Blog de Férias
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Ao final do primeiro mês de actividade o blog vai para férias até à próxima segunda. Durante este mês, conquistamos o nosso objectivo de colocar textos todos os dias. Claro que por vezes recorreu-se a algum arquivo, mas para a maior parte das pessoas era a primeira (ou ultima) leitura. Ficamos agradecidos a todos aqueles que nos têm seleccionado nos seus links e pelos diversos apoios que nos têm manifestado. Dos nossos amigos, infelizmente, só um se dignou a escrever-nos algo (Obrigado Francisco, esforcei-me durante quinze anos para te ouvir dizer que até escrevia qualquer coisita). Parece que quem não nos conhece nos considera mais. Bolas, temos mesmo mau feitio!!
Uma garantia: a espada daqui para a frente tende a ser mais contundente e manteremos o espirito de textos diários, nem que para isso me continue a socorrer das minhas velhas (e novas) histórias e poesias. Para quem gosta. Os outros não passam por cá. Abriremos as hostilidades para falar mal da polícia.
Aos que por cá aparecem: Obrigado!
terça-feira, abril 29, 2003
segunda-feira, abril 28, 2003
A rapariga indizível
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O teu coração é uma pedra que trago eu no meu sapato
é uma ferida que se lamenta quando os bébés choram
o grito parece surdo mas vibra-te a alma como um altifalante
O teu sorriso é uma janela que dá sempre para o mar
é uma laranja do pôr-do-sol que eu posso comer às escuras
o beijo parece simples na equação complexa dos nossos corpos
A noite cai quase sempre quando nos levantamos por fim
é um hábito que ganhamos quando se foi a rotina dos dias
o dia parece começar no fim de qualquer coisa que não nos pertence
Há todas as músicas a tocar em unissono numa só noite infinita
é uma rua que se prolonga no cruzamento das nossas vidas
és a irrealidade dos espaços e só és humana quando sorris
A rapariga indizível caminha amontoada na multidão
o dia, um dia qualquer, em parei para não a acompanhar
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O teu coração é uma pedra que trago eu no meu sapato
é uma ferida que se lamenta quando os bébés choram
o grito parece surdo mas vibra-te a alma como um altifalante
O teu sorriso é uma janela que dá sempre para o mar
é uma laranja do pôr-do-sol que eu posso comer às escuras
o beijo parece simples na equação complexa dos nossos corpos
A noite cai quase sempre quando nos levantamos por fim
é um hábito que ganhamos quando se foi a rotina dos dias
o dia parece começar no fim de qualquer coisa que não nos pertence
Há todas as músicas a tocar em unissono numa só noite infinita
é uma rua que se prolonga no cruzamento das nossas vidas
és a irrealidade dos espaços e só és humana quando sorris
A rapariga indizível caminha amontoada na multidão
o dia, um dia qualquer, em parei para não a acompanhar
domingo, abril 27, 2003
Era eu contigo
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Era como se o mundo, todo ele curvo, se moldasse no canto do meus olhos. E os meus olhos azuis, pintados no reflexo do mar, ao dobrarem-se, fechavam-se na cegueira tingida de uma noite interior. Era no interior do meus olhos que o mundo se juntava, a convergência de pontos dispersos, no mesmo ponto onde eu te fundia com o mundo. Não havia nada para além de nós dois, nós os dois e a natureza, numa união proibida. A natureza do vento que sopra, que sopra sobre o mar, e o mar que fustiga a praia, que espalha a areia num rodopio pelo ar, a areia que por fim nos vem magoar como agulhas. A mesma areia gelada, onde sentados sob as nuvens cinzentas faziamos projecções de um futuro que nunca viria da forma que o viamos. O tempo fazia cócegas na barriga como uma fome de ter-te que nunca fugia da minhas mãos, nas minhas mãos que abraçavam as tuas, tão frias do ar que nos castigava com as suas lâminas de gelo pontiagudas. Era o tempo que se ia, e ia embora com ele o sol, o sol e também a luz que ele nos dava, que nos tingia a pele de um laranja descarregado no fio mais fino do horizonte. O horizonte como pano de fundo de histórias, de sonhos que tu contavas, sonhos que tu vivias comigo ainda nós os dois acordados, ainda adormecidos um no outro, nos braços um do outro onde o conforto do abraço defrontava a natureza e a sua rudeza. Era a pele que escondias, a tua pele que eu escondia com a minha pele, e eu exposto como uma muralha que perdura, lutando apenas com o auxilio do teu conforto, dos teus beijos, fogo de vigilia de noites em claro. Eras tão menina nos meus braços.
Era eu de novo contigo num outro ponto do mundo, eu e tu, meu mundo, sentados numa rocha de pedra fria e redonda, redonda como os teus seios macios e dormentes e muito escondidos na palma carinhosa da minha mão. A minha mão que desenhava uma rota sem destino, percorrendo o teu corpo em silêncio, no silêncio grandioso da montanha reservada para nós. Por vezes o estremecer do teu corpo arrepiava-me, o frio vinha, subia pela pele bronzeada e desaparecia rapimente sem rasto. Eu perseguia a tua pele ainda mais bronzeada, ainda mais quente, ainda mais quente que o sol que se pendurava sobre nós. Fazia-te cócegas que se desprendiam num riso teu, que acordavam os sonhos escondidos debaixo das pedras escaldadas de uma tarde quente de verão. Outras vezes contava-te histórias que te adormeciam, que te embalavam no berço das fantasias, no berço das palavras onde construia mundos mágicos e de sonho. O sonho de te ter em paz, tu dormente nos meus braços dormentes, nós escondidos do mundo, escondidos por detrás da rocha de pedra vigiados pelo sol de um só olho. E eu que pelos meus olhos percorria a escultura do teu corpo, o teu corpo de pele suave, com a suavidade da tua juventude apesar dos dias longos que viviamos misturando a pele um do outro na saliva dos beijos. A tua boca percorria as palavras de mansinho, na mansidão de uma montanha reservada só para nós, fazendo eco das minhas palavras que se sobrepunham às tuas num unissono sibilar, fino e estridente, como o assobiar do vento a atravessar o choupal. Tu atravessavas o meu corpo, o meu corpo atravessa o teu, e ficavamos assim até virem as estrelas render o sol.
Eu era contigo, os dois juntos a banhar os pés no rio de água fresca, a água a escorrer por entre os dedos desnudos, a escorrer o tempo num passatempo de lassidão. Eu sentado sobre a relva verde e humida a atirar pedras redondas, fazendo circulos que se desfaziam na corrente, nos redemoinhos que levavam a nossa vida. Tu deitada no frio e humido desconforto da relva a pensar na nossa vida, a levar os nossos sorrisos na espiral de um descontentamento que não sabiamos onde nascia. Era o silêncio das palavras que se perdia no barulhos dos ramos agitados ao vento, das águas agitadas da cascata, era dos ramos agitados que se desprendiam as folhas, as folhas que formavam um manto de matéria seca, matéria que se desprendia perante os nosso olhos no rodopio do vento que leva o tempo. Era Outono de novo um ano depois, um ano passado na sequência dos tempos, na sequência dos acontecimentos que nunca previmos vir a acontecer. Eram sonhos que se desprendiam das árvores, era a chuva que principiava nas nuvens, que se precipitava no silêncio ferido pelos ramos despidos dos choupos, a chuva que se infiltrava nos olhos, que marcava as faces tal qual o rio marcava a paisagem. O rio levava o tempo na corrente agitada e caia no abismo da cascata transformando-se no vapor onde tudo recomeça. Onde tudo renasce.
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Era como se o mundo, todo ele curvo, se moldasse no canto do meus olhos. E os meus olhos azuis, pintados no reflexo do mar, ao dobrarem-se, fechavam-se na cegueira tingida de uma noite interior. Era no interior do meus olhos que o mundo se juntava, a convergência de pontos dispersos, no mesmo ponto onde eu te fundia com o mundo. Não havia nada para além de nós dois, nós os dois e a natureza, numa união proibida. A natureza do vento que sopra, que sopra sobre o mar, e o mar que fustiga a praia, que espalha a areia num rodopio pelo ar, a areia que por fim nos vem magoar como agulhas. A mesma areia gelada, onde sentados sob as nuvens cinzentas faziamos projecções de um futuro que nunca viria da forma que o viamos. O tempo fazia cócegas na barriga como uma fome de ter-te que nunca fugia da minhas mãos, nas minhas mãos que abraçavam as tuas, tão frias do ar que nos castigava com as suas lâminas de gelo pontiagudas. Era o tempo que se ia, e ia embora com ele o sol, o sol e também a luz que ele nos dava, que nos tingia a pele de um laranja descarregado no fio mais fino do horizonte. O horizonte como pano de fundo de histórias, de sonhos que tu contavas, sonhos que tu vivias comigo ainda nós os dois acordados, ainda adormecidos um no outro, nos braços um do outro onde o conforto do abraço defrontava a natureza e a sua rudeza. Era a pele que escondias, a tua pele que eu escondia com a minha pele, e eu exposto como uma muralha que perdura, lutando apenas com o auxilio do teu conforto, dos teus beijos, fogo de vigilia de noites em claro. Eras tão menina nos meus braços.
Era eu de novo contigo num outro ponto do mundo, eu e tu, meu mundo, sentados numa rocha de pedra fria e redonda, redonda como os teus seios macios e dormentes e muito escondidos na palma carinhosa da minha mão. A minha mão que desenhava uma rota sem destino, percorrendo o teu corpo em silêncio, no silêncio grandioso da montanha reservada para nós. Por vezes o estremecer do teu corpo arrepiava-me, o frio vinha, subia pela pele bronzeada e desaparecia rapimente sem rasto. Eu perseguia a tua pele ainda mais bronzeada, ainda mais quente, ainda mais quente que o sol que se pendurava sobre nós. Fazia-te cócegas que se desprendiam num riso teu, que acordavam os sonhos escondidos debaixo das pedras escaldadas de uma tarde quente de verão. Outras vezes contava-te histórias que te adormeciam, que te embalavam no berço das fantasias, no berço das palavras onde construia mundos mágicos e de sonho. O sonho de te ter em paz, tu dormente nos meus braços dormentes, nós escondidos do mundo, escondidos por detrás da rocha de pedra vigiados pelo sol de um só olho. E eu que pelos meus olhos percorria a escultura do teu corpo, o teu corpo de pele suave, com a suavidade da tua juventude apesar dos dias longos que viviamos misturando a pele um do outro na saliva dos beijos. A tua boca percorria as palavras de mansinho, na mansidão de uma montanha reservada só para nós, fazendo eco das minhas palavras que se sobrepunham às tuas num unissono sibilar, fino e estridente, como o assobiar do vento a atravessar o choupal. Tu atravessavas o meu corpo, o meu corpo atravessa o teu, e ficavamos assim até virem as estrelas render o sol.
Eu era contigo, os dois juntos a banhar os pés no rio de água fresca, a água a escorrer por entre os dedos desnudos, a escorrer o tempo num passatempo de lassidão. Eu sentado sobre a relva verde e humida a atirar pedras redondas, fazendo circulos que se desfaziam na corrente, nos redemoinhos que levavam a nossa vida. Tu deitada no frio e humido desconforto da relva a pensar na nossa vida, a levar os nossos sorrisos na espiral de um descontentamento que não sabiamos onde nascia. Era o silêncio das palavras que se perdia no barulhos dos ramos agitados ao vento, das águas agitadas da cascata, era dos ramos agitados que se desprendiam as folhas, as folhas que formavam um manto de matéria seca, matéria que se desprendia perante os nosso olhos no rodopio do vento que leva o tempo. Era Outono de novo um ano depois, um ano passado na sequência dos tempos, na sequência dos acontecimentos que nunca previmos vir a acontecer. Eram sonhos que se desprendiam das árvores, era a chuva que principiava nas nuvens, que se precipitava no silêncio ferido pelos ramos despidos dos choupos, a chuva que se infiltrava nos olhos, que marcava as faces tal qual o rio marcava a paisagem. O rio levava o tempo na corrente agitada e caia no abismo da cascata transformando-se no vapor onde tudo recomeça. Onde tudo renasce.
sábado, abril 26, 2003
Campo de lírios
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Bilhete azul na mão. Sapatos pretos de atacadores. Roupa branca em pleno Verão. Tu não vinhas. Eu esperava por ti junto à linha de comboio. Aquele bilhete azul na mão, da cor de uma companhia área que não recordo o nome. Estava à espera de fugir, mas primeiro de tudo, à espera de te ver chegar. Não sei se fugiria sem ti. Nem sei se a razão da fuga estava centrada em ti. O Porto era pequeno. Portugal também. Mesmo a tua grande Lisboa era pequena. Foi o que decidimos naquele bar solarengo que dava algures sobre o Tejo. Sabíamos que tínhamos de sair para um sítio onde pudéssemos estar sós, sem nenhuma imagem ridícula do nosso passado, boa ou má, a entrar-nos pelos olhos. O bilhete azul na mão o comboio atrasado, e nós já quase sem tempo de embarcar. Contingências da vida moderna. Não sei porque nos telefonámos a dizer que devíamos fugir, era tudo exageradamente apressado e louco. Nós sem tempo de pensarmos, sem vontade de pensar. Tínhamos tudo para estar juntos, não fosse o Porto e Lisboa serem diferentes e separados por duas ou três horas de viagem. Era só isso que nos incomodava. Não podia sentir o toque das tuas mãos nas minhas sem me dar a vontade de entrelaçar os nossos dedos como cordas e ficar pasmado a olhar o Tejo. O Tejo ou o Douro tanto faz. Ou não foi no Porto, onde o rio se confunde com o mar, que os teus olhos se fundiram nos meus. Onde o teu sorriso se mostrou a contagiar o meu, e os nossos olhos de uma covardia assumida e socialmente incensurável, se desviaram num qualquer ponto do rio sem interesse. A nossa fuga. A nossa eterna fuga. Sempre a despacharmo-nos de um local a outro, inventando um sempre a propósito desconforto físico para elaborar a mentira patética da fuga. E de repente, era agora. Eu de bilhete na mão, o comboio a chegar, uma após outra as carruagens a passarem sem a pressa que a minha ânsia lhes impunha. Eu a ver-te descer, a julgar que era mesmo verdade, estares ali sem medo da fuga. O comboio partiu, tu a sorrires à minha frente e ao fundo, a Gare do Oriente transformada no mais ilusório campo de lírios.
