Ouvi dizer
Ao que parece eram três da manhã de um dia de Dezembro já bem perto do Natal quando lhe partiram o relógio com um pontapé. Ele até já estava caído no chão, o lábio rebentado a pingar no empedrado e a navalha de ponto e mola suspensa no coração com um fio vermelho a escorrer por ela que se ia juntando às outras gotas que faziam já uma poça no chão. Contaram-me. Ainda havia muita gente no local onde o seu corpo se enrigecia quando lá cheguei uma meia-hora mais tarde. Era ao lado de um bar que nunca vou, mas que aconteceu de eu passar pela porta instigado pela curiosade de uma multidão. Isto para me lembrar de nunca lá por os pés. Ao que parece tudo começou lá dentro, quando um gajo de um grupo, de para aí uns sete disseram-me, se pôs a apalpar a tipa que ele estava a comer. Não sei, foi assim que me contaram. Vieram cá para fora, ele mais a loira vistosa e o tipo meio embriagado que a tinha apalpado. Ao que parece o gajo não tinha reparado que o mãos de rapina tinha mais sete amigos por trás. Azar. Quinze segundos e já estava no chão a apanhar pontapés de todos os lados. Ninguém o ajudou, é claro. Só a loira gritava absolutamente histérica, a tentar dar uns pontapés inofensivos aos manfios enquanto o segurança olhava a cena do cimo da torre de vigilância do seu próprio corpo. Ao que parece a loira também ficou em mau estado, levou pontapés a torto e a direito e ainda estaladas de fazerem eco pelas vielas, e, não sei, contaram-me, parece que também foi apunhalada. Lá que foram os dois de ambulância foram, ele bem morto mas ela ainda falava, disse o número de telefone de sua casa a alguém e que lhe fizesse o favor de avisar os pais. Mas o pessoal acovardava-se a dar a má notícia. Eu ofereci-me para ligar, afinal conheço tão bem aquele número.
sábado, maio 31, 2003
sexta-feira, maio 30, 2003
Segue o que sentes
É das campanhas esteticamente mais bonitas que tenho visto, com a sua imagem virada a laranja e com apontamentos de verde, sobre um fundo negro. Gosto destas subtilezas. É uma viragem na imagem institucional da Optimus. O lema "Segue o que sentes" apela à liberdade, um mundo sem barreiras, sem fios, e onde a distância não é impedimento à comunicação, sobre qualquer meio conhecido. O slow-motion transporta a carga emocional que fica escondida nas imagens em close-ups de rosto que transportam emoções, como um subliminar "aproveitar o momento". A música funciona começa leve como um sopro e acaba pungente como um hino. Um amigo conta-nos quem a interpreta. Gosto de ver que ainda há quem pense a publicidade como arte e não somente como mais uma regra do marketing.
É das campanhas esteticamente mais bonitas que tenho visto, com a sua imagem virada a laranja e com apontamentos de verde, sobre um fundo negro. Gosto destas subtilezas. É uma viragem na imagem institucional da Optimus. O lema "Segue o que sentes" apela à liberdade, um mundo sem barreiras, sem fios, e onde a distância não é impedimento à comunicação, sobre qualquer meio conhecido. O slow-motion transporta a carga emocional que fica escondida nas imagens em close-ups de rosto que transportam emoções, como um subliminar "aproveitar o momento". A música funciona começa leve como um sopro e acaba pungente como um hino. Um amigo conta-nos quem a interpreta. Gosto de ver que ainda há quem pense a publicidade como arte e não somente como mais uma regra do marketing.
Livra!
A minha sister chegou ontem com as provas documentais da "Feria de Abril". Nunca tinha visto fotos tão inéditas...
Diz-me ela que deveriam ter uma roda encarnada no canto superior direito, tão más que estão.
Devo confessar que nem o "Blair Witch Project" angariou tamanhas caretonas! Isto serve de lição, nunca deixar por perto uma câmara disponível em noites de demasiada fiesta em que todos se acham artistas.
A minha sister chegou ontem com as provas documentais da "Feria de Abril". Nunca tinha visto fotos tão inéditas...
Diz-me ela que deveriam ter uma roda encarnada no canto superior direito, tão más que estão.
Devo confessar que nem o "Blair Witch Project" angariou tamanhas caretonas! Isto serve de lição, nunca deixar por perto uma câmara disponível em noites de demasiada fiesta em que todos se acham artistas.
Tirem-me deste filme
Peço desculpa de estar novamente a entrar no mesmo assunto, mas é impossivel não reparar.
O que é preciso fazer para nos livrarmos das abécolas dos jornalistas?!?! Por alminha de quem é que eles pensam que estão acima de tudo e de todos? Então não é que no maravilhoso directo em perseguição à testemunha Herman José, os jornalistas entrevistam a populaça que se juntou para "ver o Herman ao vivo"? Os disparates que se ouvem fazem sofrer qualquer democrata. Ainda não percebi o que pretendem, seguramente não será informar (isto equivaleria a asbterem-se de juízos de valores - como não o fazem nas perguntas mais absurdas). E não me digam que será por se tratar de um crime inqualificavél, os jornalistas com a presente actitude levam a que cada vez mais todos questionem a validade de todas as acções. O decoro só lhes ficaria bem e em nada seria contrário à inerência da profissão.
Peço desculpa de estar novamente a entrar no mesmo assunto, mas é impossivel não reparar.
O que é preciso fazer para nos livrarmos das abécolas dos jornalistas?!?! Por alminha de quem é que eles pensam que estão acima de tudo e de todos? Então não é que no maravilhoso directo em perseguição à testemunha Herman José, os jornalistas entrevistam a populaça que se juntou para "ver o Herman ao vivo"? Os disparates que se ouvem fazem sofrer qualquer democrata. Ainda não percebi o que pretendem, seguramente não será informar (isto equivaleria a asbterem-se de juízos de valores - como não o fazem nas perguntas mais absurdas). E não me digam que será por se tratar de um crime inqualificavél, os jornalistas com a presente actitude levam a que cada vez mais todos questionem a validade de todas as acções. O decoro só lhes ficaria bem e em nada seria contrário à inerência da profissão.
horrível este carnaval
gente desmascarada a intriguista
a rugirem snobes e petulantes
o tiro à ponta de espingarda
de especulações de merda
justiça?!
façam-na
mas ouçam antes de condenarem
e saibam bem do que falam
ou calem
horrível carnaval
de gente mascarada
mostrando entre dentes
a saliva perfumada a intriga
e olhares trancados
em casas alheias
e sempre muita renúncia
a enfrentar a palavra séria
e a que doi
ou a que importa
e...
... ou talvez já sem palavras
in (e/ou), 1993
gente desmascarada a intriguista
a rugirem snobes e petulantes
o tiro à ponta de espingarda
de especulações de merda
justiça?!
façam-na
mas ouçam antes de condenarem
e saibam bem do que falam
ou calem
horrível carnaval
de gente mascarada
mostrando entre dentes
a saliva perfumada a intriga
e olhares trancados
em casas alheias
e sempre muita renúncia
a enfrentar a palavra séria
e a que doi
ou a que importa
e...
... ou talvez já sem palavras
in (e/ou), 1993
quinta-feira, maio 29, 2003
O fim do tabu
Lá em casa nunca tivemos uma exacerbada curiosidade pela nudez, desde pequenos que o nosso pai nos ensinara "Mas qual é o problema? Por baixo da roupa estamos todos nus e temos todos a mesma configuração." Hoje em dia passo esta informação aos meus sobrinhos. Acho que da primeira vez que lhes disse isto acabei com uma das suas mais queridas fantasias.
Lá em casa nunca tivemos uma exacerbada curiosidade pela nudez, desde pequenos que o nosso pai nos ensinara "Mas qual é o problema? Por baixo da roupa estamos todos nus e temos todos a mesma configuração." Hoje em dia passo esta informação aos meus sobrinhos. Acho que da primeira vez que lhes disse isto acabei com uma das suas mais queridas fantasias.
quarta-feira, maio 28, 2003
Hasta quando?
A hora de almoço a ver o Jornal da Tarde é prolifera, desta vez fiquei elucidada sobre o tratamento jornalístico.
Numa peça sobre a ordem de despejo emitida pela Câmara a algumas famílias ciganas no Bairro S.João de Deus, depois dos chorosos depoimentos de algumas das almas que tiveram ordem para abandonar a casa (com a conivência jornalistica de que os entrevistados diziam a verdade) somos brindados com a informação do autor da peça (que não me recordo quem era) de que a ordem de despejo tinha sido emitida supostamente devido ao facto de as familias que habitavam essas casas (há já alguns anos é certo, mas sem serem os proprietários) se dedicavam a actividades ilícitas! Como todos nós sabemos, aquele bairro é por demais conhecido pelo abundante tráfico de drogas. O que me espanta é a parcialidade jornalística que não se coíbe de mostrar a exagerada indignação dos ciganos e colmata com a afirmação de que existam dúvidas!?!? Que é feito do jornalismo de investigação? Ou será que este só interessa para fazer valer o nosso ponto de vista?
A hora de almoço a ver o Jornal da Tarde é prolifera, desta vez fiquei elucidada sobre o tratamento jornalístico.
Numa peça sobre a ordem de despejo emitida pela Câmara a algumas famílias ciganas no Bairro S.João de Deus, depois dos chorosos depoimentos de algumas das almas que tiveram ordem para abandonar a casa (com a conivência jornalistica de que os entrevistados diziam a verdade) somos brindados com a informação do autor da peça (que não me recordo quem era) de que a ordem de despejo tinha sido emitida supostamente devido ao facto de as familias que habitavam essas casas (há já alguns anos é certo, mas sem serem os proprietários) se dedicavam a actividades ilícitas! Como todos nós sabemos, aquele bairro é por demais conhecido pelo abundante tráfico de drogas. O que me espanta é a parcialidade jornalística que não se coíbe de mostrar a exagerada indignação dos ciganos e colmata com a afirmação de que existam dúvidas!?!? Que é feito do jornalismo de investigação? Ou será que este só interessa para fazer valer o nosso ponto de vista?
terça-feira, maio 27, 2003
OOHH!
Faz, diga-se muito justamente, referência no blog Mar Salgado ao ideal total e absoluto de Homem que poderá qualquer fêmea querer : Corto Maltese. Tem todos os ingredientes para fascinar, sendo que o primeiro é ser produto do imaginário, aliado às suas curtas permanências em qualquer lugar. Já ouviram falar de uma grande paixão que durasse para sempre?!? As grandes paixões são curtas, tumultuosas e inexplicaveis. Sobrevivem no plano do nosso imaginário e nunca na vivência do quotidiano.
Por isso, como cristalizadas na nossa mente, são sempre perfeitas.
Faz, diga-se muito justamente, referência no blog Mar Salgado ao ideal total e absoluto de Homem que poderá qualquer fêmea querer : Corto Maltese. Tem todos os ingredientes para fascinar, sendo que o primeiro é ser produto do imaginário, aliado às suas curtas permanências em qualquer lugar. Já ouviram falar de uma grande paixão que durasse para sempre?!? As grandes paixões são curtas, tumultuosas e inexplicaveis. Sobrevivem no plano do nosso imaginário e nunca na vivência do quotidiano.
Por isso, como cristalizadas na nossa mente, são sempre perfeitas.
Auto-retrato
Não devias ter escrito na minha alma. Duas páginas de palavras bonitas, tantas letras e sinais, marcas que escreveste sobre a minha pele, deixaste cicatrizes profundas que eu sei serem indeléveis. Estou vestida com as tuas palavras e isso dói-me. Não posso sentir o meu corpo sem que pense em ti, sem que sinta que me queres. E tu sabes que eu também. E que não podemos. Quiseste que eu escrevesse uma outra história que fosse bonita e só nossa. Quiseste enganar o destino enviando-me uma carta. Só que, sabes, o destino não se deixa enganar. É ele que nos tem a todos presos, é ele que goza connosco. Tu sabes ser ele o teu dono. Querias tanto mudar o destino, e eu também, eu que te amo, que te quero e que não posso estar contigo. Nada é eu querer e tu quereres, sermos dois a querer e que todo o mundo se subjugará à nossa vontade. Tu páras, tu pensas, fazes planos, conjecturas, e resolves tudo. Só doçura e encanto no teu querer, nas tuas palavras acariciadoras, mas, tu sabes, as tuas caricias também doem quando fazem feridas no coração, os teus beijos apunhalam-me a alma de cada vez que nos amamos, e a entrega de nos amarmos é um desfalecer violento. Não reclamo do prazer que me dá, digo mesmo do imenso prazer que me dá. Só que para estar contigo tenho de fugir de tudo, de todas as minhas responsabilidades, de todos os meus laços, os meus filhos, o meu marido, a minha família, e é sempre tão mais fácil fugir só de ti. É esta criatura que eu sou, a beleza que tu vês é um invólucro que tu teimas em encher de beleza e que por amor, sim, por amor, eu sei, reinventas todos os dias. Eu queria ser o retrato mágico que tu fazes de mim, vestir-me toda com os teus adjectivos que me adornariam feita uma princesa. É que também eu te digo, é linda a pessoa que tu vês, mas só tu não te apercebes que não é real.
Não devias ter escrito na minha alma. Duas páginas de palavras bonitas, tantas letras e sinais, marcas que escreveste sobre a minha pele, deixaste cicatrizes profundas que eu sei serem indeléveis. Estou vestida com as tuas palavras e isso dói-me. Não posso sentir o meu corpo sem que pense em ti, sem que sinta que me queres. E tu sabes que eu também. E que não podemos. Quiseste que eu escrevesse uma outra história que fosse bonita e só nossa. Quiseste enganar o destino enviando-me uma carta. Só que, sabes, o destino não se deixa enganar. É ele que nos tem a todos presos, é ele que goza connosco. Tu sabes ser ele o teu dono. Querias tanto mudar o destino, e eu também, eu que te amo, que te quero e que não posso estar contigo. Nada é eu querer e tu quereres, sermos dois a querer e que todo o mundo se subjugará à nossa vontade. Tu páras, tu pensas, fazes planos, conjecturas, e resolves tudo. Só doçura e encanto no teu querer, nas tuas palavras acariciadoras, mas, tu sabes, as tuas caricias também doem quando fazem feridas no coração, os teus beijos apunhalam-me a alma de cada vez que nos amamos, e a entrega de nos amarmos é um desfalecer violento. Não reclamo do prazer que me dá, digo mesmo do imenso prazer que me dá. Só que para estar contigo tenho de fugir de tudo, de todas as minhas responsabilidades, de todos os meus laços, os meus filhos, o meu marido, a minha família, e é sempre tão mais fácil fugir só de ti. É esta criatura que eu sou, a beleza que tu vês é um invólucro que tu teimas em encher de beleza e que por amor, sim, por amor, eu sei, reinventas todos os dias. Eu queria ser o retrato mágico que tu fazes de mim, vestir-me toda com os teus adjectivos que me adornariam feita uma princesa. É que também eu te digo, é linda a pessoa que tu vês, mas só tu não te apercebes que não é real.
segunda-feira, maio 26, 2003
KélkeXôseEléktronik
por Dj Shinho
Com o apoio da Beatamina todos os meses teremos uma rubrica musical de uma hora com as selecções musicais e misturas de Dj Shinho transmitidas pela net. O programa é dedicado à música electrónica em todas as suas variantes. Este mês a selecção recai sobre os sons do Electro, aqui fica a playlist.
01. Antonelli Electric - The Vogue (feat. Miss Kittin)
02. Ascii.Disko - C'est ça
03. Raumwohnung - Bleib geschmeidig (Neonbrösmix by Märtini Brös)
04. Mount Sims - How We Do
05. Chicks On Speed - Eurotrash Girl
06. JB - Set me free
07. Stefano Greppi - Electro-Pop (Dub Mix)
08. Ladytron - Playgirl (Felix Da Housecat Glitz Clubhead Mix)
09. Eon A - Spice (Original Mix With Notes)
10. Dave Ralph - Love
11. Miss Kittin & The Hacker - Flexibility
12. David Carretta - Automat (feat. Electric Indigo)
13. Felix Da Housecat - Silver Screen - Shower Scene (Laurent Garnier Remix)
Para ouvir clique:
* Um obrigado à Beatamina na pessoa do seu mentor pela disponibilidade para promover isto e ao ElektroPopStar Space Dj pelas dicas.
por Dj Shinho
Com o apoio da Beatamina todos os meses teremos uma rubrica musical de uma hora com as selecções musicais e misturas de Dj Shinho transmitidas pela net. O programa é dedicado à música electrónica em todas as suas variantes. Este mês a selecção recai sobre os sons do Electro, aqui fica a playlist.
