maneira de ser, na frincha das expressões do teu corpo que alimentam as histórias com que finalmente vou dormir. São oito da manhã de um Domingo qualquer, quando eu leio o livro de coisas que me ficaste de contar.
Arde o corpo no quente do leito
O formigueiro dos sonhos encarrilha imagens
Desconexas e tormentosas e sempre com cores garridas
Acordo sobressaltado com um pressentimento
Na mira longínqua de um qualquer futuro
As lágrimas da chuva continuam a sinfonia no vidro da janela do meu quarto, a luz cinzenta descolora o acordar. Da tua presença só os meus sonhos podem falar. E na tua ausência a chuva de lágrimas faz uma nova canção.
Almágica
De longestoscos
pronunciamplasticas de harmonia
comovimentodos eles belos
Dedos longosto dos beijar
o sorrisombraços hirtos
Amaissomaravilhosos beijos num sorriso
a tualmágicabe a mimaginar
Querogo parapidamenter dum diacontecer
a almágica transformar-se
no ventorridocelesternobrejubilador da paixão
Porqueroubardembaraçosonho
dumbigoelabaixo amar
às palavrassumidasteu gosto
porastejavidormente o prazer
ondulanternossonho
dimaginaresplandecentesouros ou paraíso
dumaior vidaquelascívastas eternas
tampouconhecores mais belas
meu corpo sitiadormindoravantemperado
peloucomodoce calor do teu corpo
e a poesiamesabem dos desejos
queridos desejadosentassíncronas vezes
por nossalmágica
17.novembro.94
De longestoscos
pronunciamplasticas de harmonia
comovimentodos eles belos
Dedos longosto dos beijar
o sorrisombraços hirtos
Amaissomaravilhosos beijos num sorriso
a tualmágicabe a mimaginar
Querogo parapidamenter dum diacontecer
a almágica transformar-se
no ventorridocelesternobrejubilador da paixão
Porqueroubardembaraçosonho
dumbigoelabaixo amar
às palavrassumidasteu gosto
porastejavidormente o prazer
ondulanternossonho
dimaginaresplandecentesouros ou paraíso
dumaior vidaquelascívastas eternas
tampouconhecores mais belas
meu corpo sitiadormindoravantemperado
peloucomodoce calor do teu corpo
e a poesiamesabem dos desejos
queridos desejadosentassíncronas vezes
por nossalmágica
17.novembro.94
God save the Queen!
Depois de dois dias com um simpático escocês (travaille oblige...), fico com a sensação que os escoceses são bem mais simpáticos que os congeneres ingleses. Como não poderia ter ficado fora dos temas de conversa, a nova contratação do Real Madrid veio à baila e foi comentada com a exarcebada fama que este jogador tem, diz-nos ele que de momento é superior até à da rainha! Para onde vai este mundo...
Depois de dois dias com um simpático escocês (travaille oblige...), fico com a sensação que os escoceses são bem mais simpáticos que os congeneres ingleses. Como não poderia ter ficado fora dos temas de conversa, a nova contratação do Real Madrid veio à baila e foi comentada com a exarcebada fama que este jogador tem, diz-nos ele que de momento é superior até à da rainha! Para onde vai este mundo...
Link Absoluto
A Montanha Mágica brasileira fez um link aqui à Espada num post. E que tem isso de especial? Pois nada. A não ser por ser um link absoluto. O primeiro que eu vi. Só mesmo o link e mai'nada! Transcrevo:
Terça-feira, Julho 01, 2003
A Espada Relativa.
Publicado por Pedro Lemos às 09:19h
Vou pensar no significado disto, sim, um link absoluto. Talvez um dia se desvenderá o mistéio. Aguardemos.
A Montanha Mágica brasileira fez um link aqui à Espada num post. E que tem isso de especial? Pois nada. A não ser por ser um link absoluto. O primeiro que eu vi. Só mesmo o link e mai'nada! Transcrevo:
Terça-feira, Julho 01, 2003
A Espada Relativa.
Publicado por Pedro Lemos às 09:19h
Vou pensar no significado disto, sim, um link absoluto. Talvez um dia se desvenderá o mistéio. Aguardemos.