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Bilhete azul na mão. Sapatos pretos de atacadores. Roupa branca em pleno Verão. Tu não vinhas. Eu esperava por ti junto à linha de comboio. Aquele bilhete azul na mão, da cor de uma companhia área que não recordo o nome. Estava à espera de fugir, mas primeiro de tudo, à espera de te ver chegar. Não sei se fugiria sem ti. Nem sei se a razão da fuga estava centrada em ti. O Porto era pequeno. Portugal também. Mesmo a tua grande Lisboa era pequena. Foi o que decidimos naquele bar solarengo que dava algures sobre o Tejo. Sabíamos que tínhamos de sair para um sítio onde pudéssemos estar sós, sem nenhuma imagem ridícula do nosso passado, boa ou má, a entrar-nos pelos olhos. O bilhete azul na mão o comboio atrasado, e nós já quase sem tempo de embarcar. Contingências da vida moderna. Não sei porque nos telefonámos a dizer que devíamos fugir, era tudo exageradamente apressado e louco. Nós sem tempo de pensarmos, sem vontade de pensar. Tínhamos tudo para estar juntos, não fosse o Porto e Lisboa serem diferentes e separados por duas ou três horas de viagem. Era só isso que nos incomodava. Não podia sentir o toque das tuas mãos nas minhas sem me dar a vontade de entrelaçar os nossos dedos como cordas e ficar pasmado a olhar o Tejo. O Tejo ou o Douro tanto faz. Ou não foi no Porto, onde o rio se confunde com o mar, que os teus olhos se fundiram nos meus. Onde o teu sorriso se mostrou a contagiar o meu, e os nossos olhos de uma covardia assumida e socialmente incensurável, se desviaram num qualquer ponto do rio sem interesse. A nossa fuga. A nossa eterna fuga. Sempre a despacharmo-nos de um local a outro, inventando um sempre a propósito desconforto físico para elaborar a mentira patética da fuga. E de repente, era agora. Eu de bilhete na mão, o comboio a chegar, uma após outra as carruagens a passarem sem a pressa que a minha ânsia lhes impunha. Eu a ver-te descer, a julgar que era mesmo verdade, estares ali sem medo da fuga. O comboio partiu, tu a sorrires à minha frente e ao fundo, a Gare do Oriente transformada no mais ilusório campo de lírios.
faz tempo que procuro sangue novo na lua
todos as manhãs o sol nasce nas palavras
mas raros os dias em que as nuvens sonham
agrada-me que o tempo na tua face corra
fechado na ampulheta de vidro esfumado
o tempo arrasta-se na baba do caracol
não sabe nada do que está para trás
o passado é apenas pedra
a ser desfeita na mó do teu coração
todos as manhãs o sol nasce nas palavras
mas raros os dias em que as nuvens sonham
agrada-me que o tempo na tua face corra
fechado na ampulheta de vidro esfumado
o tempo arrasta-se na baba do caracol
não sabe nada do que está para trás
o passado é apenas pedra
a ser desfeita na mó do teu coração
sexta-feira, abril 25, 2003
Dá-me a tua Liberdade
Tinha no ventre uma emoção que a fazia julgar estar grávida. A emoção transformou-se em desejo e a barriga cresceu mesmo. Não engordara. Comia pouco, às vezes exagerava na bebida. Bebia muito menos do que eu. Dançava em casa, com os estores da sala levantados para que os vizinhos nos vissem. Danças eróticas. Nunca ousou despir-se enquanto dançava. Não pelo pudor que sentia com os vizinhos a olhar. Mas por mim. Tinha de apagar sempre a luz sempre que oferecia o seu corpo nu. Tinha nascido no dia 25 de Abril de 1974 e achava que a liberdade lhe pertencia. Não fosse o pudor atravessar-lhe o pensamento. Coloquei estores até na cozinha e na pequena janela da sala de banho. Nas noites quentes de Verão recolhiamo-nos na penumbra de minha casa, descarregávamos os corpos do peso da roupa, faziámos piqueniques na sala e embebedavamo-nos sem querer. Oferecia-te carregamentos de pétalas que a minha amiga florista me arranjava em troca de alguns favores inconfessáveis. Um dia adormeci-te uma flor no ventre, uma semente para a tua imaginação.
Tinha no ventre uma emoção que a fazia julgar estar grávida. A emoção transformou-se em desejo e a barriga cresceu mesmo. Não engordara. Comia pouco, às vezes exagerava na bebida. Bebia muito menos do que eu. Dançava em casa, com os estores da sala levantados para que os vizinhos nos vissem. Danças eróticas. Nunca ousou despir-se enquanto dançava. Não pelo pudor que sentia com os vizinhos a olhar. Mas por mim. Tinha de apagar sempre a luz sempre que oferecia o seu corpo nu. Tinha nascido no dia 25 de Abril de 1974 e achava que a liberdade lhe pertencia. Não fosse o pudor atravessar-lhe o pensamento. Coloquei estores até na cozinha e na pequena janela da sala de banho. Nas noites quentes de Verão recolhiamo-nos na penumbra de minha casa, descarregávamos os corpos do peso da roupa, faziámos piqueniques na sala e embebedavamo-nos sem querer. Oferecia-te carregamentos de pétalas que a minha amiga florista me arranjava em troca de alguns favores inconfessáveis. Um dia adormeci-te uma flor no ventre, uma semente para a tua imaginação.
quinta-feira, abril 24, 2003
::Volto já
A história repete-se. Dizes tu. Qual história? Está bem, tentamos outra vez.
Não fujas, não tenhas medo. Da primeira vez não doeu. Se doeu já nem te lembras. Está bem, eu dou-te a mão. Não me olhes com essa cara. Anda lá, faz-te grande. Isso, tu és forte. Da outra vez aguentaste. Não te assustes com a aparência das coisas. Pensa que tudo são brinquedos. Deita-te sossegada, eu estou ao teu lado. Sim, dou-te a mão. Ninguém te vai fazer mal. Eu não deixo. Não, não vai acontecer como da outra vez. Sim, prometo. Nunca cumpro o que prometo? Que memória a tua. Foi só da outra vez. Teve de ser. Vês? Desta vez até estamos de mão dada. Espera. É o telefone. Tenho de atender. É importante, é do trabalho. Claro que venho já. Tu já sabias? Anda lá, faz-te forte. Não tenhas medo, o Sr. dentista tem uma filha bonita como tu. Não fiques triste, eu volto já.
A história repete-se. Dizes tu. Qual história? Está bem, tentamos outra vez.
Não fujas, não tenhas medo. Da primeira vez não doeu. Se doeu já nem te lembras. Está bem, eu dou-te a mão. Não me olhes com essa cara. Anda lá, faz-te grande. Isso, tu és forte. Da outra vez aguentaste. Não te assustes com a aparência das coisas. Pensa que tudo são brinquedos. Deita-te sossegada, eu estou ao teu lado. Sim, dou-te a mão. Ninguém te vai fazer mal. Eu não deixo. Não, não vai acontecer como da outra vez. Sim, prometo. Nunca cumpro o que prometo? Que memória a tua. Foi só da outra vez. Teve de ser. Vês? Desta vez até estamos de mão dada. Espera. É o telefone. Tenho de atender. É importante, é do trabalho. Claro que venho já. Tu já sabias? Anda lá, faz-te forte. Não tenhas medo, o Sr. dentista tem uma filha bonita como tu. Não fiques triste, eu volto já.
::O bilhete
Se eu tivesse tempo contava-te uma história. Sim, uma história bonita como tu. Agradecia o beijo de mel que me deste. Obrigado por me teres dado umas prendas tão bonitas. Escusas de me devolver o dinheiro que deixei em cima da mesa da sala de estar, é para dividir as despesas do jantar. Como tu cozinhas bem. Não me telefones para o escritório, o meu patrão não gosta. Em minha casa não deixes mensagens no gravador. Amanhã mando-te umas rosas a agradecer. Foi um dia muito agradável. Ficas muito bem a dormir. Assim tão sossegada como um anjo. Não me procures, se quiseres esperar que te procure é contigo. Não chores, não vale a pena. Nem sequer deves ficar bonita a chorar. Algumas raparigas é que ficam. Tu não. Prometo telefonar-te nos teus anos. Sim, eu sei, ainda falta muito. De qualquer maneira não nos faz bem encontrarmo-nos. A última coisa que eu queria era acordar-te. Ficas mesmo bonita a dormir. Tenho de ir. Não posso ficar a dormir contigo, os meus filhos não iam gostar. A minha mulher muito menos. Chama-me todos os nomes feios que te lembrares, mesmo todos. Mas não fiques com má impressão de mim. Agora é que é. Tenho de ir. Não prometo voltar. Já sei que não me vais querer ver. És tão bonita que eu não podia recusar. Nem devia. O que é isso de amar? Eu não sei. Tu sabes? Não consigo parar de escrever. Já é tarde. Tenho mesmo de ir. Adeus.
Se eu tivesse tempo contava-te uma história. Sim, uma história bonita como tu. Agradecia o beijo de mel que me deste. Obrigado por me teres dado umas prendas tão bonitas. Escusas de me devolver o dinheiro que deixei em cima da mesa da sala de estar, é para dividir as despesas do jantar. Como tu cozinhas bem. Não me telefones para o escritório, o meu patrão não gosta. Em minha casa não deixes mensagens no gravador. Amanhã mando-te umas rosas a agradecer. Foi um dia muito agradável. Ficas muito bem a dormir. Assim tão sossegada como um anjo. Não me procures, se quiseres esperar que te procure é contigo. Não chores, não vale a pena. Nem sequer deves ficar bonita a chorar. Algumas raparigas é que ficam. Tu não. Prometo telefonar-te nos teus anos. Sim, eu sei, ainda falta muito. De qualquer maneira não nos faz bem encontrarmo-nos. A última coisa que eu queria era acordar-te. Ficas mesmo bonita a dormir. Tenho de ir. Não posso ficar a dormir contigo, os meus filhos não iam gostar. A minha mulher muito menos. Chama-me todos os nomes feios que te lembrares, mesmo todos. Mas não fiques com má impressão de mim. Agora é que é. Tenho de ir. Não prometo voltar. Já sei que não me vais querer ver. És tão bonita que eu não podia recusar. Nem devia. O que é isso de amar? Eu não sei. Tu sabes? Não consigo parar de escrever. Já é tarde. Tenho mesmo de ir. Adeus.
quarta-feira, abril 23, 2003
Ao Sr. José Mário Silva: que parece confundir que o cinema é o veiculo da mensagem e não a mensagem em si. Tecnicamente é um excelente filme. A mensagem é subjectiva e depende da análise e ponto de vista de cada um. E, assim o define a história, os grandes estudiosos do cinema teórico foram uns senhores chamados Pudovkin e Eisenstein pagos pelo aparelho Estalinista para a utilização do cinema como meio de propraganda. Felizmente, um americano fascista chamado D. W. Griffith aplicou-lhes a teoria à pratica do cinema como entretenimento. O cinema tem de ser politico? Aonde fica a tão de esquerda, e grata, ideia da "Arte pela Arte"? O divertimento é fascista? Ou a Esquerda já está Catolica e avessa aos prazeres do corpo?
vide comentários ao filme Irreversível no blog Espigas ao Vento
vide comentários ao filme Irreversível no blog Espigas ao Vento
Um pequeno aparte
Em recente discussão com a minha irmã, mencionei que existem músicas que poderão ter a equivalência visual em :
- música às bolas,
- música intermitente,
- música aos zig-zags,
- música às riscas
Claro que comecei de imediato a discorrer sobre o assunto, e sobre a hipótese da possível ligação das supra categorias a uma classificação cromática...
Enfim, se acharem uma ligação, por favor não se acanhem e contribuam com as vossas opiniões!
Em recente discussão com a minha irmã, mencionei que existem músicas que poderão ter a equivalência visual em :
- música às bolas,
- música intermitente,
- música aos zig-zags,
- música às riscas
Claro que comecei de imediato a discorrer sobre o assunto, e sobre a hipótese da possível ligação das supra categorias a uma classificação cromática...
Enfim, se acharem uma ligação, por favor não se acanhem e contribuam com as vossas opiniões!
E agora...
Viva! Viva! Está quase a chegar a hora (sim, a partir de amanhã só muito dificilmente postarei nos próximos 15 dias).
Mas creio que deverá ser uma alivio para quem vem a este blog (eu sei que a prosa e poesia do colega é bem mais interassante que a minha)!!
Não interessa, estou feliz.
Nem a lembrança do Carlos Fino ontem a dizer à Júdite Sousa que admira muito os americanos (?) me conseguirá deixar perplexa.
Estou zen. (acho que é aquele estado de graça em que se encontra a maior parte dos adeptos da esquerda quando se abstraiem dos horrores que ainda perpetuam mundo fora...).
Pode ser que na minha ausência se lembrem de fazer uma lei para os partidos politicos de jeito (a lei actual e a proposta deixam muito a desejar- não se pode querer autonomia e pretender ser finaciado pelo Estado!, os regulamentos internos deverão ser estipolados pelos próprios, mas deverá existir um base reguladora para que se possam consagrar os verdadeiros ideais e não tornar o aparelho e, consequentemente a visão do comum cidadão, de uma instituição criada para albergar confrarias).
Mas muito mais se dirá sobre o assunto.
Entretanto fiquem com a certeza de que tentarei ao máximo não me lembrar de assuntos mínimamente ligados à politica (até porque vou para uma zona geo-estratégica adversa).
Hasta la vista folks!
Viva! Viva! Está quase a chegar a hora (sim, a partir de amanhã só muito dificilmente postarei nos próximos 15 dias).
Mas creio que deverá ser uma alivio para quem vem a este blog (eu sei que a prosa e poesia do colega é bem mais interassante que a minha)!!
Não interessa, estou feliz.
Nem a lembrança do Carlos Fino ontem a dizer à Júdite Sousa que admira muito os americanos (?) me conseguirá deixar perplexa.