01. Antonelli Electric - The Vogue (feat. Miss Kittin)
02. Ascii.Disko - C'est ça
03. Raumwohnung - Bleib geschmeidig (Neonbrösmix by Märtini Brös)
04. Mount Sims - How We Do
05. Chicks On Speed - Eurotrash Girl
06. JB - Set me free
07. Stefano Greppi - Electro-Pop (Dub Mix)
08. Ladytron - Playgirl (Felix Da Housecat Glitz Clubhead Mix)
09. Eon A - Spice (Original Mix With Notes)
10. Dave Ralph - Love
11. Miss Kittin & The Hacker - Flexibility
12. David Carretta - Automat (feat. Electric Indigo)
13. Felix Da Housecat - Silver Screen - Shower Scene (Laurent Garnier Remix)
Para ouvir clique:
* Um obrigado à Beatamina na pessoa do seu mentor pela disponibilidade para promover isto e ao ElektroPopStar Space Dj pelas dicas.
domingo, maio 25, 2003
Coisas simples
Segundo a história, foram necessários cerca de 14 anos desde que Johann Gutemberg inventou a prensa (1440-1456) até que Arnold Ther Hoernen introduzisse a numeração das páginas dos livros. As coisas mais simples às vezes são as mais difíceis de atingir, mas aí reside um dos grandes fascínios da vida.
Segundo a história, foram necessários cerca de 14 anos desde que Johann Gutemberg inventou a prensa (1440-1456) até que Arnold Ther Hoernen introduzisse a numeração das páginas dos livros. As coisas mais simples às vezes são as mais difíceis de atingir, mas aí reside um dos grandes fascínios da vida.
Bonjour Tristesse
Não reli muitos livros. Ainda vivo fascinado com a quantidade de coisas que ainda não li e devia ler. O ultimo que reli foi o "Bonjour Tristesse" da escritora francesa Françoise Sagan, tinha acabado mais uma vez de perder a hipótese de ver a versão cinematográfica do Otto Preminger na televisão e decidi comprar o livro. A primeira leitura tinha sido num livro emprestado, o que não é a mesma coisa; gosto de pegar nos livros e sublinha-los, fazer riscos e apontamentos; fazer dobras nos cantos das folhas em vez de utilizar marcadores, é uma história que fica paralela a história que o livro conta. A primeira vez que li o livro, fi-lo de seguida numas poucas horas, sem interrupções. Todos os livros deviam ser lidos assim. Não gosto de guardar a emoção que vai resultando da leitura para amanhã, como se congelasse um sentimento; faço sempre a comparação entre o filme e a série. A primeira leitura foi há uns bons dez anos e deixou essa marca dos sentimentos muito bem gravada na memória; o romance de Cecile e Cyril, sobretudo isso. Aquele romance que vive de uma intensidade brutal dos romances adolescentes de Verão e que rapidamente se esmorecem. No fundo, o que me marcara era o caracter adolescente do livro, ou não fosse eu na altura ainda pouco mais que um adolescente. A segunda leitura, no entanto, sobressai mais essa fragilidade adolescente, Sagan tinha apenas 18 anos quando escreveu o livro, e o lado perverso de Cécile. Engraçado como continuei a empatizar com a mistura frágil e perversa da personalidade, o seu lado diurno versus o seu lado nocturno, entre a candura e fragilidade da sua vivência e o lado boémio, intriguista e manipulador que a espaços nos vai brindando. Já não é o mesmo livro inocente e adolescente da primeira leitura, mas o seu lado mais escuro que ganha uma nova dimensão. Ou foi somente a minha adolescência que se foi?
Não reli muitos livros. Ainda vivo fascinado com a quantidade de coisas que ainda não li e devia ler. O ultimo que reli foi o "Bonjour Tristesse" da escritora francesa Françoise Sagan, tinha acabado mais uma vez de perder a hipótese de ver a versão cinematográfica do Otto Preminger na televisão e decidi comprar o livro. A primeira leitura tinha sido num livro emprestado, o que não é a mesma coisa; gosto de pegar nos livros e sublinha-los, fazer riscos e apontamentos; fazer dobras nos cantos das folhas em vez de utilizar marcadores, é uma história que fica paralela a história que o livro conta. A primeira vez que li o livro, fi-lo de seguida numas poucas horas, sem interrupções. Todos os livros deviam ser lidos assim. Não gosto de guardar a emoção que vai resultando da leitura para amanhã, como se congelasse um sentimento; faço sempre a comparação entre o filme e a série. A primeira leitura foi há uns bons dez anos e deixou essa marca dos sentimentos muito bem gravada na memória; o romance de Cecile e Cyril, sobretudo isso. Aquele romance que vive de uma intensidade brutal dos romances adolescentes de Verão e que rapidamente se esmorecem. No fundo, o que me marcara era o caracter adolescente do livro, ou não fosse eu na altura ainda pouco mais que um adolescente. A segunda leitura, no entanto, sobressai mais essa fragilidade adolescente, Sagan tinha apenas 18 anos quando escreveu o livro, e o lado perverso de Cécile. Engraçado como continuei a empatizar com a mistura frágil e perversa da personalidade, o seu lado diurno versus o seu lado nocturno, entre a candura e fragilidade da sua vivência e o lado boémio, intriguista e manipulador que a espaços nos vai brindando. Já não é o mesmo livro inocente e adolescente da primeira leitura, mas o seu lado mais escuro que ganha uma nova dimensão. Ou foi somente a minha adolescência que se foi?
sábado, maio 24, 2003
Piensa en mi quando sufres...
Não sou bonita, tenho mau feitio e sou insuportável. Desperto os maiores ódios. Mas por favor, uma vez que estes são dirigidos à minha pessoa, agradecia que não implicassem a minha família - coitada, que não tem culpa de eu ser assim - ou os meus pertences. Para extrapolarem os maus sentimentos em relação a mim, façam favor de utilizar o normal insulto, a nossa língua é pródiga em impropérios e podem sempre recorrer a outras línguas que se eu não souber o significado, procuro. Se acharem que têm de materializar esses vís sentimentos, é só marcar o ringue e dizer a hora, sim?!?
Não sou bonita, tenho mau feitio e sou insuportável. Desperto os maiores ódios. Mas por favor, uma vez que estes são dirigidos à minha pessoa, agradecia que não implicassem a minha família - coitada, que não tem culpa de eu ser assim - ou os meus pertences. Para extrapolarem os maus sentimentos em relação a mim, façam favor de utilizar o normal insulto, a nossa língua é pródiga em impropérios e podem sempre recorrer a outras línguas que se eu não souber o significado, procuro. Se acharem que têm de materializar esses vís sentimentos, é só marcar o ringue e dizer a hora, sim?!?
sexta-feira, maio 23, 2003
Envolve-me na envolvente das tuas linhas
cilindra-me com concupiscente degradação
em teus veios de artérias continuas
em sucessões de pontos de reconciliação
emerge-me na junção cónica do teu sexo
onde trombetas soam com o ranger do meio
que interpõem com insuficiência de alma
e evapora-me na languidez do éter
sobre os teus sólidos geométricos de ideias
no encanto poligonal das tuas formas
por me preencheres sexualmente de cores
berrantes alucinógenas doentes de afastamento
em áreas demasiado vastas
num senão matemático em que me (re)negas
a equação do perfeito equilíbrio
(1990)
cilindra-me com concupiscente degradação
em teus veios de artérias continuas
em sucessões de pontos de reconciliação
emerge-me na junção cónica do teu sexo
onde trombetas soam com o ranger do meio
que interpõem com insuficiência de alma
e evapora-me na languidez do éter
sobre os teus sólidos geométricos de ideias
no encanto poligonal das tuas formas
por me preencheres sexualmente de cores
berrantes alucinógenas doentes de afastamento
em áreas demasiado vastas
num senão matemático em que me (re)negas
a equação do perfeito equilíbrio
(1990)
Its a never ending story
Mais do que um teste à nossa Justiça, o desenrolar dos acontecimentos no caso pedófilia servirá também como excelente decalque da sociedade portuguesa do momento. Não entro em discussões sobre hipóteses e as notícias que vão surgindo, mas creio ser do interesse de todos que se tenha particular atenção pela forma em que se vai apresentando este assunto. Para já, e no calor do momento, verificou-se que tudo e todos, apesar de expressarem a sua confiança na Justiça, se mostram incrédulos com a detenção de ontem (não será contradição?) e agora questionam a validade processual da mesma. Será de todo razoavél o pedido de explicações exigido pelo dirigente socialista? Não deverá aguardar, como todos os cidadãos têm de fazer, pelo encaminhar do processo?
Mais do que um teste à nossa Justiça, o desenrolar dos acontecimentos no caso pedófilia servirá também como excelente decalque da sociedade portuguesa do momento. Não entro em discussões sobre hipóteses e as notícias que vão surgindo, mas creio ser do interesse de todos que se tenha particular atenção pela forma em que se vai apresentando este assunto. Para já, e no calor do momento, verificou-se que tudo e todos, apesar de expressarem a sua confiança na Justiça, se mostram incrédulos com a detenção de ontem (não será contradição?) e agora questionam a validade processual da mesma. Será de todo razoavél o pedido de explicações exigido pelo dirigente socialista? Não deverá aguardar, como todos os cidadãos têm de fazer, pelo encaminhar do processo?
quinta-feira, maio 22, 2003
"Eu estava sentado como cordões impossíveis de dobrar e cordas tão grossas como anéis a prenderem-me como serpentes e caracóis. Eu tinha o choro e o beijo desajeitado de um encantamento de ourives a cravar ouro sobre nada. Tinha a angústia de cobertores enrolados em volta de uma cintura de pedra. Tinha ouvidos surdos que cegavam com calor gelado em frente dos olhos emudecidos. O meu corpo era sangue e sangue só o desespero roto e maltratado como a urgência de um hospital nojento. Chorava por nada como quem bebe um gole doce de depravação. E sentia em cima de mim um lençol a ranger como um corpo que se move como uma âncora aflita por se libertar. Tinha medo de fugir como quem emerge, medo de ficar como quem não se move. E ouvia os lençóis ranger como dentes tilintando ao frio. Como amor desfeito sobre corações de prata onde o mercúrio é somente um micróbio partido. E os lençois rangiam como noite sucedendo ao dia, fingindo ser loucura o quotidiano de origem enganosa. E sobre mim, como sobre o universo ainda a construir-se, o amor feito de pedra e gelo e engano e castigo; eu queria afundar e dizer não merecer. E eu queria como queria deixar de estar, sem poder deixar de ouvir a acústica bêbeda do amor. E será pouca essa dor que sabe como água insípida, lavada e deslavada, arrependida nessa tua cara desfeita de magia. Deixaste de ser lua e queres fugir à loucura de um dizer talvez. Como a lua se apaga quando os lençóis se murcham".
E dizem-me capaz de distorcer a realidade...
E dizem-me capaz de distorcer a realidade...
Not again, please...
Já é um pouco tarde, chego agora de fazer babysitting (as tias são para isso mesmo!) quando deparo com um cenário preocupante, a trama melhor urdida dos últimos séculos está de volta : Casa Pia. A minha inquetação tem um fundamento no pequeno episódio familiar de há umas semanas atrás. Tendo a minha mãe, numa visita de cariz particular e esporádico, assistido a um almoço numa das casas da instituição, a minha irmã aproveitou a época de férias para levar as suas crias de visita a Lisboa. Aquando do regresso, e já na porta da instituição, tendo a mais pequena das criaturas cedido aos encantos do João Pestana, a minha irmã pede ao filho mais velho que vele pelo irmão enquanto ela chamaria a avô. Esta busca não foi duradoura, coisa de 10 minutos no máximo, e qual não foi o espanto de, chegadas ao carro encontrarem a pobre criança a limpar as lágrimas dos olhos. Como a minha mãe havia trazido umas amigas que aproveitariam a boleia, a criança sentindo-se intimidada, não respondeu quando questionada sobre o que sucedera. Após todas as entregas feitas, a minha mãe incluída, e estando já a minha irmã e prol na sua fortaleza, depois de lhe perguntar sobre o episódio das lágrimas, o miúdo (que tem 6 anos) respondeu já aliviado, que quando lhe dissera que a avó estava dentro de algo associado à Casa Pia, se tinha assustado porque lá dentro tinham uns homens muito maus e não se podia dormir lá, era muito perigoso... Tinha receio que a avô ficasse lá.
Esta é só uma amostra do que se passa diáriamente, normalmante à hora do jantar - que é a hora dos telejornais- quantas vezes não os ouvimos dizer "Outra vez a Casa Pia?!?! Já estamos fartos!!" o sentimento é comum a quase todos eles (a mais velha tem 7 anos...).
Não me autorgo sequer o direito de questionar a liberdade de imprensa, mas por favor, um pouco de contenção e respeito pelos demais não me parece que fosse atropelar a possibilidade de informar.
PS - diz a minha cunhada que a coisa agora vai virar, depois desta perseguição ao PS, a vez dos PSD vai chegar ( ela lá sabe, tem os seus contacto dentro do inimigo..., enfim a família é pluralista e damo-nos todos bem! quando não falamos de politica...)
Já é um pouco tarde, chego agora de fazer babysitting (as tias são para isso mesmo!) quando deparo com um cenário preocupante, a trama melhor urdida dos últimos séculos está de volta : Casa Pia. A minha inquetação tem um fundamento no pequeno episódio familiar de há umas semanas atrás. Tendo a minha mãe, numa visita de cariz particular e esporádico, assistido a um almoço numa das casas da instituição, a minha irmã aproveitou a época de férias para levar as suas crias de visita a Lisboa. Aquando do regresso, e já na porta da instituição, tendo a mais pequena das criaturas cedido aos encantos do João Pestana, a minha irmã pede ao filho mais velho que vele pelo irmão enquanto ela chamaria a avô. Esta busca não foi duradoura, coisa de 10 minutos no máximo, e qual não foi o espanto de, chegadas ao carro encontrarem a pobre criança a limpar as lágrimas dos olhos. Como a minha mãe havia trazido umas amigas que aproveitariam a boleia, a criança sentindo-se intimidada, não respondeu quando questionada sobre o que sucedera. Após todas as entregas feitas, a minha mãe incluída, e estando já a minha irmã e prol na sua fortaleza, depois de lhe perguntar sobre o episódio das lágrimas, o miúdo (que tem 6 anos) respondeu já aliviado, que quando lhe dissera que a avó estava dentro de algo associado à Casa Pia, se tinha assustado porque lá dentro tinham uns homens muito maus e não se podia dormir lá, era muito perigoso... Tinha receio que a avô ficasse lá.
Esta é só uma amostra do que se passa diáriamente, normalmante à hora do jantar - que é a hora dos telejornais- quantas vezes não os ouvimos dizer "Outra vez a Casa Pia?!?! Já estamos fartos!!" o sentimento é comum a quase todos eles (a mais velha tem 7 anos...).
Não me autorgo sequer o direito de questionar a liberdade de imprensa, mas por favor, um pouco de contenção e respeito pelos demais não me parece que fosse atropelar a possibilidade de informar.
PS - diz a minha cunhada que a coisa agora vai virar, depois desta perseguição ao PS, a vez dos PSD vai chegar ( ela lá sabe, tem os seus contacto dentro do inimigo..., enfim a família é pluralista e damo-nos todos bem! quando não falamos de politica...)
quarta-feira, maio 21, 2003
Imprensa vs. Blogosfera
"A maior parte das vezes, a imprensa não tem êxito dizendo às pessoas o que hão-de pensar; mas têm sempre êxito dizendo aos seus leitores sobre aquilo que hão-de pensar"
Bernard C. Cohen, 1963, Press and Foreign Policy
Cito o Cohen para exprimir um pensamento. Muito se tem falado da problemática da questão que opõe a Blogosfera e a Imprensa em geral, e sem querer me reportar a análise das várias opinões que têm surgido um pouco por todos os blogs, com comunicados e contra-respostas a publicações na imprensa, da importância de uns e utilidades de outros. Assim, surge-me a seguinte questão e subsequentes opinões: é óbvio, para mim, que quer queiramos quer não, a visibilidade da blogosfera é de todo reduzida face ao espectro dos seus poucos leitores, e de que a imprensa em geral abrange por sua vez uma diversidade e pluralidade evidentemente superiores. Isto equivale a dizer que, para cada meio de informação se cumprem funções diferentes. E enquanto uns se guerreiam com os outros, perdemos a noção de que a blogosfera é muito diferente dos mass media, em termos de função e abrangência, e perdemos a peculiaridade do meio: a de constituirmos um canal alternativo de vincular ideias e opiniões não abrangidas pelo efeito de mercantilismo que os media estão sujeitos. Os temas da blogosfera são feitos de seguidismo e paralelismo face ao que nos oferecem os grandes meios de comunicação, quando deviam ser a oportunidade de vincular e forçar a nossa atenção para temas que passam ignorados pelos mesmos media. Sim, o papel da blogosfera é, por enquanto, meramente alternativo, e quantas vezes temas e comentários publicados de excelente relevância e qualidade se limitaram à nula audiência? Enquanto a blogosfera for apenas mais uma opinião para os grandes temas, será apenas mais um pequeno fósforo numa grande fogueira e não a chama que tantos anseiam por atear.
