Ouvi dizer
Ao que parece eram três da manhã de um dia de Dezembro já bem perto do Natal quando lhe partiram o relógio com um pontapé. Ele até já estava caído no chão, o lábio rebentado a pingar no empedrado e a navalha de ponto e mola suspensa no coração com um fio vermelho a escorrer por ela que se ia juntando às outras gotas que faziam já uma poça no chão. Contaram-me. Ainda havia muita gente no local onde o seu corpo se enrigecia quando lá cheguei uma meia-hora mais tarde. Era ao lado de um bar que nunca vou, mas que aconteceu de eu passar pela porta instigado pela curiosade de uma multidão. Isto para me lembrar de nunca lá por os pés. Ao que parece tudo começou lá dentro, quando um gajo de um grupo, de para aí uns sete disseram-me, se pôs a apalpar a tipa que ele estava a comer. Não sei, foi assim que me contaram. Vieram cá para fora, ele mais a loira vistosa e o tipo meio embriagado que a tinha apalpado. Ao que parece o gajo não tinha reparado que o mãos de rapina tinha mais sete amigos por trás. Azar. Quinze segundos e já estava no chão a apanhar pontapés de todos os lados. Ninguém o ajudou, é claro. Só a loira gritava absolutamente histérica, a tentar dar uns pontapés inofensivos aos manfios enquanto o segurança olhava a cena do cimo da torre de vigilância do seu próprio corpo. Ao que parece a loira também ficou em mau estado, levou pontapés a torto e a direito e ainda estaladas de fazerem eco pelas vielas, e, não sei, contaram-me, parece que também foi apunhalada. Lá que foram os dois de ambulância foram, ele bem morto mas ela ainda falava, disse o número de telefone de sua casa a alguém e que lhe fizesse o favor de avisar os pais. Mas o pessoal acovardava-se a dar a má notícia. Eu ofereci-me para ligar, afinal conheço tão bem aquele número.
Sem comentários:
Enviar um comentário