Estou zen. (acho que é aquele estado de graça em que se encontra a maior parte dos adeptos da esquerda quando se abstraiem dos horrores que ainda perpetuam mundo fora...).
Pode ser que na minha ausência se lembrem de fazer uma lei para os partidos politicos de jeito (a lei actual e a proposta deixam muito a desejar- não se pode querer autonomia e pretender ser finaciado pelo Estado!, os regulamentos internos deverão ser estipolados pelos próprios, mas deverá existir um base reguladora para que se possam consagrar os verdadeiros ideais e não tornar o aparelho e, consequentemente a visão do comum cidadão, de uma instituição criada para albergar confrarias).
Mas muito mais se dirá sobre o assunto.
Entretanto fiquem com a certeza de que tentarei ao máximo não me lembrar de assuntos mínimamente ligados à politica (até porque vou para uma zona geo-estratégica adversa).
Hasta la vista folks!
terça-feira, abril 22, 2003
"FLECOS"
Já falta menos tempo!!! Ainda estou na letargia de viver um sonho irreal!
Os vestidos já sairam do armário, já estão limpos e arejados (as bolinhas vivem nos movimentos cadeados da pose que o baile requer)- "hay que tener mucha calor y pasión para saber bailar de verdad".
Do flamengo à sugerente sevillana espero ter capacidade e folgo para tanto!
Estou a fazer uma enorme reserva de energia para os dias pentálticos que me esperam... Vou uns dias mais cedo para ter o descanço merecido antes das "provas".
Não me posso esquecer das flores para colocar no cabelo (apesar de este ser um adereço muito lá da casa, desde sempre).
O problema com maior dificuldade de resolução será a dos sapatos (vão ser dias inteiros passados em amena cavaqueira a dançar), mas logo se verá.
Lembrei-me agora que esta será mais uma "fiesta" a que irei, tenho excelentes recordações das largadas em Pamplona - fiestas de Sanfermín- (não, não sou a favor da crueldade animal, acho que até só vi os touros passarem uma vez e nunca fui a uma tourada; mas o que interessa é todo o clima que se vive em redor! Devo acrescentar que qualquer alma que preze a humanidade deve ir uma vez na vida até aos Sanfermines - são de 7 a 14 de Julho e não devem perder o Chupinazo que é a abertura das festas no dia 6!).
Hoje estou mesmo muito mundana.
Já falta menos tempo!!! Ainda estou na letargia de viver um sonho irreal!
Os vestidos já sairam do armário, já estão limpos e arejados (as bolinhas vivem nos movimentos cadeados da pose que o baile requer)- "hay que tener mucha calor y pasión para saber bailar de verdad".
Do flamengo à sugerente sevillana espero ter capacidade e folgo para tanto!
Estou a fazer uma enorme reserva de energia para os dias pentálticos que me esperam... Vou uns dias mais cedo para ter o descanço merecido antes das "provas".
Não me posso esquecer das flores para colocar no cabelo (apesar de este ser um adereço muito lá da casa, desde sempre).
O problema com maior dificuldade de resolução será a dos sapatos (vão ser dias inteiros passados em amena cavaqueira a dançar), mas logo se verá.
Lembrei-me agora que esta será mais uma "fiesta" a que irei, tenho excelentes recordações das largadas em Pamplona - fiestas de Sanfermín- (não, não sou a favor da crueldade animal, acho que até só vi os touros passarem uma vez e nunca fui a uma tourada; mas o que interessa é todo o clima que se vive em redor! Devo acrescentar que qualquer alma que preze a humanidade deve ir uma vez na vida até aos Sanfermines - são de 7 a 14 de Julho e não devem perder o Chupinazo que é a abertura das festas no dia 6!).
Hoje estou mesmo muito mundana.
::O homem do outro lado da rua
O homem do outro lado da rua, não conhece o alfabeto. Não sabe colar as letras e formar uma palavra. O homem do outro lado da rua não sabe nada da cultura, o seu sonho não é esse. Não é querer saber. Nem tão pouco se importa. A sua vida é estreita. Tem pouco por onde se alargar. No entanto, sabe sonhar. Sabe porque já o experimentou. O homem do outro lado da rua tem sempre um sorriso nos lábios. Ainda não experimentou a revolta. Ainda não experimentou a raiva. Nunca soube o que foi perder. A vida nunca teve nada para lhe tirar. O seu mundo é pobre. E tão rico. O seu mundo, o mundo do homem do outro lado da vida, é só experiência. Experiência sem experiência da razão. Tudo para ele tem uma essência divina, metafísica. O homem do outro lado da rua nunca experimentou a raiva. Tudo o que na sua vida foi mau, foi-o apenas por ser. Nunca questionou esse tributo. Aceitou-o sempre como um ser inferior. Ele tem a força invisível da cegueira. Da cegueira de não saber colar as letras umas às outras. O poder enorme de não se interrogar.
O homem do outro lado da rua, não conhece o alfabeto. Não sabe colar as letras e formar uma palavra. O homem do outro lado da rua não sabe nada da cultura, o seu sonho não é esse. Não é querer saber. Nem tão pouco se importa. A sua vida é estreita. Tem pouco por onde se alargar. No entanto, sabe sonhar. Sabe porque já o experimentou. O homem do outro lado da rua tem sempre um sorriso nos lábios. Ainda não experimentou a revolta. Ainda não experimentou a raiva. Nunca soube o que foi perder. A vida nunca teve nada para lhe tirar. O seu mundo é pobre. E tão rico. O seu mundo, o mundo do homem do outro lado da vida, é só experiência. Experiência sem experiência da razão. Tudo para ele tem uma essência divina, metafísica. O homem do outro lado da rua nunca experimentou a raiva. Tudo o que na sua vida foi mau, foi-o apenas por ser. Nunca questionou esse tributo. Aceitou-o sempre como um ser inferior. Ele tem a força invisível da cegueira. Da cegueira de não saber colar as letras umas às outras. O poder enorme de não se interrogar.
segunda-feira, abril 21, 2003
> Crónicas mundanas II
"As pessoas têm medo de se envolver nas auto-estradas de L.A.". Assim começa o clássico romance de Bret Easton Ellis "Menos que zero". Deste título nasceu um bar com alguma história na noite portuense. Está de volta. Depois de se ter metamorfoseado em "Urbansound" e de algum tempo de eclipse. Uma nova aposta numa fórmula musical até agora só experimentada no extinto :( Bassment: a do Electroclash. Música de dança alternativa para fugir ao mainstream. Não tenha medo de se envolver e de experimentar novas sonoridades.
"As pessoas têm medo de se envolver nas auto-estradas de L.A.". Assim começa o clássico romance de Bret Easton Ellis "Menos que zero". Deste título nasceu um bar com alguma história na noite portuense. Está de volta. Depois de se ter metamorfoseado em "Urbansound" e de algum tempo de eclipse. Uma nova aposta numa fórmula musical até agora só experimentada no extinto :( Bassment: a do Electroclash. Música de dança alternativa para fugir ao mainstream. Não tenha medo de se envolver e de experimentar novas sonoridades.
sábado, abril 19, 2003
O Fumaças colocou-nos na sua lista de imprescindíveis do momento. Acho que a única justa homenagem a fazer, é fumar um charuto logo depois do jantar.
:: Tattoo
à Teresa
Não conheço todas as marcas que gravaste no teu corpo, mas conheço bem aquelas que gravaste no meu coração. Marcas bonitas de símbolos estranhos e sarabiscos curiosos. Tinta da china indelével como uma cicatriz. Mas agora só quero que ouças o som calmo do meu coração. Gravas palavras no teu corpo numa linguagem que eu não entendo, mas eu só te quero falar numa língua que percebas, e que as palavras digam exactamente o que querem dizer. Afinal é isso o que te quero contar. Que te estou a escrever. Grava isto na tua cabeça, ou num recanto escondido do teu corpo, há coisas que não se esquecem. Momentos que perduram. Palavras que não esmorecem. Como os olhares que trocamos e que ainda fazem parte dos meus olhos. Grava isto para a tua vida, ou numa qualquer parte do teu corpo, na língua que tu quiseres. A marca da dor não sai, nunca sai, é uma tatuagem que todos temos, embora eu consiga acreditar que o teu sorriso a pode apagar.
> Crónicas mundanas I: The UNKS-TUNKS
Ontem, o home da Soulful dance music Dj Rui Vargas veio fazer-nos a visitinha mensal à Indústria do Porto. Impôs um ritmo atrativo durante a noite toda. Se aquilo é música "às bolinhas" ontem também tinha molas e a vontade era só pular, pular. Para a próxima quero uma rave numa cama elástica. Unks-tunks, unks-tunks, unks-tunks...
Ontem, o home da Soulful dance music Dj Rui Vargas veio fazer-nos a visitinha mensal à Indústria do Porto. Impôs um ritmo atrativo durante a noite toda. Se aquilo é música "às bolinhas" ontem também tinha molas e a vontade era só pular, pular. Para a próxima quero uma rave numa cama elástica. Unks-tunks, unks-tunks, unks-tunks...
sexta-feira, abril 18, 2003
> Telecomunicações
Etimologicamente, telecomunicações são todas as comunicações feitas à distância. É suposto um telemóvel executar essa função, fazer chamadas para quem está distante e vice-versa. Bem, nem sempre. Que o diga a rapariga que hoje de tarde estava na esplanada na mesa ao meu lado, que ao receber uma chamada e olhando para o nome que se inscrevia no seu visor, deixou o telemóvel tocar, tocar, tocar, escondendo-o na bolsa para que o som não incomodasse a vizinhança. Manteve no rosto aquele ar de desprezo que dá aos entediantes e persistentes que a cortejam sem a reciprocidade devida. Algumas amigas abanavam a cabeça levemente, outras riam. Trinta segundos depois de o telefone voltar de novo ao seu estado de repouso, eis que surge o telecomunicador, o ser que era suposto estar nessa posição geográfica de "distante", com ar de poucos amigos e, dirigindo-se à rapariga lhe diz: "Quando não quiseres atender as minhas chamadas certifica-te que eu não estou por perto!". E então sim, tornou-se num ser distante.
Etimologicamente, telecomunicações são todas as comunicações feitas à distância. É suposto um telemóvel executar essa função, fazer chamadas para quem está distante e vice-versa. Bem, nem sempre. Que o diga a rapariga que hoje de tarde estava na esplanada na mesa ao meu lado, que ao receber uma chamada e olhando para o nome que se inscrevia no seu visor, deixou o telemóvel tocar, tocar, tocar, escondendo-o na bolsa para que o som não incomodasse a vizinhança. Manteve no rosto aquele ar de desprezo que dá aos entediantes e persistentes que a cortejam sem a reciprocidade devida. Algumas amigas abanavam a cabeça levemente, outras riam. Trinta segundos depois de o telefone voltar de novo ao seu estado de repouso, eis que surge o telecomunicador, o ser que era suposto estar nessa posição geográfica de "distante", com ar de poucos amigos e, dirigindo-se à rapariga lhe diz: "Quando não quiseres atender as minhas chamadas certifica-te que eu não estou por perto!". E então sim, tornou-se num ser distante.
quinta-feira, abril 17, 2003
A Memória-Video (Videomemory)
I. START RECORDING...
II. A carne arranca o motor, comutando o STAND BY em ON. Um pequeno botão, da carcaça física da nossa mente. Uma viagem até ao recôndito passado, um REWIND esmagador até ao inicio da nossa existência, como nos sonhos ou nas sempre efémeras recordações. Pequenas visões, SHORT REPLAYS, na nossa máquina, o próprio eu - VIDEOMACHINE...
III. Um pequeno filme, algures escondido nessa complicada máquina de tão evoluída tecnologia. Agrupamento de elementos pictóricos, um-a-um, à cadência silenciosa e imperceptível de 25 STILL-FRAMES ao segundo. Guarde-se a imagem de um lugar (o cenário), de um rosto (a personagem), de uma lágrima (a mensagem); do ZOOM ao CLOSE-UP, termos tão inutéis como as recordações esquecidas na nossa mente. Identifiquem-se as fotografias - esse esplendor, a luz - STILL-FRAMES rebuscados ao VIDEO, à nossa memória - VIDEOMEMORY...
IV. Nesta tua fantasia onírica, videográfica, podes procurar o exacto momento do bem ou do mal que pretendes achar. FAST REWIND ou FAST FORWARD (REVIEW/CUE), como se a tua vida passasse loucamente numa veloz vertigem de imagens. A tua memória condicionada ao visionamento das gravuras da tua mente, guardadas em fitas magnéticas que não te atraiem MAGNETIC VIDEOMIND...
V. Neste mundo de aparências visuais, agarrado a esteticismos da cor e da luz: a fotografia, a fotogenia, o falso parecer para bem parecer. Nada como guardar essa hipocrisia em combinações binarias de gravação e/ou leitura digital. A nossa memória fica mais feliz com essas imagens sempre irresistíveis das recordações caleidoscópicas. Até que um dia, um sádico louco carregara no botão vermelho do CONTROL REMOTE e apagará para sempre as ilusões, os sonhos e as lembranças polarizadas magneticamente nessa nova memória - VIDEOCASSETE...
VI. STOP RECORDING.
I. START RECORDING...
II. A carne arranca o motor, comutando o STAND BY em ON. Um pequeno botão, da carcaça física da nossa mente. Uma viagem até ao recôndito passado, um REWIND esmagador até ao inicio da nossa existência, como nos sonhos ou nas sempre efémeras recordações. Pequenas visões, SHORT REPLAYS, na nossa máquina, o próprio eu - VIDEOMACHINE...
III. Um pequeno filme, algures escondido nessa complicada máquina de tão evoluída tecnologia. Agrupamento de elementos pictóricos, um-a-um, à cadência silenciosa e imperceptível de 25 STILL-FRAMES ao segundo. Guarde-se a imagem de um lugar (o cenário), de um rosto (a personagem), de uma lágrima (a mensagem); do ZOOM ao CLOSE-UP, termos tão inutéis como as recordações esquecidas na nossa mente. Identifiquem-se as fotografias - esse esplendor, a luz - STILL-FRAMES rebuscados ao VIDEO, à nossa memória - VIDEOMEMORY...