"A maior parte das vezes, a imprensa não tem êxito dizendo às pessoas o que hão-de pensar; mas têm sempre êxito dizendo aos seus leitores sobre aquilo que hão-de pensar"
Bernard C. Cohen, 1963, Press and Foreign Policy
Cito o Cohen para exprimir um pensamento. Muito se tem falado da problemática da questão que opõe a Blogosfera e a Imprensa em geral, e sem querer me reportar a análise das várias opinões que têm surgido um pouco por todos os blogs, com comunicados e contra-respostas a publicações na imprensa, da importância de uns e utilidades de outros. Assim, surge-me a seguinte questão e subsequentes opinões: é óbvio, para mim, que quer queiramos quer não, a visibilidade da blogosfera é de todo reduzida face ao espectro dos seus poucos leitores, e de que a imprensa em geral abrange por sua vez uma diversidade e pluralidade evidentemente superiores. Isto equivale a dizer que, para cada meio de informação se cumprem funções diferentes. E enquanto uns se guerreiam com os outros, perdemos a noção de que a blogosfera é muito diferente dos mass media, em termos de função e abrangência, e perdemos a peculiaridade do meio: a de constituirmos um canal alternativo de vincular ideias e opiniões não abrangidas pelo efeito de mercantilismo que os media estão sujeitos. Os temas da blogosfera são feitos de seguidismo e paralelismo face ao que nos oferecem os grandes meios de comunicação, quando deviam ser a oportunidade de vincular e forçar a nossa atenção para temas que passam ignorados pelos mesmos media. Sim, o papel da blogosfera é, por enquanto, meramente alternativo, e quantas vezes temas e comentários publicados de excelente relevância e qualidade se limitaram à nula audiência? Enquanto a blogosfera for apenas mais uma opinião para os grandes temas, será apenas mais um pequeno fósforo numa grande fogueira e não a chama que tantos anseiam por atear.
terça-feira, maio 20, 2003
Salazar
um homem à frente do seu tempo
Não gosto de ditaduras, e se os conhecesse, certamente não gostaria dos ditadores. Mas sou de dar razão a quem a tem, e às vezes, a mão pesada da ditadura dava jeito. Isto a propósita da leitura sobre o código de censura da imprensa imposta pela PIDE; onde ai se pode ler que "Não se publicitavam anúncios de bruxas, videntes e outros; anúncios de empréstimos imorais, de empregos de moral suspeita e todos aqueles de cuja redacção pudesse transparecer dissolução de costumes"(*). Digam lá se metade do correio de e-mail com publicidade que nos entopem a internet, o chamado SPAM, não tinha já sido abolido?
(*) in "Os meios de comunicação social e a formação e manutenção do consenso social em Portugal (1926-1974) e no Reino Unido" por Ana Amélia Costa da Conceição Amorim Soares de Carvalho
um homem à frente do seu tempo
Não gosto de ditaduras, e se os conhecesse, certamente não gostaria dos ditadores. Mas sou de dar razão a quem a tem, e às vezes, a mão pesada da ditadura dava jeito. Isto a propósita da leitura sobre o código de censura da imprensa imposta pela PIDE; onde ai se pode ler que "Não se publicitavam anúncios de bruxas, videntes e outros; anúncios de empréstimos imorais, de empregos de moral suspeita e todos aqueles de cuja redacção pudesse transparecer dissolução de costumes"(*). Digam lá se metade do correio de e-mail com publicidade que nos entopem a internet, o chamado SPAM, não tinha já sido abolido?
(*) in "Os meios de comunicação social e a formação e manutenção do consenso social em Portugal (1926-1974) e no Reino Unido" por Ana Amélia Costa da Conceição Amorim Soares de Carvalho
segunda-feira, maio 19, 2003
O vidro da saudade
Às vezes parece que é tarde, mas não é. Que não fizemos as coisas que devíamos ter feito, mas fizemos. O que importa onde? Se no papel foi feito, ou deixado prontinho dentro da cabeça, ou mesmo só a bater no coração como uma cantiga que faz falar o cálido sonho. E depois, apeteceu-lhe dizer que não se perde um só beijo de ternura, sem pressas, e sem querer demasiado. Tinha sempre um lugarzinho no seu coração para a sua saudade, mesmo quando o coração estava pequenino e mal tratado. Era a sua doçura. Nunca lhe escreveu uma carta. Mas deixou muitas frases escritas, às vezes várias vezes ao dia. Outras vezes ficavam só no pensamento até que o vento do esquecimento que soprava todas as noites as apagasse. Houve mesmo muitas que voaram, umas para longe mas outras ainda as conseguiu apanhar. Tinha ideias para contar-lhe a ela, mas eram ideias soltas e não faziam uma história, por isso ele nunca mais pegou numa caneta. Talvez daquela vez em que esperava por um comboio, num café, a tomar café, nesse café que também tinha bolos que ele também comeu. Numa manhã fria e de chuva que lhe molhou os cadernos, que quase diluiu a tinta sabichona das suas ideias, a chuva que lhe molhava os olhos, que faziam parecer que chorava, até podia ser uma saudade se fossem lágrimas, ou se as pessoas lessem o que ele escrevera, uma carta à sua amiga, não muito diferente da rapariga, que sentada ao seu lado, já no comboio, na carruagem aquecida, olhava de soslaio com um ar curioso o seu caderno como que a querer ler-lhe os pensamentos. Olhava para os olhos dele e para as suas lágrimas de chuva talvez a pensar em amor. Ele a sair do comboio saltando da carruagem ainda em andamento, depois já no carro a quase atropelar um cão por causa das lágrimas sobre o vidro mesmo antes do limpa-vidros passar pela segunda vez sobre as gotas no seu vidro da saudade. Ele a ir trabalhar porque era preciso trabalhar, tanta coisa por fazer e ele a barafustar por tudo quanto já tinha feito, a não ter tempo para si, para arrumar o seu cantinho, a sua cabeça e o seu mundo. A pegar no caderno para reler, com as gotas da saudade espalhadas na capa preta, molhado e encorrilhado como se de uma dor se tratasse. Ele a pousar o caderno, a ter que deixa-lo por causa do maldito emprego, logo ele que estava farto de trabalhar, sempre cansado e a esquecer-se de tudo. A esquecer-se do caderno que tinha a carta, a nunca mais encontra-la, sem tempo de a procurar, sempre a viver à pressa sem poder captar os acontecimentos, mas sempre a pensar que a vida estava uma merda, ou que era só pelo trabalho, por chegar tarde a casa e não descansar, sempre exausto por sair à noite com pessoas que não se divertiam nem o divertiam a ele. E mesmo ele, que saía sozinho para provar um provérbio popular, sempre a pensar nela, a pensar quando ela voltaria, e ela que voltava todos os dias mas só na sua imaginação.
Às vezes parece que é tarde, mas não é. Que não fizemos as coisas que devíamos ter feito, mas fizemos. O que importa onde? Se no papel foi feito, ou deixado prontinho dentro da cabeça, ou mesmo só a bater no coração como uma cantiga que faz falar o cálido sonho. E depois, apeteceu-lhe dizer que não se perde um só beijo de ternura, sem pressas, e sem querer demasiado. Tinha sempre um lugarzinho no seu coração para a sua saudade, mesmo quando o coração estava pequenino e mal tratado. Era a sua doçura. Nunca lhe escreveu uma carta. Mas deixou muitas frases escritas, às vezes várias vezes ao dia. Outras vezes ficavam só no pensamento até que o vento do esquecimento que soprava todas as noites as apagasse. Houve mesmo muitas que voaram, umas para longe mas outras ainda as conseguiu apanhar. Tinha ideias para contar-lhe a ela, mas eram ideias soltas e não faziam uma história, por isso ele nunca mais pegou numa caneta. Talvez daquela vez em que esperava por um comboio, num café, a tomar café, nesse café que também tinha bolos que ele também comeu. Numa manhã fria e de chuva que lhe molhou os cadernos, que quase diluiu a tinta sabichona das suas ideias, a chuva que lhe molhava os olhos, que faziam parecer que chorava, até podia ser uma saudade se fossem lágrimas, ou se as pessoas lessem o que ele escrevera, uma carta à sua amiga, não muito diferente da rapariga, que sentada ao seu lado, já no comboio, na carruagem aquecida, olhava de soslaio com um ar curioso o seu caderno como que a querer ler-lhe os pensamentos. Olhava para os olhos dele e para as suas lágrimas de chuva talvez a pensar em amor. Ele a sair do comboio saltando da carruagem ainda em andamento, depois já no carro a quase atropelar um cão por causa das lágrimas sobre o vidro mesmo antes do limpa-vidros passar pela segunda vez sobre as gotas no seu vidro da saudade. Ele a ir trabalhar porque era preciso trabalhar, tanta coisa por fazer e ele a barafustar por tudo quanto já tinha feito, a não ter tempo para si, para arrumar o seu cantinho, a sua cabeça e o seu mundo. A pegar no caderno para reler, com as gotas da saudade espalhadas na capa preta, molhado e encorrilhado como se de uma dor se tratasse. Ele a pousar o caderno, a ter que deixa-lo por causa do maldito emprego, logo ele que estava farto de trabalhar, sempre cansado e a esquecer-se de tudo. A esquecer-se do caderno que tinha a carta, a nunca mais encontra-la, sem tempo de a procurar, sempre a viver à pressa sem poder captar os acontecimentos, mas sempre a pensar que a vida estava uma merda, ou que era só pelo trabalho, por chegar tarde a casa e não descansar, sempre exausto por sair à noite com pessoas que não se divertiam nem o divertiam a ele. E mesmo ele, que saía sozinho para provar um provérbio popular, sempre a pensar nela, a pensar quando ela voltaria, e ela que voltava todos os dias mas só na sua imaginação.
domingo, maio 18, 2003
A basófia filosófica francesa
O JPP comenta e questiona num dos seus posts, "Uma das coisas que me faz ainda gostar mais do cinema americano e abominar a "excepção cultural" dos franceses é a capacidade que tem de manter o cinema como espectáculo e de tratar histórias complexas sem perder a complexidade. Porque imaginem o que a basófia filosófica dos franceses faria a histórias, como a do Blade Runner , do Matrix , ou do Minority Report , ou do Crash , ou as dos filmes de David Lynch transformando-as em filmes de tese, impossíveis de ver com prazer e perplexidade.". Ora bem, a história do cinema francês não pára nos Goddard, nem nos Truffaut, nem nos Rivette e há toda uma geração que cresceu sem o espectro dos Cahiers du Cinema e da Nouvelle Vague. Da geração de 80, apareceram realizadores onde a maneira simples de contar uma história simples, tem pouco de basófia filosófica, apesar de um certo lirismo. Do Jean-Jacques Beineix, podemos e devemos ver o "Diva e os Gangster (1982)" e "Betty Blue, 37 Graus 2 Horas da Manhã (1986)"; do Besson, e já voltamos a este, o maravilhoso "Deep Blue, O abismo Azul (1988)"; e o subtil e enleante "La Lectrice, A Leitora (1988)" de Michel Deville. Ainda da geração dos Cahiers, o Bertrand Tavernier assina em 1986 o fantástico e cruel "La Passion Beatrice" e que, infelizmente nunca passou nas televisões portuguesas. Revertendo a pergunta do que faria a basófia filosófica francesa a filmes como "Blade Runner", "Matrix" ou o "Minority Report", pergunto eu o que de bom trouxe o engenho das artes do espectáculo americano a filmes como "A Assassina", "Três homens e um berço" e a adaptação do "Vanilla Sky" do espanhol "Abre los Ojos", para além de uma mais ampla exposição? Em contrapartida, e voltando então ao Besson, o "tratamento de histórias complexas sem perder a complexidade" que dirá de um empolgante, tecnológico, lírico e obviamente complexo "O Quinto Elemento"? E o "Léon, o Profissional"? Há nitidamente uma aversão cultural à filmografia francesa que normalmente advém de um desconhecimento da amplitude da mesma, estou certo que não será essa a posição de JPP, será por causa de uma certa posição política numa determinada guerra? E já agora, e que tal o "Le Dinêr de Cons, Jantar de Palermas (1998) de Francis Veber"? Eu cá levava o nosso autêntico Zézé Camarinhas, e o JPP brindaria-nos com um Chirac?
O JPP comenta e questiona num dos seus posts, "Uma das coisas que me faz ainda gostar mais do cinema americano e abominar a "excepção cultural" dos franceses é a capacidade que tem de manter o cinema como espectáculo e de tratar histórias complexas sem perder a complexidade. Porque imaginem o que a basófia filosófica dos franceses faria a histórias, como a do Blade Runner , do Matrix , ou do Minority Report , ou do Crash , ou as dos filmes de David Lynch transformando-as em filmes de tese, impossíveis de ver com prazer e perplexidade.". Ora bem, a história do cinema francês não pára nos Goddard, nem nos Truffaut, nem nos Rivette e há toda uma geração que cresceu sem o espectro dos Cahiers du Cinema e da Nouvelle Vague. Da geração de 80, apareceram realizadores onde a maneira simples de contar uma história simples, tem pouco de basófia filosófica, apesar de um certo lirismo. Do Jean-Jacques Beineix, podemos e devemos ver o "Diva e os Gangster (1982)" e "Betty Blue, 37 Graus 2 Horas da Manhã (1986)"; do Besson, e já voltamos a este, o maravilhoso "Deep Blue, O abismo Azul (1988)"; e o subtil e enleante "La Lectrice, A Leitora (1988)" de Michel Deville. Ainda da geração dos Cahiers, o Bertrand Tavernier assina em 1986 o fantástico e cruel "La Passion Beatrice" e que, infelizmente nunca passou nas televisões portuguesas. Revertendo a pergunta do que faria a basófia filosófica francesa a filmes como "Blade Runner", "Matrix" ou o "Minority Report", pergunto eu o que de bom trouxe o engenho das artes do espectáculo americano a filmes como "A Assassina", "Três homens e um berço" e a adaptação do "Vanilla Sky" do espanhol "Abre los Ojos", para além de uma mais ampla exposição? Em contrapartida, e voltando então ao Besson, o "tratamento de histórias complexas sem perder a complexidade" que dirá de um empolgante, tecnológico, lírico e obviamente complexo "O Quinto Elemento"? E o "Léon, o Profissional"? Há nitidamente uma aversão cultural à filmografia francesa que normalmente advém de um desconhecimento da amplitude da mesma, estou certo que não será essa a posição de JPP, será por causa de uma certa posição política numa determinada guerra? E já agora, e que tal o "Le Dinêr de Cons, Jantar de Palermas (1998) de Francis Veber"? Eu cá levava o nosso autêntico Zézé Camarinhas, e o JPP brindaria-nos com um Chirac?
O ensino
Nos Marretas continua-se a discussão sobre o ensino e os comentários aos maus estudantes que povoam as universidades portuguesas. Eu não duvido. Mas como aqui não gostamos de defender ninguém vou-vos brindar com a excelsa sapiência do prof. dr. Anibal Oliveira, um ilustre desconhecido (e ainda bem) professor da Universidade Fernando Pessoa, que espero a bem dos alunos já não ande por lá a cometer os erros que por lá andou a espalhar na cadeira de Engenharia da Comunicação Audiovisual. Senão vejamos a qualidade da eloquência, da verborreia clara e precisa dos seus ensinamentos.
"A Comunicação Audio Visual determina que se entenda por video, um processo de características marcadamente sistémicas na sua forma de produção electro-magneticas. Mas também no seu conjunto de equipamentos de produção e no seu processo de transmissão, portanto o universo tecnológico-videográfico sustenta um quadro de noções e de princípios de funcionamento que constituiem o meio onde se funda a linguagem audiovisual."
Perceberam? Talvez fosse bom explicar que isto é a resposta a pergunta: "O que é o video?". Todos vocês conhecem o aparelho, pelo que escuso de fazer mais comentários, quanto à resposta do sr. dr. Anibal. E para acabar, que daqui não se aprende nada, um ultimo trecho com todo o fulgor linguistico que acompanhava os seus leccionamentos:
"O equipamento video constitui uma panóplia de instrumentos de desenvolvimento da produção, realização e difusão. Quer ao nível do estúdio, quer ao nível dos módulos sistémicos próprios ao corpo tecnológico. O estúdio constitui a noção de interface, quer ao nível do registo, quer ao nível da transmissão de dados, assim sendo, o estúdio de vídeo é o local por excêlencia para a produção ou realização de programas."
Pena que em três frases o sr. dr. confunda o estúdio (plateau, local onde se montam os cenários e se filma) com o estúdio (régie, local onde se controla a filmagem); que confunda o processo de realização videográfica com o processo de realização televisiva (no video não existe transmissão de dados, i.e. aquilo que no processo televisivo se chama tele-difusão); pena que, o sr. dr., não ensinasse convenientemente os seus alunos, e estivesse mais preocupado em criar um mito em torno da sua disciplina (nota máxima 12), criando estes textos com informações incompletas e erradas envoltos numa linguagem rebuscada que, tenho quase a certeza, nem ele sabia muito bem o que estava a dizer.
Nos Marretas continua-se a discussão sobre o ensino e os comentários aos maus estudantes que povoam as universidades portuguesas. Eu não duvido. Mas como aqui não gostamos de defender ninguém vou-vos brindar com a excelsa sapiência do prof. dr. Anibal Oliveira, um ilustre desconhecido (e ainda bem) professor da Universidade Fernando Pessoa, que espero a bem dos alunos já não ande por lá a cometer os erros que por lá andou a espalhar na cadeira de Engenharia da Comunicação Audiovisual. Senão vejamos a qualidade da eloquência, da verborreia clara e precisa dos seus ensinamentos.
"A Comunicação Audio Visual determina que se entenda por video, um processo de características marcadamente sistémicas na sua forma de produção electro-magneticas. Mas também no seu conjunto de equipamentos de produção e no seu processo de transmissão, portanto o universo tecnológico-videográfico sustenta um quadro de noções e de princípios de funcionamento que constituiem o meio onde se funda a linguagem audiovisual."
