Ele, Homem, falava com ele próprio, num dialogo interior bastante agitado.
O Consciente protestava com o Subconsciente, por este lhe impelir para acções que ele jamais faria. A discussão continuava a azedar. O Consciente reclamava direitos contra o outro, por uma vez, lhe ter tentado tirar o lugar. O Subconsciente defendia-se, para depois sair num rápido contra- ataque:
- Se a tua mulher, a Consciência, fosse uma mulher a sério e se te obrigasse a fazeres jus ao teu nome, tu o Consciente, nunca te descontrolarias e nunca seguirias os conselhos do teu primo Inconsciente.
- O Consciente aceitou que se tinha deixado levar pelo Inconsciente, mas isso não dava direitos a ele, Subconsciente, de lhe passar por cima.
- A culpa do gajo se meter nos copos é tua. É teu dever que ele esteja ciente do que faz. Deixas o tipo andar à deriva!
O Consciente fez uma cara sisuda. O que levou a que o Homem se sentisse intrigado. O Consciente prosseguiu:
- Eu faço tudo para o gajo se libertar daqueles estados de espirito neuróticos. E tu, pões o gajo quase a suicidar-se e a odiar aquelas coisas que eu quero que ele ame.
O Subconsciente deixou-se levar sem piedade numa gargalhada estridente. O tipo-Homem sentiu uma forte dor de cabeça.
- O' meu anormal, não vês que é esse o meu papel: mostrar-lhe o lado invisível das coisas, o outro mundo para além do conhecimento. Senão o gajo ficava sempre na mesma. Eu trago novas visões ao tipo.
- Diria antes: alucinações tuas!
- Ai são minhas são, mas ele também as vê. E acredita nelas.
- É por isso que depois, fica aflito e perturbado. E eu é que tenho de falar com ele, amansa-lo. Acalma-lo, enfim!
- Oh pá, é esse o teu papel. Dar-lhe consciência das coisas reais deste mundinho. Já agora, como é que vai a tua mulher?
- Cada vez mais gorda, o tipo só tem feito disparates.
- A Consciência está a ficar pesada.
- Pois é, e ela que era tão linda, tão inocente. Mas não disfarces - lá voltou o Consciente - a culpa é só tua.
- És uma praga de todo o tamanho. Gostavas de passar a vida escondido, ali ao fundo esquecido? Eu não gosto; por isso, quando deixas que o tipo falhe lá apareço eu.
- Já pareces o meu primo. Cada vez que o gajo bebe uma cerveja ou whisky, o gajo aparece logo para lhe oferecer outro. Arregala os olhos que felicidade a dele.
- Quem o Inconsciente, não posso crer?!!
E riram-se os dois.
- Ooopss! - alertou o Consciente - o Homem vai dormir.
Fim do turno d' Hoje. Ah! Estava a precisar de descanso.
- Sorte a tua; agora começo eu. Tenho de por o gajo a sonhar. Bem, então adeus!
- Bons sonhos!!
- AH! AH! Ah! - riu-se efusivamente, o que fez com que o tipo ficasse ainda com mais dores de cabeça - Esta noite vão ser pesadelos. Prepara-te para acordares a meio-da-noite!
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