IV. Nesta tua fantasia onírica, videográfica, podes procurar o exacto momento do bem ou do mal que pretendes achar. FAST REWIND ou FAST FORWARD (REVIEW/CUE), como se a tua vida passasse loucamente numa veloz vertigem de imagens. A tua memória condicionada ao visionamento das gravuras da tua mente, guardadas em fitas magnéticas que não te atraiem MAGNETIC VIDEOMIND...
V. Neste mundo de aparências visuais, agarrado a esteticismos da cor e da luz: a fotografia, a fotogenia, o falso parecer para bem parecer. Nada como guardar essa hipocrisia em combinações binarias de gravação e/ou leitura digital. A nossa memória fica mais feliz com essas imagens sempre irresistíveis das recordações caleidoscópicas. Até que um dia, um sádico louco carregara no botão vermelho do CONTROL REMOTE e apagará para sempre as ilusões, os sonhos e as lembranças polarizadas magneticamente nessa nova memória - VIDEOCASSETE...
VI. STOP RECORDING.
quarta-feira, abril 16, 2003
::Cliché-caffé-1
O rosto no meu espelho no teu corpo, reflecte luz em meu espelho em meu corpo; grito levemente a voz com o sono da loucura agarrado em si, trouxe um copo de água talvez depois de um café e acendi uma vela talvez acesa a um cadáver derrotado numa batalha talvez sangrenta talvez de guerra ou mesmo de uma luta marido e mulher. Agarrado à garrafa numa mão, na outra não, na mesma, um revólver ainda fumando, pólvora, certamente e sem engano; e grito levemente a voz com sono para poder adormecer e sonhar com o sono da loucura, e abrir-te a porta para poderes entrar e despir-te e sorrir para teu encanto, meu ou teu, ou nosso...
O rosto no meu espelho no teu corpo, reflecte luz em meu espelho em meu corpo; grito levemente a voz com o sono da loucura agarrado em si, trouxe um copo de água talvez depois de um café e acendi uma vela talvez acesa a um cadáver derrotado numa batalha talvez sangrenta talvez de guerra ou mesmo de uma luta marido e mulher. Agarrado à garrafa numa mão, na outra não, na mesma, um revólver ainda fumando, pólvora, certamente e sem engano; e grito levemente a voz com sono para poder adormecer e sonhar com o sono da loucura, e abrir-te a porta para poderes entrar e despir-te e sorrir para teu encanto, meu ou teu, ou nosso...
A morte, como a existência das coisas, foi desde os primórdios da lembrança humana, o mistério por resolver. Morte e mito interligam-se. Dessa união, de genes enigmáticos, nasceu o primeiro culto humano: o culto da morte. Criador da para-existência, do metafísico e do supra-psíquico. A morte corrompe. Estraga, gasta, destroi. A morte marca o fim. Ela só existe naquele segundo, na mais ínfima fracção do tempo em que algo é para deixar de ser. É esse momento temporal que se procura: o momento que gera o mito e em que se repete o culto. A pose da morte é um momento irreptível.
terça-feira, abril 15, 2003
>Os Dez Mandamentos
Aproveitando a época pascal, fui refrescar a memória sobre quais seriam os dez mandamentos que já não os tinha a todos na memória. Achei muita piada aquele do "Não cobicem a casa nem as propriedades e nem a mulher de seu próximo". Lamento mas isto não pode ser a palavra de Deus, o tom tipicamente machista da afirmação o prova; a mulher como propriedade. Será que Moisés também era adepto do "quem conta um conto acrescenta um ponto"? Teria um espirito jornalistico mediatico e moderno, capaz de transformar o facto em opinião? Mulheres, em sinal de protesto, nesta Páscoa não se esqueçam: estais livres cobiçar o próximo! E não se esqueçam, Amén!
Aproveitando a época pascal, fui refrescar a memória sobre quais seriam os dez mandamentos que já não os tinha a todos na memória. Achei muita piada aquele do "Não cobicem a casa nem as propriedades e nem a mulher de seu próximo". Lamento mas isto não pode ser a palavra de Deus, o tom tipicamente machista da afirmação o prova; a mulher como propriedade. Será que Moisés também era adepto do "quem conta um conto acrescenta um ponto"? Teria um espirito jornalistico mediatico e moderno, capaz de transformar o facto em opinião? Mulheres, em sinal de protesto, nesta Páscoa não se esqueçam: estais livres cobiçar o próximo! E não se esqueçam, Amén!
segunda-feira, abril 14, 2003
>
Uma coisa que me chateou mesmo muito nesta guerra que parece estar a acabar: ter de dar uma opinião, ter de dizer se sou contra ou a favor, esquerda-direita, pró americano ou anti-americano.Se não fosse incorrecto teria-me mesmo dito: "Guerra? Deixem-me em paz!". Toda a gente tem direito de opinião. Eu queria ter dito o direito de não ter opinião. O direito de não entrar na estatistica mediática, de ter entrado nas contas da globalização. Porque, eu muito Socraticamente digo, que desde muito estranho e imperceptível mundo em que vivemos, dele, dele nada sei e nada entendo.
Uma coisa que me chateou mesmo muito nesta guerra que parece estar a acabar: ter de dar uma opinião, ter de dizer se sou contra ou a favor, esquerda-direita, pró americano ou anti-americano.Se não fosse incorrecto teria-me mesmo dito: "Guerra? Deixem-me em paz!". Toda a gente tem direito de opinião. Eu queria ter dito o direito de não ter opinião. O direito de não entrar na estatistica mediática, de ter entrado nas contas da globalização. Porque, eu muito Socraticamente digo, que desde muito estranho e imperceptível mundo em que vivemos, dele, dele nada sei e nada entendo.
::Maio
maio parece querer acabar com a utopia
as palavras comidas no seu da boca, secam
os dentes sibilam uma dor branca
são corropios de texto debaixo da frincha da porta;
Não tenho para onde ir
Jorram palavras vermelhas na fonte do amanhã
A ponto de formarem um rio de borboletas
Ainda presas no cásulo do sentir
Trigésimo segundo dia do mês de maio
Já partiu o dia que sucede à mesma noite
As palavras fazem cócegas na língua do amor
Saiem finalmente as borboletas no oco da boca
Voando como pétalas arrancadas à flor
maio parece querer acabar com a utopia
as palavras comidas no seu da boca, secam
os dentes sibilam uma dor branca
são corropios de texto debaixo da frincha da porta;
Não tenho para onde ir
Jorram palavras vermelhas na fonte do amanhã
A ponto de formarem um rio de borboletas
Ainda presas no cásulo do sentir
Trigésimo segundo dia do mês de maio
Já partiu o dia que sucede à mesma noite
As palavras fazem cócegas na língua do amor
Saiem finalmente as borboletas no oco da boca
Voando como pétalas arrancadas à flor
::ST
Roupa
voo numa planicie discreta
100
corpo
e tão no
Homenagem? Promessa?
Uma porta aberta
Tens a certeza?
Talvez pergunte
esqueci de olhos abertos
de os ter para ver
Origem:
Não conto!
Que vale querer?
Não responde
Mais uma peça
Roupa
100 a voar
Velocidade?
Uma necessidade
quero ficar louco
uma mão uma perna
Nudez?
Por ventura posso?
Tocar ao de leve
uma branca pele
não me repele
3 vezes repeti
fechar e abrir os olhos
como quem guarda imagens
Fotografia?
Tua é minha
gosto de ter
recordações cortadas às fatias
quero pôr a mão
Onde?
Não conto!
Talvez
Queres me ouvir?
Pergunta-te!
Queres continuar?
Roupa
com sinal + no lábio
Queres mais?
Talvez responda
afirmo pelo silêncio
pára a música
outra música
mais pele
gosto de pele
nem tentes essa pergunta
Não conto, já disse!
Até a verdade
cruza as pernas de vergonha
3 palavras para recordar:
corpo
desejo
pele
Sabes do Q falo?
Pergunto!
Um sorriso
outra afirmação pelo silêncio
Crescer?
se quiseres dar-me a mão
Voar?
Pensa
é como despir
palavra proibida
acorda
percebe
envergonha-se
Não se entristece
é tão bom negar
O quê?
Pergunta
as coisas más
evidência
digo
mais roupa
já só significa mais pele
corpo
pele
desejo
ordem diferente
repara:
eu gosto
cada vez mais
Se tiveres mais?
Querer?
É só essa a questão
Resposta:
há uma pergunta escondida nos olhos
beijo
língua no carrossel
desejo com sinal +
voa comigo
pedido
outra afirmação do silêncio
o beijo para isso serve
mão
perna
caricia
roupa?
só duas peças
é a tua vez!
convite
afirmação pelo gesto
o essencial da vida
Sim?
Compreensão?
Sorriso
em silêncio
eu concordo
gosto quando concordas
Querer mais?
Voar?
sim já vou no ar
liberdade
era fácil
lentamente agora
roupa
menos uma peça
- roupa
+ desejo
+ pele
+ tu + eu
podemo-nos unir
última roupa
mão no sexo
evidentemente
amo quando concordas
pára
agora?
porquê?
Pergunta
mostra-se
exibe-se
sensualidade
paixão
tributo de pele
carnal
ousado
sublime
Que é isso?
adjectivo imenso
amarmo-nos
de imediato
chão, cama, pé, tecto, quarto, cozinha,
sala, vazio, escritório
aí?
se fosse preciso
08.abril.94, 02h33mns.
Roupa
voo numa planicie discreta
100
corpo
e tão no
Homenagem? Promessa?
Uma porta aberta
Tens a certeza?
Talvez pergunte
esqueci de olhos abertos
de os ter para ver
Origem:
Não conto!
Que vale querer?
Não responde
Mais uma peça
Roupa
100 a voar
Velocidade?
Uma necessidade
quero ficar louco
uma mão uma perna
Nudez?
Por ventura posso?
Tocar ao de leve
uma branca pele
não me repele
3 vezes repeti
fechar e abrir os olhos
como quem guarda imagens
Fotografia?
Tua é minha
gosto de ter
recordações cortadas às fatias
quero pôr a mão
Onde?
Não conto!
Talvez
Queres me ouvir?
Pergunta-te!
Queres continuar?
Roupa
com sinal + no lábio
Queres mais?
Talvez responda
afirmo pelo silêncio
pára a música
outra música
mais pele
gosto de pele
nem tentes essa pergunta
Não conto, já disse!
Até a verdade
cruza as pernas de vergonha
3 palavras para recordar:
corpo
desejo
pele
Sabes do Q falo?
Pergunto!
Um sorriso
outra afirmação pelo silêncio
Crescer?
se quiseres dar-me a mão
Voar?
Pensa
é como despir
palavra proibida
acorda
percebe
envergonha-se
Não se entristece
é tão bom negar
O quê?
Pergunta
as coisas más
evidência
digo
mais roupa
já só significa mais pele
corpo
pele
desejo
ordem diferente
repara:
eu gosto
cada vez mais
Se tiveres mais?
Querer?
É só essa a questão
Resposta:
há uma pergunta escondida nos olhos
beijo
língua no carrossel
desejo com sinal +
voa comigo
pedido
outra afirmação do silêncio
o beijo para isso serve
mão
perna
caricia
roupa?
só duas peças
é a tua vez!
convite
afirmação pelo gesto
o essencial da vida
Sim?
Compreensão?
Sorriso
em silêncio
eu concordo
gosto quando concordas
Querer mais?
Voar?
sim já vou no ar
liberdade
era fácil
lentamente agora
roupa
menos uma peça
- roupa
+ desejo
+ pele
+ tu + eu
podemo-nos unir
última roupa
mão no sexo
evidentemente
amo quando concordas
pára
agora?
porquê?
Pergunta
mostra-se
exibe-se
sensualidade
paixão
tributo de pele
carnal
ousado
sublime
Que é isso?
adjectivo imenso
amarmo-nos
de imediato
chão, cama, pé, tecto, quarto, cozinha,
sala, vazio, escritório
aí?
se fosse preciso
08.abril.94, 02h33mns.
...and now I'm back, from out'of space...
A viagem a Salamanca correu bem. Cidade impecável, gente simpática e diversificada. Mas o desgaste físico é visivel...(menos pints e o resultado teria sido outro...). Ainda não me actualizei totalmente, mas parece-me que continua tudo na mesma linha - a esquerda a tentar encontrar formas de moldar a realidade, o pensamento de carneirada (na senda da educação fantástica prepétuada no pós-revolução).
Os efeitos colaterais do fim de semana fazem-se sentir.
A viagem a Salamanca correu bem. Cidade impecável, gente simpática e diversificada. Mas o desgaste físico é visivel...(menos pints e o resultado teria sido outro...). Ainda não me actualizei totalmente, mas parece-me que continua tudo na mesma linha - a esquerda a tentar encontrar formas de moldar a realidade, o pensamento de carneirada (na senda da educação fantástica prepétuada no pós-revolução).
Os efeitos colaterais do fim de semana fazem-se sentir.
sexta-feira, abril 11, 2003
And now?
Depois de toda a problemática levantada pelos tão queridos pacifistas, o que pretendem eles que faça o povo iraquiano? De tão revoltados que estavam com os americanos deveriam tapar a cara quando ouvem os iraquianos agradecer aos americanos...
Estamos agora a entrar no round two (je!je! missing the past), veremos como vão agir os mui-altruisto-humanitários compatriotas "cheesófilos" e "sausesólifos". Venha agora a esquerda apresentar argumentos de valores morais superiores destas "potências".
Depois de toda a problemática levantada pelos tão queridos pacifistas, o que pretendem eles que faça o povo iraquiano? De tão revoltados que estavam com os americanos deveriam tapar a cara quando ouvem os iraquianos agradecer aos americanos...
Estamos agora a entrar no round two (je!je! missing the past), veremos como vão agir os mui-altruisto-humanitários compatriotas "cheesófilos" e "sausesólifos". Venha agora a esquerda apresentar argumentos de valores morais superiores destas "potências".
Yé-yé!
