Era a rapariga mais feia da minha turma. Era o que todos diziam. E era mesmo. Só eu gostava dela.
Seguia-a rio abaixo nos finais de tarde quando fazia sol. Ela abria o seu caderno de folhas A3, procurava a primeira que estivesse em branco, com a mão esquerda segurava em três lápis e no bloco de folhas, e eu ficava a vê-la a desenhar no sossego da sua solidão. Gostava de vê-la a desenhar e a imaginar o que desenhava. Ficava sempre a mais de dez metros de distância dela, ninguém me podia ver. Muito menos a espiar a rapariga mais feia da minha turma.
Era a que desenhava melhor e mais rápido. Era o que todos diziam. Até mesmo os professores. Era isso que eu gostava nela.
Às vezes, via-a a olhar para mim. Mas bem que podia ser eu a olhar para ela. Eu dizia que era ela, sempre. Eu não podia estar a olhar para a rapariga mais feia da turma. Estava apaixonada por mim e eu estava a fazer-me de difícil. Era o que eu contava a todos. E era nisso que as pessoas acreditavam.
Era ela que estava apaixonada por mim, e muito. Era o que todos diziam. Mas não sei se era mesmo assim. Só eu sabia que não era. Eu que tinha começado essa fantasia.
Um dia fiz-me decidido a ir espreitar os desenhos que ela nunca mostrava a ninguém. A minha ânsia descontrolada obrigava-me a isso. Estava junto ao rio, dez metros atrás dela. Comecei a correr tão depressa como nunca outra vez hei de correr e arranquei-lhe o bloco das mãos. Ela ficou assustada mas não correu atrás de mim. Era gorda. Eu olhei o desenho e foi então que vi que no desenho era outro que eu conhecia, mas não eu.
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