quarta-feira, julho 02, 2003

As lágrimas da chuva

Arde-me o coração no teu silêncio
Um formigueiro insensato que me percorre
Cozinha o estômago no tempero da fadiga
E cada palavra tua um ingrediente descongelado
Nas microondas do meu pensamento

No outro dia ouvi as lágrimas da chuva, cantavam uma canção qualquer no âmago da noite. Os segundos pingavam na tua ausência e na tua demora. Os relógios só servem para marcar o tempo que não interessa. O cronometro da felicidade é célere nas nossas conversas, nas nossas danças e nos nossos passeios. No outro dia ouvi as lágrimas da chuva no meu coração.

Arde a fantasia no teu sorriso
Tens uma alma tão grande e brilhante
Que se poderia afixar como um painel publicitário
Correm-me estas ideias insensatas no formigueiro da mente
No rio dos perfumes que trás a manhã

As palavras são desnecessárias e comportas-te lindamente. Ages com sentimento, e és límpida como as lágrimas de chuva que me pingam na boca. São sete da manhã e chove devagarinho na calçada de um Domingo qualquer. Gosto de me molhar nas ideias. Basta viveres para me contares tudo sobre ti, vivo sossegado nas entrelinhas da tua maneira de ser, na frincha das expressões do teu corpo que alimentam as histórias com que finalmente vou dormir. São oito da manhã de um Domingo qualquer, quando eu leio o livro de coisas que me ficaste de contar.

Arde o corpo no quente do leito
O formigueiro dos sonhos encarrilha imagens
Desconexas e tormentosas e sempre com cores garridas
Acordo sobressaltado com um pressentimento
Na mira longínqua de um qualquer futuro

As lágrimas da chuva continuam a sinfonia no vidro da janela do meu quarto, a luz cinzenta descolora o acordar. Da tua presença só os meus sonhos podem falar. E na tua ausência a chuva de lágrimas faz uma nova canção.

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