Cúpido, porque choras?
Sempre de vi tão feliz, que névoa triste poisou sobre ti e te fez parar, impossibilitando-te de bater as asas e vibrar na melodia intrigante de tuas canções? Tu criatura alada que me fizeste feliz vejo-te agora assim e sinto, sim, sinto que sou eu também que me afogo, que me amarelece o meu rosto de dor profunda, que também estou eu sofrendo dessa doença nostálgica.
Cúpido, porque choras?
Tu que me atiraste uma seta e com ela, apesar do sangue que jorrou, fizeste a minha intensa felicidade. Tu que me inebriaste com o melhor dos vinhos, que me tornaste imortal no pensamento da que amo e que me ama. Tu que me deste tanto, que posso eu fazer por ti? Pede-me tudo, quero ser eu a cumprir o teu desejo, farei a viagem mais longa pelos desterros do mundo, roubarei e matarei se necessário for para ter de volta o teu sorriso mágico, para ver de novo as tuas asas baterem, tão hábeis, tão rápidas e felizes como uma pequena libelinha no seu vôo livre da manhã. Quero ouvir de novo o som do teu arco, ouvi-lo de novo a vibrar como uma harpa, e depois, depois ouvir aquele som seco e brutal da seta a cravar-se na carne, cada vez mais dentro, mais adormecida no interior do corpo e ver então os amantes sorrirem, felizes.
Cúpido, porque choras? De que necessitas tu?
- Devolve-me a tua, a minha última seta?
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