Perceberam? Talvez fosse bom explicar que isto é a resposta a pergunta: "O que é o video?". Todos vocês conhecem o aparelho, pelo que escuso de fazer mais comentários, quanto à resposta do sr. dr. Anibal. E para acabar, que daqui não se aprende nada, um ultimo trecho com todo o fulgor linguistico que acompanhava os seus leccionamentos:
"O equipamento video constitui uma panóplia de instrumentos de desenvolvimento da produção, realização e difusão. Quer ao nível do estúdio, quer ao nível dos módulos sistémicos próprios ao corpo tecnológico. O estúdio constitui a noção de interface, quer ao nível do registo, quer ao nível da transmissão de dados, assim sendo, o estúdio de vídeo é o local por excêlencia para a produção ou realização de programas."
Pena que em três frases o sr. dr. confunda o estúdio (plateau, local onde se montam os cenários e se filma) com o estúdio (régie, local onde se controla a filmagem); que confunda o processo de realização videográfica com o processo de realização televisiva (no video não existe transmissão de dados, i.e. aquilo que no processo televisivo se chama tele-difusão); pena que, o sr. dr., não ensinasse convenientemente os seus alunos, e estivesse mais preocupado em criar um mito em torno da sua disciplina (nota máxima 12), criando estes textos com informações incompletas e erradas envoltos numa linguagem rebuscada que, tenho quase a certeza, nem ele sabia muito bem o que estava a dizer.
sábado, maio 17, 2003
Sondagens
Vi no Record online uma sondagem sobre a seguinte questão: Acredita na existência de dinheiro sujo no futebol, como afirma Dias da Cunha?
A votação foi a seguinte:
Sim 93.2%
Não 6.8%
Aposto que estes 6.8% são do Futebol Clube de Felgueiras.
Vi no Record online uma sondagem sobre a seguinte questão: Acredita na existência de dinheiro sujo no futebol, como afirma Dias da Cunha?
A votação foi a seguinte:
Sim 93.2%
Não 6.8%
Aposto que estes 6.8% são do Futebol Clube de Felgueiras.
Poema
Já há uns bons seis meses que não escrevia um poema. Ontem saiu qualquer coisita.
O silêncio oferece-te em escolha uma lágrima
uma agonia que vai por dentro. Não morre
a estima dos meus olhos sem palavras
o fumo de um cigarro que arde. Um orfão
desenha-se no ar uma luz sem piedade
sem o tempo que foge entre o calor
são teus dedos uma chama. Não amo
O silêncio oferece-te de novo uma escolha
um ósculo na retina do sentir. A cegueira
dos lábios escorrem palavras como fontes
sem jorro, num fio de sentidos sensatos
Nós sentados. Nós descalços.
um monte de histórias, um vale de lágrimas
vai fundo onde escava esse rio. Tão nosso
A preguiça dos dias instala uma barreira
Não salto. Não grito. Nem me mexo
Já há uns bons seis meses que não escrevia um poema. Ontem saiu qualquer coisita.
O silêncio oferece-te em escolha uma lágrima
uma agonia que vai por dentro. Não morre
a estima dos meus olhos sem palavras
o fumo de um cigarro que arde. Um orfão
desenha-se no ar uma luz sem piedade
sem o tempo que foge entre o calor
são teus dedos uma chama. Não amo
O silêncio oferece-te de novo uma escolha
um ósculo na retina do sentir. A cegueira
dos lábios escorrem palavras como fontes
sem jorro, num fio de sentidos sensatos
Nós sentados. Nós descalços.
um monte de histórias, um vale de lágrimas
vai fundo onde escava esse rio. Tão nosso
A preguiça dos dias instala uma barreira
Não salto. Não grito. Nem me mexo
sexta-feira, maio 16, 2003
Já não dá...
Almoço de hoje, em casa com a mãe e uma das cunhadas. Televisão ligada para ver as notícias e lá estamos nós a levar com sondagens sobre espectros de candidaturas à presidência. Não acho normal que se ande desde já em corrida eleitoral com hipóteses! A minha cunhada diz então "Acho ridículo que se ande a discutir um problema que nem existe..." - foi então que se fez luz na minha mente (eu sei que é raro isto acontecer...) - toda esta expectativa acontece porque o Partido Socialista tem de ensaiar qual o candidato que o poderá levar à vitória! E como os nossos jornalistas até são um primor de isenção...o resultado está à vista.
Tem de acontecer uma qualquer catástrofe para se alterar o teor das notícias.
Almoço de hoje, em casa com a mãe e uma das cunhadas. Televisão ligada para ver as notícias e lá estamos nós a levar com sondagens sobre espectros de candidaturas à presidência. Não acho normal que se ande desde já em corrida eleitoral com hipóteses! A minha cunhada diz então "Acho ridículo que se ande a discutir um problema que nem existe..." - foi então que se fez luz na minha mente (eu sei que é raro isto acontecer...) - toda esta expectativa acontece porque o Partido Socialista tem de ensaiar qual o candidato que o poderá levar à vitória! E como os nossos jornalistas até são um primor de isenção...o resultado está à vista.
Tem de acontecer uma qualquer catástrofe para se alterar o teor das notícias.
quinta-feira, maio 15, 2003
Bola Verde
......................
Finalmente o primeiro site sobre futebol com uma visão totalmente imparcial e, por isso mesmo, obviamente tendenciosa. Um blog onde a verdade joga sempre a nossa favor e a mentira um artefacto dos nossos adversários para corromper a arbitragem. Um blog onde a justiça miraculosamente deixa de ser cega e finalmente consegue distinguir para além do negro, também o verde e o branco. Agora sim, todos os lances duvidosos vão ser Penalties, acabou-se a angústia do avançado começa a do guarda-redes. O autor deste blog devia ser canonizado. O resto pode ir dar uma curva.
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Finalmente o primeiro site sobre futebol com uma visão totalmente imparcial e, por isso mesmo, obviamente tendenciosa. Um blog onde a verdade joga sempre a nossa favor e a mentira um artefacto dos nossos adversários para corromper a arbitragem. Um blog onde a justiça miraculosamente deixa de ser cega e finalmente consegue distinguir para além do negro, também o verde e o branco. Agora sim, todos os lances duvidosos vão ser Penalties, acabou-se a angústia do avançado começa a do guarda-redes. O autor deste blog devia ser canonizado. O resto pode ir dar uma curva.
Aromas
Não podia deixar de dar um contributo para tão particular tema (quem me conhece sabe bem que é assim), mas as considerações olfactivas que deambulam pela blogoesfera parece que esquecem um ponto crucial, cada um é que escolhe como anda, independentemente do que quer transmitir.
Não creio ser condição exclusivista o ter ou não ter um determinado cheiro e/ou aparência, tudo depende da impressão que se quer dar. Já encontrei pessoas bem arranjadas que pareciam pairar numa nuvém de esgoto, como se encontram pessoas que com o pouco que têm, se apresentam impecáveis. É uma questão de educação e civismo antes de tudo.
Mas devo ressalvar que muitas das pessoas que primam pela revolta e se insurgem contra o establishment, no fundo escudam-se nos mais básicos e primários instintos anti-sociais, o de afastar presumíveis concorrentes da esfera física. A falta crónica de um banho não é só uma questão de cultura, é também de saúde pública - basta estarem num qualquer espaço aglomerado com alguém que emana odores putrefactos e verão a reacção da generalidade das pessoas: a repulsa.
A nossa recente cultura de culpabilização social tem-nos impedido de evoluir a este nível. Alguém que se atreva a discurrer sobre este assunto e já está a levar com o épipeto de "fascista-que-abomina-as-classes-sociais-mais-baixas" ou de "frívolo-fútil-inconsequente". Nada mais falso, a qualidade da aparência não depende tanto do dinheiro que temos, mas antes da cultura que temos para jogar com ela.
Uma das minhas recordações de infância mais queridas é a dos domingos de missa, numa aldeia de pescadores em Espanha, não havia quem fosse mal arranjado e mal cheiroso à missa (mesmos os punks e rockabillies se apresentavam sem resquícios de odores provocatórios de fuga).
Claro que temos o antípoda mesmo aqui ao lado, trata-se de quem, pela mesma falta crucial de educação gasta uma frasco de 100ml de essência de uma só vez. O resultado é assaz atroz! A repulsa é a mesma que tem o mal-amanhado, não é a qualidade olfactiva que faz tanto a diferença, é sim a quantidade que se emana. A ponderação é uma virtude.
Quanto à aparência, como vaidosa convicta, creio que o aspecto visual tem influência na forma que nos relacionamos com os demais, claro que abomino a superficialidade - a não ser como objecto de apreciação estética -, mas quem de consciência tranquila pode dizer que, quando olha para alguém a primeira impressão que tem não é visual (costumo dizer que quando se vê alguém pela primeira vez e nos desperta o interesse, não nos pomos a dissertar sobre as suas virtudes e qualidades como pessoa).
Já quanto à cultura, penso tratar-se também de um problema eminentemente educacional, pode-se ser culto e bonito - quando se está no cabeleireiro/estéticista/ginásio, o que é que nos impede de ler? Apenas a perguiça induzida desde a mais tenra infância.
Não penso de todo que o aspecto andrajoso contribua de qualquer forma para a elevação dos conhecimentos adquiridos, no entanto penso que o aspecto e o aprumo podem e devem coabitar com estes.
A particularidade nacional no caso, tem muito a ver com a nostalgia socialista que impera no sector jornalístico e intelectual.
PS: o ser vaidosa não implica, obrigatoriamente, que tenha uma grande consideração estética da minha pessoa.
Não podia deixar de dar um contributo para tão particular tema (quem me conhece sabe bem que é assim), mas as considerações olfactivas que deambulam pela blogoesfera parece que esquecem um ponto crucial, cada um é que escolhe como anda, independentemente do que quer transmitir.
Não creio ser condição exclusivista o ter ou não ter um determinado cheiro e/ou aparência, tudo depende da impressão que se quer dar. Já encontrei pessoas bem arranjadas que pareciam pairar numa nuvém de esgoto, como se encontram pessoas que com o pouco que têm, se apresentam impecáveis. É uma questão de educação e civismo antes de tudo.
Mas devo ressalvar que muitas das pessoas que primam pela revolta e se insurgem contra o establishment, no fundo escudam-se nos mais básicos e primários instintos anti-sociais, o de afastar presumíveis concorrentes da esfera física. A falta crónica de um banho não é só uma questão de cultura, é também de saúde pública - basta estarem num qualquer espaço aglomerado com alguém que emana odores putrefactos e verão a reacção da generalidade das pessoas: a repulsa.
A nossa recente cultura de culpabilização social tem-nos impedido de evoluir a este nível. Alguém que se atreva a discurrer sobre este assunto e já está a levar com o épipeto de "fascista-que-abomina-as-classes-sociais-mais-baixas" ou de "frívolo-fútil-inconsequente". Nada mais falso, a qualidade da aparência não depende tanto do dinheiro que temos, mas antes da cultura que temos para jogar com ela.
Uma das minhas recordações de infância mais queridas é a dos domingos de missa, numa aldeia de pescadores em Espanha, não havia quem fosse mal arranjado e mal cheiroso à missa (mesmos os punks e rockabillies se apresentavam sem resquícios de odores provocatórios de fuga).
Claro que temos o antípoda mesmo aqui ao lado, trata-se de quem, pela mesma falta crucial de educação gasta uma frasco de 100ml de essência de uma só vez. O resultado é assaz atroz! A repulsa é a mesma que tem o mal-amanhado, não é a qualidade olfactiva que faz tanto a diferença, é sim a quantidade que se emana. A ponderação é uma virtude.
Quanto à aparência, como vaidosa convicta, creio que o aspecto visual tem influência na forma que nos relacionamos com os demais, claro que abomino a superficialidade - a não ser como objecto de apreciação estética -, mas quem de consciência tranquila pode dizer que, quando olha para alguém a primeira impressão que tem não é visual (costumo dizer que quando se vê alguém pela primeira vez e nos desperta o interesse, não nos pomos a dissertar sobre as suas virtudes e qualidades como pessoa).
Já quanto à cultura, penso tratar-se também de um problema eminentemente educacional, pode-se ser culto e bonito - quando se está no cabeleireiro/estéticista/ginásio, o que é que nos impede de ler? Apenas a perguiça induzida desde a mais tenra infância.
Não penso de todo que o aspecto andrajoso contribua de qualquer forma para a elevação dos conhecimentos adquiridos, no entanto penso que o aspecto e o aprumo podem e devem coabitar com estes.
A particularidade nacional no caso, tem muito a ver com a nostalgia socialista que impera no sector jornalístico e intelectual.
PS: o ser vaidosa não implica, obrigatoriamente, que tenha uma grande consideração estética da minha pessoa.
A cor da alma
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Agarrei um fio de prata de um raio de luar e fiz com ele um gancho brilhante para te prender o cabelo que se soltava no vento da noite. A chuva de Novembro gotejava umas orquídeas amarelas que te pintavam as sobrancelhas. Sempre me entreguei aos amores mais com a alma do que com o corpo, ao contrário da expressão popular. É uma postura diferente, daquelas que nem vem no Kamasutra. Estudei a arte de amar desde Ovídio até Stendhal e ainda folheei alguns contemporâneos. De nada serve o saber sem a consumação do sentir. Dei-te a mão sob um pretexto falso, numa rua que descia até ao mar numa calçada de paralelepípedos escorregadios, com tufos de musgo verde aonde se acumulava o orvalho da noite. Há qualquer coisa no toque da pele quase intangível. Uma linguagem que eu tento descodificar, uma química de compatibilidade. Há qualquer coisa que vibra no corpo quando tocamos a primeira vez em alguém. É preciso estar atento, parar todos os sentido e ficar à escuta com a concentração que as grandes coisas necessitam. A minha mão percorreu a tua como uma leitura sensorial e a vibração da tua pele sob a minha traçou uma paisagem azul de compatibilidade. Não me perguntes o que é isso. Acontece ser assim. A alma conta-nos histórias se estivermos dispostos a ouvi-la. A minha alma de pistachio desejosa de te conhecer gosta da tua paisagem azul que o teu contacto quente desenha na pele como uma pirogravura faz na madeira ressequida. Não me perguntes porque que a minha alma é verde e a tua azul. Não percebo muito de almas e isto de lhe dar cores é uma ilusão, até posso sofrer de um daltonismo que pinta mal as almas que sinto. No fim da rua há um bar sobranceiro à praia para onde nos dirigimos com o vagar de quem já tem tudo dito. O teu cabelo molhado pingava umas gotas de chuva fotogénicas na tua face fria. A minha mão na pele do teu rosto apagou a chuva de Novembro com o meu toque quente. És tão bonita como a alma.
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Agarrei um fio de prata de um raio de luar e fiz com ele um gancho brilhante para te prender o cabelo que se soltava no vento da noite. A chuva de Novembro gotejava umas orquídeas amarelas que te pintavam as sobrancelhas. Sempre me entreguei aos amores mais com a alma do que com o corpo, ao contrário da expressão popular. É uma postura diferente, daquelas que nem vem no Kamasutra. Estudei a arte de amar desde Ovídio até Stendhal e ainda folheei alguns contemporâneos. De nada serve o saber sem a consumação do sentir. Dei-te a mão sob um pretexto falso, numa rua que descia até ao mar numa calçada de paralelepípedos escorregadios, com tufos de musgo verde aonde se acumulava o orvalho da noite. Há qualquer coisa no toque da pele quase intangível. Uma linguagem que eu tento descodificar, uma química de compatibilidade. Há qualquer coisa que vibra no corpo quando tocamos a primeira vez em alguém. É preciso estar atento, parar todos os sentido e ficar à escuta com a concentração que as grandes coisas necessitam. A minha mão percorreu a tua como uma leitura sensorial e a vibração da tua pele sob a minha traçou uma paisagem azul de compatibilidade. Não me perguntes o que é isso. Acontece ser assim. A alma conta-nos histórias se estivermos dispostos a ouvi-la. A minha alma de pistachio desejosa de te conhecer gosta da tua paisagem azul que o teu contacto quente desenha na pele como uma pirogravura faz na madeira ressequida. Não me perguntes porque que a minha alma é verde e a tua azul. Não percebo muito de almas e isto de lhe dar cores é uma ilusão, até posso sofrer de um daltonismo que pinta mal as almas que sinto. No fim da rua há um bar sobranceiro à praia para onde nos dirigimos com o vagar de quem já tem tudo dito. O teu cabelo molhado pingava umas gotas de chuva fotogénicas na tua face fria. A minha mão na pele do teu rosto apagou a chuva de Novembro com o meu toque quente. És tão bonita como a alma.
quarta-feira, maio 14, 2003
terça-feira, maio 13, 2003
Maio
...................
maio parece querer acabar com a utopia
as palavras comidas no seu da boca, secam
os dentes sibilam uma dor branca
são corropios de texto debaixo da frincha da porta;
Não tenho para onde ir
Jorram palavras vermelhas na fonte do amanhã
A ponto de formarem um rio de borboletas
Ainda presas no cásulo do sentir
Trigésimo segundo dia do mês de maio
Já partiu o dia que sucede à mesma noite
As palavras fazem cócegas na língua do amor
Saiem finalmente as borboletas no oco da boca
Voando como pétalas arrancadas à flor
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maio parece querer acabar com a utopia
as palavras comidas no seu da boca, secam
os dentes sibilam uma dor branca
são corropios de texto debaixo da frincha da porta;
Não tenho para onde ir
Jorram palavras vermelhas na fonte do amanhã
A ponto de formarem um rio de borboletas
Ainda presas no cásulo do sentir
Trigésimo segundo dia do mês de maio
Já partiu o dia que sucede à mesma noite
As palavras fazem cócegas na língua do amor
Saiem finalmente as borboletas no oco da boca
Voando como pétalas arrancadas à flor
segunda-feira, maio 12, 2003
Checkpoint Charlie
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Próximo sábado no Menos Que Zero, desfile de músicas pelas mãos de Manuel Vasconcelos (a.k.a. ElektroPopStar DJ*). A não perder.
