terça-feira, abril 20, 2004

Tu no meu café

Todos os dias te servia, com simpatia como sempre deve ser. Tu pagavas sempre com uma moeda, eu aceitava claro, como tem de ser. Era o teu empregado de todos os dias e o meu patrão dizia que assim continuaria a ser. Tu nunca me olhavas nem mesmo que eu quisesse. Parti muitas chávenas a tentar que assim fosse. Bebias café todos os dias e sempre à mesma hora. Eu ansiava todos as manhãs por esse momento, como um apaixonado acaba sempre por fazer. Tu bebias o café quente por entre travos de cigarros que deixavas a sobrevoar. Pediste-me lume uma vez, e olhares para mim foi o suficiente para a minha paixão descobrires. Não corei para evitar mostrar o que já estavas a ver. Tu sorriste-me num obrigado de malandrice. Pagaste-me com a moeda de sempre, mas deslizaste a tua mão sobre a minha, para mostrares a suavidade do teu tacto, o que eu sempre imaginei assim ser. Olhaste-me de soslaio quando me virei e tive a certeza que era para eu te poder ver. Perguntaste-me o meu nome que eu me engasguei a dizer mas que lá disse a corar a face. Foste embora sorrindo, repleta de provocação e passaste a tomar café noutro lado.

Sem comentários: