terça-feira, agosto 05, 2003

Ténue

Começar é sempre difícil, nunca sabemos como. Agora passado este tempo todo, olho para trás e vejo que nunca tinha começado, só continuava. Esperava-te e continuava à espera, mas nunca tinha começado a esperar-te. Hoje sento-me ao sol, cerro os olhos e vejo dentro de mim tudo de ti. As imagens são definidas, o teu contorno, o teu sorriso, a maneira como inclinavas a cabeça quando me olhavas, a sensação de calma que começava a alastrar quando me falavas, o teu cheiro. Lembro bem o teu cheiro, quando te sussurrava o mundo ao ouvido e tu encolhias os ombros num arrepio de contentamento. Mas a melhor recordação é sem dúvida a tua nuca, definida, lisa, perfeitamente quente e dourada. Era capaz de me perder na tua nuca, de ficar suspensa sem respirar para não te mexeres. Ficava horas a observar-te a nuca, se pudesse ficava assim o resto da vida, a ver a tua vida sem tu reparares, a avançar sobre ti como um manto de mim. Escaparia de bom grado num sopro leve e morno para a tua nuca, contando com o teu sorriso de resposta. Mas o bizarro é que não me lembro de ti, se te vir outra vez, passo como se de mais um estranho se tratasse. Mas se olhasse a tua nuca, então sim, saberia que és tu.

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