*Nota de Shinho
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Próximo sábado no Menos Que Zero, desfile de músicas pelas mãos de Manuel Vasconcelos (a.k.a. ElektroPopStar DJ*). A não perder.
*Nota de Shinho
O cheiro e a leitura
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Dois dias depois do meu post sobre a transgenia e os maus cheiros, na Coluna disparam sobre a directa proporcionalidade entre a quantidade da leitura e a qualidade do mau cheiro. Eu iria mais longe, porque tal razão directa me parece excessiva, e enquadraria o problema mais na vertente de uma certa estética e valores de alguma classe auto-proclamada de intelectual. Não sou a favor de elitismos, de sobranceria, e de arrogâncias; e, se me irritam as poses de bem-parecer, tão bem encaixadas num corte e perfumaria Channel, na sua altivez de classe dominante assente no pedestal dos valores económicos, também me repugna a arrogância intelectual de quem se despoja de supostos valores materiais e enverda por uma estética de valores contrários aos ditados pelos valores monetários. A charneira entre a sobranceria de uns e a arrogância de outros não existe, e uns são um decalque dos outros nas intenções.
Dai parecer haver uma ligação directa entre a vacuidade mental do usuário de um enebriante e caro perfume francês e o cheiro infecto de um acérrimo e culto leitor com ares de intelectualidade. Ambos habitam um mundo de excessos, com visões redutoras sobre o mundo. Uma espécie de fundamentalismo que me perturba, que como todos as facções extremistas são pouco tolerantes. E se há coisa que eu não tolero, é a intolerância.
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Dois dias depois do meu post sobre a transgenia e os maus cheiros, na Coluna disparam sobre a directa proporcionalidade entre a quantidade da leitura e a qualidade do mau cheiro. Eu iria mais longe, porque tal razão directa me parece excessiva, e enquadraria o problema mais na vertente de uma certa estética e valores de alguma classe auto-proclamada de intelectual. Não sou a favor de elitismos, de sobranceria, e de arrogâncias; e, se me irritam as poses de bem-parecer, tão bem encaixadas num corte e perfumaria Channel, na sua altivez de classe dominante assente no pedestal dos valores económicos, também me repugna a arrogância intelectual de quem se despoja de supostos valores materiais e enverda por uma estética de valores contrários aos ditados pelos valores monetários. A charneira entre a sobranceria de uns e a arrogância de outros não existe, e uns são um decalque dos outros nas intenções.
Dai parecer haver uma ligação directa entre a vacuidade mental do usuário de um enebriante e caro perfume francês e o cheiro infecto de um acérrimo e culto leitor com ares de intelectualidade. Ambos habitam um mundo de excessos, com visões redutoras sobre o mundo. Uma espécie de fundamentalismo que me perturba, que como todos as facções extremistas são pouco tolerantes. E se há coisa que eu não tolero, é a intolerância.
Ainda bem!
Não tivesse o dia de ontem começado com Elis, e teria sido difícil a sobrevivência a um dia de passeio com a família (nem o cariz cultural do mesmo conseguiu ultrapassar incólume à energia sem limites da catraiada).
É complicado explicar a crianças em idade pré-escolar que embora a igreja esteja vazia, se deve manter o silêncio.
Não tivesse o dia de ontem começado com Elis, e teria sido difícil a sobrevivência a um dia de passeio com a família (nem o cariz cultural do mesmo conseguiu ultrapassar incólume à energia sem limites da catraiada).
É complicado explicar a crianças em idade pré-escolar que embora a igreja esteja vazia, se deve manter o silêncio.
domingo, maio 11, 2003
A função jornalística
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Andava eu a pesquisar sobre a função do discurso jornalístico, quando deparei com esta frase do jornalista Ferreira Fernandes.
“Temos um jornalismo muito opinativo, mas que conta pouco as pessoas e as vidas. Nunca demos um filósofo de jeito mas somos bastante filosofantes”.
In Inventio, em Novembro de 1997
Não necessito de dizer mais nada.
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Andava eu a pesquisar sobre a função do discurso jornalístico, quando deparei com esta frase do jornalista Ferreira Fernandes.
“Temos um jornalismo muito opinativo, mas que conta pouco as pessoas e as vidas. Nunca demos um filósofo de jeito mas somos bastante filosofantes”.
In Inventio, em Novembro de 1997
Não necessito de dizer mais nada.
sábado, maio 10, 2003
Novembro
para a Bébé
Não sei porque chamo janelas aos teus olhos e portas ao teu sexo, não sei. O livro que te escrevo é uma mansão com imensos quartos vazios onde as palavras se vão deitar. Escrevo a nossa história em textos que tu rescreves por achares que não te compreendo. Dizes que penso saber tudo mas que estou muito longe da realidade que dizes também não conhecer. Eu só quero pegar no barro lamacento das nossas vidas e ser o artífice que o transforma. Não sei exactamente em quê nem em que sentido. A textura das palavras não tem de ser um caleidoscópio, toda a acção não tem necessariamente de ser um filme, até porque há momentos que não deviam ter banda sonora como o nosso primeiro beijo entre as buzinas estridentes de dois camiões cisterna, comentas tu. Foi mais marcante assim, rematas. Eu não ligo, e continuo a edificar o palácio do teu corpo com as suas janelas negras, o telhado amarelo com telhas curtas como erva seca e amarela espetada ao sabor do vento, as paredes caiadas de um branco luminoso e acabo com a descrição das portas trancadas. Tu riscas a última palavra que substituis pelo termo seladas. Eu olho para ti com ar incrédulo mas tu sorris e abanas a cabeça confirmando o que escreveras. As palavras continuam a chegar como convidados de uma grande festa que nós, anfitriões da mansão do nosso livro, recebemos cordialmente. Expulsas sempre os meus convidados que achas indesejáveis com um ar arrogante de dona de casa zelosa. Às vezes falo de ti, embora tu nunca te refiras a mim de nenhuma maneira. A história é tua e já te expões o suficiente, dizes tu. Gosto dos teus beijos misturados no vapor da madeira e do álcool do vinho do Porto. Descrevo o momento em que te disse amo-te pela primeira vez na minha vida de uma forma totalmente fantasiada. Tu riscas tudo com uma violência que até fura o papel. Encostas-te à janela e ficas a olhar para um ponto de fuga que eu não consigo perspectivar. Temos estes momentos em que andamos perdidos até eu te encontrar. Este momento até é daqueles que têm banda sonora, mas eu desligo a aparelhagem. O silêncio pronuncia a discórdia. Sabes que eu o fiz de propósito, dizem-me os teus olhos reflectidos no vidro. Sempre soubemos utilizar os espelhos, uma recordação que o teu sorriso mimetiza o instante em que os teus olhos se enquadraram nos meus no dia que nos conhecemos. O silêncio perdura e só o ruído do meu gesto de mudar de página irrompe como uma trégua. Rescrevo o momento riscado. Desta vez conto como tudo foi: a despedida à porta de tua casa; o momento em que me esquivei a dizer algo; a tua insistência para eu dizer o que me tinha apetecido dizer; eu a dizer que não era nada, que era uma asneira; descrevo a maneira como desci as escadas, a raiva que demonstrei contra as inocentes flores. Conto os meus pensamentos enquanto acendia um cigarro ainda à porta de tua casa, descrevo a minha covardia toda sem a menor piedade de mim próprio. Descrevo o momento em que me abraçaste por trás com o teu corpo quente colado ao meu, as lágrimas que escorreram mostrando o desconforto que sentia comigo mesmo, e o momento em que me rodaste para te enfrentar, contigo a lavar-me o rosto com os teus beijos fingindo serem toalhas. Faço uma pausa na escrita. Acendo um cigarro lavado no trago amargo do Porto por falta dos teus beijos. Vejo a nossa mansão do texto em ruínas após as tuas demolições violentas, debruço-me sobre o ultimo projecto que as minhas palavras anunciavam. A recordação do momento deixa-me fechado num monólogo interior. Fecho os olhos nas palmas das mãos como se fizesse um cinema com o filme das recordações só para mim. Tu vens ter comigo, enrolas-te nas minhas costas debruçando o queixo sobre o meu ombro. Espreitas o momento vivido através da janela do tempo que as minhas palavras abrem. Guardas-me as mãos no cofre forte das tuas. Continua, pedes-me. Não consigo. Não sei porque me custa tanto abandonar-me a alguém, o mesmo se passa quando tenho de descrever o abandono. Tens medo, dizes-me roubando os pensamentos mais íntimos. É como se te entregasse a minha vida. Tu percebes, dominas-me e por isso tudo isto me custa como se me fosse perder a mim próprio. Tu percebes tudo, sempre percebeste. És esperta como o ar que tudo preenche. As tuas caricias incitam a segurança que sabes que me falta. Estás dentro dos meus receios como um bálsamo, libertando um perfume intenso de tranquilidade. O colete de forças do teu desejo domina-me. Despe-te pedes tu, libertando-me as mãos das algemas das tuas. Eu pego na caneta, na folha, e escavo no mais fundo da alma, as razões e sentimentos que me perturbavam, que me condicionavam naquele momento, no segundo anterior a dizer que te amava. Tu acaricias-me as costas, pele com pele debaixo da camisa. Massajas-me a alma com o unguento da segurança. Eu descrevo tudo. As palavras vêm de dentro como o tijolo e a argamassa da nossa mansão de texto. Pinto paredes, destruo paredes. Faço aberturas onde não as havia, janelas para a alma. Descrevo recantos que são passagens secretas para sítios grotescos, tão próximos dos pesadelos. Mostro-te os terraços que dão para o céu de sonhos, e jardins que são o paraíso reinventando. Sou mais do que uma alma despida, sou a pele e o osso das palavras. O sangue pulula no interstício das linhas, e tu bebes a sangria que derrete na avalanche dos parágrafos. Paro de escrever quando a tua mão acaricia o meu sexo e os teus lábios anunciam a ordem no lóbulo trémulo do ouvido. Chega. A minha alma soluça baixinho, a água presa na barragem das pálpebras prestes a galgar o dique. A mansão do texto é, agora, apenas um auto-retrato meu. Eu precisava de ter a certeza, agarrar os teus medos e mistura-los nos meus, e fazer disso a massa consistente que proteja a nossa mansão das agressões exteriores, tinha tanto medo de que não fosses capaz de o fazer e libertar-me também das minhas inseguranças. Escreves tu no final, como um grande plano de uma flor no nosso jardim de paisagens interiores. Os corpos deitam-se empurrados pela aragem do espirito, as portas da alma abertas fazendo a corrente de ar violento libertar o pólen do desejo, e as portas do corpo que deixaste arrombar quebrando o selo do lacre. Foi quando dissestes que me amavas e eu o repeti fazendo eco do meu amor sem esforço algum. Tu pegaste fogo à mansão do texto libertando-me do inferno das meus medos com o fogo do teu desejo. Agora tenho-te para sempre na memória, segredaste-me. Eu também.
para a Bébé
Não sei porque chamo janelas aos teus olhos e portas ao teu sexo, não sei. O livro que te escrevo é uma mansão com imensos quartos vazios onde as palavras se vão deitar. Escrevo a nossa história em textos que tu rescreves por achares que não te compreendo. Dizes que penso saber tudo mas que estou muito longe da realidade que dizes também não conhecer. Eu só quero pegar no barro lamacento das nossas vidas e ser o artífice que o transforma. Não sei exactamente em quê nem em que sentido. A textura das palavras não tem de ser um caleidoscópio, toda a acção não tem necessariamente de ser um filme, até porque há momentos que não deviam ter banda sonora como o nosso primeiro beijo entre as buzinas estridentes de dois camiões cisterna, comentas tu. Foi mais marcante assim, rematas. Eu não ligo, e continuo a edificar o palácio do teu corpo com as suas janelas negras, o telhado amarelo com telhas curtas como erva seca e amarela espetada ao sabor do vento, as paredes caiadas de um branco luminoso e acabo com a descrição das portas trancadas. Tu riscas a última palavra que substituis pelo termo seladas. Eu olho para ti com ar incrédulo mas tu sorris e abanas a cabeça confirmando o que escreveras. As palavras continuam a chegar como convidados de uma grande festa que nós, anfitriões da mansão do nosso livro, recebemos cordialmente. Expulsas sempre os meus convidados que achas indesejáveis com um ar arrogante de dona de casa zelosa. Às vezes falo de ti, embora tu nunca te refiras a mim de nenhuma maneira. A história é tua e já te expões o suficiente, dizes tu. Gosto dos teus beijos misturados no vapor da madeira e do álcool do vinho do Porto. Descrevo o momento em que te disse amo-te pela primeira vez na minha vida de uma forma totalmente fantasiada. Tu riscas tudo com uma violência que até fura o papel. Encostas-te à janela e ficas a olhar para um ponto de fuga que eu não consigo perspectivar. Temos estes momentos em que andamos perdidos até eu te encontrar. Este momento até é daqueles que têm banda sonora, mas eu desligo a aparelhagem. O silêncio pronuncia a discórdia. Sabes que eu o fiz de propósito, dizem-me os teus olhos reflectidos no vidro. Sempre soubemos utilizar os espelhos, uma recordação que o teu sorriso mimetiza o instante em que os teus olhos se enquadraram nos meus no dia que nos conhecemos. O silêncio perdura e só o ruído do meu gesto de mudar de página irrompe como uma trégua. Rescrevo o momento riscado. Desta vez conto como tudo foi: a despedida à porta de tua casa; o momento em que me esquivei a dizer algo; a tua insistência para eu dizer o que me tinha apetecido dizer; eu a dizer que não era nada, que era uma asneira; descrevo a maneira como desci as escadas, a raiva que demonstrei contra as inocentes flores. Conto os meus pensamentos enquanto acendia um cigarro ainda à porta de tua casa, descrevo a minha covardia toda sem a menor piedade de mim próprio. Descrevo o momento em que me abraçaste por trás com o teu corpo quente colado ao meu, as lágrimas que escorreram mostrando o desconforto que sentia comigo mesmo, e o momento em que me rodaste para te enfrentar, contigo a lavar-me o rosto com os teus beijos fingindo serem toalhas. Faço uma pausa na escrita. Acendo um cigarro lavado no trago amargo do Porto por falta dos teus beijos. Vejo a nossa mansão do texto em ruínas após as tuas demolições violentas, debruço-me sobre o ultimo projecto que as minhas palavras anunciavam. A recordação do momento deixa-me fechado num monólogo interior. Fecho os olhos nas palmas das mãos como se fizesse um cinema com o filme das recordações só para mim. Tu vens ter comigo, enrolas-te nas minhas costas debruçando o queixo sobre o meu ombro. Espreitas o momento vivido através da janela do tempo que as minhas palavras abrem. Guardas-me as mãos no cofre forte das tuas. Continua, pedes-me. Não consigo. Não sei porque me custa tanto abandonar-me a alguém, o mesmo se passa quando tenho de descrever o abandono. Tens medo, dizes-me roubando os pensamentos mais íntimos. É como se te entregasse a minha vida. Tu percebes, dominas-me e por isso tudo isto me custa como se me fosse perder a mim próprio. Tu percebes tudo, sempre percebeste. És esperta como o ar que tudo preenche. As tuas caricias incitam a segurança que sabes que me falta. Estás dentro dos meus receios como um bálsamo, libertando um perfume intenso de tranquilidade. O colete de forças do teu desejo domina-me. Despe-te pedes tu, libertando-me as mãos das algemas das tuas. Eu pego na caneta, na folha, e escavo no mais fundo da alma, as razões e sentimentos que me perturbavam, que me condicionavam naquele momento, no segundo anterior a dizer que te amava. Tu acaricias-me as costas, pele com pele debaixo da camisa. Massajas-me a alma com o unguento da segurança. Eu descrevo tudo. As palavras vêm de dentro como o tijolo e a argamassa da nossa mansão de texto. Pinto paredes, destruo paredes. Faço aberturas onde não as havia, janelas para a alma. Descrevo recantos que são passagens secretas para sítios grotescos, tão próximos dos pesadelos. Mostro-te os terraços que dão para o céu de sonhos, e jardins que são o paraíso reinventando. Sou mais do que uma alma despida, sou a pele e o osso das palavras. O sangue pulula no interstício das linhas, e tu bebes a sangria que derrete na avalanche dos parágrafos. Paro de escrever quando a tua mão acaricia o meu sexo e os teus lábios anunciam a ordem no lóbulo trémulo do ouvido. Chega. A minha alma soluça baixinho, a água presa na barragem das pálpebras prestes a galgar o dique. A mansão do texto é, agora, apenas um auto-retrato meu. Eu precisava de ter a certeza, agarrar os teus medos e mistura-los nos meus, e fazer disso a massa consistente que proteja a nossa mansão das agressões exteriores, tinha tanto medo de que não fosses capaz de o fazer e libertar-me também das minhas inseguranças. Escreves tu no final, como um grande plano de uma flor no nosso jardim de paisagens interiores. Os corpos deitam-se empurrados pela aragem do espirito, as portas da alma abertas fazendo a corrente de ar violento libertar o pólen do desejo, e as portas do corpo que deixaste arrombar quebrando o selo do lacre. Foi quando dissestes que me amavas e eu o repeti fazendo eco do meu amor sem esforço algum. Tu pegaste fogo à mansão do texto libertando-me do inferno das meus medos com o fogo do teu desejo. Agora tenho-te para sempre na memória, segredaste-me. Eu também.
