Sobre a criação
Qu'est-ce qu'un enfant?
Un miracle.
Serge Gainsbourg
Criar é durar.
Mas o quê que há de tão fascinante na criação? O apelo à restruturação, à comunicação, à destruição da parede moral, social ou da estética antecedente?
Criar é fazer nascer.
É olhar para a mesma coisa sempre de um modo novo, é contemporaneizar. Criar-redescobrir, recriar-descobrir.
O eterno jogo infantil de mostrar o que não se conhece, a vontade de crescer, o acto de durar, permanecer, eternizar: a recriação. Ou, e por outro lado, a faceta da racionalidade de procurar o novo, o original, julgar atingi-lo, e afinal descobrir que apenas, implicitamente, brincamos com códigos antigos, já tão pejados de outros usos distintos, e no fim: a criação é uma descoberta.
O jogo da criação é um jogo de sorte.
Ou de azar.
Descobrir é ir um pouco mais longe que os outros.
É o apelo ao risco, ao chiste.
À aventura, mais uma vez a infância.
A ingenuidade, o ser destemido.
Criança porquê?
Porque a criança ainda não conhece a morte, a dor, e julga tudo possível.
O criador também.
Criar, é descobrir o que os outros já descobriram. É da cultura dos outros que nos incitamos a essa aventura que é promiscuirmo-nos em universos desconhecidos. A eterna criança à procura de si mesma, o ser desconhecido que se agita dentro de si própria.
É o apelo ao risco, ao erro.
Criar, é aceitar um erro.
Jogar com o imprevisto, com o inexplicável, com o insuspeito, o impensável e todas as outras formas aleatórias de surpresas.
É perspectivar os outros.
Ou, e outra vez, olhar para nós mesmos, essa aventura, e extrapolar, conceptualizar, idealizar os outros e transformar essa amálgama de conhecimentos subjectivos, impalpáveis e dota-los de forma, de corpo, e tomar como nosso esse objecto de criação.
Aceitar o erro.
Ou a conquista.
Criar, é conquistar.
Conquista com sinónimo claro com sedução. Com essa tipologia de guerra onde um procura o espaço do outro. A guerrilha entre duas maneiras de ver, de sentir, de ser. Espaços vitais que se tentam corrobrar, influenciar, modificar. Ou na mais poética maneira de agir, justapôr a minha visão (a visão do criador) com a do adversário. A união, a conquista do objecto de criação.
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