terça-feira, abril 06, 2004

Amadurecer

A luz entrava por uma frincha escondida na madeira. Os teu cabelos abraçavam o meu pescoço, deixando a impressão da tua presença. Eu que amadureço nos teus dedos. A frincha abria um facho de luz cada vez mais forte, com o passar da manhã a morder a nossa preguiça. Parecia mais tarde, quando as horas soaram a despertar, tu, no teu movimento de princesa adormecida nas nuvens brancas do algodão. A pele escura e mordida pela noite amorosa; eras um qualquer ideal sonâmbulo e à deriva que aportou uma noite num leito junto à foz. Escondi-te nos meus sonhos tempos demais, Invernos e Primaveras consecutivas de ferrugem, a alma escondida no torniquete do óxido... e a vida tranquila no sentimento de desamor. Eras a imagem de uma rapariga que povoava os sonhos mas tão irreal como as imagens que víamos nas nuvens. As histórias que te escrevi todas desenhadas, traçadas no lápis cor de fogo da minha memória incendiária e pagã, histórias de um novo amor que mata outro inventado. Amadureci um novo amor nos teus lábios. Continuas a dormir com os teus cabelos longos, fazendo caricias dentro dos meus sonhos tranquilos. Tens um novo rosto, tão bonito e mais real do que anteriormente, agora que amadureço noutro coração.

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