A barba grisalha
Sossego a dor com um sopro nos nodos dos dedos. A parede nada sofreu. Abro e reabro a mão testando a sua funcionalidade. A rua lá em baixo deserta, apenas o homem de barbas grisalhas, no seu movimento cansado de todos os dias, a percorre. Na sua bicicleta, lentamente, galga o tempo que ainda lhe assiste a vida. O destino está garantido para aqueles que nele acreditam. Todos os finais de tarde o vejo, na sua velha bicicleta negra de selim de couro, tentando desenhar uma linha recta, tentando controlar o seu destino. Não adianta partir copos, magoar paredes a soco, paredes que não gritam, que não nos ouvem, que não nos maçam. O passado é imutável, inalterável como a parede que pretendi ferir. O homem de cabelos grisalhos, lentamente, puxado pelo magneto da sua sabedoria, chegará a quem o espera.
Sossego a dor com um sopro nos nodos dos dedos. A parede nada sofreu. Abro e reabro a mão testando a sua funcionalidade. A rua lá em baixo deserta, apenas o homem de barbas grisalhas, no seu movimento cansado de todos os dias, a percorre. Na sua bicicleta, lentamente, galga o tempo que ainda lhe assiste a vida. O destino está garantido para aqueles que nele acreditam. Todos os finais de tarde o vejo, na sua velha bicicleta negra de selim de couro, tentando desenhar uma linha recta, tentando controlar o seu destino. Não adianta partir copos, magoar paredes a soco, paredes que não gritam, que não nos ouvem, que não nos maçam. O passado é imutável, inalterável como a parede que pretendi ferir. O homem de cabelos grisalhos, lentamente, puxado pelo magneto da sua sabedoria, chegará a quem o espera.
terça-feira, julho 01, 2003
Os pássaros
Brinco com cães de aspecto feroz e nem os conheço, mas tenho um verdadeiro horror ao voo de um simples pardalito.
Agora que já amanheceu e ouço os passáros lá fora, pergunto-me se não terei ido buscar esta fobia aos dias de maior desespero, quando se tenta inglóriamente adormecer e começamos a ouvir vida e agitação lá fora na forma do seu chilrear.
Brinco com cães de aspecto feroz e nem os conheço, mas tenho um verdadeiro horror ao voo de um simples pardalito.
Agora que já amanheceu e ouço os passáros lá fora, pergunto-me se não terei ido buscar esta fobia aos dias de maior desespero, quando se tenta inglóriamente adormecer e começamos a ouvir vida e agitação lá fora na forma do seu chilrear.
Tanto e nada
Corria solta pela vida. Não havia amarras em nenhum porto que segurassem a sua ânsia de liberdade. Um dia prendeu-se a alguém por uns tempos, vivia inquieta da certeza do futuro que chegaria. Teria de partir, deixando para trás o amor que escolhera.
Sentou-se com ele na mesa de um café de marinheiros. Olhou-o nos olhos e com a frieza que estes momentos requerem disse que seguiria viagem. Explicou que o seu coração estaria sempre com ele, mas que não podia continuar mais tempo no mesmo sítio, a rotina paisagística estava a levá-la à loucura. Não se conseguia habituar a acordar mais do que três semanas no mesmo quarto. Sabia que quando fossem proferidas estas palavras, o choque para o interlucotor seria como um soco seco no estômago. Mas tinha a consciência de que não podia voltar atrás. Ou vivia este amor ou estaria condenada a acabar com a sua vida. O instinto de sobrevivência falou mais alto, preparou as bagagens, falou com ele e fez-se à estrada. Para ele estas palavras não traziam nada de novo, sabia que o que a maré traz, a maré leva. Mas tinha a secreta esperança que todos temos, a de sermos importantes para alguém ao ponto de as mudar. Não aconteceu. A vida segue o seu curso e temos de a acompanhar. A tristeza das palavras ditas, a inevitabilidade como foram proferidas, remexia-lhe as entranhas. Nunca esqueceria essa sensação.
Ele levantou-se da cadeira e saiu sem ouvir mais uma palavra, ela chamou-o e ele nem olhou, continuou em passo apressado.
Ali se encontrava agora, sozinha e com o coração destroçado. Nunca tinha tido intenção de magoar alguém, por isso a maior parte das vezes se afastava. Desta vez não tinha sido possível, o sentimento fora demasiado contundente, redutor nas suas acções.
Depois de umas horas sozinha no café, seguiu viagem. Não sabia para onde, mas como até agora acontecera, a viagem escolheria onde levá-la.
