terça-feira, julho 01, 2003

Tanto e nada
Corria solta pela vida. Não havia amarras em nenhum porto que segurassem a sua ânsia de liberdade. Um dia prendeu-se a alguém por uns tempos, vivia inquieta da certeza do futuro que chegaria. Teria de partir, deixando para trás o amor que escolhera.
Sentou-se com ele na mesa de um café de marinheiros. Olhou-o nos olhos e com a frieza que estes momentos requerem disse que seguiria viagem. Explicou que o seu coração estaria sempre com ele, mas que não podia continuar mais tempo no mesmo sítio, a rotina paisagística estava a levá-la à loucura. Não se conseguia habituar a acordar mais do que três semanas no mesmo quarto. Sabia que quando fossem proferidas estas palavras, o choque para o interlucotor seria como um soco seco no estômago. Mas tinha a consciência de que não podia voltar atrás. Ou vivia este amor ou estaria condenada a acabar com a sua vida. O instinto de sobrevivência falou mais alto, preparou as bagagens, falou com ele e fez-se à estrada. Para ele estas palavras não traziam nada de novo, sabia que o que a maré traz, a maré leva. Mas tinha a secreta esperança que todos temos, a de sermos importantes para alguém ao ponto de as mudar. Não aconteceu. A vida segue o seu curso e temos de a acompanhar. A tristeza das palavras ditas, a inevitabilidade como foram proferidas, remexia-lhe as entranhas. Nunca esqueceria essa sensação.
Ele levantou-se da cadeira e saiu sem ouvir mais uma palavra, ela chamou-o e ele nem olhou, continuou em passo apressado.
Ali se encontrava agora, sozinha e com o coração destroçado. Nunca tinha tido intenção de magoar alguém, por isso a maior parte das vezes se afastava. Desta vez não tinha sido possível, o sentimento fora demasiado contundente, redutor nas suas acções.
Depois de umas horas sozinha no café, seguiu viagem. Não sabia para onde, mas como até agora acontecera, a viagem escolheria onde levá-la.

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