A confissão
Lembro-me bem.
Ele está a olhar nos olhos dela. Estão assim há bastante tempo. Não que sintam o tempo passar. Os olhos dele brilham e os dela correspondem. Há desejo naquele olhar. Não sei do que falam mas também eles próprios não saberão. Continuo a lembrar-me. Ele sorri de algo que ela diz e ela acompanha-o. Sinto necessidade de me lembrar deles. Estão quase a dar as mãos enquanto ele brinca com a orla do cinzeiro onde ela vai deitando a cinza do seu cigarro. Ela apaga o cigarro e sem saberem muito bem como aconteceu as mãos daram-se. Foram eles que as deram. Lembro-me bem. A boca dele parece querer falar. Ela espera que a boca dele fale. Os seus olhos nunca perderam o contacto. Ele está mesmo prestes a dizer-lhe. Mas da sua boca só saiem palavras toscas e sem significado. Os olhos dele fogem do olhar dela que revela toda a estranheza que vai no seu interior. Ela retira a a mão dela do entrelaçado da mão dele e acende outro cigarro. Ficam calados até ao fim da noite, no meio do grupo de amigos que entretanto se foi juntando a eles. Nunca saberão mais nada um do outro, eu sei. Ela lembrar-se-a dele uma vez por outra, mas talvez só pela covardia que ele demontrou. Ele talvez ainda hoje se recorde.
Sem comentários:
Enviar um comentário