quarta-feira, março 31, 2004

Dias

Por vezes, os dias parecem-me excessivamente parados. Como hoje. Mesmo contigo às voltas no carrossel mágico da minha imaginação.

terça-feira, março 30, 2004

O silêncio das palavras

São como nós secos que ficam na garganta, são palavras estranguladas à porta dos lábios, são palavras retidas em bocas que se mordem... de silêncio. São palavras malditas, encarceradas, edificadas pelo medo... sempre o medo, de pronunciar palavras mal ditas.

São como nós, nódulos ásperos de uma coroa de espinhos em torno de um pescoço. São um colar de pérolas temeroso, nem de pedras nem preciosas. São só palavras surdas dirigidas de si a si, em torno do seu... silêncio! São como nós, estreitos e estranguladores, desfigurados sons amarrados à própria vergonha, à própria garganta, ao pavor, ao ser erro… errar…

Apenas palavras cerradas em hipocrisias gestuais, gestos de fuga, de ausência...

O silêncio triste das palavras mal ditas.

segunda-feira, março 29, 2004

A sonoridade das palavras

Sabes como soletrar palavras, cadências tão ritmadas. Sentes as consoantes roçarem entre os lábios, são gritos e tão eufóricos. E ainda: os gestos de tão marcado sentimentalismo, os rituais de tão compensador hábito.

Sabes como compor as frases, sequências tão verosímeis. Sentes as vogais voarem na garganta sem atrito, são beijos e tão calorosos. E ainda: as palavras de tão sonoras, os diálogos de tão longo prazer.

As palavras certas no momento oportuno

Dies Irae
*
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.
*
Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
*
Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.
*
Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
(Miguel Torga)

domingo, março 28, 2004

Dos estranhos, a voz

Falava com a alma inundada em lágrimas. "A alma chora mais que os olhos" – alguém pensou. Olhava para baixo, para a a mesa tão solitária, como poderia olhar o tecto e sentir o vazio.
Tudo era-lhe indiferente… até eu. Como o seria qualquer outro, não se importava de tão desesperada de que eu, sim: eu! lhe escutava as palavras e a voz, tão triste… como destino.

Falava. E eu escutava suas lágrimas, as mágoas. E ouvia, sim: sei ouvir! o sofrimento alheio, algo que
não fica indiferente em mim porque eu: eu sou amigo de alguém!

sábado, março 27, 2004

Deste amor impossível

O grito. Voz surda que reclama direitos. Que não tem. Que nãos abe se quer ter. ainda grita. E gritara, enquanto durar a dor. Todo o prazer, e ainda: a dor. Quer; não pode. Amar. Ouve-se um grito: de dor? De prazer? Raciocina, conjuga as palavras. Não sabe, não conhece a resposta. Dor pelo prazer; ou, prazer pela dor? Sabe que está preso. Que se enredou numa teia, num bosque de árvores densas. Não pode sair, não pode escapar: daí, desse local recôndito, a floresta, ouve-se partir um grito. Este amor impossível. Incomum. Um amor por descobrir. Que é amor e não é. Amor. Existe, e no entanto não se concretiza. A voz grita, já como vício. Amor sem regras, sem estereótipos. Impossível, tanto é. Hoje. Tanto não é. Amanhã. Foi e deixou de o ser. Tantas vezes. A memória esqueceu-se da própria memória. Abandonou-se. Já se esqueceu. O tempo. Já não se quer lembrar. O amor. Impossível. Que se reencontra em sucessivas aventuras. Separadas por um tempo. Ainda quer esquecer o tempo, o grito. Preenchido por palavras... de palavras de amor. As quais se tomam por um outro sentimento. Falso. Para enganar. O sentimento. A voz ainda grita, o amor impossível. E grita, com toda a força que possui, para não ter de ouvir... o próprio grito.

quinta-feira, março 25, 2004

De pensar as palavras

Falava com uma certa angústia, saiam-lhe palavras azedas pelo céu da boca mas não ligava a esse paladar amargo que lhe ficava sobre a língua. Era uma linda boca – alguém pensou. Falava com o desprezo que a estranhos se dá, com o olhar gelado desse tom frio e azul que longamente espreitava. o infinito. Eram uns lindos olhos – alguém pensou. Falava como só ebriamente se fala, num rodopio louco de palavras e nem se apercebia do seu discurso. Sincero. E que tão ingrata seria a indiferença. Que linda sensação - alguém pensou.