Estou mesmo como "una chica yé-yé", não sei se é do sol, se das perspectivas das castanholas e do "traje de gitana", mas mal posso esperar por ir à "Feria de Abril" a Sevilha (mítico ex-libris da cultura andaluza, ao Rocío não sei se posso...)!!
Finalmente vou poder concretizar um dos nossos (piada familiar) mais antigos sonhos! Adoro quando após tantos e tantos anos de expectativas, marcações e anulações possa finalmente ir visitar um dos espaços que tanto marcaram o meu imaginário infanto-juvenil (confesso que nunca considerei os nossos vizinhos peninsulares "hermanos" - é uma questão de educação religiosa...).
Ao mesmo tempo tenho receio. Como em qualquer situação em que as expectativas são grandes (e a passagem dos anos só aumenta, por distancia do objecto).
Mas enfim, com o desenrolar dos acontecimentos vou actualizando esta rubrica a que chamarei "Flecos".
PS - neste fim de semana será difícil postar, hà que cumprir com os deveres familiares e ir visitar a maninha
Estou mesmo como "una chica yé-yé", não sei se é do sol, se das perspectivas das castanholas e do "traje de gitana", mas mal posso esperar por ir à "Feria de Abril" a Sevilha (mítico ex-libris da cultura andaluza, ao Rocío não sei se posso...)!!
Finalmente vou poder concretizar um dos nossos (piada familiar) mais antigos sonhos! Adoro quando após tantos e tantos anos de expectativas, marcações e anulações possa finalmente ir visitar um dos espaços que tanto marcaram o meu imaginário infanto-juvenil (confesso que nunca considerei os nossos vizinhos peninsulares "hermanos" - é uma questão de educação religiosa...).
Ao mesmo tempo tenho receio. Como em qualquer situação em que as expectativas são grandes (e a passagem dos anos só aumenta, por distancia do objecto).
Mas enfim, com o desenrolar dos acontecimentos vou actualizando esta rubrica a que chamarei "Flecos".
PS - neste fim de semana será difícil postar, hà que cumprir com os deveres familiares e ir visitar a maninha
quinta-feira, abril 10, 2003
partida
sempre uma viagem
e um prenúncio de saudade
pára
e recorda
as mãos puxadas e repuxadas
por um fio invisível, agindo
descontroladas, demedidas
e frenéticas
ao som da música como uma cobra enfeitiçada; a música bate estonteante, estou a vê-la no ritmo, perdida no ritmo, na vida, toda ela, no que se passa ao seu lado, no que se passa na sua vida.
a vida na sua vida
carrossel
como bebedeira
tonta
de dança
do álcool
do vício da vida
há-de chegar
chegar a algum lado
talvez já não tão perdida
reencontrada
ou ainda mais tonta
mais ébria do vício de viver
de fazer o querer
sem pensar
sem sentir
a querer
sem pensar
sem parar
e gira
e rodopia
sempre a partir
sempre a querer chegar
ou sem nunca parar
sempre uma viagem
e um prenúncio de saudade
pára
e recorda
as mãos puxadas e repuxadas
por um fio invisível, agindo
descontroladas, demedidas
e frenéticas
ao som da música como uma cobra enfeitiçada; a música bate estonteante, estou a vê-la no ritmo, perdida no ritmo, na vida, toda ela, no que se passa ao seu lado, no que se passa na sua vida.
a vida na sua vida
carrossel
como bebedeira
tonta
de dança
do álcool
do vício da vida
há-de chegar
chegar a algum lado
talvez já não tão perdida
reencontrada
ou ainda mais tonta
mais ébria do vício de viver
de fazer o querer
sem pensar
sem sentir
a querer
sem pensar
sem parar
e gira
e rodopia
sempre a partir
sempre a querer chegar
ou sem nunca parar
Surfar de novo
Quando me liguei pela primeira vez à Internet decorria o ano de 1995. Durante esse tempo muita coisa mudou. Não só no mundo, nas nossas vidas pessoais, como na Internet em si mesma. No principio da massificação do uso e dos utilizadores, era apenas de um dominio restrito (remonto-me à esfera do .pt), mas com imensa informação que toda a gente disponibilizava de forma gratuita e com vontade de partilhar informações, quase todas as páginas que acediamos continham links para outras páginas, outros assuntos. Daí advinha a expressão surfar na net.E fazia sentido. Era como se apanhassemos uma onda e depois deixassemo-nos levar por onde a força da onda nos levasse, ou uma ou outra acrobacia nos mudasse a atenção e a vontade. Muita gente conhece o termo HTML, mas poucas pessoas sabem que o HyperText Markup Language que é a linguagem da web, controlada pelo HTTP (HyperText Transport Protocol) serve para isso mesmo, para nos levar para aqui e para ali, saltando de uma parte de um texto para outra parte de outro texto noutro lado qualquer havendo entre eles uma ligação qualquer (o link). Esta é a Internet tal qual foi sonhada um dia. Mas depois... depois como sempre vieram as empresas, o comércio, o dinheiro que tudo manipula e corroi. Vieram os portais de informação especifica com imensas ligações mas todas concentradas no mesmo sitio, no mesmo tipo de informação. Vieram as empresas com a informação paga e vedada a passwords. O mundo da informação livre tinha-se fechado. Já não se podia surfar. Tiraram-nos do mar e colocaram-nos numa piscina de ondas a 2 Euros a hora. Já não tinha o mesmo sabor. E a net, embora continuasse util, um imenso Larousse multimedia, tinha perdido o sentido inicial pela qual tinha sido criada. Tinha perdido a beleza, a beleza de uma coisa que tanto se fala, pela qual se luta e se guerreia: a liberdade.
Até que me apresentaram aos blogs (obviamente através do outro gume desta Espada Relativa). Que havia este de direita e aquele de esquerda e que desse uma olhadela. Sou curioso, não resisto, e lá fui. Comecei por um, saltei para outro, depois dali para um artigo de um jornal estrangeiro, depois voltei e acabei numa opinião oposta. As horas passavam e eu andava de blog em blog, por vezes para fora de blogs, para jornais, para revistas, para imagens, para musicas... estava a surfar de novo! Arrisquei um comentário ao segundo dia. Obtive logo uma resposta em forma de e-mail, e ainda por cima com a mensagem de que devia ter um blog. Aceitamos o desafio da Memória Inventada. A ideia de compartilhar fez sempre sentido para mim. Para nós.
PS: Muitos são os que nos tem apoiado e dito coisas simpáticas e alguns colocando-nos nos seus links. À Memória Inventada, ao Fumacas, A Coluna Infame, Blog dos Marretas, Cruzes Canhoto, Intermitente, Valete Frates o nosso apreço pela atitude. Foi a vossa prosa que nos chamou a atenção para a blogosfera!!
Quando me liguei pela primeira vez à Internet decorria o ano de 1995. Durante esse tempo muita coisa mudou. Não só no mundo, nas nossas vidas pessoais, como na Internet em si mesma. No principio da massificação do uso e dos utilizadores, era apenas de um dominio restrito (remonto-me à esfera do .pt), mas com imensa informação que toda a gente disponibilizava de forma gratuita e com vontade de partilhar informações, quase todas as páginas que acediamos continham links para outras páginas, outros assuntos. Daí advinha a expressão surfar na net.E fazia sentido. Era como se apanhassemos uma onda e depois deixassemo-nos levar por onde a força da onda nos levasse, ou uma ou outra acrobacia nos mudasse a atenção e a vontade. Muita gente conhece o termo HTML, mas poucas pessoas sabem que o HyperText Markup Language que é a linguagem da web, controlada pelo HTTP (HyperText Transport Protocol) serve para isso mesmo, para nos levar para aqui e para ali, saltando de uma parte de um texto para outra parte de outro texto noutro lado qualquer havendo entre eles uma ligação qualquer (o link). Esta é a Internet tal qual foi sonhada um dia. Mas depois... depois como sempre vieram as empresas, o comércio, o dinheiro que tudo manipula e corroi. Vieram os portais de informação especifica com imensas ligações mas todas concentradas no mesmo sitio, no mesmo tipo de informação. Vieram as empresas com a informação paga e vedada a passwords. O mundo da informação livre tinha-se fechado. Já não se podia surfar. Tiraram-nos do mar e colocaram-nos numa piscina de ondas a 2 Euros a hora. Já não tinha o mesmo sabor. E a net, embora continuasse util, um imenso Larousse multimedia, tinha perdido o sentido inicial pela qual tinha sido criada. Tinha perdido a beleza, a beleza de uma coisa que tanto se fala, pela qual se luta e se guerreia: a liberdade.
Até que me apresentaram aos blogs (obviamente através do outro gume desta Espada Relativa). Que havia este de direita e aquele de esquerda e que desse uma olhadela. Sou curioso, não resisto, e lá fui. Comecei por um, saltei para outro, depois dali para um artigo de um jornal estrangeiro, depois voltei e acabei numa opinião oposta. As horas passavam e eu andava de blog em blog, por vezes para fora de blogs, para jornais, para revistas, para imagens, para musicas... estava a surfar de novo! Arrisquei um comentário ao segundo dia. Obtive logo uma resposta em forma de e-mail, e ainda por cima com a mensagem de que devia ter um blog. Aceitamos o desafio da Memória Inventada. A ideia de compartilhar fez sempre sentido para mim. Para nós.
PS: Muitos são os que nos tem apoiado e dito coisas simpáticas e alguns colocando-nos nos seus links. À Memória Inventada, ao Fumacas, A Coluna Infame, Blog dos Marretas, Cruzes Canhoto, Intermitente, Valete Frates o nosso apreço pela atitude. Foi a vossa prosa que nos chamou a atenção para a blogosfera!!
quarta-feira, abril 09, 2003
Alguém dos blogs mais canhotos me confirma a letra daquela música "Paz, paz! Povo em Liberdade!..."
Post-post:
O nosso amigo JCF do Fumaças bem que me corrigiu nesta intervenção, o que é facto é que andava a cantarolar a letra do 1º hino do PPD/PSD mas sobre um fundo sonoro de uma musica revolucionária de Abril que não me recordo o nome e a letra... daí a minha confusão. Mas aqui fica na mesma a ideia: letras de direita musicadas à esquerda, ou vice-versa.
Post-post:
O nosso amigo JCF do Fumaças bem que me corrigiu nesta intervenção, o que é facto é que andava a cantarolar a letra do 1º hino do PPD/PSD mas sobre um fundo sonoro de uma musica revolucionária de Abril que não me recordo o nome e a letra... daí a minha confusão. Mas aqui fica na mesma a ideia: letras de direita musicadas à esquerda, ou vice-versa.
Ha?!?
Descrição do jornalista Carlos Fino após sequestro temporário "O mais estranho foi não sentir medo...como os carneiros quando vão para a morte...a dor dos socos e das corunhadas era anestesiada pela violência dos mesmos!"
Será que após tantos e tantos anos de serviço ainda não tenha ouvido falar da reacção a quente?
Descrição do jornalista Carlos Fino após sequestro temporário "O mais estranho foi não sentir medo...como os carneiros quando vão para a morte...a dor dos socos e das corunhadas era anestesiada pela violência dos mesmos!"
Será que após tantos e tantos anos de serviço ainda não tenha ouvido falar da reacção a quente?
terça-feira, abril 08, 2003
::Horizonte
Se conseguirmos dobrar o horizonte serei teu.
Os teus lábios ficam vermelhos e brilhantes depois de um beijo. Os teus olhos ainda mais limpidos com o incendiar da manhã. O meu corpo é uma cama onde te vieste deitar. Não me peças para voltar. O silêncio fica, o silêncio é de ouro, e guardamos nos olhos as palavras que incomodam. Desenho cornucópias no teu corpo com a caneta dos dedos e pinceladas cintilantes de saliva são assinaturas. A arte efémera de te dar prazer. Não me peças, eu não vou voltar. O nascer do dia anunciou um qualquer fim que tu quiseste evitar prendendo a tua mão na minha, e depois o teu corpo enrolado no meu corpo. O corpo dentro do corpo como se não houvesse fuga, como se fosse uma morada aonde fosse parar a minha correspondênca. Mas eu não tenho rumo, sou a apenas a deriva que me leva, a liberdade do vento que tudo percorre e em nada poisa. Eu não vou voltar, nunca volto. Só te prometi os beijos que te dei. Não sou de promessas, mas estava tão fácil de cumprir, e eu tão desejoso de cumprir. Beijo as lágrimas que choras. Sabes de tudo. Vês nos meus olhos escuros o texto que a boca nunca irá dizer. Não faço um único gesto para fugir mas sabes que eu não estou lá. O meu corpo ainda quente de encontro ao teu corpo ainda quente. Não fales. Não perguntes. As palavras atrapalham, as palavras estragam, corroiem a beleza das coisas. Se tu falares a tua beleza transforma-se numa aquarela de lágrimas no quadro dos teus olhos. Fecho os olhos sem perceber que quero guardar uma imagem da tua beleza inquieta. É essa a recordação que quero que fique. O meu coração enche-se de ansiedade e sobressaltos, pressinto uma palavra tua que irromperá como um grito que assustara as aves que se porão a voar, os cães irrequietos latirão na rua e a chuva virá de repente numa nuvem negra que se formou no céu da tua boca. Não te quero dizer que não vou voltar. A tua boca mexe-se e eu calo-a no húmido do beijo, no pegajoso da saliva como se quisesse prender as palavras no oco da boca. Acabou. Acabou o beijo e os teu olhos fixam os meus, estão vazios de texto, ou uma linguagem estrangeira que ainda não me foi dada a aprender. A tua mão ainda quente percorre o meu rosto ainda quente e um resto de fogo ainda fica na face depois da tua mão se esconder num sitio bem distante do meu corpo, para lá do fio do horizonte que guarda as palavras que nunca se fizeram ouvir.
Se conseguirmos dobrar o horizonte serei teu.
