domingo, setembro 21, 2003

Ha de haver uma outra realidade

Tinha a certeza de termos morrido. O carro irreconhecível, numa amalgama de metais retorcidos e contorcidos eram prova disso. Havia uma série de líquidos viscosos a escorrerem entre as peças fumegantes do motor e por debaixo do carro, um fluído vermelho fazia um pequeno riacho. Lá dentro estavam os nossos corpos, mas eu não tive coragem para olhar. Tínhamos decidido nessa noite voltar ao quarto da sua prima. Conseguira-me convencer de que se libertara dos seus fantasmas e que agora me queria. Quero-te dentro do meu corpo, disse ela como argumento final. Um excesso de ansiedade apoderou-se de mim. Às vezes, a verdadeira realidade da vida esconde-se por detrás de omissões, ou apenas de pequenas coisas que desconhecemos. Disse-me ela quando entrou no carro. Eu apenas respondi, é natural que hajam outras realidades. Agora, de mão dada com ela, estou a flutuar dez metros acima do meu corpo. Decidimos ir embora. Não tínhamos ali mais nada que fazer, mas apenas, muitas coisas por descobrir.

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