De recordar o amor

este amor confuso que erra sem destino, tanto é o medo do amor. amor, o amor ainda receia amar. esse passado recordado que perturba sempre, e são tantas as mágoas. ainda recorda a dor. o amor, esse acto preferido que os amantes procuram. tanto é o prazer, mas amor, ainda prefiro amar. nesse tempo guardado que a memória relembra. são tantas as recordações, amor, ainda guardo lembranças...

o amor ainda escreve:

que o amor que sente é impossível de se fazer esquecer. que é essa a dor. que sentiu o sofrimento, esmagador, de tão cegamente amar. e que essa é a sua fuga. e ainda diz: que ninguém lhe merece... amor. de tanta ser a maldade lembrada. que essa é a verdade. e diz, que amar é interdito, agora, por outros amores lembrados. que é essa a sua confusão.

...

As palavras? Perdi-as. Os gestos? Esqueci-os... A saudade? Quem me dera ainda saber como é.....

quarta-feira, março 24, 2004

terça-feira, março 23, 2004

Poema à rapariga que não era poesia II

A história tem teu rosto gravado no projecto da memória. Tu cativas mas não comoves. Julgas que a poesia faz milagres, que os sonhos podem ser sonhados mas, repara: a realidade não é apenas fruta podre que se engole. Tu, rapariga nua, despiste a poesia do teu corpo e vives agora apagada de deslumbramento, uma sombra de desilusão. Tu, rapariga nua, perdeste as palavras que cobriam teu corpo, adjectivos que se colavam à tua pele e te adornavam como uma rainha.
Deusa lírica da epopeia do amor, tu, rapariga nua, és uma velha estrela ainda cintilante mas vestida de um brilho apagado, à custa dos versos sumidos, dos poemas amarrotados, do lixo em que te transformaste.

poema à rapariga que não era poesia

quem faz uma frase faz tua a canção. curtos e tresloucados versos são teus cabelos com rimas redondas no canto dos olhos. quem faz um verso faz tua a sedução. a tua simpatia afável livre como as palavras, a sonoridade marcante do lirismo do teu corpo. quem faz uma estrofe faz tua a paixão. cativar e comover, essa pretensa poesia de deslumbramento e desilusão - o verdadeiro teatro. quem faz um poema faz tua a decisão. nasce morto o amor, morre viva a paixão, enfim o prazer saciado em teu corpo de palavras nuas.

Memórias

-Antes o sol punha-se ali...
-Para mim, o sol põe-se ali, numa casa com um terraço, onde te vejo desaparecer todos os dias...

sexta-feira, março 19, 2004

Feliz Dia do Pai... ;)

A um pai
*
É um Pai o calor de toda a frieza,
O despertar suave do mais leve dos sonhos;
O doce no amargo, mais meigo na dureza,
Andar sem receio de fechar os olhos.
*
Ter mão na dor, suficiência na calma,
Amar acima da razão do ser
Beijar um rosto como quem beija a alma,
Ter Pai é ser rei, mesmo sem o saber;
*
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior...
Mas um Pai tem o orgulho de ser superior
Ao falar aos outros da experiência vivida...
*
Traz no rosto a memória do que entrou mas não sai,
No olhar a alegria de ser chamado Pai,
E no peito a saudade, o lado triste da vida...
*

Ausencia

Eu gosto de falar dela, de contar as suas aventuras. Gosto de envaidecer as suas qualidades, de brincar com os seus defeitos. Gosto, sobretudo, de a recordar, de a ter comigo em todos os instantes. Nem sempre posso estar com ela, e isso impele-me a falar dela, ou então como agora, de escreve-la, de retrata-la por adjectivos, que é o mesmo que esculpi-la de uma outra forma que não a física. É o poder das palavras, esse poder que as palavras têm para despertar imagens, que me faz falar dela, permite-me subtrair a sua ausência.

