terça-feira, dezembro 09, 2003

A Razão do Poeta

à C.
Às vezes, estamos tão próximos que tento silenciar o troar do meu coração para que tu não o ouças. A minha mão estende-se sobre a tua, mas só na riqueza da minha imaginação. Um lago instala-se por detrás dos olhos e só uma força qualquer, uma força que não domino, o impede de galgar as pálpebras e correr no leito de pele da minha face. Por vezes, quando permites que me demore um segundo mais no teu olhar, quando fico sem perceber se é a minha alma que sai pelos meu olhos, ou se é o teu olhar silencioso que empareda a acção, a música continua continua como num filme intimista e de reflexão. Um teledisco patético do meu sentir. Tantas vezes faço filmes onde tudo se mexe, onde tudo se transforma, onde as tuas palavras vem de encontro às minhas, se colam nas minhas como num abraço; onde os desejos se unificam e a música soe num unissono que só termina nas nossas bocas. Nessas vezes, poeta, nessas vezes em que o filme não se desenrola a compasso com o desejo, penso na tua razão, é mesmo uma dor que desatina.

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