quinta-feira, junho 26, 2003

A lâmina

Na Crónica de Leonete Botelho no Público de ontem transcrevo o paragráfo final com que acaba a sua crónica:

Mas do que mais gosto nos blogues é da sua diversidade. Intrínseca e extrínseca. Faz-me acreditar que o futuro é possível sem que tenhamos todos de nos alistar em qualquer coisa, sem que tenhamos todos de ter rótulos redutores, esquerda-direita, homem-mulher, conservadores-liberais, e tantas coisas que tais. Que todos podemos ser constelações improváveis. E sermos, assim, sempre um pouco mais ricos.

Neste blog temos todos os rótulos redutores referidos no texo: o homem-mulher, a esquerda-direita, o conservadorismo e o liberalismo, a racionalidade e a emotividade, a arte e o engenho. Por isso dizemos que fazemos trapézio numa lâmina de dois gumes, porque apesar de sermos sempre facções opostas, e sabendo que o fio fino da lâmina que divide é intensamente cortante, somos, felizmente, capazes de respeitar as diferenças e, ao invés de querer subjugar o outro à nossa razão, aprender com a pluralidade de opiniões. A lâmina que divide a espada pode rasgar a pele, pode trespassar os tecidos e perfurar o corpo ou pode ser um símbolo. Nós preferimos o símbolo. Os objectos, como as palavras, dependem do uso que lhes dámos.

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