O toque

Ela poisou a mão no meu peito. Fê-lo somente com o desejo de me cumprimentar. Não chegou a ser o toque fascinante da carícia. Mas apesar de ela apenas me ter tocado no peito, tocou-me muito mais fundo, e talvez… de uma forma bem mais fascinante. Tocou-me na memória.

quinta-feira, março 18, 2004

às vezes é preciso pensar

Com os meus resumidos 17 anos, vejo que já aprendi muito com o amor.
Aprendi a pensar em mim própria antes de me lembrar dos outros.
Aprendi que não pode haver expectativas porque corre sempre tudo ao contrário. Que não se pode ter esperança nem sonhar porque acaba por nos partir o coração. O sol também se apaga e a Lua perde o encanto quando estamos assim.
Aprendi que os beijos, o roçar de pele e o calor do que nos une acaba sempre por chegar ao fim, mas as palavras ficam para sempre no peito de quem as ouve.
E no arrependimento de quem as diz.
Aprendi que os horizontes que avistamos juntos são imaginários e mais tarde parecem-nos tristemente ridículos, que o mar passa de vasto a inútil e que a vida é muito mais curta do que pensamos saber.
Que todas as lágrimas são em vão e todas também acabam por secar.
O tempo não cura tudo, longe disso, mas traz-nos outros pontos de vista.
Aprendi que o orgulho, ou pelo menos a dignidade, são o mais importante e tudo o que nos resta no final.

...

"The days are bright and filled with pain
Enclose me in your gentle rain
The time we ran was too insane
We'll meet again, we'll meet again..."
(The Doors)

sexta-feira, março 12, 2004

...

A gente com peste e a raiva cega dos cães
os esgotos aldrabados
meia laranja cortada na areia
na praia: uma balada

Frase Conclusiva: E Eu Proprio Tambem, e Alias Bem

Quando o pano cai e a nódoa fica
neste fim teatral desta farsa carmim
tom de carne rosada disfarçada de teia
e aranha estranha de vida estragada
Predador e caçador da urbe capital
dos pecados amaldiçoados dos cegos da fé
em cafés sóbrios de gente ébria
e um tudo quase nada mal exigente do bem
na sua homogénea de um ténue radicalismo
de aparências e ares artificiais
a gente quase ébria da loucura latente
que pensa e sente como quem não o faz
nesse juízo incapaz de ajuizar
e perceber o erro crasso que fazem
sem saber, que eu não me esqueço
da maçada desta farsa teatral
de gente que ri tão só por fora
as tristezas e avarezas interiores e em si
25maio90, 11h15mns.

quinta-feira, março 11, 2004

passos ao luar

Sentada na minha pedra, vou desfiando lágrimas ao luar
e escuto o que ele diz.
O mar é calmo hoje, tem todas as tuas qualidades
mas também os teus defeitos,
e quem me dera ser poeta para os poder descrever.
Desfolho pétalas de uma rosa antiga
e desfolho segredos também.
Ninguém me ouve,
que importa?
Só os passos do luar me acompanham
e tu já não estás comigo.
As palavras perdem-se assim, e tanto tu como eu
já não sabemos delas...
As lembranças que caminham por aqui roubam passos ao luar
a quem os dá
e não tenta viver sob uma estrela.
Os astros são sempre assim, frios
(também a tua existência continuou sem mim,
eras o meu sol),
resta um marulho lá no fundo que permita recordar...
Dói-me a alma
e a coragem que não tive de ser feliz.
*

mais uma vez sem título...

