O Amor Por Outras Razões (01)
Pedro: O jantar
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A felicidade não é um estado de pila. Arranjei uma namorada nova, em idade e por só agora a ter conhecido. Ando sempre com vontade de fazer amor com ela, e ela sempre a dizer-me que não. Que ainda é cedo. Como se estas vontades, na verdade, tivessem relógio. É terrível começarmos aos beijos e depois pararmos por aí. Mas o que realmente me perturba, se é que posso chamar perturbação a isto, é que nunca passei momentos tão fantásticos na minha vida. Com uma catraia, como diz a minha madastra que é lisboeta. Estou feliz. Até penso que estou apaixonado. Hoje dei por mim a pensar nela mais de cem vezes. Já telefonei três vezes para ela: a convida-la para jantar, a confirmar o jantar, e a pedir-lhe que viesse bonita. Como se fosse preciso pedir-lhe.
Preparei tudo: pai fora; madrasta com ele; irmão mais novo comprado pelo último jogo Sega, ir com pais; irmã com idade de saber das coisas piscar olho ao irmão e dizer pais que dormir fora nas amigas. Sinto-me um estrangeiro na minha própria família. Até com os amigos: Carlota fazer jantar e preparar mesa; amiga de Carlota (bonita!) comprar flores; Paulo escolher música: dizer que nunca falhar; João ir busca-la para dar tempo de me arranjar; final da noite todos juntos no bar, comemorar anos. Os meus. Não há mais prendas depois deste esquema todo, disse o Paulo.
A música do Paulo surtiu efeito logo nos primeiros segundos com ela muito bonita a dar-me muitos beijinhos e parabéns: pelo aniversário e pela bela mesa posta pela Carlota. Por tudo. Começamos com caricías e pouca vontade de jantar. Despi-a um pouco só para espreitar-lhe os seios. Macios. O Paulo é que sabe… nestas coisas da música digo eu. Ficam muito românticas, com os não a serem cada vez mais talvez.
E depois, aconteceu. Ela sempre envergonhada, tímida, quase com medo. Quase a chorar e foi um momento muito confuso. Eu a sentir-me muito estranho. Quase a sentir que a tinha violado. Que a tinha obrigado a fazer uma coisa inacreditavelmente má. Não me olhou durante o jantar, nem mesmo depois, no carro a caminho do pub para ir ter com o grupo. Nem entramos de mão dada pois ela não quis. Foi logo à carteira buscar um cigarro. Fumou muito no carro também. Toda a gente a perguntar com os olhos. Os meus a tentarem dizer que nada se tinha passado. Ninguém a perceber nada. Ela a pedir para leva-la para casa e a amiga da Carlota, ainda mais bonita do que antes a olhar fixamente para mim. Eu a pensar: Inês não me faças isso! Eu a dizer que levava a Ana a casa, a Inês a perguntar: Pedro dás-me boleia?
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