Os teus lábios ficam vermelhos e brilhantes depois de um beijo. Os teus olhos ainda mais limpidos com o incendiar da manhã. O meu corpo é uma cama onde te vieste deitar. Não me peças para voltar. O silêncio fica, o silêncio é de ouro, e guardamos nos olhos as palavras que incomodam. Desenho cornucópias no teu corpo com a caneta dos dedos e pinceladas cintilantes de saliva são assinaturas. A arte efémera de te dar prazer. Não me peças, eu não vou voltar. O nascer do dia anunciou um qualquer fim que tu quiseste evitar prendendo a tua mão na minha, e depois o teu corpo enrolado no meu corpo. O corpo dentro do corpo como se não houvesse fuga, como se fosse uma morada aonde fosse parar a minha correspondênca. Mas eu não tenho rumo, sou a apenas a deriva que me leva, a liberdade do vento que tudo percorre e em nada poisa. Eu não vou voltar, nunca volto. Só te prometi os beijos que te dei. Não sou de promessas, mas estava tão fácil de cumprir, e eu tão desejoso de cumprir. Beijo as lágrimas que choras. Sabes de tudo. Vês nos meus olhos escuros o texto que a boca nunca irá dizer. Não faço um único gesto para fugir mas sabes que eu não estou lá. O meu corpo ainda quente de encontro ao teu corpo ainda quente. Não fales. Não perguntes. As palavras atrapalham, as palavras estragam, corroiem a beleza das coisas. Se tu falares a tua beleza transforma-se numa aquarela de lágrimas no quadro dos teus olhos. Fecho os olhos sem perceber que quero guardar uma imagem da tua beleza inquieta. É essa a recordação que quero que fique. O meu coração enche-se de ansiedade e sobressaltos, pressinto uma palavra tua que irromperá como um grito que assustara as aves que se porão a voar, os cães irrequietos latirão na rua e a chuva virá de repente numa nuvem negra que se formou no céu da tua boca. Não te quero dizer que não vou voltar. A tua boca mexe-se e eu calo-a no húmido do beijo, no pegajoso da saliva como se quisesse prender as palavras no oco da boca. Acabou. Acabou o beijo e os teu olhos fixam os meus, estão vazios de texto, ou uma linguagem estrangeira que ainda não me foi dada a aprender. A tua mão ainda quente percorre o meu rosto ainda quente e um resto de fogo ainda fica na face depois da tua mão se esconder num sitio bem distante do meu corpo, para lá do fio do horizonte que guarda as palavras que nunca se fizeram ouvir.
segunda-feira, abril 07, 2003
JÁ PASSOU
A hora marcada já ultrapassada,
O momento de recolhimento atingido,
A dor não passa,
O sentimento não esquece.
O que mais me deslumbra é a capacidade que cada um de nós tem para, dentro de uma lógica pessoal, encontrar formas únicas e individuais de lidar com a vida.
O formular comportamentos e acções que nos levam a ter actitudes para os demais irracionais.
Não escrevi durante o fim de semana e ontem, foi um momento de introspecção para sorver e lidar com a minha dor (a mais profunda delas, a que se sente agonizar na pele, como se cada veia transportasse o sofrimento que pretende sair da nossa alma).
The excruciating pain that ravish inside,
Can ever be still,
No matter the passing time,
The scars on the soul are long unheal.
Sorrow can only be praised.
A hora marcada já ultrapassada,
O momento de recolhimento atingido,
A dor não passa,
O sentimento não esquece.
O que mais me deslumbra é a capacidade que cada um de nós tem para, dentro de uma lógica pessoal, encontrar formas únicas e individuais de lidar com a vida.
O formular comportamentos e acções que nos levam a ter actitudes para os demais irracionais.
Não escrevi durante o fim de semana e ontem, foi um momento de introspecção para sorver e lidar com a minha dor (a mais profunda delas, a que se sente agonizar na pele, como se cada veia transportasse o sofrimento que pretende sair da nossa alma).
The excruciating pain that ravish inside,
Can ever be still,
No matter the passing time,
The scars on the soul are long unheal.
Sorrow can only be praised.
Sobre a criação
Qu'est-ce qu'un enfant?
Un miracle.
Serge Gainsbourg
Criar é durar.
Mas o quê que há de tão fascinante na criação? O apelo à restruturação, à comunicação, à destruição da parede moral, social ou da estética antecedente?
Criar é fazer nascer.
É olhar para a mesma coisa sempre de um modo novo, é contemporaneizar. Criar-redescobrir, recriar-descobrir.
O eterno jogo infantil de mostrar o que não se conhece, a vontade de crescer, o acto de durar, permanecer, eternizar: a recriação. Ou, e por outro lado, a faceta da racionalidade de procurar o novo, o original, julgar atingi-lo, e afinal descobrir que apenas, implicitamente, brincamos com códigos antigos, já tão pejados de outros usos distintos, e no fim: a criação é uma descoberta.
O jogo da criação é um jogo de sorte.
Ou de azar.
Descobrir é ir um pouco mais longe que os outros.
É o apelo ao risco, ao chiste.
À aventura, mais uma vez a infância.
A ingenuidade, o ser destemido.
Criança porquê?
Porque a criança ainda não conhece a morte, a dor, e julga tudo possível.
O criador também.
Criar, é descobrir o que os outros já descobriram. É da cultura dos outros que nos incitamos a essa aventura que é promiscuirmo-nos em universos desconhecidos. A eterna criança à procura de si mesma, o ser desconhecido que se agita dentro de si própria.
É o apelo ao risco, ao erro.
Criar, é aceitar um erro.
Jogar com o imprevisto, com o inexplicável, com o insuspeito, o impensável e todas as outras formas aleatórias de surpresas.
É perspectivar os outros.
Ou, e outra vez, olhar para nós mesmos, essa aventura, e extrapolar, conceptualizar, idealizar os outros e transformar essa amálgama de conhecimentos subjectivos, impalpáveis e dota-los de forma, de corpo, e tomar como nosso esse objecto de criação.
Aceitar o erro.
Ou a conquista.
Criar, é conquistar.
Conquista com sinónimo claro com sedução. Com essa tipologia de guerra onde um procura o espaço do outro. A guerrilha entre duas maneiras de ver, de sentir, de ser. Espaços vitais que se tentam corrobrar, influenciar, modificar. Ou na mais poética maneira de agir, justapôr a minha visão (a visão do criador) com a do adversário. A união, a conquista do objecto de criação.
Qu'est-ce qu'un enfant?
Un miracle.
Serge Gainsbourg
Criar é durar.
Mas o quê que há de tão fascinante na criação? O apelo à restruturação, à comunicação, à destruição da parede moral, social ou da estética antecedente?
Criar é fazer nascer.
É olhar para a mesma coisa sempre de um modo novo, é contemporaneizar. Criar-redescobrir, recriar-descobrir.
O eterno jogo infantil de mostrar o que não se conhece, a vontade de crescer, o acto de durar, permanecer, eternizar: a recriação. Ou, e por outro lado, a faceta da racionalidade de procurar o novo, o original, julgar atingi-lo, e afinal descobrir que apenas, implicitamente, brincamos com códigos antigos, já tão pejados de outros usos distintos, e no fim: a criação é uma descoberta.
O jogo da criação é um jogo de sorte.
Ou de azar.
Descobrir é ir um pouco mais longe que os outros.
É o apelo ao risco, ao chiste.
À aventura, mais uma vez a infância.
A ingenuidade, o ser destemido.
Criança porquê?
Porque a criança ainda não conhece a morte, a dor, e julga tudo possível.
O criador também.
Criar, é descobrir o que os outros já descobriram. É da cultura dos outros que nos incitamos a essa aventura que é promiscuirmo-nos em universos desconhecidos. A eterna criança à procura de si mesma, o ser desconhecido que se agita dentro de si própria.
É o apelo ao risco, ao erro.
Criar, é aceitar um erro.
Jogar com o imprevisto, com o inexplicável, com o insuspeito, o impensável e todas as outras formas aleatórias de surpresas.
É perspectivar os outros.
Ou, e outra vez, olhar para nós mesmos, essa aventura, e extrapolar, conceptualizar, idealizar os outros e transformar essa amálgama de conhecimentos subjectivos, impalpáveis e dota-los de forma, de corpo, e tomar como nosso esse objecto de criação.
Aceitar o erro.
Ou a conquista.
Criar, é conquistar.
Conquista com sinónimo claro com sedução. Com essa tipologia de guerra onde um procura o espaço do outro. A guerrilha entre duas maneiras de ver, de sentir, de ser. Espaços vitais que se tentam corrobrar, influenciar, modificar. Ou na mais poética maneira de agir, justapôr a minha visão (a visão do criador) com a do adversário. A união, a conquista do objecto de criação.
domingo, abril 06, 2003
> Natalie Hershlag: a menina judia
Talvez com este nome não associem o nome à figura, mas é assim. Há povos que tem de andar escondidos por detrás de sobrenomes americanizados para que não sejam ostracizados no panorama artistico. Nascida a 9 de Junho de 1981 em Jerusalém, começou a dar nas vistas do mundo no filme do francês Jean-Luc Besson: "Léon. O Profissional" no papel de Mathilda. Mas foi no filme "Mulheres Bonitas, Beatiful Girls" que nos apanhou o coração. Pelo menos o meu. Interpretando talvez a mais perfeita Lolita da história do cinema. Lolita no sentido Nabukoviano, e mesmo que hoje em dia em Portugal seja incomodo invocar os amores de e com adolescentes. O papel assenta-lhe na perfeição e acrescenta uma outra dimensão ao filme de Ted Demme, onde o texto de Scott Rosemberg com brilhantismo faz resplandecer uma nova estrela no mundo do cinema. Seguiram-se "Mars Attack!", "Anywhere but here, e o "Everyone says I love you" de Allen Konigsberg. Quem? Pois, desculpem lá: o "Everyone says I love you" do Woody Allen. Malditos judeus que andam sempre a mudar o sobrenome como se se tivessem que esconder. O estrelato da menina judia seria confirmado na nova trilogia da "Guerra das Estrelas" de George Lucas, onde empresta toda a beleza à Rainha Amidala. Estamos ansiosos por vê-la no proximo filme de Anthonny Minghella Cold Mountain, o mesmo do "Paciente Inglês" para podermos de novo apreciar a sua beleza e talento. As meninas também podem ir ver o filme, tem lá o Jude Law.
Eu nasci e fui educado no seio de uma familia católica e tolerante, mas venho aqui reenvidicar a minha posição de fervoroso adepto do povo judaico que ao longo da história tem agregado os ódios de todas as raças, povos e crenças que sempre os tentaram exterminar. Ainda hoje isso acontece. Eu, quando olho para o rosto doce da minha perfeita judia, pergunto-me, "como é que este ódio todo é possível?!!"
Talvez com este nome não associem o nome à figura, mas é assim. Há povos que tem de andar escondidos por detrás de sobrenomes americanizados para que não sejam ostracizados no panorama artistico. Nascida a 9 de Junho de 1981 em Jerusalém, começou a dar nas vistas do mundo no filme do francês Jean-Luc Besson: "Léon. O Profissional" no papel de Mathilda. Mas foi no filme "Mulheres Bonitas, Beatiful Girls" que nos apanhou o coração. Pelo menos o meu. Interpretando talvez a mais perfeita Lolita da história do cinema. Lolita no sentido Nabukoviano, e mesmo que hoje em dia em Portugal seja incomodo invocar os amores de e com adolescentes. O papel assenta-lhe na perfeição e acrescenta uma outra dimensão ao filme de Ted Demme, onde o texto de Scott Rosemberg com brilhantismo faz resplandecer uma nova estrela no mundo do cinema. Seguiram-se "Mars Attack!", "Anywhere but here, e o "Everyone says I love you" de Allen Konigsberg. Quem? Pois, desculpem lá: o "Everyone says I love you" do Woody Allen. Malditos judeus que andam sempre a mudar o sobrenome como se se tivessem que esconder. O estrelato da menina judia seria confirmado na nova trilogia da "Guerra das Estrelas" de George Lucas, onde empresta toda a beleza à Rainha Amidala. Estamos ansiosos por vê-la no proximo filme de Anthonny Minghella Cold Mountain, o mesmo do "Paciente Inglês" para podermos de novo apreciar a sua beleza e talento. As meninas também podem ir ver o filme, tem lá o Jude Law.
Eu nasci e fui educado no seio de uma familia católica e tolerante, mas venho aqui reenvidicar a minha posição de fervoroso adepto do povo judaico que ao longo da história tem agregado os ódios de todas as raças, povos e crenças que sempre os tentaram exterminar. Ainda hoje isso acontece. Eu, quando olho para o rosto doce da minha perfeita judia, pergunto-me, "como é que este ódio todo é possível?!!"
> Netvoyeur
Há a vontade de estarmos perto. Talvez juntos. A nossa relação presa por um fio. Um condutor de informação. Sai-nos cara esta relação. Cara nos dois sentidos. Como uma moeda aldrabada. Andamos em enganos, a dar tilt como numa máquina de flippers. Vagueio por esse fio que nos une. Que une os trinta e tal milhões de pessoas. Há pessoas a trabalhar, pessoas a divertirem-se, pessoas com pessoas, a conversarem. Às vezes, não falo… sou um intruso. Sou omnipresente. Estou em vários sítios ao mesmo tempo. Numa sala que sabes ser só nossa. E noutras à tua espera. Como num consultório médico. A ouvir por detrás da porta. Tantas vezes. A nós ninguém nos ouve. Penso eu. Mas também pode haver alguém por detrás da porta. Não há intimidade. Não há problema… continuamos a ser intímos um com o outro. Tu não apareces. Demoras-te. Vejo revistas onde as imagens se descobrem muito devagar como num strip-tease bem feito. Às vezes dá gosto olhar. Nessa altura até as guardo para mim, as imagens. Puxo-as como pastilhas elásticas de um computador para o outro. Para o meu. Há imagens de tudo que é gente conhecida. Pessoas que nunca lá encontramos. Na verdade, aqui não existem pessoas, em carne e osso… e alma também, quero eu dizer: personalidade. São só electricidade. Números que não fazem sentido. Como tu… às vezes. Recebo mensagens privadas. Tão privadas que não as entendo. O que vale é o meu caixote do lixo. Só come electricidade. Apaga a corrente. Tudo aqui é perto. Dizem. Mas temos sempre a noção de ser tudo muito lento. É uma auto-estrada cheia de engarrafamentos e de sinais proibidos quando menos se espera. Consigo fazer um amigo ao fim de algum tempo de conversa. Os amigos de elctricidade são como a trovoada, fazem um clarão repentino no meio dos outros, um estrondo súbito e depois não se passa mais nada… ou um adeus para não ser mal-educado. ‘Ene’ Etiquetas. Fica talvez um nome, um número. Afinal é disso que são feitos. Continuo a espiar conversas de outros, a ver conversas que não deveria ver, que desfazem qualquer intimidade. Até a nossa. Não apareces. Não faz mal… nunca tive um telescópio tão potente.