Foi sal em vão todo o que chorei
Por ti, por passos que acabam no chão
Por marcas de sonho e saudade onde andei,
Por gotas que me desfolham a fragmentação
*
Foi trilho de mágoa, sem pedaço de céu
Espada que aos teus olhos quase me obrigou
Entrego ao luar o que a minha dor perdeu,
Vou chorando com o mar tudo o que me marcou
*
E quanto mais choro mais o meu mundo cai...
Os passos do luar que de mim já não sai
E o beijo na sombra que o teu tempo me deu...
*
Tentei alcançar o espaço sem mar,
Mas a cor do céu no instante a acabar
E a lágrima que fica p'ra sempre, sou eu...
*
Catarina Inês

quarta-feira, março 10, 2004

KelkeXosElektroNiK

Depois de uma ausência prolongada o KelkeXOse volta com uma nova mistura desta vez dedicada a momentos menos ritmados. Uma sessão Lounge para ouvir até ao inicio da Primavera.
Para ouvir o link está no lado direito.

Playlist:
01. Brandi Ifgray - Stranglehold [4:52]
02. Aqua Bassino - Time To Go [7:36]
03. Miro - Emotions Of Paradise [7:58]
04. Troublemakers - Too Old To Die [4:39]
05. Sven Van Hees - Seasonal Bounty (Smooth '94) [4:45]
06. The Amalgamation Of Soundz - Enchant Me (Original Version) [6:23]
07. Butti - Brasilikum [5:08]
08. Lais - Dorothea (Buscemi Remix) [4:16]
09. Gabin - Terra Pura [5:16]
10. Gare Du Nord - Tune Up [5:18]
11. Miguel Migs - One [4:44]
12. D-Note - D-Votion [7:02]

terça-feira, março 09, 2004

Já não vale

Já não vale olhar para trás
Já não vale sequer o prazer de recordar
Já não vale mais nada; a não ser a razão de não se objectivar

Sou como uma metamorfose surrealista e as minhas palavras, uma osmose de não sei quê

segunda-feira, março 08, 2004

Tales of Oblivion.03

I surrender myself to your knees, it is an entire jailed sun in your sight that bends me down. In that time a forget the honor as I fall in the abyss fulfilled of shyness. Next second all is forgiveness, and I restart to dare you.

Entrego-me a teus pés no momento da procura, é o sol inteiro aprisionado nos teus olhos que me verga. Num instante esqueço-me da honra e tombo no abismo da covardia o meu olhar. No segundo seguinte já esqueci, e recomeço o confronto.

quarta-feira, março 03, 2004

Conversa entre amigos

Transcrevo com o devido consentimento um pequenissimo excerto de uma conversa que tive com uns amigos.

- Ó pá, acredita... Eu não ando lá muito bem.
- Só tenho de acreditar, em menos de uma hora de conversa, já utilizaste expressões como "ando com o coração ao pé da boca", "tenho o estomâgo colado às costas" e "parece que tenho a cabeça a funcionar nos genitais"... não admira.
- ah, ah! Já vi Frankenstein's com melhor aspecto.

terça-feira, março 02, 2004

Tales of Oblivion.02

All the times I hold my thoughts away from you, your blinking eyes are calling me to your mouth. Smiles swirls like a carrousel in a mighty fair, and I as the clown lost in the Mirror House. Sometimes, I forget you. It's a painted trail wished and in permanent drink drawed, but it only lasts a little yearn.

De todas as vezes que os meus pensamentos fogem de ti, os teus olhos reluzentes parecem chamar-me de novo para a tua boca. Os sorrisos rodopiam como um carrossel de uma feira popular, e eu o palhaço na casa dos espelhos. As vezes, não me lembro de ti. É um negro que eu queria riscado a tinta permanente, mas que dura apenas a fracção de um suspiro.

segunda-feira, março 01, 2004

Tales of oblivion.01

When the sun sparks frostly through the wide window who exposes my body to the cold, is when your beauty appeals me most. The images unstable as leafs falling down thru oblivion. The cells are dying in me as they are being done of use, the use of leaving you inside my eyes.

Quando o sol raia numa manhã gelada e da janela aberta com o corpo exposto ao frio é quando mais aprecio a tua beleza. As imagens não ficam e são perenes folhas outonais destacadas da árvore do esquecimento. São células que morrem posta a sua última utilidade, a de eu fechar os olhos contigo lá dentro.