RAP
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Chegada hà momentos de uma incursão pelo interior do país, tenho uma descoberta a partilhar. Depois de algum tempo de pesquisa, vejo que consegui ter uma noção sobre a abreviatura da música americana que tanto sucesso tem tido, creio tratar-se de "Real Appaling Phenomenon".
PS - este post nada tem a ver com a abreviatura do nome do Mr do blog do Stinky Cat
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Chegada hà momentos de uma incursão pelo interior do país, tenho uma descoberta a partilhar. Depois de algum tempo de pesquisa, vejo que consegui ter uma noção sobre a abreviatura da música americana que tanto sucesso tem tido, creio tratar-se de "Real Appaling Phenomenon".
PS - este post nada tem a ver com a abreviatura do nome do Mr do blog do Stinky Cat
I just got it
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Lembrando à pouco uma situação passada, consigo agora melhor perceber o ódio descabido aos EUA :
Há uns anos atrás, uns novos vizinhos vieram viver para a casa em frente da minha tia, que é na mesma rua que a minha. Ora estavam as duas minhas irmãs mais novas a falar com um amigo em frente à nossa casa (a poucos metros da casa do vizinho) quando para espanto delas, de entre uns arbustos ouvem alguém dizer " I will kill you, you fucking americans!", elas assustadas vieram cá dentro chamar-me (além de mais velha, à época tinha alguma prática de auto-defesa por motivos que poderemos chamar de saúde). Quando saí verifiquei que se tratava do filho do vizinho, que no dia seguinte fiquei a saber sofrer de esquizófrenia. Desde então, dado o meu espírito reduzido, cataloguei as atitudes de anti-americanismo gratuíto como de cariz iminetemente esquizofrénico.
A perfeição não é para todos.
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Lembrando à pouco uma situação passada, consigo agora melhor perceber o ódio descabido aos EUA :
Há uns anos atrás, uns novos vizinhos vieram viver para a casa em frente da minha tia, que é na mesma rua que a minha. Ora estavam as duas minhas irmãs mais novas a falar com um amigo em frente à nossa casa (a poucos metros da casa do vizinho) quando para espanto delas, de entre uns arbustos ouvem alguém dizer " I will kill you, you fucking americans!", elas assustadas vieram cá dentro chamar-me (além de mais velha, à época tinha alguma prática de auto-defesa por motivos que poderemos chamar de saúde). Quando saí verifiquei que se tratava do filho do vizinho, que no dia seguinte fiquei a saber sofrer de esquizófrenia. Desde então, dado o meu espírito reduzido, cataloguei as atitudes de anti-americanismo gratuíto como de cariz iminetemente esquizofrénico.
A perfeição não é para todos.
sexta-feira, maio 09, 2003
ENFIN
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Escrevo agora um post que deveria ter sido colocado há uns dias atrás, mas por motivos de tempo (durante o dia os ditos são sempre mais breves) e de logística (às vezes acho que este aparelho funciona a carvão...) só posso agora abordar o tema, na sequência de um programa espanhol que passou na SIC Notícias sobre os movimentos anti-globalização. O que se pode depreender deste tipo de programas é que a maior parte das pessoas fervelhantes adeptas, o são na realidade dada a sua condição politica e não por uma verdadeira lógica racional explicativa. Não me sai da memória a opinão de um entrevistado "Se não gostas de ficar em casa a ver Big Brothers, Operações Triunfo, Noites Marcianas e programas sobre a vida dos ricos e famosos, então aderes a este tipo de acções que até dá para ajudar o mundo!" - palavras para quê?
Não se trata já de uma integração de uma acção moral na politica, mas sim da tentativa de transpor uma ideologia para a acção quotidiana. O simplismo redutor das afirmações arrepiam qualquer alma que tenha dois dedos de cabeça e pelo menos um neurónio (digo sempre isto dada a minha condição uni-neuronial). Chego a crer que de tanto serem anti tudo, e se calhar por isso mesmo, são incapazes de ter uma visão mais abrangente (sim porque em quase todos os assuntos mencionados como anti-globalização a realidade é que acabam sempre por tratar o anti-americanismo).
Se acho justo o mundo à minha volta como ele se apresenta? Não, não acho. Mas daí a ter certezas conceptuais de como TODOS deveriam actuar, puff! ainda vai um pouco.
Bem, por motivos de força maior, vou ter agora de me ausentar. Em breve voltaremos ao assunto.
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Escrevo agora um post que deveria ter sido colocado há uns dias atrás, mas por motivos de tempo (durante o dia os ditos são sempre mais breves) e de logística (às vezes acho que este aparelho funciona a carvão...) só posso agora abordar o tema, na sequência de um programa espanhol que passou na SIC Notícias sobre os movimentos anti-globalização. O que se pode depreender deste tipo de programas é que a maior parte das pessoas fervelhantes adeptas, o são na realidade dada a sua condição politica e não por uma verdadeira lógica racional explicativa. Não me sai da memória a opinão de um entrevistado "Se não gostas de ficar em casa a ver Big Brothers, Operações Triunfo, Noites Marcianas e programas sobre a vida dos ricos e famosos, então aderes a este tipo de acções que até dá para ajudar o mundo!" - palavras para quê?
Não se trata já de uma integração de uma acção moral na politica, mas sim da tentativa de transpor uma ideologia para a acção quotidiana. O simplismo redutor das afirmações arrepiam qualquer alma que tenha dois dedos de cabeça e pelo menos um neurónio (digo sempre isto dada a minha condição uni-neuronial). Chego a crer que de tanto serem anti tudo, e se calhar por isso mesmo, são incapazes de ter uma visão mais abrangente (sim porque em quase todos os assuntos mencionados como anti-globalização a realidade é que acabam sempre por tratar o anti-americanismo).
Se acho justo o mundo à minha volta como ele se apresenta? Não, não acho. Mas daí a ter certezas conceptuais de como TODOS deveriam actuar, puff! ainda vai um pouco.
Bem, por motivos de força maior, vou ter agora de me ausentar. Em breve voltaremos ao assunto.
FLECOS
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No fim desta rúbrica, tenho de agradecer a algumas das pessoas que tornaram a estadia tão agradável.
Acima de todos, o nosso agradeciamento ao David (amigo de longa data e revisto só recentemente), à sua simpática "novia" Casi e a todos os seus amigos (Jorge, António, outros Davids e aos Pepes!).
iQue lo paseis fenomenal! Ya nos veremos en Verano!
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No fim desta rúbrica, tenho de agradecer a algumas das pessoas que tornaram a estadia tão agradável.
Acima de todos, o nosso agradeciamento ao David (amigo de longa data e revisto só recentemente), à sua simpática "novia" Casi e a todos os seus amigos (Jorge, António, outros Davids e aos Pepes!).
iQue lo paseis fenomenal! Ya nos veremos en Verano!
Bulls eye!
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Nem de propósito escreve o colega uns posts abaixo sobre a natureza da mentira, é certo que sob uma perspectiva artística, mas penso ser de todo possível considerar a agora furagida Presidente da Câmara uma verdadeira artista!
E ainda mais inédito será a posição partidária dos colegas camarários assim como de alguns dos locais, o que será que querem demosntrar? Que todos temos o condão de, dadas as oportunidades, alterar as regras do jogo, contornar a lei a nosso favor? E ainda falam da falta de rectidão da classe politica! Como deverão os politicos agir se se sentem salvaguardados pelos conterraneos?
Outro toque fabuloso neste folhetim foi a declaração da dita Senhora lida em todos os telejornais em tom piedoso...
Fiquei triste, é neste país que eu vivo.
Espero que a justiça seja um pouco mais desenvolta em casos como este.
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Nem de propósito escreve o colega uns posts abaixo sobre a natureza da mentira, é certo que sob uma perspectiva artística, mas penso ser de todo possível considerar a agora furagida Presidente da Câmara uma verdadeira artista!
E ainda mais inédito será a posição partidária dos colegas camarários assim como de alguns dos locais, o que será que querem demosntrar? Que todos temos o condão de, dadas as oportunidades, alterar as regras do jogo, contornar a lei a nosso favor? E ainda falam da falta de rectidão da classe politica! Como deverão os politicos agir se se sentem salvaguardados pelos conterraneos?
Outro toque fabuloso neste folhetim foi a declaração da dita Senhora lida em todos os telejornais em tom piedoso...
Fiquei triste, é neste país que eu vivo.
Espero que a justiça seja um pouco mais desenvolta em casos como este.
Em Felgueiras
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Na reportagem da RTP (??) varios transeuntes foram interrogados pela repórter. Coitada da Senhora Presidente da Cambara que tanto bem fez pela nossa terrinha. Desde que nos convenha, o nosso humano e eterno egoísmo, os erros, mesmo que de princípio, podem passar em branco??? A Justiça anda mal em Portugal, até mesmo os linchamentos populares já não são o que eram.
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Na reportagem da RTP (??) varios transeuntes foram interrogados pela repórter. Coitada da Senhora Presidente da Cambara que tanto bem fez pela nossa terrinha. Desde que nos convenha, o nosso humano e eterno egoísmo, os erros, mesmo que de princípio, podem passar em branco??? A Justiça anda mal em Portugal, até mesmo os linchamentos populares já não são o que eram.
O Amor Por Outras Razões (01)
Pedro: O jantar
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A felicidade não é um estado de pila. Arranjei uma namorada nova, em idade e por só agora a ter conhecido. Ando sempre com vontade de fazer amor com ela, e ela sempre a dizer-me que não. Que ainda é cedo. Como se estas vontades, na verdade, tivessem relógio. É terrível começarmos aos beijos e depois pararmos por aí. Mas o que realmente me perturba, se é que posso chamar perturbação a isto, é que nunca passei momentos tão fantásticos na minha vida. Com uma catraia, como diz a minha madastra que é lisboeta. Estou feliz. Até penso que estou apaixonado. Hoje dei por mim a pensar nela mais de cem vezes. Já telefonei três vezes para ela: a convida-la para jantar, a confirmar o jantar, e a pedir-lhe que viesse bonita. Como se fosse preciso pedir-lhe.
Preparei tudo: pai fora; madrasta com ele; irmão mais novo comprado pelo último jogo Sega, ir com pais; irmã com idade de saber das coisas piscar olho ao irmão e dizer pais que dormir fora nas amigas. Sinto-me um estrangeiro na minha própria família. Até com os amigos: Carlota fazer jantar e preparar mesa; amiga de Carlota (bonita!) comprar flores; Paulo escolher música: dizer que nunca falhar; João ir busca-la para dar tempo de me arranjar; final da noite todos juntos no bar, comemorar anos. Os meus. Não há mais prendas depois deste esquema todo, disse o Paulo.
A música do Paulo surtiu efeito logo nos primeiros segundos com ela muito bonita a dar-me muitos beijinhos e parabéns: pelo aniversário e pela bela mesa posta pela Carlota. Por tudo. Começamos com caricías e pouca vontade de jantar. Despi-a um pouco só para espreitar-lhe os seios. Macios. O Paulo é que sabe… nestas coisas da música digo eu. Ficam muito românticas, com os não a serem cada vez mais talvez.
E depois, aconteceu. Ela sempre envergonhada, tímida, quase com medo. Quase a chorar e foi um momento muito confuso. Eu a sentir-me muito estranho. Quase a sentir que a tinha violado. Que a tinha obrigado a fazer uma coisa inacreditavelmente má. Não me olhou durante o jantar, nem mesmo depois, no carro a caminho do pub para ir ter com o grupo. Nem entramos de mão dada pois ela não quis. Foi logo à carteira buscar um cigarro. Fumou muito no carro também. Toda a gente a perguntar com os olhos. Os meus a tentarem dizer que nada se tinha passado. Ninguém a perceber nada. Ela a pedir para leva-la para casa e a amiga da Carlota, ainda mais bonita do que antes a olhar fixamente para mim. Eu a pensar: Inês não me faças isso! Eu a dizer que levava a Ana a casa, a Inês a perguntar: Pedro dás-me boleia?
Pedro: O jantar
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A felicidade não é um estado de pila. Arranjei uma namorada nova, em idade e por só agora a ter conhecido. Ando sempre com vontade de fazer amor com ela, e ela sempre a dizer-me que não. Que ainda é cedo. Como se estas vontades, na verdade, tivessem relógio. É terrível começarmos aos beijos e depois pararmos por aí. Mas o que realmente me perturba, se é que posso chamar perturbação a isto, é que nunca passei momentos tão fantásticos na minha vida. Com uma catraia, como diz a minha madastra que é lisboeta. Estou feliz. Até penso que estou apaixonado. Hoje dei por mim a pensar nela mais de cem vezes. Já telefonei três vezes para ela: a convida-la para jantar, a confirmar o jantar, e a pedir-lhe que viesse bonita. Como se fosse preciso pedir-lhe.
Preparei tudo: pai fora; madrasta com ele; irmão mais novo comprado pelo último jogo Sega, ir com pais; irmã com idade de saber das coisas piscar olho ao irmão e dizer pais que dormir fora nas amigas. Sinto-me um estrangeiro na minha própria família. Até com os amigos: Carlota fazer jantar e preparar mesa; amiga de Carlota (bonita!) comprar flores; Paulo escolher música: dizer que nunca falhar; João ir busca-la para dar tempo de me arranjar; final da noite todos juntos no bar, comemorar anos. Os meus. Não há mais prendas depois deste esquema todo, disse o Paulo.
A música do Paulo surtiu efeito logo nos primeiros segundos com ela muito bonita a dar-me muitos beijinhos e parabéns: pelo aniversário e pela bela mesa posta pela Carlota. Por tudo. Começamos com caricías e pouca vontade de jantar. Despi-a um pouco só para espreitar-lhe os seios. Macios. O Paulo é que sabe… nestas coisas da música digo eu. Ficam muito românticas, com os não a serem cada vez mais talvez.
E depois, aconteceu. Ela sempre envergonhada, tímida, quase com medo. Quase a chorar e foi um momento muito confuso. Eu a sentir-me muito estranho. Quase a sentir que a tinha violado. Que a tinha obrigado a fazer uma coisa inacreditavelmente má. Não me olhou durante o jantar, nem mesmo depois, no carro a caminho do pub para ir ter com o grupo. Nem entramos de mão dada pois ela não quis. Foi logo à carteira buscar um cigarro. Fumou muito no carro também. Toda a gente a perguntar com os olhos. Os meus a tentarem dizer que nada se tinha passado. Ninguém a perceber nada. Ela a pedir para leva-la para casa e a amiga da Carlota, ainda mais bonita do que antes a olhar fixamente para mim. Eu a pensar: Inês não me faças isso! Eu a dizer que levava a Ana a casa, a Inês a perguntar: Pedro dás-me boleia?
quinta-feira, maio 08, 2003
Reallity sucks!
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O nosso estreante e douto novo colega da blogosfera, verifica muito "abruptamente" que a intlectualidade lusa está virada à esquerda. Penso que já todos nós temos essa noção, razão pela qual existe na blogosfera uma corrente verdadeiramente contrária. Antes de mais, as nossas cordiais saudações a tão grande figura.
Willcomen!
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O nosso estreante e douto novo colega da blogosfera, verifica muito "abruptamente" que a intlectualidade lusa está virada à esquerda. Penso que já todos nós temos essa noção, razão pela qual existe na blogosfera uma corrente verdadeiramente contrária. Antes de mais, as nossas cordiais saudações a tão grande figura.
Willcomen!
