Dá-me a tua Liberdade
Tinha no ventre uma emoção que a fazia julgar estar grávida. A emoção transformou-se em desejo e a barriga cresceu mesmo. Não engordara. Comia pouco, às vezes exagerava na bebida. Bebia muito menos do que eu. Dançava em casa, com os estores da sala levantados para que os vizinhos nos vissem. Danças eróticas. Nunca ousou despir-se enquanto dançava. Não pelo pudor que sentia com os vizinhos a olhar. Mas por mim. Tinha de apagar sempre a luz sempre que oferecia o seu corpo nu. Tinha nascido no dia 25 de Abril de 1974 e achava que a liberdade lhe pertencia. Não fosse o pudor atravessar-lhe o pensamento. Coloquei estores até na cozinha e na pequena janela da sala de banho. Nas noites quentes de Verão recolhiamo-nos na penumbra de minha casa, descarregávamos os corpos do peso da roupa, faziámos piqueniques na sala e embebedavamo-nos sem querer. Oferecia-te carregamentos de pétalas que a minha amiga florista me arranjava em troca de alguns favores inconfessáveis. Um dia adormeci-te uma flor no ventre, uma semente para a tua imaginação.
Sem comentários:
Enviar um comentário