quarta-feira, junho 04, 2003

Matrix De-Loaded

O cinema sempre foi um veículo portador de emoções. O que me parece que leva tantas pessoas preferirem o primeiro filme da série ao segundo é a descarga emocional que lhe sucedeu. Nem mesmo o factor romance Neo/Trinity alimenta as emoções, as personagens tornaram-se frias e desligadas do espectador. O filme perdeu a empatia, ao perdermos a empatia com as personagens principais. Neo era fascinante no modo como progredia na aprendizagem dentro da Matrix; o modo como caiu desamparado num mundo totalmente novo, a estranheza que sentia, era a nossa própria estranheza a tentar perceber a história; vimos um ser evoluir, conquistar aos poucos o mundo que o rodeia, e com isso conquistar-nos também. No segundo filme, pegou-se na história mas perdeu-se a emoção. Neo é agora o escolhido, o héroi que luta contra centenas de Smith, sem mácula, como um automato. Onde está o Neo que se aleijava, e que nós sofriamos com ele, Neo é agora uma máquina guerreira. Tão próximo está ele dos inimigos contra os quais luta, que a dada altura tanto me dá que ele morra, que a Trinity morra. Tecnicamente nada a apontar, ao nível da história ele progride numa sequência coerente do Sonho à Esperança, as lutas são de excelente coreografia, mas aonde estão realmente os humanos, e quem são as máquinas? Não me parece que o problema esteja num Keanu Reaves inexpressivo, ele também já o era no primeiro. O grande senão do filme é o erro do título, o Matrix não foi carregado, mas sim descarregado de emoções. Não é uma cena de amor que faz um romance pois não?

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