Sobre a verdade e a mentira no sentido extramoral
comentário a Nietzsche
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A arte assenta na inexactidão do ver. A arte como imagem; imagem não necessariamente visual mas também auditiva, táctil, gustativa ou sensorial, e para não faltar um único sentido, também olfactiva. O mundo interior está pejado de imagens. A própria palavra, seja ela transmitida via oral ou via visual (a escrita), é portadora da imagem. A metáfora da coisa-em-si. As imagens são pensamentos originais, a aparência. E, se interiores, as aparências, elas provêm do ser-em-si e como tal transfiguradas pela percepção individual. E, de indivíduo para indivíduo, a percepção da realidade, a natureza que nos rodeia, é variável, distinta porque única, individualizada. Duas pessoas não podem ter as mesmas percepções, elas não podem coincidir no mesmo espaço-tempo. A visão do mundo é infinita, porque o ser que conhece, que perfaz a operação aritmética de transformar a coisa-em-si em imagem cognoscível, em conceptualizar o mundo, contêm em si a possibilidade de um número infinito de interpretações. Essa metaforização do mundo, a metamorfose da coisa-em-si em objecto, é o conceito: a imagem convencionalizada. Esta convencionalização permite a comunicação, a teórica proliferação de verdades. As verdades são apenas imagens da imagem original, mas sempre limitadas em relação a esta. Elas não são tão abrangentes, o vermelho é vermelho, o azul é azul, mas dentro do vermelho existe uma grande variedade de tons e o mesmo para o azul. As nossas verdades são conceitos. A uma identidade corresponde um nome, um conceito. Ou seja, o nosso pensar é um denominar, um nomear. Um conceito é uma generalização de particularidades pertencentes a uma identidade distinta de outra identidade. Somamos os elementos em grupos de quantidades e afastamo-nos das suas qualidade de espécie. Uma folha é um conceito para uma identidade especifica mas não nos dá a informação das suas qualidades. Quantas formas pode ter uma folha? Se pedíssemos às pessoas para desenhar uma folha, obteríamos uma quantidade enorme de diferentes tipos de imagem desse conceito, cada uma com as suas propriedades, qualidades diferentes. Por outro lado, se arrancássemos uma folha de uma árvore e a colocássemos à frente de vários indivíduos e perguntássemos que objecto era aquele a resposta seria, creio que invariavelmente, uma folha. É a antropormofização do conceito, mas não abrange a essência da coisa-em-si. O acto de partirmos de um conceito e de recriarmos outra vez uma imagem desse objecto é uma relação estética, um acto criativo. A libertação às subordinações, às delimitações; a criação de um mundo que se opõe ao outro mundo, o das primeiras impressões. A verdade, a imagem do conceito convencionalizada, é uma herança de numerosas gerações de homens e que enfim aparece no género humano sempre na mesma ocasião (...) da mesma forma, um sonho eternamente repetido seria sentido e julgado realidade pura. A partir desse momento referimo-nos ao objecto sempre de modo idêntico, convencionalizado pelo processo tautológico. É a mentira do conhecimento. É a ilusão da vida. Pela razão, pois é o intelecto que se toma ao serviço da vontade de viver. As verdades tornam-se as ilusões que o homem se esqueceu que eram ilusões. A realidade apreendida pela razão não é verdadeira. As designações e as coisas coincidem? Não. Porque uma designação não cobre a abrangência das propriedades do objecto que lhe é inerente. A veracidade habitual, a convencionalizada, não passa de uma máscara sem consciência da máscara. O acto de mentir é a inversão, a adulteração, ou substituição voluntária das designações, um outro uso das convenções. O mentiroso faz uso das designações válidas, as palavras, para fazer com que o irreal apareça como real. O acto de mentir é um acto estético, é o maior prazer, porque sob a forma da mentira, diz a verdade de uma forma perfeitamente geral, até porque os nossos instintos de verdade assentam no fundamento da mentira (...) É um jogo com aquilo que é sério como quando o actor desempenha o papel de rei de uma forma mais real do que a realidade. Quanto mais próximos estivermos das qualidades próprias do conceito quando convencionalizado mais próximos estamos da veracidade, e ao mesmo tempo, mais próximos da mentira da realidade. Porque a realidade não possui características de padronização, ela está carregada de pormenores que fogem aos limites dos conceitos. Mas o homem precisa da verdade, porque é o seu sustentáculo da vida, é dai que lhe nasce o instinto da verdade, a necessidade de dizer isto é vermelho, isto é frio. É a racionalização da visão (no sentido amplo de recolha de imagens), o acto acomodado. O homem esqueceu-se de si como sujeito de criação artística e assim vive com algum repouso, segurança e coerência, pois deixa de ter consciência da inacessibilidade do conhecimento das coisas-em-si mesmas e de que foi ele que criou todos os conceitos, por crer que eles são a verdade em si. Se saísse desta crença deixaria de ter consciência de si. É que a arte despedaça os tecidos dos conceitos. A arte é a inexactidão do ver. E essa inexactidão é deliberada, consciente. É a ruptura com os códigos preestabelecidos, é a alegria de mentir, de romper com as verdades institucionalizadas. A arte é transgressão. E fá-lo de modo intuitivo, o artista é o homem intuitivo ele toma como real a vida disfarçada em aparência e beleza, é o lado de Dionísios. Na arte, todo o existente é transfigurado, não apenas o belo no sentido restrito do termo, mas também o horrível, a fealdade, tudo o que há de terrível na existência brilha com a luminosidade da transfiguração. Na arte, o fundo original do ser encontra-se a si próprio. O acto estético e criativo é o retorno às verdades primeiras, o retorno às verdades primeiras, o regresso às primeiras impressões sobre o mundo, é a destruição das verdades convencionalizadas. É a redescoberta do ser-em-si, o confronto do ser com a realidade que o envolve, a pulsão de uma energia dionisíaca portadora da alegria de acordar das crenças. É a inexactidão do ver, ou melhor, a verdadeira visão do mundo da individualização, da interpretação, da percepção pessoal; a arte vem de dentro, do instinto. A arte é a mentira do mundo, mesmo quando se quer parecer com ele. É a alegria de mentir, pois não há arte sem mentira.
comentário a Nietzsche
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A arte assenta na inexactidão do ver. A arte como imagem; imagem não necessariamente visual mas também auditiva, táctil, gustativa ou sensorial, e para não faltar um único sentido, também olfactiva. O mundo interior está pejado de imagens. A própria palavra, seja ela transmitida via oral ou via visual (a escrita), é portadora da imagem. A metáfora da coisa-em-si. As imagens são pensamentos originais, a aparência. E, se interiores, as aparências, elas provêm do ser-em-si e como tal transfiguradas pela percepção individual. E, de indivíduo para indivíduo, a percepção da realidade, a natureza que nos rodeia, é variável, distinta porque única, individualizada. Duas pessoas não podem ter as mesmas percepções, elas não podem coincidir no mesmo espaço-tempo. A visão do mundo é infinita, porque o ser que conhece, que perfaz a operação aritmética de transformar a coisa-em-si em imagem cognoscível, em conceptualizar o mundo, contêm em si a possibilidade de um número infinito de interpretações. Essa metaforização do mundo, a metamorfose da coisa-em-si em objecto, é o conceito: a imagem convencionalizada. Esta convencionalização permite a comunicação, a teórica proliferação de verdades. As verdades são apenas imagens da imagem original, mas sempre limitadas em relação a esta. Elas não são tão abrangentes, o vermelho é vermelho, o azul é azul, mas dentro do vermelho existe uma grande variedade de tons e o mesmo para o azul. As nossas verdades são conceitos. A uma identidade corresponde um nome, um conceito. Ou seja, o nosso pensar é um denominar, um nomear. Um conceito é uma generalização de particularidades pertencentes a uma identidade distinta de outra identidade. Somamos os elementos em grupos de quantidades e afastamo-nos das suas qualidade de espécie. Uma folha é um conceito para uma identidade especifica mas não nos dá a informação das suas qualidades. Quantas formas pode ter uma folha? Se pedíssemos às pessoas para desenhar uma folha, obteríamos uma quantidade enorme de diferentes tipos de imagem desse conceito, cada uma com as suas propriedades, qualidades diferentes. Por outro lado, se arrancássemos uma folha de uma árvore e a colocássemos à frente de vários indivíduos e perguntássemos que objecto era aquele a resposta seria, creio que invariavelmente, uma folha. É a antropormofização do conceito, mas não abrange a essência da coisa-em-si. O acto de partirmos de um conceito e de recriarmos outra vez uma imagem desse objecto é uma relação estética, um acto criativo. A libertação às subordinações, às delimitações; a criação de um mundo que se opõe ao outro mundo, o das primeiras impressões. A verdade, a imagem do conceito convencionalizada, é uma herança de numerosas gerações de homens e que enfim aparece no género humano sempre na mesma ocasião (...) da mesma forma, um sonho eternamente repetido seria sentido e julgado realidade pura. A partir desse momento referimo-nos ao objecto sempre de modo idêntico, convencionalizado pelo processo tautológico. É a mentira do conhecimento. É a ilusão da vida. Pela razão, pois é o intelecto que se toma ao serviço da vontade de viver. As verdades tornam-se as ilusões que o homem se esqueceu que eram ilusões. A realidade apreendida pela razão não é verdadeira. As designações e as coisas coincidem? Não. Porque uma designação não cobre a abrangência das propriedades do objecto que lhe é inerente. A veracidade habitual, a convencionalizada, não passa de uma máscara sem consciência da máscara. O acto de mentir é a inversão, a adulteração, ou substituição voluntária das designações, um outro uso das convenções. O mentiroso faz uso das designações válidas, as palavras, para fazer com que o irreal apareça como real. O acto de mentir é um acto estético, é o maior prazer, porque sob a forma da mentira, diz a verdade de uma forma perfeitamente geral, até porque os nossos instintos de verdade assentam no fundamento da mentira (...) É um jogo com aquilo que é sério como quando o actor desempenha o papel de rei de uma forma mais real do que a realidade. Quanto mais próximos estivermos das qualidades próprias do conceito quando convencionalizado mais próximos estamos da veracidade, e ao mesmo tempo, mais próximos da mentira da realidade. Porque a realidade não possui características de padronização, ela está carregada de pormenores que fogem aos limites dos conceitos. Mas o homem precisa da verdade, porque é o seu sustentáculo da vida, é dai que lhe nasce o instinto da verdade, a necessidade de dizer isto é vermelho, isto é frio. É a racionalização da visão (no sentido amplo de recolha de imagens), o acto acomodado. O homem esqueceu-se de si como sujeito de criação artística e assim vive com algum repouso, segurança e coerência, pois deixa de ter consciência da inacessibilidade do conhecimento das coisas-em-si mesmas e de que foi ele que criou todos os conceitos, por crer que eles são a verdade em si. Se saísse desta crença deixaria de ter consciência de si. É que a arte despedaça os tecidos dos conceitos. A arte é a inexactidão do ver. E essa inexactidão é deliberada, consciente. É a ruptura com os códigos preestabelecidos, é a alegria de mentir, de romper com as verdades institucionalizadas. A arte é transgressão. E fá-lo de modo intuitivo, o artista é o homem intuitivo ele toma como real a vida disfarçada em aparência e beleza, é o lado de Dionísios. Na arte, todo o existente é transfigurado, não apenas o belo no sentido restrito do termo, mas também o horrível, a fealdade, tudo o que há de terrível na existência brilha com a luminosidade da transfiguração. Na arte, o fundo original do ser encontra-se a si próprio. O acto estético e criativo é o retorno às verdades primeiras, o retorno às verdades primeiras, o regresso às primeiras impressões sobre o mundo, é a destruição das verdades convencionalizadas. É a redescoberta do ser-em-si, o confronto do ser com a realidade que o envolve, a pulsão de uma energia dionisíaca portadora da alegria de acordar das crenças. É a inexactidão do ver, ou melhor, a verdadeira visão do mundo da individualização, da interpretação, da percepção pessoal; a arte vem de dentro, do instinto. A arte é a mentira do mundo, mesmo quando se quer parecer com ele. É a alegria de mentir, pois não há arte sem mentira.
quarta-feira, maio 07, 2003
UFF...
Já não se pode com a troca de mimos entre o Presidente da Câmara do Porto e o sinistro presidente do FCP!
Se ao primeiro o silêncio seria preferivel, ao segundo nem se fala. Compreendo que se separem as àguas, mas não cheguemos a extremos. A viagem até Sevilha até podia ser aproveitada para verificar como funciona bem uma cidade quando a vontade impera para a organização (foi o que aconteceu na Feria, o trânsito foi cortado perto do recinto ferial e improvisaram-se enormes espaços para estacionamento - pago - que dado a distância, tinham um serviço auto-carros camarários grátis para melhor conforto de queria ir sem preocupações divertir-se).
Para continuar com a situação conforme estava na anterior direcção camarária, nesta altura onde estariamos! (ppssiuu, por alguma razão a casa onde vivia o filho do dirigente desportivo é agora habitada pelo mais famoso capachinho ex-camarário...)
Já não se pode com a troca de mimos entre o Presidente da Câmara do Porto e o sinistro presidente do FCP!
Se ao primeiro o silêncio seria preferivel, ao segundo nem se fala. Compreendo que se separem as àguas, mas não cheguemos a extremos. A viagem até Sevilha até podia ser aproveitada para verificar como funciona bem uma cidade quando a vontade impera para a organização (foi o que aconteceu na Feria, o trânsito foi cortado perto do recinto ferial e improvisaram-se enormes espaços para estacionamento - pago - que dado a distância, tinham um serviço auto-carros camarários grátis para melhor conforto de queria ir sem preocupações divertir-se).
Para continuar com a situação conforme estava na anterior direcção camarária, nesta altura onde estariamos! (ppssiuu, por alguma razão a casa onde vivia o filho do dirigente desportivo é agora habitada pelo mais famoso capachinho ex-camarário...)
A Ultima Hora
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O cinema de Spike Lee sempre foi muito crítico tanto política como socialmente. E se durante toda a sua filmografia anterior a sua bandeira sempre foi a da dos direitos de igualdade dos afro-americanos, desta vez perdeu a cabeça, as estribeiras, e lá mandou foder (sic) toda a gente. Não houve raça alguma, daquelas que pululam no melting pot que é Nova York, que escapasse. Blasfemou impropérios para tudo que era lado, até contra a sua raça: "A escravatura acabou há 137 anos, por isso sigam em frente", como que pondo fim a uma filmografia, e renascesse positivamente no "Fuck me", no individuo, não mais a raça. Se o mundo é tão mau, tão criticável, qual é o meu papel nessa desgraça? As vezes, muitas vezes, e mesmo quase sempre, nos esquecemos que somos intervenientes e propulsores dessa mesmo estado de desgraça.
Por falar em desgraça, um bom tradutor devia começar por dominar a sua língua; erros como "perciona", (i.e. "pressiona") e "salvado" (i.e. "salvo"), entre outros que já não me recordo, são excusados. Se não me engano a tradução estava a cargo da "Ideias e Letras", o seu a seu dono.
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O cinema de Spike Lee sempre foi muito crítico tanto política como socialmente. E se durante toda a sua filmografia anterior a sua bandeira sempre foi a da dos direitos de igualdade dos afro-americanos, desta vez perdeu a cabeça, as estribeiras, e lá mandou foder (sic) toda a gente. Não houve raça alguma, daquelas que pululam no melting pot que é Nova York, que escapasse. Blasfemou impropérios para tudo que era lado, até contra a sua raça: "A escravatura acabou há 137 anos, por isso sigam em frente", como que pondo fim a uma filmografia, e renascesse positivamente no "Fuck me", no individuo, não mais a raça. Se o mundo é tão mau, tão criticável, qual é o meu papel nessa desgraça? As vezes, muitas vezes, e mesmo quase sempre, nos esquecemos que somos intervenientes e propulsores dessa mesmo estado de desgraça.
Por falar em desgraça, um bom tradutor devia começar por dominar a sua língua; erros como "perciona", (i.e. "pressiona") e "salvado" (i.e. "salvo"), entre outros que já não me recordo, são excusados. Se não me engano a tradução estava a cargo da "Ideias e Letras", o seu a seu dono.
terça-feira, maio 06, 2003
A deixa
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Eram dez em ponto quando acertámos os relógios. Só pensava em nunca mais vir trabalhar de ressaca. O João ia à frente a conduzir. Tinha boa pinta dizia a minha namorada. Às vezes penso que ela queria meter-se debaixo dele. Ou em cima que é como ela mais gosta, mas isso são pormenores. Ao lado vai o outro João, que nós chamamos Dj porque uma vez comprou trinta cd's sem os discos, só tinham a mesmo a capa de plástico. De resto, Dj, servia para os diferenciar. Ao meu lado o Gabriel, ou o puto, como nós o chamávamos, apesar de ser sempre o mais sereno e imperturbável de todos nós. Eu por mim ouvia um bocado de música para descontrair mas o João não gosta de ouvir música quando vai trabalhar, e depois, ele é que manda. E como temo sempre que eles não gostem muito de mim, fico calado. De qualquer maneira, sei que sou bom naquilo que faço e que precisam de mim. Isso já me dá algum consolo. O João conduz devagar. É sempre assim quando vai trabalhar, nunca comete nenhuma infracção, o que eu só acho que ainda dá mais nas vistas. Mas ele é que sabe, e é ele que manda. Paramos a cerca de cem metros do trabalho, e o João diz que hoje o puto fica no carro. O João manda e distribui as ordens. Diz para eu seguir à frente e cumprir o combinado, ou seja, o João dá a deixa. Eu entro primeiro no trabalho enquanto eles esperam um pouco para entrarem depois. Eu estou na fila no caixa três. Ouço o barulho de gente a entrar e parecem-me ser eles. A deixa deve estar a aparecer. Lá de trás alguém, grita mãos ao alto! É a minha deixa, saio da fila, puxo do revólver e aponto-o ao caixa que não se mostra muito aflito. Logo a seguir, sinto o cano frio de um revólver no meu pescoço, sensação que já tive oportunidade de experimentar. Rodo devagarinho o corpo, com a arma suspensa no dedo indicador inofensiva. Vejo cinco polícias armados e protegidos até aos dentes e por detrás do grande vidro da fachada do banco, o João, o Dj, e o puto a rirem feitos três anormais.