Há a vontade de estarmos perto. Talvez juntos. A nossa relação presa por um fio. Um condutor de informação. Sai-nos cara esta relação. Cara nos dois sentidos. Como uma moeda aldrabada. Andamos em enganos, a dar tilt como numa máquina de flippers. Vagueio por esse fio que nos une. Que une os trinta e tal milhões de pessoas. Há pessoas a trabalhar, pessoas a divertirem-se, pessoas com pessoas, a conversarem. Às vezes, não falo… sou um intruso. Sou omnipresente. Estou em vários sítios ao mesmo tempo. Numa sala que sabes ser só nossa. E noutras à tua espera. Como num consultório médico. A ouvir por detrás da porta. Tantas vezes. A nós ninguém nos ouve. Penso eu. Mas também pode haver alguém por detrás da porta. Não há intimidade. Não há problema… continuamos a ser intímos um com o outro. Tu não apareces. Demoras-te. Vejo revistas onde as imagens se descobrem muito devagar como num strip-tease bem feito. Às vezes dá gosto olhar. Nessa altura até as guardo para mim, as imagens. Puxo-as como pastilhas elásticas de um computador para o outro. Para o meu. Há imagens de tudo que é gente conhecida. Pessoas que nunca lá encontramos. Na verdade, aqui não existem pessoas, em carne e osso… e alma também, quero eu dizer: personalidade. São só electricidade. Números que não fazem sentido. Como tu… às vezes. Recebo mensagens privadas. Tão privadas que não as entendo. O que vale é o meu caixote do lixo. Só come electricidade. Apaga a corrente. Tudo aqui é perto. Dizem. Mas temos sempre a noção de ser tudo muito lento. É uma auto-estrada cheia de engarrafamentos e de sinais proibidos quando menos se espera. Consigo fazer um amigo ao fim de algum tempo de conversa. Os amigos de elctricidade são como a trovoada, fazem um clarão repentino no meio dos outros, um estrondo súbito e depois não se passa mais nada… ou um adeus para não ser mal-educado. ‘Ene’ Etiquetas. Fica talvez um nome, um número. Afinal é disso que são feitos. Continuo a espiar conversas de outros, a ver conversas que não deveria ver, que desfazem qualquer intimidade. Até a nossa. Não apareces. Não faz mal… nunca tive um telescópio tão potente.
sábado, abril 05, 2003
> Um pensamento logo ao acordar...
A esquerda anda obstinada a manifestar-se contra a guerra; a direita obstinada em apoiar e justifica-la. O centro em Portugal desapareceu (o PS descaiu para a esquerda e o PPD/PSD encontrou uma Porta de acesso à direita).
A direita anda obstinada com o uso e usufruto do poder e a esquerda esqueceu-se que durante tantos anos, e bem!, andou a lutar pela liberdade. O problema de pisar ovos é que eles facilmente se partem.
A esquerda anda obstinada a manifestar-se contra a guerra; a direita obstinada em apoiar e justifica-la. O centro em Portugal desapareceu (o PS descaiu para a esquerda e o PPD/PSD encontrou uma Porta de acesso à direita).
A direita anda obstinada com o uso e usufruto do poder e a esquerda esqueceu-se que durante tantos anos, e bem!, andou a lutar pela liberdade. O problema de pisar ovos é que eles facilmente se partem.
> A sonoridade das palavras
Sabes como soletrar palavras
cadências tão ritmadas
sentes as consoantes roçarem entre os lábios
gritos tão eufóricos
e ainda,
os gestos de tão marcado sentimentalismo
os rituais de tão compensador hábito
Sabes como compor as frases
sequências tão verosímeis
sentes as vogais voarem na garganta sem atrito
beijos tão calorosos
e ainda,
as palavras de tão sonoras
os diálogos de tão longo prazer
07,março.90, 17h 47mns.
Sabes como soletrar palavras
cadências tão ritmadas
sentes as consoantes roçarem entre os lábios
gritos tão eufóricos
e ainda,
os gestos de tão marcado sentimentalismo
os rituais de tão compensador hábito
Sabes como compor as frases
sequências tão verosímeis
sentes as vogais voarem na garganta sem atrito
beijos tão calorosos
e ainda,
as palavras de tão sonoras
os diálogos de tão longo prazer
07,março.90, 17h 47mns.
sexta-feira, abril 04, 2003
ON
Poderemos mesmo subtrair-nos à realidade que nos rodeia? Pensem qual será a construção moral/ideológica que terão os futuros lideres do nosso país. Será que queremos mesmo uma juventude atipica, com laivos de radicalismos (e a argumentação de que o jovem é per si a ruptura e a rebelião, não me convencem, já fui jovem...) que adere a idolatrismos primários e conceitos pós-pós-modernos sem o minímo despudor. O seguimento lógico não deverá exigir uma ordem una formadora, mas os principios básicos da sociabilização e bom viver. Toda a gente fala da lacuna educacional civica do português tipico, mas até agora pouco foi dito e feito para que se encontrem soluções efectivas, retroactivas e postulares que vislumbrassem uma luz ao fundo do túnel.
E o básico falta, quantos de vocês quando entram num qualquer establecimento público saudam os presentes? Um sorriso em jeito de cumprimento custa assim tanto? E o meu dia não é mais fácil que o do Manel ali da obra, nem que o do Tiago do banco, mas verdadeiramente ninguém tem o minimo de cordialidade.
Se calhar é uma falha na minha folha educacional, mas a minha Mãe sempre nos ensinou que a simpatia não custa nem tira pedaço...
Ainda na esperança de mudanças.
Poderemos mesmo subtrair-nos à realidade que nos rodeia? Pensem qual será a construção moral/ideológica que terão os futuros lideres do nosso país. Será que queremos mesmo uma juventude atipica, com laivos de radicalismos (e a argumentação de que o jovem é per si a ruptura e a rebelião, não me convencem, já fui jovem...) que adere a idolatrismos primários e conceitos pós-pós-modernos sem o minímo despudor. O seguimento lógico não deverá exigir uma ordem una formadora, mas os principios básicos da sociabilização e bom viver. Toda a gente fala da lacuna educacional civica do português tipico, mas até agora pouco foi dito e feito para que se encontrem soluções efectivas, retroactivas e postulares que vislumbrassem uma luz ao fundo do túnel.
E o básico falta, quantos de vocês quando entram num qualquer establecimento público saudam os presentes? Um sorriso em jeito de cumprimento custa assim tanto? E o meu dia não é mais fácil que o do Manel ali da obra, nem que o do Tiago do banco, mas verdadeiramente ninguém tem o minimo de cordialidade.
Se calhar é uma falha na minha folha educacional, mas a minha Mãe sempre nos ensinou que a simpatia não custa nem tira pedaço...
Ainda na esperança de mudanças.
<>A Guerra, a Memória e a Liberdade
Devo confessar que não sou partidário da guerra, pelo puro factor do princípio anti-beligerante sem filosofias ou questões politícas como pano de fundo, e ao contrário do que aqui se lê, que "A nossa percepção da guerra é totalmente a-histórica.", a minha não o é. E se nunca fui combatente do ultramar, nem me lembrar de algum familiar o ser, aos meus 4 anos já eu estava no meio da guerra. Quando a guerra e o terrorismo, palavras tão incompreensíveis nessa época, chegaram a Luanda, a minha memória ainda guarda desses tempos a imagem dos rastos laranja que percorriam o céu de breu de uma cidade às escuras, do barulho das rajadas e das bombas que caiam algures, felizmente sempre longe. Lembro-me da minha familia recolhida nas escadas no ponto mais recolhido da casa, do silêncio e o cheiro a medo que nos calava até a respiração. Devo confessar também que sou um acérrimo defensor da liberdade e da democracia (possível) que temos. O que me torna num adepto da queda da ditadura Iraquiana, como de qualquer ditadura. Facto que sempre me faz vacilar numa qualquer apreciação deste conflito. Há obviamente muitas formas de exercer poder; a ditadura da economia, a ditadura da informação, a ditadura da propaganda. Mas nunca subjugados pela força. Dessa não podemos fugir. Das outras podemos. Não nos são impostas..., podemos até ser manobrados, estraçalhados na máquina da socieadade, mas podemos acordar, apercebermo-nos do que nos rodeia e fugir. Fugir, pelo menos para outro dos elos onde a corrente nos aperta.
Devo confessar que não sou partidário da guerra, pelo puro factor do princípio anti-beligerante sem filosofias ou questões politícas como pano de fundo, e ao contrário do que aqui se lê, que "A nossa percepção da guerra é totalmente a-histórica.", a minha não o é. E se nunca fui combatente do ultramar, nem me lembrar de algum familiar o ser, aos meus 4 anos já eu estava no meio da guerra. Quando a guerra e o terrorismo, palavras tão incompreensíveis nessa época, chegaram a Luanda, a minha memória ainda guarda desses tempos a imagem dos rastos laranja que percorriam o céu de breu de uma cidade às escuras, do barulho das rajadas e das bombas que caiam algures, felizmente sempre longe. Lembro-me da minha familia recolhida nas escadas no ponto mais recolhido da casa, do silêncio e o cheiro a medo que nos calava até a respiração. Devo confessar também que sou um acérrimo defensor da liberdade e da democracia (possível) que temos. O que me torna num adepto da queda da ditadura Iraquiana, como de qualquer ditadura. Facto que sempre me faz vacilar numa qualquer apreciação deste conflito. Há obviamente muitas formas de exercer poder; a ditadura da economia, a ditadura da informação, a ditadura da propaganda. Mas nunca subjugados pela força. Dessa não podemos fugir. Das outras podemos. Não nos são impostas..., podemos até ser manobrados, estraçalhados na máquina da socieadade, mas podemos acordar, apercebermo-nos do que nos rodeia e fugir. Fugir, pelo menos para outro dos elos onde a corrente nos aperta.
quinta-feira, abril 03, 2003
>O Ciúme
O ciúme. O ciúme, diz-se, é uma prova de amor. O ciúme é a experiência da perda. Por isso, diz-se do ciúme que ele é uma prova de amor. Que é um reconhecimento daquilo que possuímos. O reconhecimento da existência de um amor. A prova. É a prova de necessidade de exclusão de qualquer outra identidade numa relação. É a exaltação de uma exclusividade. Por isso, ele é uma experiência de perda. É uma vez mais uma experiência motivada pelo medo. Quantas relações já se afundaram por causa desse medo de perda? Quantas vezes esse sentimento de possessão, de exclusividade, foi tão exarcebadamente fictício que arruinou relações estáveis? Quem é alvo do ciúme, da pessoa enciumada, é alvo da desconfiança. O ciúme, em si, não é corrosivo como um veneno (ou não é ele uma prova de amor?), mas a desconfiança que ele provoca, que ele imiscui na relação é algo verdadeiramente corrosivo. Ou o amor, não é ele também feito de confiança?
O ciúme. O ciúme, diz-se, é uma prova de amor. O ciúme é a experiência da perda. Por isso, diz-se do ciúme que ele é uma prova de amor. Que é um reconhecimento daquilo que possuímos. O reconhecimento da existência de um amor. A prova. É a prova de necessidade de exclusão de qualquer outra identidade numa relação. É a exaltação de uma exclusividade. Por isso, ele é uma experiência de perda. É uma vez mais uma experiência motivada pelo medo. Quantas relações já se afundaram por causa desse medo de perda? Quantas vezes esse sentimento de possessão, de exclusividade, foi tão exarcebadamente fictício que arruinou relações estáveis? Quem é alvo do ciúme, da pessoa enciumada, é alvo da desconfiança. O ciúme, em si, não é corrosivo como um veneno (ou não é ele uma prova de amor?), mas a desconfiança que ele provoca, que ele imiscui na relação é algo verdadeiramente corrosivo. Ou o amor, não é ele também feito de confiança?
Idiossincrasias desnecessárias
Feridas em sangue violadas as crostas
Gestos de ternura cobertos de doce ódio
Portas fechadas em locais de entrada
Pessoas amarradas ao pó das paredes
Quadros trancados em salas de estar
Vidros espalhados nos joelhos do altar
Religiosos vergados ao peso da fé
Cânticos celebres hinos já esquecidos
Mulheres bem vestidas com imenso frio
Heróis ideais humilhados por formigas
Homens derrubados no chão pelo medo
e crianças, muitas crianças mortas de fome!
Feridas em sangue violadas as crostas
Gestos de ternura cobertos de doce ódio
Portas fechadas em locais de entrada
Pessoas amarradas ao pó das paredes
Quadros trancados em salas de estar
Vidros espalhados nos joelhos do altar
Religiosos vergados ao peso da fé
Cânticos celebres hinos já esquecidos
Mulheres bem vestidas com imenso frio
Heróis ideais humilhados por formigas
Homens derrubados no chão pelo medo
e crianças, muitas crianças mortas de fome!
Breaking News!! (em complemento ao great mail do colega)
Está cada vez mais complicado seguir as notícias neste país, torna-se um fardo a forma desgastante/ofegante dos apresentadores; o sem fim de lamentações (sim eu também queria uma casa, mas nem por isso acho que têm de ser os demais a pagá-la... só me resta continuar a labutar!), os assuntos sordidos - nem vale a pena mencionar - são destaque e abertura!
Quem vier a Portugal e se guiar por este maravilhoso espelho social que se pretende serem os noticiarios, fica , na maior parte das vezes, com a ideia de que nos matamos uns aos outros, somos detorpados e com uma capacidade expressiva tal que é necessário ser o autor da reportagem a terminar raciocinios.
Até quando?
