quinta-feira, janeiro 22, 2004

O meu grito de amor

O meu grito de amor é como um salto no escuro da tua timidez. Tenho os teus segredos no meu baú, hás de acreditar. Nos beijos que negaste terás o teu desejo mais pueril. Na alma que desleixaste descobrir estará o elixir da tua felicidade. Hás de rogar e pedir a branca pomba esvoaçada, a minha mão estendida de amigo - minh’ alma desacreditada. Hás de sonhar até a perda do meu afecto, pedir de volta o olfacto, a carícia do meu perfume. Querer os beijos do meu amor, trocar lágrimas por sorrisos meus e amar o amor que distribui, que doei, em carícias mutiladas d’ amor.

O meu grito de amor é como a coragem esquecida dos beijos.

Se silenciar a minha boca ou se calar o meu olhar, mesmo que isso não toque o gesto, será sempre impossível sobre o frio do teu olhar sentir o calor do meu desejo. Sempre covarde e sempre tímido, sempre complexado e retraído; (a mais ingénua imagem do meu corpo deixa de transparecer no reflexo da tua imagem; está para sempre calada no teu sorriso, para sempre fechada na tua boca bela)

O meu grito de amor requer mais do que apenas desejo.

Este pensamento em bruto como um diamante não lapidado, só pensa na urgência,
nessa urgência que existe no medo, nesse medo da saudade por onde caminham distâncias longas. Em fiadas infinitas de cordas, nós de medo, de esperança
como que feitos de uma fé latente percorrendo em contínuo o terço. A religiosidade do temor. A irrepreensível saudade.

O meu grito de amor já prescinde da tua voz

A mente, porque a reteve - a tua voz, essa voz memória que é tua, só tua, é uma condição de especiaria como um açúcar para um doce.

O meu grito de amor largou a agonia e o vazio do meu corpo, ecoou para o exterior como um estertor. A minha pálida alegria esvoaçada. E para sempre há de doer
o seu som, em ti. Ou pelo menos, no dia em que o escutares.

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