segunda-feira, junho 09, 2003

Turvo
Questionava-se sempre porque estariam todos condicionados pela esperança de encontrarem alguém com quem partilhar tudo. Achava absurdo este preceito restritivo, parecia-lhe demasiado simplista, ainda primário. Dizia sempre que não se tratava de um requesito verdadeiramente espiritual, esta busca de um par, era muito mais uma circunspecção à ordem natural da perpetuação da espécie. Não tinha esperança no futuro. Tinha as certezas do passado. E isso parecia bastar para complementar a sua existência. Os laços sempre se apresentaram como redutores, mesmo castradores da evolução que procurava. Mas nem todos os dia pensava assim. Ainda vivia alguns dias que descrevia como pautados pelo romanticismo lírico de uma imagem, o casal. Nestes dias em que toda a tristeza do mundo parecia cair na sua alma, via o mundo como abstrato, indefinido. A tendência era para actuar como o mundo se lhe apesentava, tirava as lentes e ficava maravilhada pela doce névoa que passava a existir em redor. Tudo deixava de a afectar, estava cercada por vultos, contornos coloridos que se deslocavam fantasmagóricamente, sem definição concreta. Mas sabia que esta situação era passageira, quando voltasse a estar no mundo como igual, sabia que continuaria só. E não se importava.

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