Está cada vez mais complicado seguir as notícias neste país, torna-se um fardo a forma desgastante/ofegante dos apresentadores; o sem fim de lamentações (sim eu também queria uma casa, mas nem por isso acho que têm de ser os demais a pagá-la... só me resta continuar a labutar!), os assuntos sordidos - nem vale a pena mencionar - são destaque e abertura!
Quem vier a Portugal e se guiar por este maravilhoso espelho social que se pretende serem os noticiarios, fica , na maior parte das vezes, com a ideia de que nos matamos uns aos outros, somos detorpados e com uma capacidade expressiva tal que é necessário ser o autor da reportagem a terminar raciocinios.
Até quando?
quarta-feira, abril 02, 2003
O Aparelho
Parte 2: Telejornal... o diário dos males do mundo
Durante muito tempo admirei a televisão. Sempre tive um certo fascínio pela comunicação e com a televisão podia ter ali tudo à mão. Nem sequer a mínima sensação de nostalgia me causava por ser uma comunicação unilateral. Aprende-se imenso a ver televisão. Até a ganharmos consciência de que imensa da informação que recebos é filtrada, manipulada, distorcida. Está lá tudo, só precisamos aprender a ver. É necessário ter um olho selectivo. E a primeira selecção que eu fiz foi banir completamente com os noticiários. São, por muito que eu queira, não encontro outra palavra, nojentos.
Todas as criticas que eu já ouvi e li sobre televisão, todas elas são verídicas nos telejornais: a manipulação das notícias, a empolação dos factos, a subliminariedade das ideias subjacentes, a estranha catalogação do que é importante e do que não é, mas sobretudo o que mais me repele é a narratividade trágica das notícias. Hoje em dia o telejornal não passa de um espectáculo encenado para a tragédia. Uma narratividade que começa no ponto mais trágico e dramático para acabar na mais pacífica e feliz comédia. Começa-se nos escândalos, nos mais frenéticos gossips políticos, privilegia-se as notícias que tenham mais mortos, mais sangue, aquelas que mais facilmente apelam ao horror e no final, para acabar em beleza na boa tradição popular, a mais patética e caricaturável curiosidade. A notícia da boa-disposição. Nada me parece mais horrendo.
A televisão que durante tempo foi tão pudica ao ponto de nos avisar das cenas eventualmente chocantes dos filmes, com a já risível bolinha, esquece-se completamente dessa seu tom sempre grave do pudor nos telejornais, em nome da verdade nua e crua, transforma a notícia num qualquer filme na orla da mais brutal e violenta realidade. Nem o fotojornalismo consegue, às vezes, ser tão brutal. Não há ali qualquer base semiológica ou filosófica que sustenha tamanha crueldade, tamanha invasão da privacidade, e a mais repelente de todas as atitudes tele-jornalística a total ausência de piedade, a intromissão na dor daqueles que sofrem as suas perdas, para vermos as vítimas (aqueles que amamos) dos mais bizarros acidentes serem os actores forçados e violados certamente dos seus desejos, transformarem-se nesse filme sedento de drama, tragédia e sangue. O neologismo do nojo mais puro: o telejornal.
Parte 2: Telejornal... o diário dos males do mundo
Durante muito tempo admirei a televisão. Sempre tive um certo fascínio pela comunicação e com a televisão podia ter ali tudo à mão. Nem sequer a mínima sensação de nostalgia me causava por ser uma comunicação unilateral. Aprende-se imenso a ver televisão. Até a ganharmos consciência de que imensa da informação que recebos é filtrada, manipulada, distorcida. Está lá tudo, só precisamos aprender a ver. É necessário ter um olho selectivo. E a primeira selecção que eu fiz foi banir completamente com os noticiários. São, por muito que eu queira, não encontro outra palavra, nojentos.
Todas as criticas que eu já ouvi e li sobre televisão, todas elas são verídicas nos telejornais: a manipulação das notícias, a empolação dos factos, a subliminariedade das ideias subjacentes, a estranha catalogação do que é importante e do que não é, mas sobretudo o que mais me repele é a narratividade trágica das notícias. Hoje em dia o telejornal não passa de um espectáculo encenado para a tragédia. Uma narratividade que começa no ponto mais trágico e dramático para acabar na mais pacífica e feliz comédia. Começa-se nos escândalos, nos mais frenéticos gossips políticos, privilegia-se as notícias que tenham mais mortos, mais sangue, aquelas que mais facilmente apelam ao horror e no final, para acabar em beleza na boa tradição popular, a mais patética e caricaturável curiosidade. A notícia da boa-disposição. Nada me parece mais horrendo.
A televisão que durante tempo foi tão pudica ao ponto de nos avisar das cenas eventualmente chocantes dos filmes, com a já risível bolinha, esquece-se completamente dessa seu tom sempre grave do pudor nos telejornais, em nome da verdade nua e crua, transforma a notícia num qualquer filme na orla da mais brutal e violenta realidade. Nem o fotojornalismo consegue, às vezes, ser tão brutal. Não há ali qualquer base semiológica ou filosófica que sustenha tamanha crueldade, tamanha invasão da privacidade, e a mais repelente de todas as atitudes tele-jornalística a total ausência de piedade, a intromissão na dor daqueles que sofrem as suas perdas, para vermos as vítimas (aqueles que amamos) dos mais bizarros acidentes serem os actores forçados e violados certamente dos seus desejos, transformarem-se nesse filme sedento de drama, tragédia e sangue. O neologismo do nojo mais puro: o telejornal.
WAR
Não entendo a particular predilecção de determinados sectores ao enveradarem pelo simplismo de racíocinos no que diz respeito ao presente conflito. Não será demasiado redutor? Desde há demasiados anos que na região do globo onde de momento deflagram os combates se verifica uma cada vez mais decadente conjuntura politica/social/religiosa (não necessáriamente por esta ordem).
Antes de se começarem a fazer apostas, a indicar os maravilhosos caminhos da liberdade (uhm) e outros tantos preciosismos que por aí abundam, creio ser pertinente começar uma discussão sobre os condicionalismos que levam a que esta parte do globo tenha a possibilidade de agir como o têm feito desde há tempos.(esta parte é para se comentar mais a posição ocidental face ao problema).
Não pensem que acho uma mais valia a sociedade ocidental actual, mas como defensora incondincional da liberdade individual, acho que cada vez mais se tem de responsabilizar cada um pelo seu papel no mundo em que vivemos, e obrigar as pessoas a ter um papel mais activo e participativo na sociedade como um todo (claro, sem nunca descurar o primado do individuo). Mas como alternativa evolucionista, não encontro outra sociedade que possa permitir o livre e natural caminho, do que a democracia.
Waiting...
Não entendo a particular predilecção de determinados sectores ao enveradarem pelo simplismo de racíocinos no que diz respeito ao presente conflito. Não será demasiado redutor? Desde há demasiados anos que na região do globo onde de momento deflagram os combates se verifica uma cada vez mais decadente conjuntura politica/social/religiosa (não necessáriamente por esta ordem).
Antes de se começarem a fazer apostas, a indicar os maravilhosos caminhos da liberdade (uhm) e outros tantos preciosismos que por aí abundam, creio ser pertinente começar uma discussão sobre os condicionalismos que levam a que esta parte do globo tenha a possibilidade de agir como o têm feito desde há tempos.(esta parte é para se comentar mais a posição ocidental face ao problema).
Não pensem que acho uma mais valia a sociedade ocidental actual, mas como defensora incondincional da liberdade individual, acho que cada vez mais se tem de responsabilizar cada um pelo seu papel no mundo em que vivemos, e obrigar as pessoas a ter um papel mais activo e participativo na sociedade como um todo (claro, sem nunca descurar o primado do individuo). Mas como alternativa evolucionista, não encontro outra sociedade que possa permitir o livre e natural caminho, do que a democracia.
Waiting...
terça-feira, abril 01, 2003
O APARELHO
Parte 1: O aparecimento da televisão
Quando a televisão apareceu para mim foi naquela idade em que me é difícil lembrar das coisas com precisão. Mas hoje em dia, quando vejo imagens - na televisão e da televisão - dessa época, é como se, de repente, deixasse de sofrer dessa amnésia da infância e pudesse descrever de novo o tempo e o espaço em que esse trecho da imagem me surgiu pela primeira vez. É esse o maior dos grandes poderes que a televisão possui: o poder da imagem. Um poder que não lhe é exclusivo mas que se reparte pelos seus ancestrais mais próximos: a fotografia, o cinema, que já o tinham herdado das artes plásticas. E se esse poder existe em todos esses meios difusores da imagem, a televisão é o que melhor utiliza uma característica própria da imagem que é a rememoração. A fotografia utilizou-o como produto de venda quando adquiriu um estatuto universal pela facilidade do acto de fotografar, o favorecimento de poder ser utilizado pelo público não especializado. Quem não se lembra do já usado slogan da Kodak.
Eu consigo, após ser privilegiado com essas recordações, reescrever a minha história que já havia esquecido, a tal amnésia da infância. Um exemplo: no outro dia, revi um velho anúncio publicitário a um refrigerante - Larangina C - e num ápice, como quando se deita ao chão uma pedra de dominó sobre as outras para as vermos cair sequencialmente, assim foram surgindo as ideias mais esquecidas da minha infância. Até a televisão ter aparecido para mim, esse poder da rememoração estava todo entregue à fotografia. E se a fotografia consegue fazer recordar - como o anúncio da Kodak - o seu poder é limitado a uma imagem, a uma acção, a uma cena. Tem o valor da unicidade, uma aura como disse Walter Benjamin, e voltando à ironia, é essa unicidade do tempo e do espaço em que está inserida pelo click na máquina fotográfica, que torna limitado esse poder da rememoração. A televisão, por sua vez, preenche um espaço mais amplo de visionamento e a repetição é um adjectivo que se enquadra perfeitamente na leitura televisiva. Não só no espaço publicitário, onde essa repetição não é apenas diária, mas ela mesma é pródiga em repetir todos os géneros de programas. A televisão faz-nos esse mesmo convite à rememoração como um trunfo. Um trunfo que se institucionalizou numa função. E não está aqui em causa nesta comparação a estrutura própria a cada um dos meios, não está em causa o facto de a televisão ser uma sequência de fotografias, não é por isso que a fotografia tem um poder de rememoração inferior ao da televisão, essa limitação da fotografia vem da própria função pragmática de cada um desses dois veículos difusores de imagens. Porque, na mesma linha da televisão, o cinema, é uma sequência de fotografias, e ele próprio não tem esse mesmo poder. Ou já o teve, no tempo em que o cinema também tinha um carácter documental e informativo (o documentário e as Newsreel, hoje em dia é a televisão que nos evoca à rememoração do cinema. Quando o cinema deixa de ser comercializável, é a televisão que o comercializa.
Parte 1: O aparecimento da televisão
Quando a televisão apareceu para mim foi naquela idade em que me é difícil lembrar das coisas com precisão. Mas hoje em dia, quando vejo imagens - na televisão e da televisão - dessa época, é como se, de repente, deixasse de sofrer dessa amnésia da infância e pudesse descrever de novo o tempo e o espaço em que esse trecho da imagem me surgiu pela primeira vez. É esse o maior dos grandes poderes que a televisão possui: o poder da imagem. Um poder que não lhe é exclusivo mas que se reparte pelos seus ancestrais mais próximos: a fotografia, o cinema, que já o tinham herdado das artes plásticas. E se esse poder existe em todos esses meios difusores da imagem, a televisão é o que melhor utiliza uma característica própria da imagem que é a rememoração. A fotografia utilizou-o como produto de venda quando adquiriu um estatuto universal pela facilidade do acto de fotografar, o favorecimento de poder ser utilizado pelo público não especializado. Quem não se lembra do já usado slogan da Kodak.
Eu consigo, após ser privilegiado com essas recordações, reescrever a minha história que já havia esquecido, a tal amnésia da infância. Um exemplo: no outro dia, revi um velho anúncio publicitário a um refrigerante - Larangina C - e num ápice, como quando se deita ao chão uma pedra de dominó sobre as outras para as vermos cair sequencialmente, assim foram surgindo as ideias mais esquecidas da minha infância. Até a televisão ter aparecido para mim, esse poder da rememoração estava todo entregue à fotografia. E se a fotografia consegue fazer recordar - como o anúncio da Kodak - o seu poder é limitado a uma imagem, a uma acção, a uma cena. Tem o valor da unicidade, uma aura como disse Walter Benjamin, e voltando à ironia, é essa unicidade do tempo e do espaço em que está inserida pelo click na máquina fotográfica, que torna limitado esse poder da rememoração. A televisão, por sua vez, preenche um espaço mais amplo de visionamento e a repetição é um adjectivo que se enquadra perfeitamente na leitura televisiva. Não só no espaço publicitário, onde essa repetição não é apenas diária, mas ela mesma é pródiga em repetir todos os géneros de programas. A televisão faz-nos esse mesmo convite à rememoração como um trunfo. Um trunfo que se institucionalizou numa função. E não está aqui em causa nesta comparação a estrutura própria a cada um dos meios, não está em causa o facto de a televisão ser uma sequência de fotografias, não é por isso que a fotografia tem um poder de rememoração inferior ao da televisão, essa limitação da fotografia vem da própria função pragmática de cada um desses dois veículos difusores de imagens. Porque, na mesma linha da televisão, o cinema, é uma sequência de fotografias, e ele próprio não tem esse mesmo poder. Ou já o teve, no tempo em que o cinema também tinha um carácter documental e informativo (o documentário e as Newsreel, hoje em dia é a televisão que nos evoca à rememoração do cinema. Quando o cinema deixa de ser comercializável, é a televisão que o comercializa.
And now!
Por isso, e apesar do low profile, vamos começar com as nossas visões do mundo!
Tinhamos de aparecer neste dia porque o que representa é inversamente sintomático à crença dos criadores deste blog!
No entanto, aqui estamos para diversas discussões, como o própio undertitle indica.
Bem hajam!
Por isso, e apesar do low profile, vamos começar com as nossas visões do mundo!
Tinhamos de aparecer neste dia porque o que representa é inversamente sintomático à crença dos criadores deste blog!
No entanto, aqui estamos para diversas discussões, como o própio undertitle indica.
Bem hajam!
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