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Eram dez em ponto quando acertámos os relógios. Só pensava em nunca mais vir trabalhar de ressaca. O João ia à frente a conduzir. Tinha boa pinta dizia a minha namorada. Às vezes penso que ela queria meter-se debaixo dele. Ou em cima que é como ela mais gosta, mas isso são pormenores. Ao lado vai o outro João, que nós chamamos Dj porque uma vez comprou trinta cd's sem os discos, só tinham a mesmo a capa de plástico. De resto, Dj, servia para os diferenciar. Ao meu lado o Gabriel, ou o puto, como nós o chamávamos, apesar de ser sempre o mais sereno e imperturbável de todos nós. Eu por mim ouvia um bocado de música para descontrair mas o João não gosta de ouvir música quando vai trabalhar, e depois, ele é que manda. E como temo sempre que eles não gostem muito de mim, fico calado. De qualquer maneira, sei que sou bom naquilo que faço e que precisam de mim. Isso já me dá algum consolo. O João conduz devagar. É sempre assim quando vai trabalhar, nunca comete nenhuma infracção, o que eu só acho que ainda dá mais nas vistas. Mas ele é que sabe, e é ele que manda. Paramos a cerca de cem metros do trabalho, e o João diz que hoje o puto fica no carro. O João manda e distribui as ordens. Diz para eu seguir à frente e cumprir o combinado, ou seja, o João dá a deixa. Eu entro primeiro no trabalho enquanto eles esperam um pouco para entrarem depois. Eu estou na fila no caixa três. Ouço o barulho de gente a entrar e parecem-me ser eles. A deixa deve estar a aparecer. Lá de trás alguém, grita mãos ao alto! É a minha deixa, saio da fila, puxo do revólver e aponto-o ao caixa que não se mostra muito aflito. Logo a seguir, sinto o cano frio de um revólver no meu pescoço, sensação que já tive oportunidade de experimentar. Rodo devagarinho o corpo, com a arma suspensa no dedo indicador inofensiva. Vejo cinco polícias armados e protegidos até aos dentes e por detrás do grande vidro da fachada do banco, o João, o Dj, e o puto a rirem feitos três anormais.
FLECOS
the days after
Já se passaram alguns dias e ainda sinto no corpo a dureza de alguns dias em que o expoente máximo passa pelas sevilhanas e pelo flamenco. Horas a fio a rodopiar, braço em cima, braço em baixo; o tornear o corpo para contornar o parceiro e zás! volta nova quadra para avançar! A graciosidade das moças faz inveja a qualquer um, a pose dos moçoilos é invejável a qualquer bastinhas de trazer por casa.
As vestes são cuidadas (nós não tivemos coragem de trajarmos os simpáticos "lunares", por consciência da pouca "arte" de momento), mas não deixa de deslumbrar a adesão total ao espírito da festa.
Dança-se nas casetas, dança-se na rua, a música é improvisada por um qualquer objecto repercursor, a festa só não pode parar.
Claro que este género de festas só terá significado para quem nutra algum gosto pela cultura andaluza/cigana (nem a todos parece interessante o lamento garrido de determinadas canções).
No entanto esta cultura sempre foi bem vista lá por casa, é bem expressiva e ritmada, e para quem gosta de dançar...
Como na família temos "bichinhos carpinteiros" (nunca percebi muito bem o que significava, mas a entidade paternal sempre nos descreveu assim por sermos irrequietos), cai bem o espirito movimentado.
Para terminar, caso achem interessante passem por lá, para o ano há mais!
the days after
Já se passaram alguns dias e ainda sinto no corpo a dureza de alguns dias em que o expoente máximo passa pelas sevilhanas e pelo flamenco. Horas a fio a rodopiar, braço em cima, braço em baixo; o tornear o corpo para contornar o parceiro e zás! volta nova quadra para avançar! A graciosidade das moças faz inveja a qualquer um, a pose dos moçoilos é invejável a qualquer bastinhas de trazer por casa.
As vestes são cuidadas (nós não tivemos coragem de trajarmos os simpáticos "lunares", por consciência da pouca "arte" de momento), mas não deixa de deslumbrar a adesão total ao espírito da festa.
Dança-se nas casetas, dança-se na rua, a música é improvisada por um qualquer objecto repercursor, a festa só não pode parar.
Claro que este género de festas só terá significado para quem nutra algum gosto pela cultura andaluza/cigana (nem a todos parece interessante o lamento garrido de determinadas canções).
No entanto esta cultura sempre foi bem vista lá por casa, é bem expressiva e ritmada, e para quem gosta de dançar...
Como na família temos "bichinhos carpinteiros" (nunca percebi muito bem o que significava, mas a entidade paternal sempre nos descreveu assim por sermos irrequietos), cai bem o espirito movimentado.
Para terminar, caso achem interessante passem por lá, para o ano há mais!
Prémio União Latina
Parabens Filipa
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Para os que estão para o lado de Lisboa passem pela Culturgest até 25 de Maio e deleitem-se na Galeria 2 com a next big think da videografia/fotografia em Portugal: Filipa César. Talento e sensibilidade não lhe faltam, que o diga o juri do prestigiado Prémio União Latina. Para quando uma exposição cá pelo Porto?
segunda-feira, maio 05, 2003
Aprendizagem
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No Demografias aprendi que 50% dos portugueses não está interessado na aprendizagem, só falta saber se os outros 50% conseguem aprender!
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No Demografias aprendi que 50% dos portugueses não está interessado na aprendizagem, só falta saber se os outros 50% conseguem aprender!
Saudade
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Um destes dias, estava eu espalmada ao sol na praia com a minha irmã, quando tive um grande e profundo acesso de saudade, sentia falta de puxar as orelhas e a pele do pescoço aos meus cães. Disse ela que era cruel, e eu respondi que nos afectos quase tudo o que nos sabe bem é cruel.
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Um destes dias, estava eu espalmada ao sol na praia com a minha irmã, quando tive um grande e profundo acesso de saudade, sentia falta de puxar as orelhas e a pele do pescoço aos meus cães. Disse ela que era cruel, e eu respondi que nos afectos quase tudo o que nos sabe bem é cruel.
?!?!
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Acho graça aos olhos. Não os vejo como janelas da alma (eu sou míope...).
Mas devo confessar que fiquei alucinada com os olhos de um empregado de uma das casetas, ainda agora se me perguntam qual era a cor, só posso responder com um encolher de ombros. Creio que a melhor descrição foi a da minha irmã, que no dia seguinte (okey, era no próprio dia só que poouucas horas mais tarde, é o que faz deitar-se à hora do almoço), disse ela "ainda agora se fecho os olhos, vejo aqueles olhos a brilhar, como acontece quando se olha para luz e cerramos os olhos fortememte" e depois completou lacónicamente " ou então ainda estou com os copos...".
Claro que a praia nesse dia foi só para nos deleitarmos com o fim de tarde.
Diz a sister que estas foram as melhores férias desde 1998 ( o fim deste ano foi péssimo e a família decidiu por bem riscá-lo da nossa história).
Eu apenas acrescento " Se han llevado a mi Pepe!".
PS - primeiro conselho para um futuro livro Ferial - nunca bebam a noite toda Manzanilla como fazem os locais, as nossas delicadas entranhas não estão habituadas a tanta agressividade!!! É melhor intercalar com uma benditas cervejas (YES!!!) e não esquecer o que todos repetem insistentemente toda a noite "Pá bebé hay qué comé" !
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Acho graça aos olhos. Não os vejo como janelas da alma (eu sou míope...).
Mas devo confessar que fiquei alucinada com os olhos de um empregado de uma das casetas, ainda agora se me perguntam qual era a cor, só posso responder com um encolher de ombros. Creio que a melhor descrição foi a da minha irmã, que no dia seguinte (okey, era no próprio dia só que poouucas horas mais tarde, é o que faz deitar-se à hora do almoço), disse ela "ainda agora se fecho os olhos, vejo aqueles olhos a brilhar, como acontece quando se olha para luz e cerramos os olhos fortememte" e depois completou lacónicamente " ou então ainda estou com os copos...".
Claro que a praia nesse dia foi só para nos deleitarmos com o fim de tarde.
Diz a sister que estas foram as melhores férias desde 1998 ( o fim deste ano foi péssimo e a família decidiu por bem riscá-lo da nossa história).
Eu apenas acrescento " Se han llevado a mi Pepe!".
PS - primeiro conselho para um futuro livro Ferial - nunca bebam a noite toda Manzanilla como fazem os locais, as nossas delicadas entranhas não estão habituadas a tanta agressividade!!! É melhor intercalar com uma benditas cervejas (YES!!!) e não esquecer o que todos repetem insistentemente toda a noite "Pá bebé hay qué comé" !
FLECOS - o final....
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Tem toda a razão a música " Sevilla tiene un color especial"...
Ainda estou no limbo de uns dias maravilhosos. Quando fecho os olhos vejo toda a cor e deslumbrante vida que percorria todo recinto Ferial. Ao contrário das costumeiras festas populares, nesta festa não se deve ir se não se conhecer alguém que seja sócio de alguma "caseta" (corre-se o risco de não se poder entrar em nenhuma!).
Dentro em breve dou mais notícias, agora tenho de me actualizar (sim estive desligada de tudo! era só praia e baile!!).
Como sabe bem recuperar energias!
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Tem toda a razão a música " Sevilla tiene un color especial"...
Ainda estou no limbo de uns dias maravilhosos. Quando fecho os olhos vejo toda a cor e deslumbrante vida que percorria todo recinto Ferial. Ao contrário das costumeiras festas populares, nesta festa não se deve ir se não se conhecer alguém que seja sócio de alguma "caseta" (corre-se o risco de não se poder entrar em nenhuma!).
Dentro em breve dou mais notícias, agora tenho de me actualizar (sim estive desligada de tudo! era só praia e baile!!).
Como sabe bem recuperar energias!
Fora de Jogo
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A Bomba Inteligente anda preocupada com o Fora de Jogo. O Mukankala forneceu-lhe a definição da regra. Mas para que serve afinal o fora de jogo? A questão é simples: obrigando os jogadores adversários a estarem entre os ultimos defesas da sua equipa e a linha de baliza adversária obtemos aquilo a que se chama "pressionar o adversário", ou seja, quando uma "defesa sobe no terreno" quer dizer que a equipa adversária fica com menos espaço para colocar lá os seus jogadores, como se uma parede móvel fosse diminuindo o tamanho da sala. Sem o fora de jogo o futebol perdia metade da emoção e metade dos aborrecimentos. Já agora parabéns ao FC Porto por ter posto todos os outros fora de jogo, não sou adepto desse clube, mas sou adepto de que a justiça e o mérito devem existir no desporto, e sendo assim o FC Porto bem mereceu o titulo.
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A Bomba Inteligente anda preocupada com o Fora de Jogo. O Mukankala forneceu-lhe a definição da regra. Mas para que serve afinal o fora de jogo? A questão é simples: obrigando os jogadores adversários a estarem entre os ultimos defesas da sua equipa e a linha de baliza adversária obtemos aquilo a que se chama "pressionar o adversário", ou seja, quando uma "defesa sobe no terreno" quer dizer que a equipa adversária fica com menos espaço para colocar lá os seus jogadores, como se uma parede móvel fosse diminuindo o tamanho da sala. Sem o fora de jogo o futebol perdia metade da emoção e metade dos aborrecimentos. Já agora parabéns ao FC Porto por ter posto todos os outros fora de jogo, não sou adepto desse clube, mas sou adepto de que a justiça e o mérito devem existir no desporto, e sendo assim o FC Porto bem mereceu o titulo.
Queres lá ver que ele vai fazer asneira?
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Eram para ai umas duas da manhã quando o carro azul anunciava com o pisca uma viragem à direita. Assim o fez. O carro branco da PSP de forma sorrateira o seguia e pela direita se esgueirou também. O carro azul indicava um estacionamento pelo que o carro da PSP se estancou. Quando o condutor do carro azul reparou que os seus amigos haviam seguido em frente, e não virado à direita como ele, logo inverteu a sinalização preparando-se para uma inversão de marcha. "Queres ver que ele vai fazer asneira?" pensaram os perspicazes agentes da PSP que fitavam a cena. O carro azul preparava-se para iniciar a marcha em sentido inverso e, no momento exacto em que iniciou a marcha, as luzes azuis e giratórias do carro da PSP se puseram a iluminar a cena. O condutor do carro azul percebendo-se da asneira que fazia, circular em sentido proibido, só depois de ter chegado ao cruzamento e virado no sentido certo deteve a sua marcha. O agente da PSP quando chegou ao local onde estacionara o veiuculo azul saiu do carro e logo perguntou "Porque que não parou logo?". Pelo que eu respondi: "Sr. agente, se circulava em sentido proibido estava a por em perigo as outras pessoas, pelo que tratei rapidamente de sair dessa situação".
O que eu não lhe disse, o que me remexe por dentro, não foi o dinheiro da multa que tive que pagar, nem o tempo de pena suspensa da apreensão de carta, como se fosse um criminoso, mas a revolta de saber que tenho uma polícia que em vez de proteger existe para punir. Mas não é esse o papel da justiça portuguesa? Será que no momento em que o agente pensou "Queres lá ver que ele vai fazer asneira?" Não me podia ter dado indicação de que eu ia fazer asneira, e ter evitado que eu me colocasse, a mim e às outras pessoas, em situação de perigo? Não é suposto a Polícia de Segurança Pública transmitir-nos essa sensação de segurança? Ao invés, sempre que viajo de carro, em vez de me sentir seguro, a única coisa que sinto é a de que sou, de um momento para o outro, um pequeno criminoso em potência.
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Eram para ai umas duas da manhã quando o carro azul anunciava com o pisca uma viragem à direita. Assim o fez. O carro branco da PSP de forma sorrateira o seguia e pela direita se esgueirou também. O carro azul indicava um estacionamento pelo que o carro da PSP se estancou. Quando o condutor do carro azul reparou que os seus amigos haviam seguido em frente, e não virado à direita como ele, logo inverteu a sinalização preparando-se para uma inversão de marcha. "Queres ver que ele vai fazer asneira?" pensaram os perspicazes agentes da PSP que fitavam a cena. O carro azul preparava-se para iniciar a marcha em sentido inverso e, no momento exacto em que iniciou a marcha, as luzes azuis e giratórias do carro da PSP se puseram a iluminar a cena. O condutor do carro azul percebendo-se da asneira que fazia, circular em sentido proibido, só depois de ter chegado ao cruzamento e virado no sentido certo deteve a sua marcha. O agente da PSP quando chegou ao local onde estacionara o veiuculo azul saiu do carro e logo perguntou "Porque que não parou logo?". Pelo que eu respondi: "Sr. agente, se circulava em sentido proibido estava a por em perigo as outras pessoas, pelo que tratei rapidamente de sair dessa situação".
O que eu não lhe disse, o que me remexe por dentro, não foi o dinheiro da multa que tive que pagar, nem o tempo de pena suspensa da apreensão de carta, como se fosse um criminoso, mas a revolta de saber que tenho uma polícia que em vez de proteger existe para punir. Mas não é esse o papel da justiça portuguesa? Será que no momento em que o agente pensou "Queres lá ver que ele vai fazer asneira?" Não me podia ter dado indicação de que eu ia fazer asneira, e ter evitado que eu me colocasse, a mim e às outras pessoas, em situação de perigo? Não é suposto a Polícia de Segurança Pública transmitir-nos essa sensação de segurança? Ao invés, sempre que viajo de carro, em vez de me sentir seguro, a única coisa que sinto é a de que sou, de um momento para o outro, um pequeno criminoso em potência.
domingo, maio 04, 2003
Bolsas de resistência
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Encontrei algumas bolsa de resistência nas praias do norte de Espanha. Não muito aguerridas é certo, mas ainda atacavam com a sua viscosidade aos incautos que, como eu, se deleitavam sob o sol e sobre as rochas de uma sossegada praia da Costa Galega. Manchas negras que me atacaram covardemente pelas costas, e ainda lhes dei uma mãozinha (a esquerda, a mais pacifista das minhas mãos) na propagação das manchas. Dei cabo da roupa, agora já não imaculada e branca, e depois de muito esfregar lá me livrei do maldito petróleo por quem tantos lutam.Resta-me a consolação de ter livrado a Natureza de mais uma aberração, e de ter contribuído para a limpeza das costas dos outros com as minhas próprias.
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Encontrei algumas bolsa de resistência nas praias do norte de Espanha. Não muito aguerridas é certo, mas ainda atacavam com a sua viscosidade aos incautos que, como eu, se deleitavam sob o sol e sobre as rochas de uma sossegada praia da Costa Galega. Manchas negras que me atacaram covardemente pelas costas, e ainda lhes dei uma mãozinha (a esquerda, a mais pacifista das minhas mãos) na propagação das manchas. Dei cabo da roupa, agora já não imaculada e branca, e depois de muito esfregar lá me livrei do maldito petróleo por quem tantos lutam.Resta-me a consolação de ter livrado a Natureza de mais uma aberração, e de ter contribuído para a limpeza das costas dos outros com as minhas próprias.
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