Corria solta pela vida. Não havia amarras em nenhum porto que segurassem a sua ânsia de liberdade. Um dia prendeu-se a alguém por uns tempos, vivia inquieta da certeza do futuro que chegaria. Teria de partir, deixando para trás o amor que escolhera.
Sentou-se com ele na mesa de um café de marinheiros. Olhou-o nos olhos e com a frieza que estes momentos requerem disse que seguiria viagem. Explicou que o seu coração estaria sempre com ele, mas que não podia continuar mais tempo no mesmo sítio, a rotina paisagística estava a levá-la à loucura. Não se conseguia habituar a acordar mais do que três semanas no mesmo quarto. Sabia que quando fossem proferidas estas palavras, o choque para o interlucotor seria como um soco seco no estômago. Mas tinha a consciência de que não podia voltar atrás. Ou vivia este amor ou estaria condenada a acabar com a sua vida. O instinto de sobrevivência falou mais alto, preparou as bagagens, falou com ele e fez-se à estrada. Para ele estas palavras não traziam nada de novo, sabia que o que a maré traz, a maré leva. Mas tinha a secreta esperança que todos temos, a de sermos importantes para alguém ao ponto de as mudar. Não aconteceu. A vida segue o seu curso e temos de a acompanhar. A tristeza das palavras ditas, a inevitabilidade como foram proferidas, remexia-lhe as entranhas. Nunca esqueceria essa sensação.
Ele levantou-se da cadeira e saiu sem ouvir mais uma palavra, ela chamou-o e ele nem olhou, continuou em passo apressado.
Ali se encontrava agora, sozinha e com o coração destroçado. Nunca tinha tido intenção de magoar alguém, por isso a maior parte das vezes se afastava. Desta vez não tinha sido possível, o sentimento fora demasiado contundente, redutor nas suas acções.
Depois de umas horas sozinha no café, seguiu viagem. Não sabia para onde, mas como até agora acontecera, a viagem escolheria onde levá-la.
Insomnie
Voltei ao espirito da minha infância, o de viver contra o tempo establecido como normal. Já lá vão duas semanas e não consigo ter um sono continuo. Em miúda achava que dormir retirava muito tempo à vida, por isso ainda hoje tenho uma certa aversão a dormir. Penso sempre nas longas noites em branco que passei com um certo carinho, a solitude da noite condiz com a alma. Estas noites trazem o melhor que a vida tem, umas horas em que estamos em sintonia com a alma. A calma que se espelha nas ruas sossega-nos, faz-nos tranquilos. O conhecimento de os demais estarem totalmente desprevenidos no sono dá-nos um pequeno sentimento de poder, os outros sonham indefesos e nós aqui como que a velar por eles.
Esta nova vida de deambulações bloguisticas só veio complementar uma faceta, antes escrevia em papeis soltos que tempos depois queimava, achava que o que tinha escrito deveria ser efémero como o tempo em que o havia escrito. Hoje não. Tenho pena das muitas palavras lavradas e logo voltadas ao esquecimento pela chama ardente da lareira. Poderá ser pretensioso o querer partilhar o sentimento do momento, mas tem o seu quê de corajem o deixar os demais prescrutarem o que dizemos.
Voltei ao espirito da minha infância, o de viver contra o tempo establecido como normal. Já lá vão duas semanas e não consigo ter um sono continuo. Em miúda achava que dormir retirava muito tempo à vida, por isso ainda hoje tenho uma certa aversão a dormir. Penso sempre nas longas noites em branco que passei com um certo carinho, a solitude da noite condiz com a alma. Estas noites trazem o melhor que a vida tem, umas horas em que estamos em sintonia com a alma. A calma que se espelha nas ruas sossega-nos, faz-nos tranquilos. O conhecimento de os demais estarem totalmente desprevenidos no sono dá-nos um pequeno sentimento de poder, os outros sonham indefesos e nós aqui como que a velar por eles.
Esta nova vida de deambulações bloguisticas só veio complementar uma faceta, antes escrevia em papeis soltos que tempos depois queimava, achava que o que tinha escrito deveria ser efémero como o tempo em que o havia escrito. Hoje não. Tenho pena das muitas palavras lavradas e logo voltadas ao esquecimento pela chama ardente da lareira. Poderá ser pretensioso o querer partilhar o sentimento do momento, mas tem o seu quê de corajem o deixar os demais prescrutarem o que dizemos.
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